Acordei às seis horas, esfregando os olhos (como qualquer pessoa em sã consciência que acorda cedo faria), e percebi que graças a deus o ritual satanista que ocorria na minha casa havia acabado (e põem graças a deus nisso).

Hoje eu iria para a universidade. Não era oficialmente uma universitária, porque eu iria somente cursar o ensino técnico básico, já que ainda não havia decidido que rumo tomar, mas queria ir à universidade logo, para me instalar de uma vez.

Separei umas cinco malas (nunca usara tantas na minha vida), claro, não eram somente malas, também bolsas e mochilas, com roupas, mangás, cd's, minha coleção de cosplays, e outras coisas mais.

Fui ao banheiro, lavei meu rosto e fiz o resto da higiene pessoal (não gosto de falar disso) e coloquei meus óculos.

Quando cheguei na cozinha para tomar o café da manhã, tinha gente espalhada por tudo. POR TUDO.

Minha mãe acordou com aquela cara de adolescente que bebe que nem cachorro e dá festas de arromba, e no outro dia nem sabe o que aconteceu. Só que ela NÃO É ADOLESCENTE.

Preciso, de fato, cuidar melhor da minha mãe.

–Filha, tá indo para onde?

–Pra universidade, obrigada por lembrar. -disse, dando um sorriso irônico.

–Hm.. e Mamoru-kun vem te buscar?

Mamoru-kun é meu pai. Hisao Mamoru é meu pai. Meu pai que só fala comigo nos feriados e sempre que pergunto quantos anos tenho ele responde "15?". Isso ocorre desde meus 12 anos. Quer dizer, meus pais só separaram-se a 10 meses.

Eu tinha um irmão mais velho também. Se chamava Hisao Satori. Eu e meu irmão conversávamos e éramos grandes amigos. Mas ele morreu já faz um ano, e ninguém sabe a causa. Meus pais separaram-se desde que isso aconteceu e minha mãe virou uma bêbada. Meu pai deve ter virado um egocêntrico, porque nem liga pra nós. Só sei que eu tenho meio-irmãos-gemêos-mais-velhos que são muito legais, o Hisao Ichiro e Akemi Ishi. Ishi-san era muito bonita e gentil e Ichiro-kun sempre quebrava uns galhos pra mim, como estava fazendo agora.

–Não mãe, Ichiro-kun vai me levar.

–Se é pra chamar os filhos da baranga do seu pai, chama o táxi.

Eu resolvi ignorar essa. Em dez minutos Ichiro-kun estava ali, com sua nova namorada que eu não fazia ideia o nome. Me ajudou a colocar as malas e partimos.

–E então Mizuki-chan, o que vai cursar na universidade?

–Eu resolvi cursar o ensino técnico geral, para depois decidir o que fazer.

–Boa escolha, eu fiz o mesmo. Minha irmã passou direto para a umiversidade de medicina sem pensar. Agora está lá, se matando e nem sequer pude trazê-la hoje.

A menina no banco somente fazia cara de paisagem, como quem dizia "me apresente pra pirralha".

–Prazer, sou Tachibana Mizuki.

–Prazer, Mitsue Miki. Você é muito linda Tachibana-san.

Eu sabia que aquele prazer e os elogios eram falsos, então agradeci falsamente e ficamos em silêncio até a universidade.

A frente da universidade estava lotada de adolescentes, que pareciam em protesto. Descobri depois o que havia ocorrido.

Os apartamentos haviam se tornado mistos.

Isso significa um MENINO e uma MENINA no mesmo apartamento.

Entrei e fui checar a minha localização e a classe em que fiquei. Olha que coisa linda :

" Classe T-1

Primeiro ano do ensino técnico.

Quarto 101

Tachibana Mizuki e Atsushi Yamato."

Eu sabia. Aquele menino era um espião anônimo estuprador de gente. E ele implantou um chip com câmera naquele papel que ele me deu para que isso acontecesse. Óbvio, isso é completamente lógico.

A escola era enorme, muito bonita e muito moderna, e eu claro que ia me perder. E claro que eu ia esbarrar em alguém. Eu estava andando com as minhas malas até o quarto e caí encima de uma menina. Seus cabelos eram curtos e ela andava sozinha. Provavelmente ela estava no ensino técnico, pois usava as sapatilhas que tinham detalhes bem fracos e estava escrito "técnico" nelas, e pelo que entendi eram as consideradas brancas. Eu derrubei as minhas malas e as dela e em seguida nós duas começamos a juntar. Quando terminamos, a menina saiu andando depressa sem nem falar comigo. Não era como se eu me importasse, mas ok.

Depois de muito andar, eu finalmente encontrei o elevador e as escadas. Como tenho claustrofobia e aquele elevador não parecia muito grande, eu fui pelas escadas. Adivinha a burrinha que tropeçou e caiu? Óbvio que fui eu! Eu caí encima de alguém com um perfume familiar, e logo me perdi em seus olhos outra vez. Era Yamato. Senti meu coração acelerar e logo meu rosto queimou, o dele também parecia corado.

– Oi.-disse ele, e deu um sorriso nervoso, e corou mais ainda.

Logo eu desviei o olhar de seus olhos que pareciam cristais brilhantes, e voltei a mim. Levantei depressa e voltei a subir as escadas.

–Engraçado -ele prosseguiu -achei que só eu costumava subir as escadas. Tenho um medo enorme de elevadores.

Eu ignorei novamente.

–Estamos no mesmo quarto. Sabe onde fica?

–Não sei.

–Nossa -ele riu nervoso de novo -eu esperava que tu soubesse, porque eu não sei. -Disse, passando a mão na nuca, fazendo balançar seus cabelos sedosos.

–Estou tentando achar...

–Vamos procurar juntos então-disse, dando um sorriso e pegando a minha mão. -Temos de subir dois andares certo?

Eu não conseguia dizer nada. Estava estática com o toque de sua mão na minha. Era um toque reconfortante, parecia que era natural as nossas mãos se tocarem. Sua mão era grande e estranhamente ossuda (creio eu que a mão dos garotos seja assim mesmo), e as vezes ele apertava a minha mão, acho que para ter certeza de que eu estava ali.

Andamos por muito tempo assim, eu estava com meu rosto escondido no capuz, pois estava incrivelmente corada, e ele também parecia um pouco sem jeito, pois tinha uma expressão um pouco envergonhada.

Caminhamos por muito tempo até finalmente encontrarmos nosso quarto, eu soltei sua mão e entrei. Já era bem tarde, umas 8:30PM

O apartamento era tipo, umas duas vezes maior que o primeiro piso da minha casa. Tinham dois sofás logo na entrada, com uma TV, um Ps3 (eu fiquei tipo "uau" porque eu trouxe meu ps2), um monte de filmes e jogos esquisitos e alguns armários. Haviam três portas. O quarto era muito bonito e tinha um odor muito agradável. Haviam duas camas, ambas arrumadas em bege, duas cômodas, cada uma com um despertador e um abajur. Haviam prateleiras para colocar livros e dois guarda-roupas enormes. Havia somente um sapateiro, mas eu não ligava muito pra isso. Havia também uma sacada linda, cheia de flores e era envidraçada (sorte, porque se não, com o medo de altura que tenho, eu nem chegaria perto). As outras duas portas eram dois banheiros.

Em seguida, Yamato enteou e teve a mesma reação que eu.

–Uau, se eu imaginasse que já tinha um console aqui...

–Não teria trazido meu ps2 -completei a frase.

Ele tirou todos os seus pertences de sua mochila e foi para o quarto.

–Por favor, escolha a cama, o armário e o banheiro de tua preferência -disse, olhando para baixo meio sem jeito.

Eu escolhi, e em seguida começamos a colocar as coisas. Até que não foi tão ruim, porque eu descobri que meu colega de quarto gosta do mesmo que eu. Haviam mais de seiscentos mangás ali, com certeza. Ele ficou encantado ao ver minha coleção de cosplays e perguntou qual eu preferia usar.

–Eu nunca usei meus cosplays...

–Tenho certeza de que ficaria linda com eles. -ele disse, e em seguida ficou "vermelho" (como costumam dizer).

Me perdi de novo em seus olhos. Tudo que eu queria era que aqueles diamantes jamais desviassem o olhar.