O Filho De Uma Traição escrita por Meninas De Preto, Agente Reis


Capítulo 22
Presente De Guerra




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Nós viajamos desconfortavelmente até o sol se pôr. Adeus montanhas, olá deserto. Bem, não tão deserto, eu ainda precisava da jaqueta pra me aquecer. Mas árido o suficiente pra ser chamado assim.

Quando começou a escurecer, o Javali parou em um riacho. Assim como nós, ele estava cansado e bebeu a água lamacenta como se fosse a melhor coisa do mundo.

—- Isso é o mais longe que ele irá - disse Grover - Precisamos ir embora enquanto ele está distraído.

Ninguém discutiu. Acho que eu não fui o único a ficar feliz desta viagem javalistica ter acabado. Pulamos das costas dele enquanto ele atacava uns cactos. Ele então grunhiu e correu de volta para o Leste, fazendo a terra tremer um pouco.

—- Ele gosta das montanhas - Percy suspirou.

—- Eu não posso culpa-lo - Thalia rebateu - Olhe.

Ela apontou pra frente, onde se formava uma estrada. Havia um povoado abandonado, e uma placa dizia GILA CLOW, ARIZONA. Mais além havia umas colinas, formadas de enormes montes de carros, ferramentas e sucatas. O maior ferro-velho que eu poderia imaginar.

Grover farejava o vento. Ele parecia bem agitado quando pegou suas bolotas e as jogou na areia. Então pegou sua flauta e tocou algumas notas, o que fez com que elas se organizarem. Ele as analisou, preocupado.

—- Aquelas seis nozes somos nós - Ele apontou para um grupo, depois para o outro - Aquele aglomerado é um problema.

—- Um monstro? - Thalia sugeriu e Grover pareceu desconcertado.

—- Eu não farejo nada, o que não faz sentido - Ele concluiu - As bolotas nunca mentem.

—- Então, pra onde devemos ir? - Eu perguntei, e Grover apontou pra o ferro-velho.

—- Aquele é o nosso próximo desafio - Ele concluiu.

Já estava bastante escuro e decidimos seguir viagem no dia seguinte. Eu estava particularmente cansado, e acredito que todos se sentiam assim também. Claro, depois de viajar metade do dia no lombo duro de um animal galopante, é assim que você deve se sentir.

Zöe e Bianca tiraram seis sacos de dormir de suas mochilas minúsculas. Não sei como eles couberam ali dentro, ao que parece eu ainda tenho muito o que aprender com as Caçadoras.

Estava frio o suficiente, e concordamos em fazer uma fogueira. Ajuntei algumas pedras enquanto Grover e Percy arranjavam algumas tábuas velhas das casas em ruínas. Thalia lançou um raio no monte de madeira e pedra, o que criou fogo.

Eu sentei no saco de dormir. Tirei o estojo da adaga da cintura e a amarrei na coxa. Não é grande diferença, mas pelo menos estava mais confortável. Ficamos lá, em volta da fogueira e admirando a beleza do céu noturno, em completo silêncio.

—- Nos dias antigos existiam mais estrelas - Zöe quebrou o silêncio - Várias constelações desapareceram devido a poluição humana.

—- Se Pã estivesse aqui, ele poderia consertar as coisas - Grover rebateu e Zöe concordou.

—- Pã? - Eu questionei e ele me encarou, severo - Não me leve a mal, eu sei quem ele é. Mas onde ele entra na história?

—- Foi ele quem nos mandou o Javali - Grover respondeu - Era a presença dele. Ele estava desaparecido, mas apareceu depois de eu beber café. Talvez, se eu beber mais, ele apareça de novo.

Ficamos em silêncio de novo, até que Thalia resolveu falar.

—- O bom é que já sabemos como nos livrar dos esqueletos. Deve ter muitos outros espalhados por aí...

—- Não podemos esperar eles aparecerem, temos que planejar nosso próximo movimento - Zöe disse - Precisamos continuar no Oeste. Atravessamos o ferro-velho e podemos pegar uma carona até a próxima cidade. Onde está o mapa?

—- Ficou na Van - Respondi.

—- Bem... Podia ser pior - Zöe continuou - Acredito que a próxima cidade é Las Vegas...

—- Não! - Bianca exclamou, assustada - Lá não podemos ir não!

—- Por quê? - Zöe perguntou, com a sobrancelha franzida. Bianca gaguejou.

—- Eu acho que nós ficamos lá... Eu e Nico... Não me lembro direito.

—- Bianca  - Percy interrompeu, parecendo preocupado - Onde vocês ficaram?

—- Num hotel...

—- Lotus Cassino? - Percy questionou.

—- Esse! - Bianca concordou - Como sabe?

—- Que hotel é esse? - Thalia fez a pergunta que eu tambem queria saber.

—- Dois anos atrás, Grover, Annabeth e eu ficamos presos lá - Percy explicou - Ele é feito para que você nunca queira sair, mas o tempo passa depressa. Ficamos uma hora, mas quando saímos cinco dias tinham passado.

—- Não! - Bianca exclamou - Não é possível!

—- Como vocês saíram de lá? - Eu perguntei.

—- Um homem veio e disse que era hora de ir embora - Ela gaguejou - Eu não quero falar sobre isso...

—- Mas quanto tempo vocês ficaram lá? - Eu continuei.

—- Eu não sei...

—- Você viu alguma diferença na paisagem quando voltaram? - Thalia questionou.

—- Bem... Não muita... Mas... Eu não lembro do metrô de Washington antes do hotel...

—- O metrô de Washington? - Zöe perguntou e Bianca assentiu.

Zöe franziu as sombrancelhas, em sinal de preocupação. Algo devia estar errado, porquê ela resolveu fazer uma pergunta aparentemente nada a ver.

—- Qual o nome do presidente dos EUA neste momento?

—- Não seja boba! - Bianca respondeu e disse o nome certo dele. Mas Zöe não se deu por satisfeita.

—- E quem foi antes dele? - Zöe continuou. Bianca pensou por um instante.

—- Roosevelt.

Zöe engoliu em seco.

—- Theodore ou Franklin?

—- Franklin - Bianca respondeu - F.D.R.

Nunca ouvi falar nesse tal, mas eu sendo brasileiro tenho motivo. Mas até os americanos ali fizeram cara de surpresa, como se também não o conhecessem.

—- Bianca - Zöe falou, pausadamente - F.D.R não foi o último presidente. Isso foi há cerca de 70 anos atrás.

—- Isso é impossível! - Bianca exclamou, olhando para suas mãos - Eu não sou tão velha...

—- Está tudo bem, Bianca - Grover falou - O importante é que você e Nico estão a salvo.

—- Mas quem será que tirou vocês de lá? - Percy perguntou. Bianca cobriu os olhos com as mãos.

—- Vamos mudar de assunto, gente - Eu falei. Bianca olhou pra mim agradecida, e vi que ela estava prestes a chorar. Mas antes que alguem falasse, fomos atingidos por uma luz ofuscante de um carro. Pegamos os sacos de dormir e saímos do caminho bem a tempo.

Quando a luz dos faróis foi desligada, vimos uma limusine branca parada a nossa frente. Sem vermos de onde veio, uma espada foi diretamente em direção ao pescoço de Percy. Eu e as Caçadoras pegamos nossos arcos, deixando a postos.

Da limusine saiu um homem grande, usando jaquetas de couro escuro, jeans também escuros,camisa branca e botas de combate. Óculos escuros cobriam os seus olhos, e seu sorriso me era familiar. Pelo fato de minha mãe ter me contado historias gregas, eu logo o reconheci como Ares.

—- Ares - Percy rosnou, confirmando minhas suspeitas.

Ares passou os olhos por nós e disse.

—- Relaxem pessoal, esse é um encontro amigável - ele estalou os dedos e todas as suas armas, exceto a espada, foram ao chão - Mas é  claro que eu queria ter sua cabeça como meu troféu, mas alguém quer ver você. Além disso, eu não decapito meus inimigos na frente de damas.

—- Damas? - Thalia perguntou.

—- Duvido muito que ela vá querer conhecer vocês... Então por que não vão pegar alguns tacos? - Ele apontou pra loja abandonada de tacos, que estava fechada.

—- Nos não vamos deixar ele sozinho contigo - Zöe falou.

—- Além disso, a loja de tacos tá fechada - Grover acrescentou. Ares riu e novamente estalou os dedos. As luzes da loja de tacos se acenderam. A placa que antes dizia "fechado" agora estava escrito "aberto".

—- O que você estava dizendo, garoto bode?

—- Podem ir - Percy disse - Eu irei cuidar disso - ele completou, mas eu senti a falta de confiança na voz dele. Mesmo assim, me virei para ir com os outros até a loja de tacos.

—- Você fica - Ares falou, segurando meu pulso - Quero falar com você.

—- Certo - respondi. Ele sorriu de lado e soltou meu braço.

Ares conduziu Percy até a limusine e o fez entrar. Depois voltou até onde eu estava.

—- Sabe quem eu sou, garoto? - ele perguntou.

Balançei a cabeça em sinal de afirmação.

—- Você é Ares, deus da guerra e pai de Clarisse.

—- Acho que Ártemis lhe informou bem, ou talvez o cabeça de bagre tenha me entregado - ele disse e eu sorri. Clarisse parecia com o pai no quesito Percy.

—- Ela me contava historias gregas 
sobre vocês, mas creio que o senhor não veio falar sobre isso.

—- Tem razão, não vim.
  
—- E então? - perguntei, indicando para ele continuar.

—- Vim lhe dar um presente - Ele disse, levando a mão a cintura. Só então percebi uma espada ainda na sua bainha.

—- Um presente? - repeti, franzindo o cenho.

—- Sim. Como você mesmo disse, sou o pai de Clarisse. Gosto da sua amizade com ela.

Ele falou e foi estedendo a bainha com a espada em minha direção. Eu a peguei.

—- Acredito que você irá dar o destino certo a ela - Ares continuou - Agora tire da bainha.

Eu fiz o que ele pediu. Tirei a espada da bainha, a espada possuía sua lâmina prateada, o cabo era revestido de couro, o pomo tinha um animal.

—- Gire o pomo dela - ele falou e eu o fiz. A lâmina se retraiu, sendo substituída por outra, desta vez dourada.

—- A lâmina inicial é  de prata, essa agora é de bronze celestial. Assim você pode usa-la em Missões ou em Treinos - ele explicou.

—- Obrigado.

—- Cuide bem da minha menina - Ele concluiu e eu me surpreendi.

—- Não acredito que você se importe com ela - Rebati.

—- Gosto de você, a sinceridade é uma virtude - Ele riu - Pode não parecer, mas eu me preocupo com meus filhos.

—- Eu imagino - Comecei a falar, mas parei ao ver Percy saindo da limusine.

—- Dê o destino certo a essa espada, garoto. E boa sorte! - Ares falou, se afastando. Ele trocou algumas palavras com Percy, e depois ele e a limusine desapareceram em uma nuvem de poeira.


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