Black Hole - Interativa escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 5
Vamos buscá-lo em sua casa


Notas iniciais do capítulo

Demorou? Demorou.
Mas tá grande. Muito grande.
Então, nada do que reclamar. Certo? Espero que sim. Todos estão nesse capítulo.
Boa leitura!



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OSLO, 23:48

Alex sentiu uma leve pressão em bolso. Significava que o estavam chamando. Ele pegou o pequeno aparelho de vidro, que mostrava a foto de um rosto conhecido, mas ele não se lembrava de onde. Mesmo assim, tocou o vidro, e a imagem do homem foi projetada em 3D e alta definição. Alex odiava ter um celular ultrapassado, mas aquele era o máximo que poderia ter, considerando os pais que tinha.

– Quem é você? - Alex disse de cara.

– Não se lembra de mim, garoto?

Alex olhou melhor. A imagem projetada mostrava um pouco da roupa, que claramente era um uniforme da Aurum.

– Você é o meu entrevistador - Alex se deu conta.

– Sim. Você me pediu para ligar, eu liguei. - Alex lembrava disso. Mas não achava que o homem o faria. Não parecia ser muito gentil. - Achei que você gostaria de saber que a Aurum o escolheu.

Alex ficou sem saber o que dizer por alguns segundos.

– É sério?

– Eu sou um profissional da Aurum. Não brincaria com isso. Vão buscar os escolhidos em todo o país amanhã, entre as oito e as nove da manhã. Esteja pronto pra ir só com a roupa do corpo, não precisa levar nada. Ah, ensaie uma cara de surpresa, e não conte a ninguém que sabe disso. Muito menos que fui eu. Era para manter sigilo.

– Obrigado. Pela informação, mas... Por que está fazendo isso? Por que está se arriscando por mim? Achei que não tivesse ido com a minha cara.

– Eu senti que você precisava dessa informação. Eu não demonstrei isso, mas achei você legal, garoto.

– Você pressentiu, e estava certo. Ter esse tempo de antecedência vai mudar tudo. Vou poder preparar todo, e partir tranquilo. Com a certeza de que minha família está bem. Por isso, muito obrigado. Vive está me ajudando, e eu devolverei o favor. Ninguém saberá que você me contou.

– Boa sorte, garoto.

~

– Sr. Halliwell. Ligação de Alex Greenwich.

George Halliwell abriu os olhos a contragosto.

– Que horas são? - Perguntou ele ao computador, ainda meio grogue.

– São duas horas e cinquenta e dois minutos.

George passou a mão sobre o rosto para tentar afastar o sono.

– Atender.

– Tio George?

– O que aconteceu, Alex?

– Eu vou ter que ir embora. Vou ter que deixar minha mãe.

George sentou na cama. Não havia nada que o preocupasse mais do que a segurança de sua irmã com o detestável marido dela.

– Por que você vai fazer uma coisa dessas.

– É uma história longa demais. Nas eu preciso que me escute. Preciso da sua ajuda. O senhor sabe que não posso deixar minha mãe e meu irmão sozinhos. Preciso que você os abrigue.

George olhou para a esposa, que dormia ao lado.

– Alex... Você sabe, eu sempre tento ajudar vocês da maneira que posso... Mas trazer vocês pra cá não é uma boa solução! Será o primeiro lugar em que seu pai procurará. E do jeito que ele é, vai acabar fazendo uma besteira.

– Sei disso. Mas tenho tudo planejado. Meu pai saiu para beber e só deve voltar umas sete da manhã. Olha, muitos anos atrás, na época boa do meu pai, ele comprou uma casa em Vest-Agder. Uma casa grande de madeira, acolhedora. Abrigaria todos bem...

– Está sugerindo que eu pegue minha mulher, minha irmã e meu sobrinho, largue tudo em Oslo e vá para uma província desconhecida, para uma casa que pertence ao nosso procurador?

– Esta é a melhor solução. Mesmo que você vai abrigue minha mãe, eu darei um jeito, mas mesmo assim meu pai procurará na sua casa, e não vai ser legal. Tio, ele nem lembra que essa casa existe. Temos muitas, ele nunca vai pensar nisso. Mesmo que pense, tem mais uma coisa. Quando nós fomos a Vest- Agder, visitar a casa, eu sai por último, e a moça me entregou a chave reserva que eu nunca deu ao meu pai.

– Você tem uma chave reserva que não sabe que existe. Então ele não notará o sumiço dessa chave.

– E vou pegar as chaves de outras duas casas. Ele pode perder muito tempo procurando vocês lá.

– Você é muito esperto, meu sobrinho. Só espero que não tenha puxado ao seu pai.

– Fique tranquilo, tio. Eu não puxei a ele.

~

Alex foi ao quarto do caçula e o acordou. Ainda sonolento, Peter ouviu o irmão explicar que iriam embora para lugares diferentes. O pequeno demorou a compreender, mas se levantou e ajudou Alex arrumar as coisas. Eles fizeram uma mochila com um pequeno lanche, duas mudas de roupa, água, casaco, cuecas, escova de dente e pasta. Ainda fizeram uma mala com o restante das roupas. Acordaram a mãe e a prepararam. Não adiantaria explicar, ela não entendia. Também fizeram a mala dela. Ainda abriram o carro do pai (bem velho, ainda com abertura e partida à distância pela chave) e pegaram a cadeirinha de Peter. Meia hora depois, tio George e tia Carmen chegaram à casa deles. Alex deu as instruções.

– Aqui - ele estendeu para o tio um papel com algumas coisas desenhadas. - Fiz um mapa de cidades até a casa de Vest-Agder. O endereço e referências também estão aí. E aqui está a chave. As malas deles e a cadeirinha do Peter estão aqui - Alex apontou para um canto perto da porta. - Por favor, tio, cuide deles.

– Farei isso, com certeza. Mas e você? Vai sair antes dele chegar.

– Não. Mas eu sei me virar. São anos de prática.

– Tome cuidado.

– Pode deixar.

Alex ajudou George a colocar as coisas no carro, e a acomodar a família.

– Só mais uma coisa. Não deixem o Peter sem casaco e... Tenham paciência com a minha mãe.

– Não se preocupe, Alex - disse tia Carmen. - Eles ficarão bem conosco.

– Obrigado por aceitar essa loucura, tia Carmen.

– Tudo pela família, meu sobrinho.

Alex sorriu. Embora tia Carmen não fosse sangue do seu sangue, ela sempre o tratou como se fosse. Eles se despediram, e George deu partida no carro. Alex acenou vendo o carro se perder na distância, enquanto as lágrimas chegavam aos seus olhos.

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FINNMARK, 8:00

As crianças do Orfanato Norkse estavam tomando seu café da manhã com o habitual falatório em torno da mesa. A pequena e extrovertida Lucy falava coisas interessantes para seu amigo, e tentava animá-lo. Mas Kai não estava com muito interesse. Nem tinha tocado no prato de biscoitos. Lucy notou que havia algo errado, mas não disse a ele. Ela sabia que Kai estava desanimado pela falta de notícias desde a entrevista. E Lucy estava aliviada com isso, mas se falasse a Kai, ele nunca mais olharia nos seus olhos.

De repente, a campainha do Orfanato tocou, e a Sra. Vane foi atender. As crianças aguardaram sem se importar, porque as visitas interessantes nunca aconteciam na hora do café da manhã, apesar de sempre acontecerem no sábado. Alguns minutos depois, a Sra. Vane voltou à mesa com uma cara nada boa.

– Meus queridos – a Sra. Vane falou um pouco mais alto do que queria, para chamar a atenção. Eles pararam de gritar e jogar comida uns nos outros e olharam para ela. – Lembram quando eu disse que se algum estranho aparecesse na escola de vocês querendo entrevista-los...

– Não deveríamos aceitar – as crianças repetiram juntas. Lucy afirmou a frase olhando com firmeza para Kai, que de repente estava muito interessado nos desenhos dos biscoitos. A Sra. Vane também olhou para ele de forma dura.

– Acontece que um de seus amigos decidiu aceitar. – Todas as crianças emitiram um som de desespero e olharam para onde a Sra. Vane olhava, ou seja, para Kai. – E agora, ele terá que ir embora, para um lugar do qual nunca voltará!

Todos o encaravam. Mas Kai estava sorrindo. Ele poderia muito bem falar umas verdades, mas não estava com paciência. Só queria ir embora. Ele se levantou da cadeira.

– Adeus.

Ele andou até o vão por onde a Sra. Vane tinha entrado e passou por ela.

– Kai – disse ela, e ele parou. – Espere. - Kai parou e se virou, com a cara séria.- Pense no que você está fazendo Kai. Ainda dá tempo de dizer a eles que não quer mais...

– Não. – Kai se virou, mas foi chamado novamente, dessa vez por Lucy.

– Kai. Não vai me dizer tchau?

Kai se virou para ela, que levantou e correu até ele e o abraçou, com as primeiras lágrimas começando a cair. Kai respondeu, e sussurrou no ouvido dela.

– Você é a única de quem sentirei falta.

Kai foi para a porta. Desceu as escadas do Orfanato Norkse, e olhou para cima, para onde estava escrito o nome, desejando nunca mais voltar, a não ser para buscar Lucy. Em seguida, olhou para os homens da Aurum e para a nave que o esperava.

Era um ótimo recomeço para Kai.

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TRONDELAG DO NORTE, 8:06

Assim que a campainha tocou, Sebastian a atendeu prontamente, se deparando com alguns homens de uniforme cinza e uma nave pouco menor que um ônibus em comprimento. Ele franziu o cenho.

– Pois não?

– É o senhor Blackhorn?

– Sou sim.

– Viemos aqui para informar que sua filha, Alissa Sophie Blackhorn foi selecionada para a Missão 5496 da Aurum.

– Como?

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– Você não pode fazer essas coisas, Alissa! Por que não nos disse nada?

– Ah, pai, olha só como está reagindo? Era exatamente isso que eu não queria.

– Alissa, ficaríamos assim de qualquer jeito – disse Natasha. – Soubéssemos antes ou depois.

– Mas sabendo agora não podem me impedir. E, a propósito, eu também não sabia.

– Minha filha, - suplicou Sebastian. – Esse lugar é perigoso. Por que quer ir pra lá e deixar seus pais? Achei fôssemos bons pais...

– Vocês dois são pais excelentes. Mas eu preciso fazer isso. Não dá tempo de explicar agora. Eu... Eu tenho que ir.

Alissa falou por alguns minutos até convencer seus pais, e se despediu deles. Em seguida, saiu de casa, deixando lágrimas em seus pais, e indo em direção à nave, onde um garoto estranho já a aguardava. Ele não teve nenhuma reação a ela. Ao menos, não a esboçou. Ela ficou olhando para ele ao se sentar na fileira da frente.

– Bom dia, garoto. – Disse ela, sabendo que não obteria resposta, pois Ally viu nos olhos dele que Kai não era de muitas palavras. – Meu nome é Ally. Fique à vontade para dizer seu nome se quiser.

– Kai – disse ele, muito tempo depois. E Ally não precisou de repetições, apesar da voz baixa do garoto.

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TRONDELAG DO SUL, 8:13

– Aonde você vai?

– Vou sair.

– Esqueceu que está de castigo?

– Castigo é a coisa mais infantil que existe. Coisa não aplicável a adolescentes de 17 anos.

– Aplicável quando fazem coisas que não deviam.

– Quando você vai me entender? Acha mesmo que eu não devia? Não devia ir atrás de justificativas para o mistério que fez tanta gente desaparecer? Mãe, você trabalha na Aurum, você estuda o Black Hole, como pode não entender a causa?

– Eu sei que você não vai pela causa, Avelin. E mesmo que fosse, arriscar sua vida é um passo muito grande na idade em que está.

– Para de me julgar pela minha idade! O meu pai me treinou, eu estou pronta pra isso. E estou cansada de você querendo me proteger. Se queria uma filha meiga e doce não deveria ter se casado com um militar.

Avelin conhecia um ditado que era falado no Vukuma, antiga Croácia, que se encaixava na situação. “Enquanto falamos em lobo, o lobo aparece”. Klaus apareceu na porta sem entender. Tinha pegado só o fim da frase.

– Por que sua mãe não deveria ter se casado comigo, Avelin? – Perguntou ele num tom sério.

– Pai, tente convencer a mamãe. Ela quer me impedir de ir ao Black Hole, acha que eu sou nova e despreparada.

– Nossa filha não é nova e despreparada, Loren. Ela tem quase a idade mínima para o militarismo. E ela foi treinada por mim desde criança, não é despreparada.

– Não disse que ela era despreparada. Mas não vou deixar minha filha se meter nesse lugar.

– Loren, você me conta tudo sobre esses estudos, e eu sei que as crianças e adolescentes têm chances de sobreviver.

– Não, não têm! Isso é mentira, Klaus. Pare de dar corda na Avelin. Pode manda-la pra lá se quiser, mas saiba que ela não vai voltar!

Loren fechou com força o livro que estava lendo e saiu da sala de estar. Klaus olhou para a filha.

– Não se preocupe, Avelin. Eu vou fazer com que ela permita.

A porta da frente se abriu, e o jardineiro entrou. Parecia nervoso.

– Senhor Devereaux. Querem falar com sua filha.

Os olhos de Avelin se iluminaram.

– Quem? – Ela mesma perguntou.

– Homens da Aurum.

Avelin olhou preocupada para o pai, que por sua vez, olhou para a porta do corredor, onde Loren havia entrado.

– Avelin – disse ele. – Teremos que fazer isso sem que ela saiba. Eu... Não esperava isso tão cedo.

– Mas... Eu preciso me despedir dela.

– Calma. Eu sei o que fazer, mas ela não pode saber agora. Venha.

Klaus e Avelin foram até a porta. Os homens uniformizados aguardavam.

– Senhor Devereaux?

– Sou eu.

– Sua filha Avelin Van Devereaux foi escolhida para a Missão 5496 da Aurum. Ela deve ir conosco imediatamente.

– Sim. – Klaus se virou para sua filha. – Não se esqueça de seus treinamentos. Use-os com sabedoria. Não ouse me desapontar, honre o sobrenome que carrega. Sua mãe está nervosa agora, mas vai ficar tudo bem. Boa missão, soldado.

Avelin teve vontade, ao mesmo tempo, de revirar os olhos, de sorrir e de chorar. Seu pai era muito irritante quando falava e agia como um militar, mas, bem, ele era seu pai. Além disso, aquela fora a coisa mais paternal que Klaus já dissera à filha. Avelin sabia que o militarismo deixava Klaus duro demais. Ele sempre exigiu dela nada menos do que a perfeição, e ela o odiava por isso, enquanto Loren era uma mãe carinhosa, uma mãe tão excelente que fazia Avelin sentir vontade de ser como ela, uma cientista. Por isso que Avelin esperava que, se alguém fosse ter esse momento com ela, esse alguém seria Loren, e não Klaus. Mas ela não podia reclamar.

– Obrigada, pai. – Disse ela, e foi em direção à nave.

– O pai dela é militar – comentou Ally, enquanto a menina andava.

– Tanto faz – disse Kai.

Avelin entrou, se sentou e colocou o cinto de segurança. Embora estivesse curiosa, não falou com ninguém. Os homens entraram e se acomodaram. A nave partiu, e o silêncio continuou entre os três. Mas eles não deixaram de ouvir a conversa.

– Para qual província agora? – Perguntou o piloto?

– Os adolescentes de Trondelag do Sul devem ser muito corajosos. A menina foi a primeira da província, tem mais dois ainda.

Avelin estranhou um pouco, mas permaneceu quieta. A nave desceu em frente a outra casa sul-trondelaguina. Os três homens desceram e tocaram a campainha, enquanto Kai, Ally e Avelin espiavam com atenção pela janela. O homem que atendeu abriu um grande sorriso.

– Mas que surpresa vê-los aqui!

– Desculpe, - disse o que estava falando com todos que atendiam – nos conhecemos?

– Não. Perdão, não expliquei direito. Eu trabalho na Aurum, na base daqui.

– Ah, sim, é um grande prazer, senhor. Já sei porque temos um voluntário.

– Desculpe, não entendi.

O homem olhou na prancheta.

– Agente Nicacio?

– Sim, esse sou eu.

– Seu filho, Gabriel Nicacio, foi selecionado para a Missão 5496 da Aurum.

– Como assim?

– Ele fez uma entrevista.

– Ah... - O senhor Nicacio parecia realmente confuso. Ele olhou para dentro. – Gabbe! - O garoto correu até a porta e olhou desnorteado para os homens até entender. – Você fez uma entrevista para a Aurum?

– Fiz.

– E não me contou?

– Contei, pai. Esqueceu?

– Ah, é verdade. Grande discussão ontem sobre Gabbe ir para um lugar ruim.

– Você não foi o problema, pai. A mamãe que invocou com isso.

– Bom, você tem que se despedir logo. Ande, vá lá.

– Só um minuto – disse Gabbe.

Gabbe entrou e logo encontrou a mãe. Explicou a situação e a deixou desesperada, mas não havia nada que Daiany pudesse fazer quanto a isso. Ela simplesmente chorou e disse adeus. Gabbe subiu para o quarto de Camila, a irmã caçula. Foi a parte mais difícil da despedida, pois Camila e ele eram muito próximos. Em contrapartida, a parte mais fácil seria não se despedir do irmão mais velho, Samuel, que tinha saído com os amigos. Por último, Gabbe se despediu de Eleno, seu pai.

– Boa sorte, meu filho.

– Valeu, pai.

– Eu vou tentar uma transferência para a base central.

– O quê? Não faça isso, pai. Não pode deixar a mamãe, e Camila e Samuel aqui sozinhos.

– Você é quem não pode ficar sozinho.

– Eu terei a Aurum inteira para me ajudar, pai. Não se preocupe quanto a isso.

– Você tem que ir logo.

Eles trocaram as últimas palavras, e Gabbe foi para a nave. No caminho, fez uma pergunta ao homem com a prancheta.

– Uma dúvida, na lista tem um tal de Aeron Hennessy?

– Tem sim. Vamos buscá-lo agora.

– Obrigado.

Gabbe nem prestou atenção nos outros, que não ousaram falar com ele. A primeira coisa que fez foi mandar mensagem para Stux, e dizer que eles haviam sido escolhidos. Ele explicou até Stux entender que Gabbe estava na nave, e estava a caminho do orfanato. Assim que Stux entendeu o que as mensagens diziam e arregalou os olhos, a campainha tocou. Ele queria dizer que atenderia, mas não podia fazer isso. Então, ele simplesmente esperou ser chamado.

– Stux, parece que você foi selecionado para uma missão, ou algo assim.

– Eu estava esperando essa visita.

Kai, Ally e Lin estranharam quando o garoto de cabelos compridos entrou na nave já cumprimentando o amigo e sentando ao seu lado, mas ficaram quietos.

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FJORDANE, 8:28

– Sra. Schunk?

Jennyfer estava completamente confusa. Mas para ela, pessoas com uniforme da Aurum e uma nave cheia de jovens não cheirava nada bem.

– Sim, sou eu.

– Viemos informar que sua filha, Mabel Schunk, foi selecionada para a Missão 5496 da Aurum no Black Hole.

– O quê? Não, senhor, deve haver um engano. Minha filha não passou por nenhuma seleção.

– Ela passou por uma entrevista na escola dela, e foi escolhida.

– Ela não quer ir.

– Senhora, as crianças não foram obrigadas a ser entrevistadas. Todas decidiram fazer isso por conta própria. Então, lamento informar, sua filha – o homem pronunciou essa palavra com ênfase, como se desconfiasse que Mabel não era filha de Jennyfer. Ele provavelmente pensava isso por causa da diferença no tom de pele das duas - quer ir ao Black Hole. Ela nos disse seus motivos, nos disse o que poderia oferecer. E nós a aceitamos.

– Mas eu não aceito. Minha filha não vai!

Jennyfer entrou e bateu a porta na cara deles. Os homens do lado de fora começaram a se olhar, sem saber o que fazer.

~

– Mabel! Que história é essa de entrevista?

– Eles estão aqui?

– Eu não acredito que você fez isso!

Maxwell entrou na sala confusa.

– O que houve?

– Sua filha fez uma entrevista e foi escolhida para ir para o Black Hole.

– O quê? Black Hole? Aquela cordilheira que é um triângulo das Bermudas?

– Essa mesma! Max, vai falar com eles! Manda eles irem embora!

– Vou resolver isso. Mabel, fique aqui.

Jennyfer abraçou Mabel como se quisesse protegê-la, enquanto Maxwell foi até a porta.

– O que ainda estão fazendo aqui. Dissemos que nossa filha não vai.

– O senhor não tem escolha. Ela foi selecionada, e se não a levarmos pacificamente, teremos que agir com intervenção militar. Eu não gostaria de fazer isso, senhor, mas são minhas ordens. Por favor, pense. Não seria uma boa cena para sua filha.

Max olhou para dentro, pensando no que poderia acontecer. Ele e Jennyfer sendo levados para a prisão enquanto Mabel iria para uma cordilheira. Ele olhou novamente para os homens.

– Só um minuto.

Max fechou a porta e foi até elas. Laura e Rafael já estavam ali, aparentemente sabendo o que estava acontecendo.

– Eles foram embora? – Perguntou Laura.

– Não. Eles não vão embora. Mabel, você tem que ir.

– O quê? – Gritou Jennyfer. – Eu não vou deixar a minha filha!

– Se não deixarmos ela ir, eles vão chamar a polícia!

Jennyfer tentou acalmar a respiração, mas estava muito nervosa.

– Meu Deus...

– Mãe... – Disse Rafael, com lágrimas nos olhos. – Você tem que deixar ela ir.

Chorando, Jennyfer soltou Mabel e olhou para o rosto dela.

– Por que você fez isso?

– Eu não sei – disse Mabel.

– Ai, Mabel, por que?- Laura também chorava. – Agora você vai ter que ir embora.

– Eu sei. Me desculpem. Eu não sabia que me escolheriam.

– Temos que acabar com isso logo – disse Rafael. – Antes que chamem a polícia.

Todos estavam chorando. Mabel se despediu de todos eles. Os quatro sabiam que ela não voltaria. Quando ela se despediu de Rafael, ele pegou a mão dela, que continha um bracelete com uma pequena balestra caseira. Era o tal handgun que Rafael lhe ensinara.

– Use isso, Mabel. Você é boa nisso. E vai sobreviver. Entendeu?

Mabel acenou com a cabeça e abraçou o irmão. Depois, Maxwell a levou para a porta. E ela andou até a nave, onde todos olhavam para ela.

– Tenho a impressão de que ela não queria realmente estar aqui – disse Avelin, para si mesma. Mas todos ouviram. Quando Mabel entrou, ela chamou a menina gentilmente. – Vem cá. Senta aqui. – Mabel foi até ela. –Vai ficar tudo bem.

Avelin ajudou Mabel a colocar o cinto e a aconchegou.

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HORDALAND, 8:36

– Deve ser o senhor Burke.

– Sou eu. Algum problema?

– Viemos em nome da Aurum informar que sua filha Annika Johanne Burke foi selecionada para a Missão 5496 no Black Hole.

– Oh, é mesmo? Ela... Disse que havia feito uma entrevista. Então vieram busca-la?

– Sim senhor.

– Vão ter que esperar um pouco, ela não fez as malas...

– Tudo o que ela necessita está na Aurum, senhor.

– Tudo bem. Vou chamá-la.

Annika tinha avisado a Teodor e a Frida sobre a entrevista. Nenhum dos dois era cientista, mas cada um tinha um pezinho na ciência, já que Frida era médica e Teodor dava aulas de física na faculdade. Ambos compreendiam o desejo da filha, embora não fosse fácil. No fundo, Teodor não esperava que Annika fosse escolhida.

Eles se despediram dela, depois, levaram Annika a cada quarto dos irmãos, Max, Agnes e Kirsten. Explicaram o que estava acontecendo, e ela se despediu de cada um deles. Em seguida, Teodor e Frida a levaram para a porta, de onde seguiu sozinha.

– Parece que os pai dela a apoiam – disse Stux a Gabbe.

– O quê? – Disse Gabbe, sem prestar muita atenção, pois jogar Candy Quest no celular parecia mais interessante.

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ROGALAND, 8:43

Kim HaNa estava deitada no confortável sofá da sala, vendo os comentários do seu último aegyo. Na foto, Hana estava vesga e fazendo seu biquinho coreano, com sua purpurinada fantasia de coelho cor de rosa. Naquele momento, HaNa estava mais confortável com seu jeans e blusinha verde. Assim que ouviu a campainha, ela gritou.

– Eu atendo!

Já perto da porta, ela correu e abriu, ficando paralisada ao ver os homens da Aurum.

– Senhorita Kim?

– Ai, meu Deus, ai meu Deus! Vieram me buscar? – Ela estava super contente.

– Sim, senh...

– Ai meu Deus! Um segundo.

HaNa entrou em casa, enquanto a mãe já perguntava.

– HaNa, quem é?

– Joyce. Ela me chamou pra ir na casa dela. Só vou pegar meu casaco.

HaNa subiu, e pegou um envelope velho e amassado que estava dentro de uma caixa. Colocou o casaco e arrumou a carta sob ele, para que não aparecesse. Depois, foi à cozinha, onde a mãe estava, e disse:

Eu já volto, ok?

– Tudo bem.

– Annyeong.

HaNa saiu da casa e foi para a nave, feliz da vida. Quando entrou, ela disse.

– Oi, pessoal! Está um dia lindo, não é mesmo?

Sem esperar resposta, ela se sentou e colocou o sinto. A pequena Mabel começava a sorrir.

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VEST-AGDER, 8:52

Elly e Eeve andavam na rua, a caminho da casa de Elly. Quase chegando, elas repararam o objeto voador que se aproximava, e quanto mais perto estava, mais certeza elas tinham de que era uma nave da Aurum. Elly correu até lá e parou o homem quando estava prestes a tocar sua campainha.

– Espere!

– Quem é você? - Perguntou o homem, mas descobriu ao olhar para a foto de Ellynia na prancheta.

– Sou Ellynia Stone.- Ela olhou para a nave cheia de jovens.

– Viemos busca-la. Você foi selecionada.

– Eu imaginava. – Elly se virou para Eeve e a abraçou. – Tchau, minha amiga.

– Não vai contar aos seus pais? E aos seus irmãos? Não vai se despedir deles?

– Nunca me deixarão ir. Conte a eles por mim.

– Tudo bem.

A própria Eeve não queria deixar Elly ir. Mas ela sabia que não havia nada a fazer.

Elly foi para a nave.

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OSLO, 8:58

Alex já estava preocupado.

O pai costumava chegar às sete. Às seis e meia ele já estava dentro do armário, com uma faca de cozinha caso fosse necessário, mas ele esperava que não chegasse a tanto. Como ele esperou, o pai chegou às sete, bêbado. Procurou a mãe e as crianças. Não encontrou ninguém. Revirou a casa, chutou tudo, e depois saiu. Pegou o carro e foi embora. Alex não saiu. Ficou esperando o pessoal da Aurum, que chegaria à oito. Mas já eram quase nove, e nada. Então, finalmente a campainha soou.

Alex saiu com cuidado e olhou pela janela. Eles estavam ali. Alex correu e saiu de casa.

– Senhor Alex Greenwich?

– Sim.

– O senhor foi selecionado para a Missão 5496 da Aurum.

– Isso é excelente.

Alex foi para a nave.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo começa o treinamento. Deixe um comentário, diga o que achou do seu personagem nesse cap! Espero que tenha gostado!