Espera(nça) escrita por Lalye


Capítulo 3
Não é culpa sua




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Acho que você se lembra bem do Touya, não é? Então, depois que ele e o Yukito se casaram eu fui pra Universidade. Meu irmão, orgulhoso do jeito que é, foi junto com a desculpa de que o Yue não podia ficar longe de mim, logo, ele e o Yukito precisariam ficar por perto. Creio que disso tudo você se lembre. E, provavelmente sabe que, na verdade, o Touya queria mesmo era ficar de olho em mim. Porque, para ele, eu ter crescido de tamanho não significa necessariamente que eu não tenha mais 10 anos de idade.

Isso tudo me deixou mais segura em sair de Tomoeda, e acho que te contei isso. Não importa o quanto eu e ele briguemos, eu me sinto muito mais segura quando sei que o Touya está em algum lugar na mesma cidade que eu. E isso me ajudou a não pirar quando todas essas coisas estranhas que eu vou te contar aconteceram.

Sei que terminei a última carta abruptamente, e isso não é muito legal, desculpa. Mas eu estou enrolando pra preencher as lacunas porque não é fácil contar tudo o que aconteceu comigo nesses últimos anos. No ensino médio, na escola, em Tomoeda a minha vida seguia tranquila e pacífica, como você a havia deixado. Os garotos e as festas nunca mexeram comigo lá, porque existia toda uma realidade que envolvia você mesmo na sua ausência. Todos sabiam de nós, e ninguém desafiava meus sentimentos quanto a isso. Eu me sentia totalmente confortável naquele mundo em que eu estava te esperando - a cada dia e a cada hora - para que em algum momento você chegasse e nós ficássemos juntos para sempre.

É bonito isso, não é?

Mas aconteceu o lance de eu ter ganhado a bolsa em outra cidade, e todo mundo ter achado super bacana eu ir pra uma cidade grande, e você olhar a grade do curso e o currículo de todos os professores e ter a certeza absoluta de que aquela era a melhor escolha e eu - que nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca quis te decepcionar - acabei indo com muita esperança de que era realmente o melhor pra mim.

E agora, parando para pensar, não sei se foi. Eu te decepcionei, de qualquer maneira, e no final das contas eu deveria realmente ter pesado melhor as coisas antes de partir pra essa vida nova. Porque, Syaoran, não importa o quanto eu quisesse impressionar a todos e a você, principalmente, todas as minhas escolhas são sobre a minha vida. E eu sinto as vezes como se o tempo todo eu estivesse tentando escolher a minha vida em função de outras, mas não pode ser assim.

É engraçado porque mesmo você não estando aqui, hoje eu me sinto dentro de uma espécie de relação em que eu me calei - pelo simples fato de eu te adorar e adorar a sua lembrança de uma maneira quase doentia. Antes que eu finalmente retornasse à Tomoeda e a uma certa vida em que eu realmente gosto de estar, eu foquei muitas vezes em uma vida em que eu fosse digna do garoto mais bonito, inteligente, forte e perfeito de todo o mundo - você - o sonho adolescente de toda menina heterossexual como eu. A minha autoestima antes tão saudável se tornou algo muito estranho depois que você foi embora. Porque eu não tinha apenas medo das suas lacunas e te perder entre elas, eu simplesmente tentava ignorar que elas existissem.

Você não é perfeito, Syaoran. Eu li muitas de suas cartas e e-mails de forma errada. Há um mês atrás - quando eu estava no auge da aflição em começar a te escrever ou não - eu reli todas as coisas que você me enviou (coisa pra caramba, né?) e eu percebi que eu sempre te interpretei muito errado. Eu entendi suas sugestões como obrigações, suas preocupações como uma super proteção da qual eu não me achava digna, e tudo o que você dizia era contorcido por alguma espécie de medo em não ser para você. Sendo que eu nunca precisei te conquistar, eu nunca precisei ser nada para você gostar de mim. É muito louco, não é mesmo?

Eu só percebi tudo isso depois que eu vi o quanto eu tava vivendo uma vida que eu não queria viver. E isso não significa que você seja - nos termos da Tomoyo (não sobre você, particularmente) - um machista opressor e que eu estivesse em uma relação abusiva. Você nem estava aqui! E na verdade foi tudo um golpe da minha autoestima desbotada por um relacionamento à distância que me deixava cada vez mais insegura. E antes que eu fosse para Tokio e voltado, eu não havia percebido tudo isso.

E, em alguma instância, quem me ajudou a perceber isso - muito embora isso tenha acontecido de uma maneira até ruim - foi o Yoshiro. Sim, aquele colega que gostava de mim, um tanto quanto mais do que eu gostava dele.


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