Antes que você pense que eu me apaixonei por outra pessoa e estou levando vocês dois na conversa, eu nem cheguei a namorar com ele. O fato é que ele realmente investia em mim. Ele aparecia onde eu estivesse, encontrava tudo quanto era desculpa para ficar por perto e puxar assunto. Era um cara bem bacana, na verdade. Mas mesmo que eu não tivesse você há quilômetros de distância, e eu resolvesse ficar de verdade com ele, seria uma relação bastante unilateral. Eu me sentia sim sozinha em Tokio, mesmo com o Touya e o Yukito (que na verdade trabalhavam o tempo todo) e com o Kero. Todos os outros estavam longe e eu também não tinha muito tempo para sair caçando amigos.

Lembra que eu dizia naquela época que fazia alguns bicos além do estágio? Acho que cheguei a contar que um deles era num restaurante perto de onde eu morava. Bem, eu não tinha muito tempo entre o curso-estágio-bico, mas como o restaurante sempre precisava de mais gente, o rapaz conseguiu um emprego lá também. No caso, não era eu quem estava arranjando tempo para amizades novas, ele que arranjava espaços para ele na minha agenda. E mesmo com todas as técnicas constantes de sedução, ele era bem divertido e era bem legal trabalhar junto com um amigo.

Sim, amigo. Era o que eu tentava criar de confortável entre eu e ele. Mas era bem difícil.

Só não é mais difícil do que contar isso pra você.

E eu não vou entrar em detalhes porque sei o quão a existência deles pode vir a ser desconfortável na sua leitura.

Como eu disse, eu me sentia sozinha - e isso não é bem uma justificativa, mas é e eu sou confusa assim mesmo. Yoshiro era legal, bonito, insistente, mas não era você. Sei que não deveria te colocar em um patamar de perfeição mas isso é bem difícil quando julgamos o seu facebook, querido. Mas eu ainda sentia muito as lacunas entre eu e você, e quando eu contava a ele sobre nós - veja, o rapaz havia realmente se tornado meu amigo - ele atenuava essas lacunas ainda mais. Por um lado, me fez notar uma porção de coisas, por outro, eu sabia que fazia parte da estratégia dele, para me desvincular de você.

Ele conseguiu, no final das contas, não é? Estamos terminando Syoran, é verdade. Mas não por causa dele unicamente. Na verdade ele me fez perceber o quanto eu havia criado uma ideia errada de mim mesma, na tentativa de me criar de uma maneira melhor pra você, mas que me desligava cada vez mais de quem eu realmente ERA. E isso foi muito bom para mim. Mas, Yoshiro me criou muitos problemas.

Pela parte mais vergonhosa dessa parte da história.

Um dia a gente saiu.

Sim, tipo um encontro. Porque por mais que eu pense em você, sempre e muito, eu precisava pensar em mim também. E eu estava notando isso de maneira muito vívida naquele momento. Podemos dizer que parte da estratégia de Yoshiro deu certo, porque eu caí na conversa dele de que eu deveria viver mais a minha vida, e eu decidi viver. Mas não foi como eu queria que fosse.

Yoshiro não soube entender que, apesar dessa tentativa, ele não iria ser mais do que meu amigo. Quando eu cedi à tentativa dele de testar algo que não fosse amizade, eu percebi, claramente, que com ele não ia passar disso.

Mas ele não aceitou.

Continuou insistindo e insistindo e tentando fazer minha cabeça até que eu resolvi dar um basta e tirar ele da minha vida.

Mas ele não quis ir embora.

Eu já não estava contente com o curso, já ia trancar no próximo semestre, então resolvi trancar no meio mesmo e sair finalmente das vistas do Yoshiro. Ele veio atrás, tentando me fazer ter algo com ele que eu DEFINITIVAMENTE não teria, e então eu usei a cartão IRMÃO, a mais poderosa de todas, e pra resolver de vez eu sumi de Tokio.

E voltei pra Tomoeda com um pedido judicial para que ele não se aproximasse mais de mim.