Herdeiros do Olimpo escrita por Junior Dulcan, Starkiller, Steward Robson


Capítulo 3
Zachary – O Desejo Do Seu Coração Parte 1


Notas iniciais do capítulo

E aí primos, primas, irmãos e irmãs meio-sangue!!! Sou o Starkiller (jura?) e narrarei a visão do Zachary Baltazar para vocês. Ignorando todo o combinado com os autores não resisti em postar a minha estréia nessa história. Espero que gostem.



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"Já faz seis meses desde que completei onze. Metade de um ano desde que tudo que eu conhecia simplesmente começou a desabar bem na minha cara."

Zachary H. Baltazar

 

Naquela noite os Baltazar se reuniram para comemorar o aniversário de 11 anos do seu membro mais jovem. Minha família era composta pela matriarca Lizandra Baltazar, uma cigana já na casa dos 65 anos, tinha um corpo esbelto que remetia as curvas que possuiu na juventude, seus cabelos compridos e brancos um dia já foram tão escuros como as noites de lua nova, tinha olhos verde amarelado, como as folhas secas, uma voz poderosa que ela usava para se impor. Era uma mulher expansiva, que ria alto e dava conversa para qualquer um. Naquela noite usava um vestido vermelho lindo que parecia reluzir em seu corpo como se ela tivesse luz própria. Seu único filho e meu pai, de nome Diogo, era um jovem promissor aos 34 anos, dono de uma loja de artigos para truques e mágicas que era a sensação dos turistas. Ele parecia ter herdado a altivez da minha avó, sempre rindo e bem disposto, ignorava qualquer um que criticasse seu estilo de vida. Fisicamente acredito que tenha puxado ao meu avô, apesar de não tê-lo conhecido, meu pai tinha cerca de 1,70m e um corpo levemente definido, apesar de nunca ter visto ele praticar qualquer esporte, ele escondia bem seu físico com camisas e calças sociais mais soltas em seu corpo. Tinha cabelos pretos também e seus olhos eram de um tom de azul claro que beirava ao cinza. Ele usava uma calça escura e uma camisa verde, o pescoço era adornado por um cordão de ouro com um pingente que parecia uma tocha esculpida numa moeda. Apesar dos negócios incomuns, ele era muito popular na cidade, pois sempre esteve a postos para ajudar quem quer que fosse. Por fim eu, Zachary Baltazar, também filho único, sempre muito esperto e hiperativo, só conseguia ficar parado quando colocava as mãos em um dos artigos novos da loja do meu pai, que sempre deixou claro que preferia que eu saísse e fosse me enturmar com os demais garotos. Tecnicamente não era a minha hiperatividade que atrapalhava minhas amizades, mas eu tinha uma má fama entre os pais de atrair acidentes. Isso somado ao fato de ninguém acreditar nas coisas que eu via às vezes.

Nossa casa não era muito luxuosa, mas tinha o necessário para nos dar conforto. Após atravessar o pequeno gramado e passar pela porta entrava-se numa sala ampla, onde estava acontecendo o evento daquela noite, dali seguia um corredor que levava ao banheiro em frente ao portal, a cozinha pela direita e a esquerda os três quartos, o meu primeiro, decorado principalmente com coisas da loja que eu ganhava como premio seja por notas boas ou por cumprir minhas obrigações e alguns pôsteres de filmes que eu pregava numa parede que eu ajudei meu pai a pintar de preto. O próximo era o do meu pai, que eu descreveria como altamente genérico, era todo branco, tinha uma cama, um armário e uma mesa com poltrona nada pessoal exposto. O quarto da minha Vovó Liz, era uma suíte, era alegre como ela, tinha uma parede amarela que parecia refletir o sol, vários objetos da época em que trabalhava nas ruas como adivinha. Sua mesa de cabeceira tinha uma bola de cristal que fazia as vias de abajur, ao lado sua caixinha de madeira entalhada pelo meu avô e onde ela guardava seu baralho de tarô, uma cômoda com uma TV e um guarda-roupa. Seu banheiro tinha banheira para seus banhos de sais e ervas mensais e Seu porta-escovas era repleto de vidrinhos com líquidos, pós e sais que eu era proibido de mexer. Tudo parecia perfeito, vários dos garotos e garotas que chamei tinham vindo à festa e meu pai parecia satisfeito por eu finalmente estar fazendo amigos. Estávamos todos reunidos à mesa, na qual um bolo confeitado ostentava uma vela com o número 11. Depois da cantoria típica, eu enchi os pulmões e assoprei a vela. E foi quando a minha vida começou a desandar. Eu nunca cheguei a conhecer meu avô, ou minha mãe. Meu pai nunca falava deles, e minha avó pouco falava do marido que tanto amou. Embora sentisse falta dos dois era fácil suportar, afinal eu nunca tinha estado com eles. Perder a minha avó era diferente. Ela era um terço de toda a família que eu tinha. Ela fazia às vezes de mãe para mim. Os médicos nunca souberam explicar a causa do mal súbito que ela teve. Segundo eles ela vinha acompanhando a saúde regularmente e não tinha qualquer problema que explicasse seu falecimento.

Nos meses que se sucederam tentei seguir a vida normalmente, mas minha hiperatividade ficava cada dia pior. As alucinações esquisitas que eu via ficaram mais frequentes. Parecia que havia coisas me observando nas sombras enquanto eu continuava me esforçando em acreditar que nada daquilo era real. Os poucos que ainda falavam comigo se afastaram de vez, em sua maioria, motivados pelos pais. Mais solitário passava mais tempo ainda na loja do meu pai, único lugar em que me sentia seguro e em paz. Presenciei essa semana, duas situações que me intrigaram bastante. Duas ligações feitas pelo meu pai. Na primeira ele parecia reclamar com alguém sobre outras pessoas espreitando, aparecendo mais e mais frequentemente. Ele pedia para o outro interlocutor intervir e mantê-los longe. A outra me deixou assustado.

― Você tem que me ajudar. – meu pai implorava. – Eles estão chegando mais perto dele a cada dia. Eles não podem tirá-lo de mim.

― Eu não posso intervir no destino dele.

― Eu estou implorando. Não deixe que matem meu filho.

― Você tem de treiná-lo, – me surpreendi com a voz feminina soar tão familiar. ― mas aqui é muito perto da Grécia. Isso triplica os perigos.

― Está dizendo que devo mandá-lo? Não foi isso que combinamos.

― A situação mudou. Você tem que ir com ele para América. Lá será mais fácil ficar protegido e ensinar o que ele precisa saber.

Ao que parece meu pai estava com problemas com alguém e esse bandido estava me ameaçando. Segundo aquela mulher nossa única chance era ir embora do nosso lar, abandonar tudo que temos e conhecemos. Conhecia meu pai o suficiente para saber que ele nunca aceitaria algo assim. Ou pelo menos acreditava nisso.

― Então prometa que teremos uma travessia segura. Prometa que não permitirá que toquem nele.

― Há uma lei! – a mulher pareceu irritada. – Eu não posso interferir tão diretamente assim.

― Tudo bem, sei de suas limitações. Eu vou me encarregar de manter ele a salvo, apenas garanta que não seremos náufragos ou que não seremos derrubados do céu.

― Estarão seguros nessa viagem. Vocês não são os únicos em perigo, a outros que necessitam que ele cumpra o seu destino.

― Partiremos o quanto antes.

A conversa se encerrou ali e eu dei jeito de meu pai não desconfiar que ouvira. Em uma semana recebi a notícia de que iríamos nos mudar. Ele já tinha vendido a loja e nossa casa. Fiz uma cena, parecendo o pré-adolescente revoltado que todos diziam que eu era. Não queria deixar a cidade, a situação não melhorou quando ele disse que já tinha usado o dinheiro das vendas para comprar uma casa em São Francisco. Tivemos uma discussão que ele encerrou me mandando para o quarto arrumar minhas coisas, partiríamos em dois dias. Eu não conseguia entender porque ele estava fugindo, nunca vi alguém da minha família fugir de nada. Era como um lema que tínhamos, enfrentávamos nossos problemas de frente. Ainda assim lá estávamos desembarcando na Califórnia.

Não era tão ruim assim, a cidade era bem movimentada, graças ao centro comercial, nossa casa ficava bem afastada da orla marítima, numa zona residencial de classe media. No desembarque, enquanto meu pai apanhava nossa bagagem fui ao banheiro. Estava lavando as mãos e me olhando no espelho. Eu era um garoto de físico comum, media 1,64m meu corpo era esguio, quase magricela. Meu cabelo era preto e eu usava um corte curto com uma franja desarrumada na testa. Meu rosto era fino, queixo pequeno com forma bem marcada, nariz arrebitado, olhos levemente puxados nos cantos, lábios pequenos e o inferior um pouco cheio, sobrancelhas suaves que tornam a expressão enigmática e orelhas pequenas.

Um senhor saiu de um reservado e me encarava enquanto lavava as mãos. Geralmente eu ignoro esse tipo de situação, dessa vez minha pele formigou e meu instinto quase gritava para me afastar daquele homem. Quando saia do banheiro olhei de relance para dentro e juro que vi os olhos dele ficarem amarelos e as íris fendidas. Voltei para perto do meu pai imediatamente.

A casa não era muito diferente da nossa, a sala era pouca coisa maior, a cozinha menos guarnecida de utensílios, uma vez que nossa cozinheira de mão cheia não estava mais conosco. Havia apenas dois quartos, a suíte onde meu pai se instalaria e o outro quarto vizinho do banheiro social, onde eu ficaria. Minha nova mobília já estava no lugar, uma cama de madeira clara, um colchão alto forrado com uma colcha azul marinho. Uma das paredes foi pintada de preto, uma lembrança de nossa antiga vida. Havia algumas caixas com coisas que meu pai despachou pra cá um dia antes. Arrumar aquilo levaria alguns dias, como não consegui vaga em nenhuma escola, perderia o semestre e teria tempo livre de sobra. Coloquei o básico no lugar, inclusive o abajur bola de cristal que era da vovó que agora estava na minha mesa de cabeceira. Fizemos um lanche rápido numa lanchonete próxima de casa ao fim do dia e voltamos para casa antes da noite cair. Minha primeira noite na casa nova teria sido perfeita, não fosse o pássaro estupido crocitando na minha janela. Irritado, levantei para espantar o animal dali, porém ao chegar à janela fiquei estático. Havia umas sete sombras escondidas na noite, todas parecendo observar nossa casa. Diferente das outras vezes, não consegui convencer meu cérebro hiperativo de que não eram reais. Aquele tipo de hostilidade é impossível de ser imaginada.

Corri para o quarto do meu pai e o acordei, apavorado. Meu pai foi até a janela e praguejou numa língua que eu nunca ouvira antes.

― Nem mesmo uma noite de sono após a viagem? – ele reclamou para si mesmo. – Zack, vai ficar tudo bem. Precisa confiar em mim.

― Então aquelas coisas estão mesmo lá fora? Todo esse tempo, você me fez pensar que eu era estranho, me dizendo que era minha imaginação correndo solta. E sabia que era real?

― Acredite isso era necessário. Pela sua segurança.

― Do que está falando? O que está acontecendo afinal?

― Agora não Zachary! – sua voz era firme e dura, não haveria discussão.

Então ele pegou um anel em suas coisas colocou no dedo anular esquerdo e saiu pela porta de casa. Corri pra janela. Meu pai estava no quintal encarando as sombras, que começaram a se aproximar assim que ele saiu. Pareciam pessoas comuns de início, mas sua fisionomia ficava oscilando entre a de seres humanos normais e mortos-vivos. Quanto mais agitado eu ficava mais a oscilação agia até que se firmou nos zumbis. Voltei a me concertar em meu pai e surtei, ele movia as mãos fazendo uma espécie de desenho no ar, aos poucos vi uma névoa surgir do nada e se espalhar ao redor dele e em direção aos monstros.

— Esse adulto controla a Névoa, mas não tem um cheiro tão bom como o da cria dos deuses. Matem-no, ele será um aperitivo antes do prato principal.

Assim que as criaturas entraram em nosso gramado, a estranha névoa pegou fogo, bloqueando o caminho.

— Não pode nos enganar com truques e trapaças. – disse a criatura que liderava.

Assim que um deles avançou para as chamas entrou em combustão e explodiu em um tipo de pó. Os outros se afastaram do fogo.

— Eu nunca disse que era um truque. – meu pai disse calmamente enquanto movia as mãos e fazia a estranha fumaça explosiva avançar nos zumbis. – Aprendam a nunca subestimar um oponente.

A névoa explodiu em chamas outra vez e o fogo se lançou sobre os mortos vivos como se tivesse vida própria, vi a pedra vermelha do anel brilhar e de algum modo reconheci que aquilo era magia, magia de verdade. Meu pai estava lançando o fogo contra eles. Uma sequencia de explosões de pó e os demais mortos vivos desapareceram. Suspirei em alivio e o pássaro crocitou como um mau agouro. De alguma forma sabia que toda aquela loucura estava apenas começando. Meu pai entrou em casa ofegando, como se tivesse corrido uma maratona.

— Não tenho mais idade para isso. – disse ele num tom divertido como se tivesse acabado de sair de um brinquedo de parque.

Encarei-o com meu melhor olhar indignado e uma carranca de pura raiva.

— O que eram aquelas coisas? Por que você não me disse que também podia vê-las? Por que ninguém mais pode? Como fez aquela coisa com a fumaça? E o fogo? – despejei minha avalanche de perguntas de uma vez só, não fiz sequer uma pausa para respirar.

Estava atordoado demais, se parasse provavelmente entraria em choque. Aquelas criaturas me aterrorizaram e despertaram memórias de praticamente toda a minha vida, de toda a sorte de coisas estranhas que eu vi: homens com um olho só, mulheres com línguas bifurcadas e garras, seres metade homem metade cavalo correndo em bosques, animais que mudavam de forma quando eu olhava por muito tempo. Lembro do cachorro que me atacou no ultimo verão, como ele correu direto em minha direção e só não me alcançou porque um dos garotos pulou sobre mim e acabou levando a mordida. Lembro dos olhos vermelhos como carvão em brasa. Claro que ninguém nunca acreditou quando eu disse que aquele cachorro simplesmente saiu de dentro das sombras, como se elas tivesse se dobrado e aberto um portal para ele sair. Geralmente ninguém via as criaturas que me rondavam e quando via, de alguma maneira elas se esqueciam ou acreditavam ter visto outra coisa, como se sua memória tivesse sido alterada ou apagada. A pequena injeção de adrenalina que o medo me dera estava passando e o fim da tensão me deixava mais e mais irritado. Sentindo que eu estava praticamente no meu limite, meu pai resolveu finalmente falar.

— Zack, temos que conversar sobre sua mãe.

Aquela declaração me desarmou completamente. Podia esperar inúmeras formas de começar a conversa que viria e minha mãe não estava nem remotamente presente nelas. Ouvir meu pai disposto a falar desse tabu pela primeira vez em minha vida foi como um antídoto para a indignação. Saber da minha mãe, qualquer coisa que fosse sempre foi meu maior desejo. Mesmo aparentemente ela estando envolvida com as coisas que queriam nos matar e comer. Meu pai colocou as mãos em meus ombros protetoramente, como fazia quando eu era bem mais novo e ele me levava pra escola, e me guiou até o sofá. Sentados nos encaramos por cerca de um minuto. Ainda podia ouvir o crocitar lá fora. Meu pai inspirou profundamente e começou a falar. Naquela noite o Zachary Baltazar que eu era deixou de existir. E só quando era tarde demais pude entender porque meu pai fez de tudo para que eu acreditasse que todos os monstros eram alucinações. Para pessoas como eu, acreditar em monstros pode ser letal.


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Notas finais do capítulo

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