Chain of Memories escrita por JaineYHY


Capítulo 5
Capítulo 5 - Sayonara.


Notas iniciais do capítulo

*Recomendo que vocês ouçam a música Desert Rose – Abingdon Boys School Band. Se divirtam, quero comentários depois.



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Tomoyo se encostou na parede, deixando que suas costas escorregassem junto com suas pernas até que o corpo desabasse no chão. Abraçou as próprias pernas e ficou fitando o chão, com o olhar vazio e o choro silencioso. Ginsei se encostou na parede ao lado dela e fechou os olhos, com a expressão séria de sempre.

Longos minutos se passaram enquanto os dois trocavam nada mais do que a respiração.

–Você vai ficar bem com isso, Tomoyo? – Ele perguntou, quebrando o silêncio, porém sem encarar a garota e sem demonstrar qualquer tipo de preocupação na voz.

Tomoyou suspirou e limpou as lágrimas com as costas da mão. Pela primeira vez, sua resposta não foi um sorriso.

–Não sei. – Disse baixinho, apertando mais as pernas.

Ginsei suspirou, se desencostando da parede e indo em direção a janela.

–Vamos atrás daquela doida. Você consegue andar, não está tonta? – Falava tudo no mesmo tom sério de sempre.

Tomoyo se levantou prontamente e o seguiu. A vista dela estava um tanto embaçada, não pelas lágrimas, mas pela quantia de energia espiritual que ela se tornara capaz de ver, perceber e sentir, com altíssima intensidade.

Ela apenas permaneceu em silêncio. Antes que eles pudessem sair, Yumi saltou por sobre eles e caiu no chão, com uma expressão totalmente desesperada. A pobre criatura estava se debulhando em lágrimas, quase invisível aos olhos de um humano, e toda sua força parecia agora ter se tornado desespero. Ela estava sofrendo, claramente amedrontada, e frágil. Se ajoelhou em frente a Tomoyo e abraçou as pernas dela, afundando a cabeça entre as pernas dela.

–Desculpa... Desculpa... Desculpa... Desculpa... – Ela sussurrava, sem parar, e sem encarar Tomoyo.

A cena partiu seu coração. Ginsei olhou para a cena de canto de olho e engoliu em seco. Uma lágrima escorreu pelo único olho visível deste. Antes que qualquer uma das duas pudesse notar, ele saltou pela janela.

Tomoyo nem se deu conta do que havia com a pelúcia. Suas lágrimas pingavam sobre a cabeça de Yumi, que ela acariciava com tanto cuidado, temendo que qualquer coisa pudesse a quebrar. O único amor de sua vida estava sumindo bem em sua frente, e ela não sabia como fazer parar.

–Por que está se desculpando, Yumi? – Ela perguntou baixinho, mantendo a voz suave.

– É minha culpa... – Yumi engoliu em seco e ousou encarar os olhos de sua amada, mesmo naquele estado.

– Meus machucados? – Tomoyo perguntou com um sorriso triste, conhecendo bem a garota que amava. Yumi assentiu vagarosamente com a cabeça.

–Um toelhinho veio me chamar hoje, Tomoyo... Só hoje eu fui capaz de entender o que estava acontecendo de verdade... Me perdoa... – Yumi soluçava e sofria a cada palavra que pronunciava.

Tomoyo se ajoelhou em frente da pequena e a abraçou com força, afundando a cabeça em seu ombro e chorando ali, dessa vez sem se preocupar com o barulho.

–Yumi... Eu te amo tanto, tanto, que dói. Dói mais do que qualquer um desses machucados pequenos combinados as visões horríveis que tenho tido... – Tomoyo encarou a pequena. – Dói porque eu sei que vou te perder. – Falou num sussurro, alisando o rosto dela.

Yumi ficou paralisada, enquanto as lágrimas das duas permaneciam escorrendo. Num ato involuntário, as duas uniram os lábios novamente, dando um beijo calmo e paciente, dessa vez ainda mais salgado, pois ambas sabiam que se tratava de uma despedida.

–Deus não me mandou pra cá para quebrar correntes dos outros, Tomoyo... – Yumi dizia, frustrada. – Ele queria que eu fosse capaz de quebrar minha própria corrente, para que eu me libertasse. – Falava baixinho, enquanto deitava o corpo sobre o corpo de Tomoyo, que a segurava em um abraço. – Para que isso acontecesse, alguém precisava assumir todo esse poder espiritual de forma pura. Você fez isso, Tomoyo. Mais do que isso, você me conseguiu por inteira. – Ela sorriu de leve, fechando os olhos.

Tomoyo beijou o topo da cabeça de Yumi, tentando esconder o próprio desespero. Os batimentos cardíacos de sua amada foram sumindo vagarosamente do tato de suas mãos trêmulas, que a apertavam mais do que nunca. Ela não queria largar. Ela não podia aceitar que Yumi iria sumir daquela forma.

–Continue falando comigo, vai, eu te amo tanto... Não feche os olhos, mantenha eles abertos, vamos, olhe pra mim... – Ela engasgava enquanto falava. Pela primeira vez, parecia que a Daidouji não era capaz de manter sua calma eterna.

Yumi riu baixinho e selou os lábios de Tomoyo.

–Você é a melhor coisa que já me aconteceu. E eu juro, que nem que eu tenha que quebrar todas as regras de Deus, eu vou te ver de volta. Eu juro. – Yumi falou baixinho, com a voz fraca e distante. – Você pode esperar por mim, Tomoyo?

O corpo da pequena brilhava em seu abraço. Tomoyo engoliu em seco, enquanto mais e mais lágrimas escorriam e ela assentia vagarosamente com a cabeça.

–Por toda a eternidade, se for preciso, eu vou te esperar. – Ela falou enquanto o corpo de Yumi se dissolvia em um pó brilhante e tomava rumo para o céu através do fio de luz da lua que entrava pela janela.

Tomoyo sentiu o corpo ficar quente, como se estivesse sendo abraçada. Aos poucos, até mesmo o perfume de Yumi foi sumindo do quarto, e Tomoyo reprimiu um grito de dor, que acabou saindo baixinho, juntamente com todas as lágrimas. Ela deitou no chão frio e chorou, chorou tanto que pegou no sono e as lágrimas ainda não haviam cessado. A dor daquela despedida era insuportável, mas a esperança em um reencontro a confortava.

Havia ficado bem claro para Tomoyo que a missão de Yumi, desde o início, era aprender a amar, já que ela era a criança que fora possuída pelo ódio do coração. Quando Yumi conheceu o sentimento verdadeiro de seu coração, a corrente que a prendia finalmente foi quebrada, e o responsável por isso fora obrigado a receber o poder espiritual da garota.

Nos dias que se seguiram, Tomoyo notou que era como se Yumi nunca tivesse existido naquele mundo, já que ninguém, nem mesmo Sakura e Shaoran, que tinham poderes mágicos, se lembravam dela. Por algum motivo, Tomoyo nunca se esqueceu de nada, nem de um detalhe sequer, desde a textura do cabelo castanho comprido em suas mãos, os lábios macios, o perfume suave e doce, o sorriso infantil e inocente, o olhar curioso e brilhante, o tom de voz. Tomoyo nunca se esquecera de nada.

Porém, quanto mais os anos passavam, mais Yumi se tornava apenas um sonho bem distante do passado, e Tomoyo começava a perder as esperanças. Cada vez que sua esperança fraquejava, a pobre Daidouji caía em desespero, com medo de se esquecer do grande amor de sua vida.

Tomoyo nunca trabalhou com a quebra de correntes. Ela usava seus poderes espirituais para prever eventos futuros e ajudar Sakura e Shaoran. Um rapaz misterioso apareceu em sua vida, Kimihiro Watanuki, e ele a ensinou a lidar com todo aquele poder espiritual. Junto com ele, Tomoyo aprendeu muito sobre o universo e se tornou uma feiticeira das dimensões, capaz de trabalhar exclusivamente com ele. Ela se esforçou muito, dia após dia, para encontrar uma forma de conseguir abrir o caminho para os mundos inalcançáveis aos humanos, na busca por Yumi. Watanuki a ajudou muito, e nem todos os esforços foram em vão.

Os dois tem uma amizade muito bonita até hoje. Tomoyo nunca mais se envolveu com nenhuma outra pessoa, no aguardo por Yumi.

Até que um dia, quando Tomoyo já tinha 46 anos, uma jovem de cabelos castanhos quebrou a passagem do outro lado aproveitando a brecha que Daidouji e Kimihiro haviam feito do lado deles. As duas trocaram olhares e a distância se encurtou.

Apenas uma fresta, através de uma parede dimensional que parecia invisível, dividia as duas. Não se sabe a qual distância elas estavam, mas seus olhares se encontraram e instantaneamente se encheram de lágrimas silenciosas, que escorriam vagarosamente pelo rosto das duas, como se lhe acariciassem as faces.

–Tadaima. - Tomoyo sussurrou após ficarem em silêncio, se encarando, por uma eternidade.

– Okaeri. - Falou baixinho Yumi, secando as lágrimas e endireitando a postura.

Não se sabe quanto tempo passaram dividas daquela forma, se olhando como se o tempo não tivesse passado. E de fato, ele não passou. As duas estavam unidas pelo tênue fio vermelho do destino, e o começo da vida delas estava marcado por aquele olhar, por aquele sorriso.


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Notas finais do capítulo

Em breve teremos um epílogo, ou vocês se esqueceram do Ginsei? :3