Herdeiros do Olimpo escrita por Junior Dulcan, Starkiller, Steward Robson


Capítulo 8
Zachary – Corvos, doninhas, cães e focas. Minha vida virou um zoológico.


Notas iniciais do capítulo

E então semi-lindos.... Essa semana não tem capítulo da Cecília. Então escrevi um capitulo um pouco maior do Zack pra vocês. Espero que gostem e comentem o que acharam.



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"Se estiver perdido numa floresta, sendo seguido por monstros que querem te matar, siga a doninha. SIGA-A-DONINHA."

No capítulo anterior Zack e seu pai foram atacados por uma horda de zumbis e Diogo começou a revelar o passado de Zack e falar sobre sua mãe.

Se eu não tivesse visto tudo que eu vi naquela noite, teria internado meu pai imediatamente após aquela conversa. Era inacreditável e não de um jeito bom. Eu ainda me recusava a acreditar que tudo aquilo era real.

—Eu não faço nem idéia de por onde começar essa história. – meu pai parecia mais nervoso que o normal, ele passou tanto tempo me negando aquela parte de minha vida que agora não sabia como fazer isso.

— O que a minha mãe tem haver com isso?

— Tudo. Nossa família existe graças a ela, para começar.

— Isso parece confuso.

— Acredite, vai ficar pior. Eu tive bastante tempo para entender e aceitar, mas infelizmente tempo é um luxo do qual você não dispõe. Então tem que confiar e acreditar em mim.

— Então me diga a verdade, pare de esconder as coisas de mim.

— Há alguns anos atrás, sua avó e certo rapaz se conheceram e se apaixonaram perdidamente. Quis o destino que esse amor não se concretizasse, o rapaz morreu precocemente, antes mesmo que pudessem se casar. Sua avó ficou arrasada, nunca mais conseguiu amar ninguém, apesar de se sentir sozinha e sonhar com uma família que pudesse amar. Ela ainda fazia previsões nas ruas como cigana e em suas pesquisas exotéricas encontrou uma lenda, sobre uma deusa que realizava o maior desejo de seu coração. Ela levou anos para reunir as informações e o material necessário para o ritual. Com tudo pronto ela esperou um dia mais propício, o solstício de inverno. Ela fez o ritual, invocou uma deusa chamada Hécate e implorou que ela trouxesse seu amado de volta a vida. Não conheço os detalhes tão bem, mas a deusa parece ter feito com que ela encontrasse seu avô, por quem ela se apaixonou e dessa união eu nasci.

— Quer mesmo que eu acredite que a Vó Liz convocou uma deusa grega e que essa deusa fez um homem do nada e que esse homem é o Vô?

Meu pai estendeu as mãos e novamente a estranha névoa começou a se contorcer até elas, se revolvendo ali por um tempo, quando a estranha nuvem se dissipou ele tinha nas mão uma caixa que eu conhecia bem até demais.

— Não é possível que depois de tudo que viu ainda se recuse a acreditar.

— Não me culpe por isso. Você vem reprimindo esse tipo de crença em mim há onze anos.

— Tudo bem, me desculpe por isso, mas é que quando você começou a ver através da névoa e descrever os monstros eu entrei em pânico. Quanto menos soubesse sobre tudo isso, quanto menos acreditasse nos monstros mais difícil seria detectar você.

— Todas as coisas que eu via, todas as pessoas que eu achava que minha imaginação e TDAH faziam parecer monstros... - comecei a andar pela sala. - Eram monstros de verdade?

— Provavelmente. Sua recusa a acreditar naquilo parece ter mantido você a salvo, até depois do seu aniversário de onze anos. Desde então mais e mais monstros têm rondado nossa casa, sua escola, a loja e vários outros lugares em que você costumava estar. Esse foi um dos motivos de mudar. O segundo é que aqui, nesse país, há um lugar para pessoas como você.

— O que exatamente significa "pessoas como eu"? E onde minha mãe entra nisso? Você disse que ela fazia parte dessa história desde o começo e nem tocou nela.

— Eu falei sim. E por pessoas como você eu quero dizer meio-sangues. Crianças que nasceram da união entre um mortal e um deus. Zack, você é um semideus.

Praticamente me obriguei a não cair na gargalhada. Meu pai não podia estar falando sério. Diogo H. Baltazar, o cético vendedor de artigos de ocultismo, que sempre tratou magia como truques e ilusões, não podia estar ali me dizendo que acreditava que eu era um semideus. Só que olhando em seus olhos, eu via a sinceridade, confiança e fé que eu tenho visto por toda minha vida. Vacilei por um instante e quase caí no chão. Não era verdade. Não podia ser verdade. Deixei de questionar a veracidade para seguir a um ponto mais complicado no momento. A identidade de minha mãe.

— Qual o nome? - foi tudo que consegui dizer.

— Acho que já sabe a resposta. Como sua avó sempre disse, cuidado com o que deseja, pois toda magia tem seu preço.

— Hécate. - afirmei, mas ele balançou a cabeça confirmando mesmo assim.

— É por isso que você pôde ver através da Névoa desde muito novo.

— Névoa?

— Ok. Do começo. Existe uma força mística que mantém monstros e lugares mágicos ocultos dos olhos dos mortais. Essa força se chama Névoa. Semideuses e alguns mortais especiais podem enxergar através dessa força se treinarem e/ou se focarem bastante. - meu pai explicou todo didático.

_ Névoa... - disse pensativo.

Minha memória vagou para anos atrás, para todas as coisas estranhas que eu achava estar alucinando. Todas elas sempre pareciam tremular antes de começar a mudar como se algo embaçasse minha visão, como uma neblina.

— Você lembra não é. De todas as vezes que seu cérebro tentou dissipar a Névoa e você se forçou a cobri -la. - disse ele com um meio sorriso. - Isso é bom. Seu controle natural sobre a Névoa advindo de sua parte olimpiana foi de alguma forma potencializada pela linhagem de nossa família.

— Confuso, mas se mortais não conseguem ver através da Névoa, como o senhor pode não apenas ver, mas usar também?

— Seu avô foi criado da Névoa. De alguma forma herdei dele essa habilidade. Ele era cem vezes melhor que eu nisso. Podia criar coisas apenas imaginando elas. Ainda assim eu e ele temos uma limitação em comum. Nunca fomos capazes de criar vida de verdade. Ilusões de animais ou plantas sim, mas a coisa de verdade só a deusa da Névoa é capaz de fazer.

— Deixe-me adivinhar. Essa deusa é Hécate?

— Sim. Tenho apenas até o verão para te mostrar como usar a Névoa e então te deixar em um lugar seguro. Agora que sabe a verdade, vai chamar muito mais atenção dos monstros.

— Ótimo. Não poderia ser melhor.

— Vamos dormir agora. Amanhã você começará uma nova vida, em um mundo totalmente diferente.

Apesar do cansaço, minha cabeça estava fervilhando com tudo que vi, ouvi e descobri hoje. Eu era um semideus, minha mãe, a quem eu nunca pude conhecer, era a deusa patrona da Névoa. Eu estava sendo perseguido e nem sabia o motivo. Apaguei em meio a meus pensamentos e o som daquele pássaro estúpido. Treinei com ele durante seis meses. Aprendendo o que ele sabia sobre controlar a Névoa. Difícil não descreve o quão problemático aquilo era. Faltando mais ou menos quinze dias para o meu aniversário ele me deu uma caixa de madeira de presente, "a caixa de madeira" na verdade. Temos uma história no passado. Meu pai tem essa caixa desde sempre. Eu tinha um fascínio quase sobrenatural por ela, já acordei varias vezes de um transe maluco com ela nas mãos ou a pouco de pega -la. De alguma forma ele sempre aparecia antes que eu pudesse abrí-la e me prometia que um dia saberia o que tinha dentro dela.

— Essa caixa é um presente de sua mãe, ela deixou comigo no mesmo dia que me trouxe você. Disse que só deveria deixar você abrí-la quando fosse seguro te contar a verdade. Bem não sei sobre ser seguro, mas agora você sabe a verdade.

— Hécate deixou um presente para mim? Ela me ignora a minha vida toda e acha que uma caixa vai mudar tudo?

— Devo supor que não quer a caixa então? - disse meu pai já se levantando e andando para o quarto.

— Volta aqui com isso. - quase gritei.

Ele voltou para o sofá com um sorriso convencido no rosto. Não me julguem, eu teria descartado o presente, mas aquela caixa tem uma influência anormal sobre mim. Já sentado ele me entregou a caixa. Parecia um cubo de madeira entalhada, não havia aberturas ou rachaduras, parecia maciço. Os entalhes mostravam cães e um outro animal estranho pra mim e em uma das faces uma mulher com três rostos, cada um numa direção; esquerda, frente e direita. Agora eu sabia era uma representação de Hécate.

— Como eu abro isso? - perguntei.

— Não me olhe assim. Sou apenas o mensageiro.

Girei a caixa de tudo que foi jeito, apertei, puxei, empurrei e tentei girar cada uma das faces, mas nada aconteceu. Não conseguia pensar em nada que apenas eu pudesse fazer pra abrir aquilo, afinal eu não era nada, só um garoto qualquer. Então eu me lembrei que não era verdade, eu era filho de Hécate, deusa da magia, dos muitos caminhos e da Névoa. Foi como um estalo, como se a resposta estivesse ali o tempo todo. Respirei fundo e me concentrei, ainda não era expert naquilo, mas tinha meus truques. "Mostre o que eles querem ver" esse era o lema da Névoa. Me foquei na caixa, imaginando os sulcos da tampa, a pequena tranca com a chave dentro dela, fui me focando nessa imagem até acreditar que estavam mesmo ali. Minha visão ficou turva e a caixa que eu segurava agora era exatamente como eu tinha imaginado. Girei a chave e um clique destravou a tranca. Abri a tampa com o desenho da deusa e meu queixo caiu. Dentro havia um estranho cristal roxo escuro, que emitia um brilho que oscilava ficando mais forte e mais fraco, quase como uma pulsação. Peguei com cuidado, como se segurasse um coração. Não entedia o que aquilo queria dizer.

— O que é isso... - comecei perguntar enquanto levantava a cabeça para encarar meu pai.

Não estava mais em casa, nem sentado eu estava. Estava de pé no topo de uma espécie de montanha. Ao meu redor varias colunas de mármore e atrás de mim um arco grego feito em mármore. Varias tochas se acenderam e diante de mim estava a mulher de três rostos do entalhe da caixa. A seus pés um cão e o que agora eu reconheci como uma doninha.

— Você mudou desde a ultima vez que te vi no seu aniversário.

— Você estava lá? Porque não ajudou ela? Sabia que ela ia morrer?

— Sinto muito. Também tinha uma estima por sua avó, mas tem forças que nem eu posso ir contra.

— Mas você é uma deusa! - minha frustração transbordou. - Podia ter feito algo!

— Não. Eu não poderia e nem posso. Os deuses não podem interferir na vida de seus filhos. É a lei. Não vim aqui para essa conversa.

— Mas...

— Ouça Zack, eu não posso mudar o futuro, eu apenas mostro para as pessoas quais caminhos elas podem tomar para chegar ao seu destino. Mostrei a Lisandra que não importasse o caminho que ela trilhasse ela partiria, ela so escolheu fazer isso com uma família.

— Eu acredito. Sei que ela sempre optaria pela família, éramos seu maior tesouro.

— Preciso que você entenda que não importa as escolhas que faça, parte de seu destino já foi traçado. Não posso interferir em sua jornada, mas se conseguir usar o presente que te deixei, será capaz de cumprir o que for preciso. Quando for a hora certa vai aceitar quem você é e isso salvará sua vida. Nunca se esqueça, o Olimpo sempre ajudará aos seus.

A visão sumiu como surgiu e eu estava de volta a sala, as lágrimas descendo meu rosto, o cristal roxo escuro pulsando em minha mão. A caixa havia desaparecido na Névoa. Meu pai estava ao meu lado, uma mão em meu ombro, como se tentasse me acordar.

— O que houve? - ele perguntou

— Hécate. Ela me mandou uma mensagem através da Névoa. Foi tão real, como se eu estivesse mesmo com ela.

— Talvez porque seja isso que seu coração deseja. A Névoa tem o poder de mostrar aquilo que queremos ver. Você nunca quis nada tanto quanto conhecer sua mãe.

— De alguma maneira ela tentou me alertar sobre um perigo. Disse que essa pedra vai me proteger, mas que preciso aceitar quem eu sou.

— Isso deve ser muito importante, ela vem dizendo que é proibido interagir e interferir na vida de seus filhos semideuses desde que me trouxe você.

— Ela disse isso também.

Eu ainda estava em choque sobre a conversa sobre a minha avó. Não consegui contar sobre essa parte da conversa ao meu pai e hoje me arrependo muito disso. Aos meus treinamentos com a Névoa foram adicionados treinos onde eu tentava usar aquele cristal de alguma forma.

Os dias passaram voando, meu aniversário de doze anos finalmente havia chegado, proibi meu pai de fazer qualquer espécie de comemoração. Aquela data lembrava da perda da minha avó e da eminente separação entre nós dois. Eu deveria ter entendido logo que abri meus olhos nesse dia. O corvo crocitando na minha janela não era um bom sinal. So que estava com tanta coisa na cabeça que ignorei isso até ser tarde demais. O dia foi anormalmente calmo, como se toda a energia estivesse se acumulando para uma tempestade daquelas. A noite jantávamos uma comida simples, meu pai falava sobre o caminho que tomaríamos, pelo litoral até uma especie de bosque onde iríamos até o "incrível" lugar seguro. Foi quando ouvimos o barulho de algo se movendo no quintal seguido do baque na porta. Algo queria entrar. Tentamos sair pelos fundos, mas era uma armadilha. Havia mais coisas esperando lá. As coisas mais estranhas que já havia visto até então. No começo ainda respirei aliviado, achei que eram apenas cachorros muito feios, mas então a pele brilhou como petróleo, e as mãos meio humanas meio garras se ergueram e ele tinha uma cauda de foca. Aquela coisa tinha cabeça de cachorro e corpo de foca. E quase me esqueci dos braços humanos com garras que me rasgariam como papel. Eram três deles nos fundos. Meu pai tomou a frente tentando me proteger.

— Não temos assuntos com você estranho, saia do caminho e não será devorado. O mestre quer o semideus. O mestre terá o semideus.

— Não sem uma luta. - disse meu pai já criando fogo com a Névoa que o cercava.

Ele lançou duas bolas de fogo nos monstros e eu achei que eles iriam virar pó como todos os outros que enfrentamos desde que chegamos aqui.

— Vamos. Telquines são imunes a magia e ao fogo. Isso só vai atrasa-los um minuto. - disse meu pai destruindo minhas esperanças.

Saímos de perto dos telquines, mas eles logo se livraram do fogo e nos seguiram. Teríamos tido uma boa vantagem e fugiríamos se o céu não tivesse escolhido aquele momento para cair sobre mim. Ouvi um crocitar como se o corvo estivesse do lado da minha cabeça e a dor queimou por toda a minha lombar esquerda. Senti como se alguém estivesse escrevendo com fogo na minha pele. Caí de joelhos e vomitei de dor. Meu pai voltou para me amparar e os cães-foca nos alcançaram.

Foi quando tudo ficou claro em minha mente. O corvo no meu décimo primeiro aniversário e minha avó se foi. O corvo quando nos mudamos e fomos atacados. Hoje o corvo em minha cabeça e eu sabia o que ia perder dessa vez. Tentei gritar para ele não ir, mas a dor me impedia de formar palavras. Meu pai me protegeu como um leão. Enfrentou todos os telquines, mesmo ciente de que suas chamas eram inúteis. Caído no chão vi quando ele evocou a Névoa uma vez mais, ocultando ele e os telquines numa ilusão que eu não podia ver. Eu sabia que ele estava me dando a chance de fugir, mas a dor ainda não me deixava me mover. Então a Nevoa começou a dissipar, havia apenas três telquines e um punhado de areia dourada. Nada do meu pai. Uma neblina arroxeada no lugar onde ele deveria estar. Só consegui pensar que tinha perdido ele também. Minha irritação com monstros e deuses atingiu o limite. Eu estava cansado de fugir. Estava cansado de perder aqueles que eu amo porque tinham que me proteger. Se eu era mesmo um semideus, dotado de dons tão extraordinários, eu queria uma prova. Ignorei a dor e fiquei de pé.

— Meu nome é Zachary Baltazar! - gritei para o céu. - Filho de Hécate! E vocês escolheram o dia errado para me atacar.

O estranho cristal surgiu diante de mim, brilhando mais intensamente que antes. E então um metal avermelhado começou a crescer dele, tomando a forma de algo parecido com uma lança, mas tinha apenas um metro. Numa ponta o cristal estava incrustado no meio de um intrincado de pontas curvas que lembravam chifres e acima dela uma lâmina parecida com a ponta de uma lança de cavalaria. Na outra extremidade havia outro cristal igual também protegido por pontas curvas, so que menores, parecia apenas um contrapeso.

Agradeci mentalmente pelas estranhas aulas de luta com bastão que minha avó me obrigou a ter ano passado. Só fiz umas dez sessões, então sabia no máximo girar, defender e empalar com aquela coisa. Segurei a estranha arma com a mão esquerda e senti o ar ao meu redor aquecer e se mover como um fluxo. Girei aquilo sobre a mão e vi um rastro de faíscas surgir. Só podia ser magia. Um dos telquines avançou, mas seu ataque foi deliberado, ele não parecia querer me atingir com muita força. Ainda assim quando usei a haste do bastão para me defender, fui lançado com a força de sua patada. A dor na lombar que estava quase sumindo do substituída pela do impacto. Levantei rápido, mais alerta que o normal. Minha TDAH mais aguçada que nunca, conseguia ver os três monstros tentando me encurralar. Um dele avançou contra mim outra vez, num reflexo, rebati com o bastão as pontas cortando a pele do monstro como lâminas. O telquine urrou e explodiu em pó dourado.

— Você luta bem semideus. Melhor que o seu pai. - disse uma voz vinda da casa. - Peba que no fim irá cair como ele.

O telquine que saiu da casa era maior que os outros, mais imponente. Ele ergueu a mão e o tempo fechou, o céu se cobriu de nuvens e começou a chover e trovejar. Eu mal daria conta de monstros me atacando, não tinha chances contra aquela coisa que sabia fazer chover.

— Eu sou Dâmnos um dos sete senhores de Rhodes. E você será meu.

Estava apavorado, imaginando como fugir dali, quando vi um animal escondido num arbusto do quintal. A doninha olhava para mim e parecia debochar de mim. Então vi a Névoa revolver ao redor do animal. Então me concentrei para mudar a realidade, ainda não era muito bom naquilo, mas com certo esforço e a minha vida em jogo, consegui fazer com que os telquines vissem uma copia minha tentando enfrenta-los. Enquanto isso segui na direção em que a doninha ficava apontando insistentemente. Ja estava longe quando ouvi o grito do telquine maior, jurando me encontrar e me matar pessoalmente. Já tem uma semana que estou fugindo, seguindo a doninha que aparece de vez em quando e a noite sendo vigiado por um cão que as vezes me dava lições básicas de magia. O animal basicamente me ensinava algumas palavras de comando para que a magia saísse como que queria. Sim eu falava com cães. Não apenas aquele, como descobri mais tarde, mas qualquer um deles. Parece que era algum outro dos dons de Hécate. Fui perseguido pelos telquines até um bosque onde os despistei outra vez. Estava praticamente chegando num pinheiro enorme onde a doninha estava encarapitada e gingando a cabeça quando ouvi uma garota gritar e passos pesados e uma voz de homem. Dei as costas à doninha que grunhiu e sumiu no ar. Corri na direção da voz da garota e a cena não era das melhores. Ela estava cercada por telquines a sua frente e encurralada por um cara enorme pela retaguarda. Um garoto parecia desmaiado apoiado numa árvore ao lado dela. Segui meu instinto e indo na direção do gigante,criei uma parede de chamas com magia, para atrasar os telquines enquanto fazia o cristal se transformar no báculo. Empalei o gigante com toda força que reuni. O monstro virou pó e eu atravessei a cortina de poeira dourada. Não me importei com o fato dele ser ou não um monstro por que como descobri durante a minha fuga, se ele fosse uma pessoa normal o báculo passaria direto por ele sem causar mal algum.

— Você ainda tem assuntos comigo, Dâmnos. Deixe os dois seguirem.

— Meus assuntos são com todas as crias do Olimpo. Nao se atreva a me dar ordens semideus.

Eu não podia ve-lo, mas chuva que começou a cair indicava que ele estava usando sua própria magia. Aprendi que aqueles monstros eram imunes a todo e qualquer truque de magia que eu pudesse fazer, alem de serem imunes ao fogo, minha especialidade. Eles eram muitos para uma luta corpo a corpo sozinho. Nossa chance era fugir. Olhei para a garota.

Ei. Tudo bem? - ela confirmou com a cabeça, mas não era convincente. Parecia a beira do colapso. - Vai ficar tudo bem. Só preciso que me ajude com seu amigo. Acha que consegue?

Ela me olhou assustada, então se endireitou, tentando se mostrar forte. Sem que eu precisasse comandar ela passou por mim e ajudou o garoto a se erguer, vi que ele não estava desacordado, só em choque. Também botei que ele era metade bode, mas me obriguei a ignorar e focar nas prioridades. Com um aceno indiquei que ela deveria ir com ele pela colina, por onde eu vim. E apontei que ia atrasar os monstros. Ela acenou novamente e começou a andar. Me virei para as chamas quase extintas pela chuva e tentei recriar o cenário. Vo ela ajudando o garoto, como eu achava que o senhor dos telquines acreditava que seria. Ele pareceu satisfeito em ver que estávamos tentando fugir.

Um dos telquines aproveitou que as chamas apagaram para atacar. Girei o bastão, concentrei no ar a minha volta e uma lufada de ar meio que amorteceu a investida dele, me dando uma abertura para descrever um arco transversal com minha arma cortando seu peito e o transformando em farofa de foca.

Dâmnos gritou irritado. A garota criada pela ilusão tentava fugir quando um dos telquines a atacou e deu de cara com a árvore. Nesse momento a ilusão tremulou e se desfez. A garota já estava quase no pinheiro, o garoto se apoiava nela e andava num trotar estranho.

Dâmnos praguejou numa língua estranho que eu absurdamente entendi. Ele já tinha dois homens a menos e dois dos seus alvos estavam a salvo. Ainda assim eu era um alvo fácil. E todos sabiam disso. Não os enganaria com Névoa outra vez. Estava aliviado por ter salvado a garota do mesmo destino cruel. Entao quando eles deram o primeiro passo uma neblina roxa os envolveu. Dâmnos arregalou os olhos parecendo assustado.

— Senhor! Estou tão próximo. Só mais um pouco...

Ele se calou e me olhou nos olhos e pude sentir o ódio queimando dentro dele.

— Nos veremos de novo semideus. E acredite, não serei tão benevolente assim.

A neblina estranha dissolveu-se e os monstros sumiram com ela. Desabei no chão, apoiado numa árvore. Exausto. Desmaiei assim que toquei o chão. Sonhei com um lugar escuro, tão escuro que eu não podia ver nem a mim mesmo. Ouvi vozes estranhas.

— Senhor, Dâmnos falhou em trazer a tocha.

— Tudo bem. Ele me mandou um outro tributo alguns dias atrás. Então perdoarei sua falha. Afinal, existem destinos que nem as Parcas podem alterar.

Fui puxado do pesadelo por um leve sacudir. Acordei com alguém me encarando. Era um garoto usando uma camiseta laranja com algo escrito. Tinha um cabelo loiro e um sorriso no rosto; na cintura uma espada embainhada. Ele parecia aliviado de me ver acordado e muito disposto a ajudar.

— Você consegue levantar? E andar? - ele emendou as perguntas sem esperar respostas.

Meu corpo doía, mas lembrei da garota e seu companheiro. Tentei levantar de uma vez e cambaleei.

— A garota e o menino bode?

— O sátiro e a moça passam bem. Você tirou os dois de uma enrascada. Vamos Quiron quer vê-lo. Eu sou Will a propósito. Não sou muito bom com cuidados médicos ainda, mas graças aos deuses você não precisava de muita coisa.

— Zack. Meu nome é Zack.

Não sabia se queria ver o Quiron, mas nem tive escolha. Fui meio carregado meio escoltado até o outro lado da colina. Assim que chegamos no pinheiro eu vi a garota conversando com um adulto montado num cavalo. Adultos, que alivio. À medida que aproximávamos deles percebi que algo estava errado. Onde estava a outra metade do homem e a cabeça do cavalo? Então vi que o homem havia sido enxertado no pescoço do cavalo. Quis correr, mas minha escolta parece ter percebido isso e me impediu.

Chegamos até onde eles estavam, a meio caminho do que parecia um apanhado de chalés e uma choupana e mais abaixo uma plantação.

— Que bom que está vivo. E parece bem. Que estranho.

— Vivo e estranho parece ótimo para mim. Aquelas coisas simplesmente sumiram no ar.

— Eles deixaram você quando claramente não podia se defender. Isso é... incomum. Bom, já dei as boas vindas a senhorita Mills. E como devo chamá-lo?

— Zachary Baltazar. Pode me chamar de Zack.

— Bem vindo ao Acampamento Meio-Sangue. Aqui é um lugar seguro para semideuses. Estou aguardando dois dos nossos chefes de chalés para mostrar a vocês o lugar. Senhor Solace - disse ele olhando para Will. - obrigado pelo socorro. Pode voltar a suas atividades.

Avistei um casal de garotos se aproximando, a garota tinha cabelos louros e usava um short e uma camiseta laranja como a do garoto que me trouxe. O garoto também loiro, parecia mais velho que eu, usava uma bermuda com vários bolsos e uma camisa laranja agora eu consegui me concentrar pra ler Acampamento Meio-Sangue e identificar o desenho de um centauro com um arco na mão. O garoto também mantinha uma espada na cintura.

— Luke, Annabeth. Que bom que chegaram. Como está o nosso outro recém chegado?

— Ele acaba de acordar. A ambrosia parece ter agido a tempo. Logo vai estar pronto pra outra. - disse o garoto.

— Que bom. Esse é Zack, ele vai ficar no chalé 11 até ser determinado.

Nesse momento algo iluminou meu campo de visão e todos olharam para algo sobre minha cabeça.

— Mudança de planos. Ele fica no chalé 11. - disse o garoto não parecendo muito satisfeito com isso.

— Zachary Baltazar. Você foi determinado como filho de Hécate, deusa da magia. - disse Quiron voz uma voz imponente e cheia de poder.

— Bem vindo ao acampamento! Disse a garota.

— Vamos vou mostrar a você todas as coisas legais que temos aqui. - disse Luke com um sorriso que esticava a cicatriz em seu rosto.


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Notas finais do capítulo

Bom... é só isso... aguardo as reviews... Fiquem com os deuses... E que os Corvos se afastem de seus caminhos.



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