Kushina não se lembrava de jamais ter visto Minato sorrir de um jeito tão verdadeiro e caloroso, nem mesmo para ela.

Seu marido estava sentado no chão da sala junto de Naruto, que neste dia completava três anos de idade.

“Veja só, Kushina!” Minato disse, de repente, apontando para o bebê Naruto, que brincava com uma kunai de pelúcia em seu colo. “Ele é tão bonitinho!”

“Minato, você é tão bobo.” Kushina riu, observando os dois da cozinha, onde preparava o jantar.

“Você será um grande ninja, Naruto” o Quarto Hokage sussurrou para o filho, que, embora possa não ter compreendido, deu uma risada gostosa e tentou puxar o cabelo do pai.

“Não aborreça o bebê com essas coisas, Minato,” Kushina resmungou, mas não havia nada de irritado em seu semblante ou voz.

Ela deixou os vegetais assando sozinhos no fogo e caminhou até a sala, onde se juntou ao marido e o filho.

“O Naruto poderá ser um grande ninja, mas isso é uma escolha só dele,” disse ela, afagando os cabelos dourados do filho. Mesmo tão novo, Naruto já era muito parecido com o pai.

Com o filho ainda brincando com as mechas de seu cabelo, Minato ergueu o olhar e encarou a parede do cômodo, ponderante. Kushina pensou que talvez o que tivesse dito pudesse ter chateado o marido, e estava pronta para se desculpar, mas no instante em que ela abriu a boca para fazê-lo, Minato lhe entregou Naruto nos braços e saiu correndo.

“Mi—Minato!” Kushina chamou, sem entender nada. Durante algum tempo, ela apenas ouviu o som dos passos do marido no soalho do andar de cima, até que então viu Minato retornar correndo, trazendo consigo uma kunai de verdade numa mão e um pergaminho velho em outra. Ainda confusa, ela perguntou: “O que é isso?”

“Um jeito de descobrir uma coisa,” disse ele com um ar jovial, depositando os dois itens no chão diante dela, e tirando por último do bolso uma nota de mil ryous, a qual colocou, cuidadosamente dobrada, entre a kunai e o pergaminho. “Recue um pouco, Kushina.”

O marido pediu e assim ela fez, mesmo sem entender muito bem. Sempre a aborrecia que Minato não lhe explicasse as coisas, mas felizmente desta vez ele explicara o que pretendia antes de ela ameaçar acertá-lo na cabeça com uma panela pesada:

“Não sei como pude esquecer algo assim.” Ele deu aquele sorriso de garoto que, independentemente de quantos anos se passassem, permanecia brilhante e caloroso como sempre. “É um teste, querida; faz parte de uma tradição ninja há muito esquecida. Veja." Ele indicou os itens no chão com um gesto. "Cada item representa uma ambição diferente, o que a criança mais valorizará ao longo da vida: a kunai representa a força; o pergaminho representa a sabedoria; e o dinheiro, bem, representa o dinheiro. O que Naruto escolher quando você soltá-lo, será o que ele mais valorizará ao longo da vida.”

“Minato, isso é um teste tão bobo!” Kushina respondeu. Não acreditava que o que Naruto pudesse escolher agora, tão novo e inocente, pudesse ser o que realmente valorizaria quando crescesse. Minato lhe deu aquele olhar de cachorro desamparado e frustrado, e ela não resistia àquilo. "Tudo bem, tudo bem. Vamos fazer isso." Então, ainda que um pouco incerta, ela colocou o bebê de pé e o soltou.

Naruto cambaleou e quase caiu, mas assim que ouviu Minato bater no soalho, chamando sua atenção para os três itens, pôs-se a cambalear na direção do pai, as mãozinhas estendidas e os grandes olhos azuis cintilando com alegria.

“Venha, Kushina!” Minato chamou, quando Naruto estava no meio do caminho, para que a esposa pudesse assistir à escolha do filho junto dele. Kushina se levantou e foi se sentar ao lado do marido, com um rubor de divertimento no rosto enquanto observava o filho cambalear lentamente em sua direção.

“O que você acha que ele vai escolher?” ela sussurrou para Minato, sentindo-se de certa forma apreensiva. Aquilo não passava de uma brincadeira, mas a tensão de imaginar onde Naruto iria era divertida.

“A kunai! A kunai! Seja um grande ninja, Naruto!” o pai torcia baixinho, enquanto Naruto se aproximava cada vez mais dos três itens. “A kunai, a kunai, a kunai!” ele começou a torcer com mais ânimo, e, embora parecesse preocupado, não desanimou quando o filho começou a pender ligeiramente na direção do pergaminho. “A kunai! A kunai, Naruto!”

[OST - Ouça enquanto lê]

Kushina ria gostosamente, observando a aflição do marido e a confusão do filho, mas seu riso emudeceu no momento em que Naruto enfim se aproximou dos objetos, e, em vez de pegar um, simplesmente os chutou para o lado e continuou a caminhar, e caminhar, sorrindo, em direção a eles.

“Naruto...” Surpreso, Minato apenas encarava Naruto, enquanto o bebê subia sozinho em seu colo, murmurando "oto—otou-san". “Você tinha que ter escolhido um daqueles três.” Ele indicou os objetos para o filho, que apenas olhava sem compreender. E então Kushina voltou a rir, um riso molhado de suas lágrimas, doce e emocionado. Com as sobrancelhas erguidas, Minato a encarou: “Ku—Kushina, do que você está rindo?... Por quê está chorando?”

“Ele não fez nada de errado, querido,” Kushina explicou, secando as lágrimas. “O Naruto escolheu o que é mais importante pra ele, você não viu?” Ela se aproximou e colocou os braços ao redor do marido, e com uma das mãos, tocou o peito dele, então sussurrou em seu ouvido: “Ele escolheu você, Minato.”

“Eu? Mas...” Minato parecia confuso, ainda olhando dela para os três objetos espalhados pelo chão, e de volta para os olhos marejados da esposa; porém, um puxão em seu cabelo o fez olhar para Naruto, e quando seus olhos se fixaram nos do filho, foi como se estivessem se encontrando pela primeira vez. “...Ah. Estou vendo.”

Naquele dia, Kushina vira o marido chorar pela primeira, e possivelmente a única vez também.

Minato e ela se deitaram no chão, com Naruto entre eles, e por algum tempo ficaram ali, abraçados às coisas mais importantes de suas respectivas vidas.

“Prometo que serei o melhor pai do mundo, Naruto.”

“E eu, a mãe. E seremos muito felizes juntos.”

E eles foram... de alguma forma.

Fin