O céu ganhava uma coloração alaranjada, embora fosse um pouco difícil vê-lo realmente. Os grandes prédios e outdoors e além das fachadas que pareciam nunca se apagar impediam de ter uma visão grande e majestosa do céu noturno.

Natasha estaciona o carro próximo ao restaurante, pega o celular e as chaves e sai do mesmo. Mesmo ainda estando no verão um vento frio faz a ruiva se encolher e praticamente correr até o restaurante.

“Boa noite” Sharon a cumprimenta assim que a vê cruzar as portas.

Ela estava em pé próxima a entrada, para recepcionar todos os clientes.

“Boa noite.” Natasha responde sem emoção na voz.

“Você vai jantar ou...”

“Onde está o Steve?” Natasha pergunta interrompendo Sharon.

“Acho que na cozinha.” Responde desconcertada. “Quer que eu o chame?” a educação e o sorriso simpático da loira irritavam Natasha, porém as palavras de Hope voltam a sua cabeça e ela decide prestar atenção na Barbie.

“Não é necessário. Mandei um sms pra ele.” ela avisa balançando o celular. “Desculpe pelo sábado. Eu estava cansada e bom, acho que exagerei um pouco.”

Sharon parece ficar realmente surpresa com o pedido de Natasha, pois arregala os olhos num misto de confusão e surpresa.

“Tudo bem.” Ela dá de ombros “eu entendo.”

“Eu esqueci seu sobrenome.”

“Carter. Sharon Carter.”

“Carter... acho que já o ouvi antes...” a ruiva comenta pensativa.

“Minha tia Peggy Carter foi uma das primeiras mulheres a exercerem um cargo importante no exército durante a segunda guerra mundial.” Esclarece com certo orgulho.

Natasha ergue as sobrancelhas.

“Então você é de Nova York?”

“Sim. Mas não vivi aqui minha vida toda. Morei na Europa alguns anos com minha mãe e quando ela morreu, voltei para casa.”

“E seu pai?” Natasha conseguia colocar o nível certo de curiosidade e indiferença na voz.

“Nós não tínhamos muito contato e ele morreu há alguns anos.” Algo brilhou nos olhos da loira e Natasha reconheceu aquilo imediatamente. Mentira.

A loira havia mentido sobre o pai e quando Natasha abriu a boca disposta a descobrir o que a loira estava tentando esconder, a voz de Bucky adentrou seus ouvidos.

“Hey Nat!”

“Hey Bucky” a ruiva fala embora seus olhos ainda estejam grudados na loira a sua frente.

“O Steve pediu pra avisar que ele vai demorar um pouco, então, você não quer esperar por ele na cozinha?” o moreno sugere e é perceptível sua ansiedade.

Natasha engole seco. Durante a festa ambos estavam bebendo e não ficaram sozinhos um único instante, e o resto do fim de semana cada um passou na sua casa tentando sobreviver a ressaca. Mas agora, finalmente era a hora.

“Claro!” Natasha concorda já caminhando na direção do moreno “até mais Carter.” A ruiva se despede.

“Até mais Romanoff.” Sharon fala com um sorriso educado e um olhar repleto de malicia.

A ruiva não gosta daquele olhar tão pouco da forma como seu sobrenome soou saindo da boca da Barbie.

“Algum problema?” Bucky pergunta preocupado.

“Não nenhum.” Responde voltando sua atenção para o moreno “e seu fígado? Como está?’ pergunta com deboche.

“Está ótimo! Pronto pra outra!” exclama batendo levemente na barriga.

Ambos riem e ficam em silencio. Natasha podia quase ver o cérebro de Bucky pensando numa forma de questiona-la sobre a peruca. Eles estavam a poucos passos de distância da entrada de funcionários que daria na cozinha quando Bucky para e a segura pelo braço.

“Natasha, eu, bom... nós somos amigos certo?” pergunta com o semblante sério.

“Sim, claro.” A ruiva confirma.

Bucky respira fundo, ele provavelmente não sabia como chegar lá, embora uma das suas maiores características fosse ser sempre direto.

“Bucky, seja lá o que você quer falar, é melhor falar logo. Você está me deixando preocupada...” Natasha incentiva se fazendo de desentendida.

O moreno a analisa com cuidado.

“Você sabe sobre o que eu quero falar.” Murmura baixo olhando diretamente nos olhos verdes da ruiva “por favor, não se faça de desentendida.”

“Eu? Do que você tá falando?” insiste na mentira.

Bucky suspira numa mistura de frustração e irritação.

“Já que você quer jogar...” começa “eu sei que foi você que esbarrou comigo naquele dia próximo daqui. Mesmo com aquela peruca loira eu reconheci você e você me reconheceu, por isso saiu correndo daquela forma.”

“Bucky, porque eu usaria uma peruca loira e fingiria não te reconhecer? isso não faz sentido.” Natasha afirma com convicção.

“É exatamente isso que eu quero saber.” Exige “olha, eu te considero muito. Você é uma das minhas melhores amigas, provavelmente a única com quem eu nunca fui pra cama, e eu gosto muito de você. Mas eu gosto ainda mais do Steve. Ele é mais que um irmão pra mim, e se você estiver o traindo ou.”

“Cala a boca!” ela exclama com dureza interrompendo o moreno “Nunca mais ouse sugerir, insinuar, ou cogitar uma coisa dessas. Eu nunca trairia meu marido. Nunca trairia o Steve!” ela praticamente cospe as palavras na cara de Bucky.

Ela nunca traiu o marido – nem mesmo quando o trabalho exigiu e seu disfarce ficou em perigo – mesmo naquela situação ela se manteve fiel a ele.

“Nat, me desculpe.” Bucky pede completamente constrangido.

“Eu amo meu marido e não vou aceitar que você me faça acusações baseadas em... em...” ela procura alguma palavra mas nenhuma lhe vem à cabeça. “Não era eu Bucky.” Afirma e sai, deixando Bucky parado com um pedido de desculpa nos olhos.

Ambos se sentiam mal e ela esperava que Bucky não voltasse a tocar naquele assunto. Entretanto, o moreno ainda se mantinha firme na sua convicção, embora estivesse pensando em outros motivos que levariam a ruiva a usar uma peruca. Ele acreditara na esposa do amigo e se sentia um idiota por tê-la acusado daquela forma, mas que outro motivo haveria? Aquele foi o primeiro e o mais persistente de todos os possíveis e impossíveis motivos que lhe surgiu na cabeça.

Contudo, agora ele iria se concentrar em conseguir que a ruiva aceitasse seu pedido de desculpas, o que definitivamente não seria tarefa fácil. Ele suspira frustrado e também entra na cozinha.

Natasha vê Bucky cruzar as portas e lhe dá as costas. Ela se sentia mal por ter mentido para ele e sido até mesmo grossa, porém achava completamente inadmissível – embora compreensível – que ele a houvesse acusado de traição. A mente dos homens, assim como de muitas mulheres era limitada e ia procurar a explicação mais logica para certas situações. Traição era a mais logica naquela. Uma peruca loira para evitar ser descoberta pelo marido ou conhecidos.

Bucky passa por ela e fica claro em seus olhos o pedido de desculpas, mas ela ignora e fecha a cara numa carranca exasperada. Ela sabia que seu lado racional logo aceitaria as desculpas e até mesmo acharia legal o que o moreno fez tentando defender a honra – masculina – do marido. Contudo, seu lado emocional ainda estava magoado. Ela podia ser várias coisas, mas infiel não era uma delas.

Ela observa Bucky abaixar a cabeça ao cruzar com Steve e suspira aliviada. Pelo menos o moreno não havia compartilhado suas suposições com o marido.

“Desculpe te fazer esperar, acabei ficando preso numa reunião com o gerente.” O loiro explica ajeitando a bolsa no ombro.

“Tudo bem.” Natasha diz dando de ombros. “Vamos?”

“Claro.”

Steve se despede de algumas pessoas e de Bucky, que apenas acena a distância. Sharon não estava mais no lugar onde Natasha havia encontrado ela, mas quando saíram do restaurante, era possível ver através do vidro, a loira com alguns clientes numa mesa mais afastada.

Ela parece sentir os olhares sobre si, pois ergue a cabeça no momento exato e dá um sorriso contido de despedida. Natasha a fuzila com os olhos. Eles chegam ao carro e entram, Natasha ajeita o retrovisor e Steve joga a bolsa no banco traseiro.

“Estepe novo, ai vamos nós.” Anuncia com um sorriso quando a ruiva acelera o carro.