Deixe-me Gritar escrita por Mrs Days
Notas iniciais do capítulo
Betado por Lu SweetLu do Perfect Design
Eu sempre soube que era diferente, que tinha reações diante de certas situações diferente de outras pessoas. Como a morte, por exemplo. Tinha medo dela por outros motivos, nada convencionais. Não gostava de vê-la perto das pessoas e como era afetada pela mesma. Não que isso me torne realmente diferente. Cada um reagia com a morte de forma diferente, só que eu ficava doente. A morte me matava aos poucos ao mesmo tempo que me deixava viva.
Não sabia o que isso significava, só tinha noção de uma coisa. Nada em mim era notoriamente normal.
— Andie, está tudo bem?
Pisquei com força, tirando meus olhos dos carros e das ruas que cercavam o carro em que estava com meu namorado, Julian. Tínhamos parado no sinal vermelho e percebi que estava encarando uma garotinha havia um tempo. Quase contra a minha vontade arrastei meus olhos até que encontrassem os olhos azuis e preocupados de Julian.
— Desculpe, estou pensando nas provas finais — menti e suspirei. — Não sei se estou preparada e Cassidy quer sair na véspera do final do período — passei os dedos por meus cabelos cacheados e castanhos. — Você sabe o quanto sou perfeccionista.
Julian pegou em minha mão e a levou na direção de sua boca, até que seus lábios tocassem em minha pele. Imediatamente me arrepiei. Ele não desviou os olhos dos meus, o que me fez ficar arfante e se minha pele escura permitisse, estaria corada. Dei um sorriso trêmulo e suspirei de prazer ao sentir seus dedos acariciando minha palma.
— Você é perfeita, mesmo quando está estressada — ele disse com calma e soltou minha mão por conta do sinal que tinha aberto. — Só queria que me contasse o que se passa nessa sua cabeça de vez em quando.
Pressionei os lábios juntos, culpada. Nunca tinha contado sobre a minha condição para ninguém. Não, na verdade meus pais meio que já suspeitavam de minha normalidade. Era praticamente impossível reter os gritos quando se está de frente com a morte. Inconscientemente minha atenção retornou para a garotinha que já tinha atravessado com a mãe.
Ela sorria e saltitava com as suas tranças loiras enquanto sua mãe se empenhava em não deixá-la se soltar. Engoli a seco, retraindo-me com a dor que me tomou naquele lugar. Tive o instinto de tampar o nariz por causa do cheiro podre que encher o ar ao meu redor. Minha pele toda tremia e passei a ponta do meu dedo por meu pescoço, apenas para ter a real concepção de que não estava sendo sufocada, por mais que sentisse isso.
Fechei os olhos e todas essas sensações desapareceram. Era uma solução momentânea, porque quando os abrisse novamente, tudo retornaria com o dobro de força. Dificultava admitir, porém a verdade estava estampada. Aquela garotinha iria morrer em breve. Talvez no próximo minuto ou na próxima hora. De hoje não passaria.
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