Cadê os Bombeiros? escrita por Juliana Rizzutinho
Notas iniciais do capítulo
Seja bem-vindo(a), ao spin-off de Chamem os Bombeiros – Cadê os Bombeiros? Ele será dividido em ones, algumas terão continuação e outras... Bem, surprise! Essa é a primeira das ones e com um dos personagens mais emblemáticos e queridos da história. Sabe quem é? Bora para história?
Sugestão de trilha: Lance de Sardi - Waterslide
Prooooonto! Me olho no espelho de corpo inteiro no meu closet e fala a verdade, Bee: tô um “ahazo”! Sou assim, meu estilo é quase um mix dos anos 70, com 80, 90... Aliás, um dos locais que mais gosto de ficar é aqui : o closet! Fora a cama, né? E às vezes, acompanhado... Mas isso é outra história! Dá close!
Ih, o interfone! O Dudu chegou! Bora que a festa só está para começar.
Antes de fechar a porta do meu apartamento, digo:
— Até amanhã, meu doce lar! – e jogo um beijo.
Parece besteira? Pode ser para os outros, mas para mim, é essencial cuidar da casa onde a gente vive. Ela tem sentimentos, viu? Não, não sou supersticioso... Quer saber? SIM, SOU! Algum problema, amor?
O elevador chega e desço. Ele me espera no hall do prédio. Assim que chego perto, trocamos três beijinhos.
— Por que não quis subir? – indago.
— Hum, não. Não queria incomoda-lo.
— Dudu! – o repreendo com as mãos na cintura. – Você é de casa ou preciso repetir quantas vezes?
— Não enche! Sou meio bicho do mato!
— Tô vendo! Vamos?
— Vamos! – ele me responde.
Bem, para onde estamos indo? Temos uma festa bapho hoje! O Víntimas! Sim, beesha, e é tudo! É uma festa itinerante que vai circulando em várias casas. Hoje, será na A Lôca. No Víntimas me esbaldo, pulo, danço e de vez em quando arranjo uns bofes, porque ninguém é de ferro. Como diz a página da festa: é mais que uma festa, uma experiência musical.
O esquema é ir daqui da Santa Cecília, pegarmos a linha vermelha do metrô até a República, depois, a linha amarela, descemos na Paulista e de lá até o acesso à estação Consolação. Daí, descemos a Frei Caneca numa reta só.
— Hum, está bem bonito hoje, hein? – me diz o Dudu.
Até estranho, porque eu e ele somos amigos de longa data. Tá, xereta! Tivemos uns pegas, mas... sei lá... temos mais essa coisa de irmão, sabe? Ou não! Sei lá! Não me deixa confusa!
— Ah, vá! Sério? E que frioooooooo!
Puxo mais para perto o meu blazer de veludo. E enrolo mais ainda o cachecol.
— Precisa de tudo isso?
— O quê? O cachecol?
— É!
— Não enche, Dudu!
— A gente vai fazer um esquenta, né?
— Claro! Ah, viu? Combinei com o taxista para nos buscar às 5.
— Mas às 5? Muito cedo, não acha? – reclama meu amigo.
— Ah, vai começar o bebê chorão! Qual é?
— Bee! Vai tocar Jerônimo Sodré hoje!
— Eu seiiii! Que horas?
— Ele é um dos últimos!
— Tá! Mas qualquer coisa, converso com taxista, certo? É que disse que vai ter uma corrida às 7 horas para o aeroporto. E outra, ele é de confiança!
— Com quem você combinou? – indaga todo curioso.
— Com o Jefferson. Ele é amigo da Gi.
— Ah, aquela que namora o barbudinho?
— Isso o boy magia que é hipster.
— E como eles estão?
— Ótimos! E aaaaaaah, deixa te contar: eles vão se casar!
— Tá loca? Sério isso?
— Seríssimo! Mas eles não vão casar na igreja, não!
E aí o Dudu dispara:
— Ah, faz bem! Acho até...
— Vai ser pior...
— Pior como? – ele me pergunta.
— Pior! Vai por mim! – o deixo mais curioso.
— Conta! – e ele me dá um tapa no braço.
Viro para ele com ar displicente:
— Eles vão casar em um salão todo decorado com juiz e os cambaus e...
— E... – ele espera ansioso completar a informação.
— E... de cosplay!
— Cosplay? Bem nerd mesmo!
— Pois é! E não é só isso!
— Não?
— Não! Ela vai de princesa Serenity e ele de Endy...
— SAILOR MOON!? – não sei se ele quer afirmação, se completa. Ai, santa periquita do pau louro. Ops!
— Pois é!
— Bicha, tu tem que ir! – ele me ordena.
— E você iria comigo?
O meu amigo se vira para mim surpreso. Como fosse sei lá, convidado para uma noitada ao lado Amaury Júnior na época do The Gallery. E ele sem titubear me responde:
— Mas é claro!
— Só que... a gente precisa ir de cos!
— Fala isso sério?
— Hum! – aceno com a cabeça. – Óbvio!
— Vamos ahazar?
— Lóóóóógico!
Apanhamos o metrô e até que não está cheinho, não. Aliás, sempre chamamos atenção aonde vamos! Mas isso? Estou acostumadérrima. O Dudu está parecendo que se acha um lorde inglês com aquele chapéu... Como se chama mesmo esse modelo? Ah, vá, mas que tá um luxo, tá!
E o assunto da vez é uma inimizade em comum, aquelas beeshas bem pobrinhas.
— E disse para ele que neeeeeeeever que iria comprar roupas na Zara!
— E a bicha pão com ovo continua trabalhando naquela editora?
— Claro! Ele mesmo disse que fica o dia inteiro no Facebook, no Twitter, Instagram, WhatsApp....
— E trabalhar que é bom...
E nós dois juntos mexemos os ombros como quem disse: “Pra que, né? Isso é detalhe!”.
— Quanto ele ganha?
— 4 mil!
— Bee, ele ganha 4 mil reais para não fazer absolutamente na-da!?
— Faz sim! Vai na copa, fofoca dos chefes com a faxineira que é uma Tranca-Rua, toma café às custa deles, come bolo de fubá vagabundo e fofoca mais um pouco...
— Bicha descarada! – disparo com a mão na cintura, enquanto com a outra seguro na barra para não cair.
— E frequenta o shopping Anália Franco, vai em feirinha gastronômica do Tatuapé.
— Aff, aposto e ganho que é amigo da Sapato Cheiroso!
— Quem?
— A amapô que investigamos, lembra-se?
— Ah, tá!
— Mas perai, ele não estava endividado? – pergunto.
O Dudu me mostra uma cara de deboche e complementa:
— Hunf! Você sabe o que ele falou?
— Hum!
— Que ele compra uma calça de 225 reais na Zara e sempre tem um trouxa para pagar um marmitex para ele durante a semana.
— E aí ele vai ficar se pagando de gatinho naquela festinha fuleira do Cambridge?
— Pois é!
— Sem contar, que ele usa roupas que qualquer viado pão com ovo usa?
— E ah, esqueceu que a Zara foi acusada de trabalho escravo.
— Mas é o uó!
— E se é!
E assim chegamos na estação Paulista, percorremos o acesso à Consolação e poucos minutos tomamos a Rua Frei Caneca. E o sereno aperta.
— Não te falei que o cachecol não é para dar só um must? – provoco.
— Tá bom, né? – ele tira sarro.
No meio do caminho, tomamos uma cerveja para aquecer. E o vaivém do pessoal na rua começa a animar a noite.
— Genteney! Olha o horário, Dudu! Vamos, que quero chegar cedo!
— Opa! É para já!
Chegamos na A Lôca, e o burburinho já começa a tomar conta.
— Você pediu para colocar nossos nomes na lista, né? – o meu amigo me indaga.
— Mas lóóóógico!
E aí alguém tampa meus olhos com as mãos. Ainda bem que estou de lente de contato, porque, né?
— Adivinha quem é?
Ah, a voz é inconfundível, e ela disse que viria de qualquer maneira. E quando digo:
— É a Juliana!
Ela solta, viro para minha amiga e a abraço com gosto. A Jú é assim, descolada, divertida e adora ferver na pista.
— Ahazar na pixta, Bee? – pergunto.
— E eu tô morta? – ela coloca as mãos na cintura. E aí puxa um louro gato, mas aí logo em seguida já joga um balde de água fria... Ele não é do babado.
— Fê, esse é o Henrique.
— Oi, tudo bem? – indaga.
E uau, ele tem olhos azuis, usa uma roupa descolada, com alargadores e um boné. Ele é bem underground.
— Hum, melhor agora. – brinco.
— Mais respeito, Fê! Ele é meu sobrinho.
Como que é? Ai, que ódio! E escuto o Dudu gargalhando. Já disse que fiquei com ódio?
— Jú, esse é o Dudu.
— Sou amigo do Fê.
— Ah, você que estava investigando com a gente? – ela pergunta.
E não é que a bicha atrevida me responde:
— Je suis moi même!
— Bicha, traduz, né? - reclamo.
E escuto o Henrique rindo como não houvesse amanhã.
— Ah, meu ataque, vim de Paris! Significa: “Sou eu mesmo!”.
— Bicha poliglota! – tiro sarro e mais risadas.
Sugestão de trilha: A day in a life (street mix) – Todd Terry Unreleased Project Part 07
Logo chega nossos outros amigos, o Alberto, que é o promoter da festa, o love dele, o Dudu (É o outro, bee! Não confunda!), o Rafa, o Tony... Oh, a festa vai ser animada! Meia-noite, a casa abre. Aquele praxe de sempre, nome, comanda, essas coisas.
— Você já veio no Víntimas, Dudu? – ouço a Jú pergunta para o meu amigo.
— Já, mas quando acontecia em outra casa.
— Ah, esta daqui do lado, né? Era bacana, mas aqui...
— Tem toda uma história! – completa o Henrique.
— Oh, conhece a night pelo jeito! – diz o Dudu.
— Ah, foi a minha tia que me levou para essa vida de perdição! – revela todo debochado.
— E foi a melhor das coisas que ela já fez! – confessa o amigo.
— Oiiiiiieeeeeeee, ninguém vai beber, não? – repreendo o povo.
— Claro! – diz o Dudu.
— Tá loca? O que você vai beber, Fê? – brinca a Jú.
— Olha, essa música, Jú! – diz o Henrique.
— Sério que você conhece? – me surpreendo.
— Ele pensou em ser até DJ! – a minha amiga revela.
— Para tudo! Por que não tenta hoje? – opino.
— Hoje? Mas não vim preparado!
— Quer ajudar o Alberto?
Ele arregala os olhinhos azuis todo empolgado. Ele não é simplesmente fofo, gente? E ops, senti uma pisada no pé. Hum, é do Dudu! Ficou com ciúmes, né, bicha?
— Mas é claro!
— Perai que vou falar com ele e já!
— Bee! – me chama a atenção o Dudu. – Você vai arranjar encrenca.
— E por quê? – pergunto. – Até parece que você está com ciúmes do moleque...
— Não estou, não!
— Hunf! – Me viro para o Henrique e digo: – Me segue! E ele me obedece!
Enquanto isso a Jú continua conversando com o Dudu.
— Você curte house, acid...
— Gosto mesmo de old skool! – ele me responde.
— Menino decidido! – digo.
Converso com o Alberto e não é que ele topa na hora? Pois bem, um vai ajudar hoje nas pick-ups. Volto para onde deixei a Jú e o Dudu. E parecem velhos conhecidos, amigos de infância. E pego pela metade a conversa.
— Mas sei lá... se rolar, rolou!
— Você gosta dele?
— Gosta de quem? – indago.
E os pego de surpresa. Os dois viram para mim e o Dudu:
— E lá vem a bicha descarada!
— Uma ova! Conte esta, Juliana e já!
Ela tenta enrolar com a bebida e faz que não é com ela.
— Fê, vai começar?
— Aposto e ganho que só dar um palpite, a amapô se entrega, quer ver?
— Fê! Give me a break! – repreende o Dudu.
— E o Henrique vai mesmo se apresentar? Aliás, tocar?
— Tá vendo, Dudu? Essa é a rainha do “pra lá, olhe para lá!”.
— Bee, que horas o Henri...
— É o Murilo seu objeto de afeição?
A pergunta é meio à queima-roupa. Aliás, é totalmente à queima-roupa. O Dudu arregala os olhos até não puder mais.
— Fê! Caramba... só estava contando que estamos nos dando bem!
Para deixar o meu amigo por dentro do babado, explico:
— O Murilo é aquele gato que parece o Thiago Lacerda.
— Danada! – diz o Dudu se virando para Jujú. Ela faz uma cara: “What?”.
— Pois bem, se ela não te explicou a missa a metade, eu digo.
— Fê! – ela tenta me chamar a atenção.
— Bem, vou contar, nem que seja última coisa que faça nessa minha vida!
Ela espreme os olhinhos inquisitivos dela. Ah, adoro isso!
— E pode fazer cara feia, Bee! E outra, o Dudu é um ótimo conselheiro sentimental.
A Jú encara o Dudu para ver a reação dele. O que ele faz? Dá uma risadinha sem-graça como confirmasse.
— Bom, Dudu. – começo. Os olhos atentos da Jú e do Du estão voltados para mim. – Nossa amiga aqui, tem uma queda violenta pelo Thiago Lacerda desde que ele entrou. Porém, o Júlio...
— O barbudinho... – o Dudu diz como pedisse confirmação.
— Ele mesmo. – respondo. E volto os meus olhos para a Jú. Gente, daqui a pouquinho ela vai quebrar o copo na mão de tanto que aperta. – So...Ele pensou que o Murilo estava dando em cima da Gi.
— Babado forte! – exclama o Dú.
— Pois é! – e continuo. – Só que o Murilo sempre ficou focado na Jú. E essa tonta, mosca morta não reparou nisso.
— Ele nunca ficou focado em mim! – reclama a minha amiga.
Inclino a cabeça, entorto a boca, e coloco as mãos na cintura. Oh, o close!
— Bicha, sou tonta ou quê? O jeito que vocês ficaram na reunião em que a Melissa foi desmascarada, se a gente não tivesse lá, ele iria te agarrar, jogar na mesa e...
— Felipe, não aconteceu nada entre a gente! – ela diz brava.
— Ainda! Porque agora, Dudu. – me volto ao meu amigo, que “bebe” cada palavra que digo. – A Jú é secretária do Murilo. – e reforço a palavra secretária fazendo aspas com as mãos.
— Bicha, que tudo! – o Dudu agora se volta para a Ju. – Eu já faria a linha: a secretária da perdição. Iria atendê-lo com cinta-liga, espartilho...
E enquanto o Dudu fala sobre as artimanhas de sedução, afirmo com a cabeça como quem dissesse: “presta atenção!”.
— Sou profissional!
— Sei! – nós falamos praticamente juntos.
— Hum!
E o Tony parece que vira o anjo da guarda da Jú, porque chega bem na hora que iria entrar nos detalhes sórdidos para dizer:
— Gente, o Alberto entrou!
— Bora! – diz a Jú batendo as palmas.
E que nos resta ir para pista? Oh, o Alberto manda muuuuuuito bem, e ainda com o Henrique, melhorou! Me jogo! Como não houvesse amanhã! Que set! Uma hora me empolgo e subo no palquinho. Desenrolo o cachecol e o rodopio pelo ar. Olha, se você me perguntar: “Qual é a sua droga, Felipe?”, te respondo com toda certeza: “A música!”. Ela me transcende o meu próprio ser. Esqueço quem sou, no que trabalho e todas minhas dores e fracassos. Entro num estado de amor e êxtase, onde só eu posso brilhar além das estrelas! Uhuuuuuuuuuuuuuu! Arrasei agora, né?
O som corre solto, enquanto isso, o Dudu me cutuca para mostrar que chegaram duas Bees vestidas com cosplay.
— Bee, você viu isso? – me avisa a Jú com a voz mais alta do que comum. Afinal, a música toma conta de tudo e todos.
— Vi!
E eles circulam no meio da pista. Um está de Mario Bros e outro de Aquaman. Que tudo! A Jú aparece com outro coquetel mais colorido e nos oferece. É docinho, refresca e me dá energia.
— O que é isso? – indago.
Ela faz com os ombros.
— Não sei, mas gostei do sabor. – responde vermelhinha e empolgada.
O set corre solto e viajo! Que coisa maravilhosa! E aos poucos, o Alberto e o Henrique se despedem. Não quero que termine, mas vejo outro DJ subindo na área dos pick-ups. Mas, um pouco e eles trocam de lugar. Que máximo.
— E aí, gostou da experiência? – indaga a Ju para o Henry (oh, já estou íntimo).
— Amei, Jú!!
— E olha, gata, ele simplesmente lacrou, fechou! Quero ele de novo nas próximas, hein? – exige o Alberto.
— Pode deixar! – eles respondem juntos.
— Vamos fumar? – pergunta o Henrique.
— Bicha, você fuma? – indago para a Jú.
— Só em balada. Já fumei na faculdade. Quer vir?
Cutuco o Dudu, mas ele faz um gesto que irá ficar. Tá bom, né? E os acompanho. Quero dar um descanso e aí ferver na pista novamente. E enquanto nos deslocamos para o fumódromo vamos dançando. É, Bee, aproveitamos cada minuto!
No meio do caminho da escada, escuto um bofe que dispara algo:
— Vocês fizeram a xuca?
O QUÊ? Ele perguntou isso mesmo?
— Não, meu caro! Estamos todos de cu sujo hoje! – dispara o Henrique.
Eu, a Jú e o Henrique caímos na risada, mas o bofe não muito contente nos segue. Santa periquita de pau oco! Ops! O que ele quer? Tá na cara que está visivelmente bêbado ou bem alterado.
— Mas, me conte! Vocês são todos do babado? – ele indaga.
— Hum, depende de que tipo de babado você pergunta. – dispara a Jujú.
E ele do nada, chega mais perto dela com os olhos arregalados. E encara os cabelos da minha amiga.
— Você é realmente ruiva?
— Hum?
Ela arqueia as sobrancelhas com deboche e o rapaz repete a pergunta:
— Você é realmente ruiva?
— Sim! Nasci assim!
O Henrique dispara de rir como doido e se segura em mim. E, diga-se de passagem, Bee, a cena é hilária. Pior que assistir o Teletubbies chapado.
Ele bebe mais um gole da cerveja na latinha e dispara:
— Você sabe que daqui há alguns anos não existirão ruivas na Terra, né?
— Sério isso? – se surpreende.
Lógico que a bicha é ruiva de farmácia, né? E se ele fosse realmente Bee já teria notado que as sobrancelhas da Jú são mais escuras do que o cabelo. É... ele é definitivamente um bofe!
— Pois é! – e ele começa a desembesta a falar. E ela só confirma tudo que diz com a cabeça.
Quando o Henrique (graças ao bom Deus) termina o cigarro, ele nos segue de volta para pista. Mas, o pentelho dá meia-volta e pergunta agora para o segurança.
— Você fez a xuca?
O segurança (lindo de morrer, aliás) disfarça e faz com que não é com ele. É a vida.
Descemos e voltamos à pista. O Dudu quando me vê, faz uma feição emburrada.
Sugestão de trilha sonora: Music and Winte(Th’ Attaboy Vocal) – Blue Six
Chego mais perto e pergunto:
— O que foi? Alguém não te deu bola?
— Você!
E a resposta é tão assertiva que me assusto.
— Mas, bee! Só subi com eles!
— Eu sei! Deixa para lá! – e volta a dançar.
Faço uma cara. Bem, se ele acha que eu iria pegar alguém... Genteney! Para, né? Ciúmes de mim?
— Vou fazer xixi! – aviso.
— Vou junto! – do nada o Dudu fala.
— Oi? Você vai chacoalhar para mim?
— Estou apertado! Posso? – ele reclama.
E quando viro para trás, não é que a Jú e o Henrique mostram os polegares. E aí entendo pelos lábios que a Jú diz: “Vá em frente!”. Só mexo a cabeça negativamente.
Faço xixi, lavo as mãos e espero o Dudu.
— Oi, Tony! – cumprimento.
— Gostando da festa?
— Amando! – digo. – Aliás, adorei o novo layout da página e logo da festa.
— Sério mesmo?
— Ahãm!
E escuto alguém pigarreando atrás de mim. E quem é?
— Ah, o Dudu.
— Opa, desocuparam o banheiro. – ele avisa para o Tony.
Viro para meu amigo, e reclamo:
— Bicha, você tá muito possessiva!
— Estou só de guarda para que você não faça mais uma besteira!
Tá! Sei que há vezes que me descontrolo e se aparece um boy... bem, já viu, né?
— Hoje, estou uma lady! – digo.
— Mais discreta que as candidatas do RuPaul Show! – ele me provoca.
— Tá, saquei! Pixta?
— Sim! – ele faz uma reverência como fosse uma marquesa. É hoje, viu?
E a festa transcorre! E que noite! Sinto o meu celular vibrar, e o apanho. Tá brincando que já são 5 horas? Aff! Mas é assim, né? Tudo que é bom, corre muito rápido.
Cutuco o Dudu que dança de olhos fechados viajando na música.
— Bicha, vamos!
— Já? – reclama.
— Já!
Nos despedimos do pessoal, e abraço a Jú dizendo:
— Agarra aquele bofe!
— Quem? – ela indaga. Ou tá bebinha ou com sono. Genteney!
— O Murilo gostosão! Se você não o agarrar, o agarro!
Ela arregala os olhos e as sobrancelhas mexem.
— Tá louca?
— Zarpar? – indaga o Dudu.
E assim caminhamos com as pernas doloridas, mas dançando em direção à caixa. Calculado as comandas, pagamos a conta. E rumo à rua.
Logo avistamos o Jefferson.
— Opa! Demorei?
— Que nada! Chegou mais cedo do que deveria!!! – brinco.
No caminho conversamos alegremente e o Dudu com cara enjoada.
— O que foi, biba? – pergunto baixinho.
— Nada!
— Nada?
— É!
Hum, hoje definitivamente ele está mais azedo do que um litro de limonada sem açúcar.
— Quem deixo primeiro?
— Ele! – respondemos juntos eu e o Dudu.
Quando percebo, viro para meu amigo e dou risada. E ele continua sério.
— O que foi, Bee? – o empurro brincando. E do nada... Do nada... o sinto me abraçando e os seus lábios tocando os meus.
Oiiiiiiiiii? Fico imaginando o que o Jefferson pensa quando nos encara através do retrovisor o nosso beijo. Aliás, o beijo que o Dudu arrancou de mim. E o beijo começa a ficar mais... Hum... Profundo?
O largo e o encaro. A respiração presa, meu coração batendo tão forte... ai, tá, Bee.... agora, rola um clichê? Como um tambor! O Dudu continua sério e depois se vira do lado e diz baixinho:
— Desculpe.
— Bem, quem levo primeiro? – volta a perguntar o Jefferson.
— Seria melhor eu. – o meu amigo... será que meu amigo mesmo, ou... Parado, aí! Gosto desse avoado, gente?
— Tá bom!
Durante o percurso ficamos calados. Um silêncio quase constrangedor. E na minha cabeça passa mil coisas. Mil questionamentos. E mil perguntas. Fico tão entretido com a minha confusão mental e sentimental que nem percebo que o Jefferson para o táxi.
— Opa, chegamos!
O Dudu paga a parte dele sem olhar para mim. Abre a porta em silêncio e antes de sair me diz:
— Boa-noite!
Assim que ele fecha a porta, o Jefferson vira para mim e me pergunta:
— E aí?
Respiro fundo, mexo na minha carteira, pago o restante da corrida, sem falar nada. O taxista fica um tanto perplexo. Abro a porta e digo:
— Pode ir!
Fecho a porta do carro e grito em direção do meu amigo (se é que posso chama-lo assim, agora):
— Dudu! Espera!
E saio em disparada atrás dele.
Fim!
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E aí, curtiu o yaoi de leve? E como queria escrever uma one só para o Felipe e com uma trilha toda desenvolvida justamente na festa em que os personagens vão. Bora para o glossário?
Glossário - Cadê os Bombeiros?
Víntimas - Esta festa realmente existe! E desde já agradeço ao Alberto Neto que gentilmente nos deixou mencionar esta festa tão maravilhosa que é o Víntimas! Itinerante, que ocorre uma vez por mês, com muita classe, gente bacana, bonita e o som... ah, o som! Se você gosta de house de qualidade, seja bem-vindo(a). Óbvio que ela ocorre aqui na cidade de São Paulo, Capital. Quer conhecer mais? Vai aí a página da festa: https://www.facebook.com/vintimas?fref=ts
A Lôca - famosa casa noturna GLTB na região da Rua Frei Caneca. Ela chega a ser mítica por toda a sua história.
Esquenta - próprio nome já diz, uma pré-festa com amigos. Bebericar, papear ou até jantar.
Jerônimo Sodré - só quem viu o baiano Jerônimo tocar de perto sabe o quanto ele é sensacional (não, não estou jogando confete! O cara manda muito bem!). Ele é um dos muitos convidados para a festa Víntimas.
(...)Amaury Júnior na época do The Gallery(...) - O Amaury é um jornalista famoso em cobertura de eventos e festas de famosos. Ele está na ativa desde os anos 80. E foi período (década de 80) que surgiu a The Gallery, uma famosa casa noturna aqui em São Paulo. Lá foi palco para apresentações de cantores do quilate de Tim Maia, Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Era uma casa específica para grã-finos.
Bicha pão com ovo - traduzindo literalmente: bicha pobrinha.
Tranca-Rua - Exu Tranca-Rua é uma das entidades da religião Umbanda. Ele pode muito bem abrir ou fechar caminhos das pessoas. Bastante respeitado pelos seguidores. Infelizmente, ele é usado para pessoas que empatam a vida dos outros.
Festinha fuleira do Cambridge - é uma festa que acontece aqui em São Paulo, mas por estado de precaução, não vou dizer qual é.
Ele não é do babado - ele não é gay.
Set - sessão de música.
Xuca - método de limpeza do ânus para a prática do sexo anal. Há várias formas, uma delas é a utilização do chuveiro ou sondas.
Teletubbies - programa de televisão direcionada para bebês e crianças na idade pré-escolar. Fez bastante sucesso entre 1997 a 2002. Os bonequinhos viraram cult para gerações mais velhas. Há uma lenda que os clubbers voltavam chapados das raves, chegavam em casa e assistiam ao programa.
RuPaul Show - programa da maravilhosa drag queen, RuPaul, que promove competição entre drag queens.
A trilha sonora foi toda inspirada justamente no estilo de música que toca no Víntimas.
E na próxima semana... Ah, aposto e ganho que você está torcendo para vê-los aqui! De quem estou falando? Rá, adivinhe ;) Beijos, muito obrigada por me acompanhar nesse projeto! E até na próxima sexta-feira com... CADÊ OS BOMBEIROS?