Acabei de chegar em New Jersey para morar com minha irmã e estudar numa escola onde você não fique drogada por apenas respirar o ar dela.

Minha irmã se chama Kate. Ela mora num apartamento perto do centro da cidade e é gerente de uma das maiores lojas dali, então creio que o apartamento dela seja coisa de gente rica e não de uma garota da roça como dizem as pessoas de cidades grandes, embora eu seja muito civilizada.

Desço do táxi junto de minha mala e minha inseparável mochila toda surrada.

Passo pela porta de vidro e o porteiro me recepciona.

- Bom dia, senhorita. – ele sorri gentilmente. Seus cabelos eram grisalhos e eu era mais alta que ele.

- Bom dia. – retribuo o sorriso - Pode me chamar somente de Katherine.

*

Kate é uma pessoa fácil de se conviver, seu único defeito é que ela não aguenta ver nada bagunçado e acontece que eu sou mestra em fazer bagunça. Ela tem os cabelos brancos e longos, tem em torno de 1,65 de altura o que a faz menor que eu e tem olhos verdes.

Seu apartamento é, como eu já esperava, muito bem arrumado e muito bem decorado. Quando eu entrei ela me mandou tirar meus tênis e coloca-los num canto onde não afetaria a aparência do apartamento.

- Estou feliz que tenha vindo morar comigo – ela faz uma pausa – minha Lolita.

Mordo o lábio pra não falar nada que possa a ofender, porque eu vou morar aqui com ela e eu sei muito bem que ela pode virar o demônio caso eu a irrite.

- Eu já disse que não gosto que me chame disso. – tento imitar a voz dela – Lolita.

Ela me chama assim desde quando eu era pequena, porque ela dizia que eu seria o tipo de garota que deixaria os outros garotos babando e eu achava legal quando eu era pequena, agora eu já tenho 16 anos e sou totalmente ao contrário disso, embora ela diga que se eu me arrumasse mais faria jus ao apelido mas eu não quero, já estou no segundo ano do ensino médio. O que alguém faria se soubesse que tenho Lolita como apelido?

- Leve suas malas para seu quarto e volte pra cá. – ela pega uma chave que estava no chaveiro ao lado da porta – Hoje nós vamos sair pra comer.

*

Acordo com o barulho da porta do meu quarto se abrindo e uma cabeça aparece pela porta.

- Hora da Lolita levantar! – atiro um travesseiro nela por ter me chamado daquilo e a única coisa que ela faz é rir – Vamos, hoje é seu primeiro dia na escola.

Me arrumo de qualquer jeito como sempre. Uma camiseta preta de manga curta, calça escura, um coturno preto e uma jaqueta militar que era do meu pai da época em que ele era soldado. Está bordado seu/meu sobrenome na jaqueta.

Argent.

*

Me sento numa cadeira e coloco os braços no balcão da cozinha, aguardando o café-da-manhã.

Minha irmã e eu somos diferentes, não muito na aparência, o que muda é que os cabelos brancos dela são compridos e os meus estão pouco abaixo dos ombros, seus olhos são verdes e os meus são azuis e eu sou mais alta que ela. Já nossa personalidade é totalmente diferente, a começar por eu ser um desastre na cozinha.

- Credo! – ela coloca uma xícara de café na minha frente e faz uma cara de desaprovação – Você não vai assim pra escola, não é?

- Vou sim.

Ela mexe a cabeça.

- Enquanto você morar comigo, você terá que se vestir como gente.

Outra diferença nossa é que eu tenho um gosto totalmente oposto ao dela.

- Olha – ela colocou a voz num tom sério – depois da escola nós vamos as compras, entendeu?

Coloco a mão na cabeça do mesmo jeito que os soldados fazem.

- Entendido, capitã. – falo com ironia.

- Então vamos para o seu primeiro dia na Sweet Amoris – ela sorri – Lolita.

*

Meu Deus, que tipo de escola se chama Sweet Amoris?

No tempo em que eu passei estudando eu conheci algumas pessoas, dentre delas a que eu mais gostei foi a Rosalya, tanto que agora estamos conversando no pátio.

- Sério – ela segurava um riso – que você nunca teve um namorado?

- Pela quinquagésima vez Rosalya – solto um suspiro – eu nunca tive um namorado!

- Então vou arrumar um pra você. – ela falava com uma firmeza na voz – Mas só depois de mudar essas roupas.

Que maravilha, outra pessoa criticando minhas roupas no mesmo dia! Já não bastava minha irmã e aquelas três vadias que me empurravam logo que eu cheguei. A líder delas era a Ambre e tudo que eu mais quero é dar uma surra nela.

- Agora eu tenho que ir – ela se levanta do banco e limpa a sujeira de seu vestido – amanhã nos falamos novamente, adeus!

- Tchau.

Ela vai indo embora e agora, depois de tanta falar, estou morrendo de sede!

*

Corro para a escadaria para ir até o andar de cima, onde fica o único bebedor nessa escola que está funcionando ou que não tem gente ao redor.

Não tem ninguém na parte da escadaria, ou seja, caminho livre!

Avisto no terceiro degrau da escada um bloco de notas e o pego. Na primeira folha está escrito somente uma coisa, digo, um nome.

Lysandre.

Está escrito numa das mais belas letras que já vi em toda minha vida, nem minha irmã que é toda arrumada tem uma letra como essa. Tento pensar no nome de todas as pessoas que escutei pela escola e não ouvi nenhum Lysandre.

- Vou guardar. – coloco o bloco num dos bolsos da minha jaqueta e subo as escadas.

O corredor está vazio, acho que é porque as aulas já acabaram e eu sou a única louca que ainda está andando por estes corredores.

Ando um pouco mais e vejo um garoto de cabelos prateados com uma roupa um tanto... peculiar. Ele estava bebendo agua e nem percebeu que eu estava ali.

Ele se levanta e vejo seu rosto, um dos mais bonitos que já vi e o que chama mais atenção são seus olhos de diferentes cores. Oh céus, ele tem heterocromia!

- Algum problema? – ele pergunta com uma voz calma.

Percebo que estava encarando seus olhos e desvio o olhar o mais rápido possível.

- N-não, é... – percebo que estou fazendo papel de idiota e tento voltar ao normal – Só vim aqui para beber água. Ah, por acaso conhece um tal de Lysandre?

Ele sorri de canto.

- Eu sou Lysandre. – sua voz continuava calma.

Pego o bloco de notas e entrego a ele.

- Encontrei isso na escada.

- Obrigada, achei que o tivesse perdido novamente.

Eu não conseguia parar de encarar aquele garoto, ele era tão diferente e tão calmo. Eu nunca fiquei assim perto de alguém e estou me culpando por ficar assim.