Annabeth percebeu que havia algo de errado com ela às dez da manhã de um domingo chuvoso. Checava compulsivamente o seu celular, preocupada com o fato de que Percy não enviava uma mensagem desde sexta à noite. Ela nunca se imaginara em um grau de clichê e infantilidade tão grande, nunca pensara que fosse agir como uma adolescente chorona e desesperada por um garoto, afinal, ela era Annabeth Chase, não uma qualquer.

— Annabeth. — Chamou sua mãe. — Com quem está falando?

Levou cerca de cinco segundos para que a garota tirasse os olhos do aparelho e respondesse sua mãe.

— Ninguém, só a Piper.

Desconfiada, Atena retirou o celular da mão da filha.

— Parou de falar com ela há dez minutos. — Disse a mãe, apontando para o horário em que a última mensagem fora enviada.

— Eu sei, mas ela disse que voltaria rápido.

Ainda não convencida, Atena devolveu o celular para Annabeth.

— Guarde isso, ou então eu guardarei.

— Tá. — Murmurou a filha. — Irei guardar.

Sem comentar mais nada, a mulher voltou a cortar os legumes enquanto a filha seguia até seu quarto. No caminho, ela cumprimentou o pai (o homem estava limpando os cacos de vidro do espelho que ele acabara de derrubar). Após isso, foi ajudar sua mãe a fazer o almoço.

* * *

Às onze e meia daquele mesmo domingo, o celular de Annabeth vibrou. Quase instantaneamente, ela digitou a senha e clicou na notificação.

“Percy Jackson enviou uma mensagem”

“Oi, annie.” — Ele digitou.

“Olá, Percy.”

“Tudo bem?” — Enviou o garoto.

“ Ah, tudo. E você?”

“Melhor agora. Fiquei o fim de semana todo eu fiquei confinado na casa do meu pai.”

“E lá não tinha internet?”

“Tinha, mas ele não deixou que eu usasse. Estou começando a apoiar o projeto de internetização da lua.”

“Que diabos seria uma internetização? Não achei essa palavra no dicionário”

“Uso exclusivo do Sr.Jackson, é claro.”

Annabeth só percebeu que sorria quando a mãe questionou:

— Qual o motivo do seu riso, filha?

—Nada. — Disse ela, depressa. — É um vídeo.

— Você assistiu ao vídeo sem fone de ouvido? — Perguntou Frederick, seu pai.

— Era um gif.

Os pais se entreolharam, desconfiados.

— Tudo bem, então. — Falou Atena. — Acho melhor marcarmos um médico, ela não anda muito bem da cabeça.

— Parece apaixonada, com a cabeça na lua. — Zombou o homem.

— Credo! — Exclamou Annabeth. — Eu não estou apaixonada.

— Calma, foi só uma brincadeira.

— Uma das bem sem graça, se quer saber.

Frederick revirou os olhos e voltou a assistir TV. Após algum tempo, Annabeth se retirou até o seu quarto para poder conversar com Percy sem deixar escapar nenhuma pista.

“Ei, o que acha de sairmos um dia desses?” — Digitou o rapaz em certo momento.

“Para onde?”

“Qualquer lugar, só quero sair com você”

Sentindo o rosto corar, ela sugeriu que fossem ao boliche.

“Parece uma boa ideia”.

“Você poderia levar o Grover também, ou um dos outros garotos”

“Não, eu estava pensando em uma coisa só para nós dois”

Naquele momento, Annabeth poderia dar cambalhotas e fazer acrobacias dignas de um competidor das Olimpíadas.

“Ok, então. E o dia?”

“ Sábado à tarde?”

“Acho que dá, mas tenho que perguntar aos meus pais.”

“Está marcado, então. Nos vemos no boliche, Chase. “

“Prepare-se para perder feio”

“Pode ter certeza de que já nasci preparado para isso”

Continuaram conversando até a bateria do celular de Annabeth estar prestes a acabar. De certa forma, falar com Percy era tão fácil quanto fazer um bebê sorrir (talvez porque Percy fizesse gracinha como um deles,não dava para saber) .

* * *

— Mãe, me convidaram para ir ao boliche sábado. — Disse Annabeth em um só fôlego enquanto secava a louça.

Sem desviar os olhos do computador e de seu projeto de arquitetura, Atena indagou:

— Quem vai?

— Eu e um amigo, o Percy.

A mulher encarou a filha.

— Um amigo?

— É.

— Desde quando o conhece?

— Ele foi o cara que me devolveu a bolsa no casamento da Perséfone, se lembra? E também é amigo do Jason e da Piper.

Atena pareceu pensar por um segundo, depois voltou a digitar em seu computador.

— Nesse caso, leve Piper e Jason ao boliche também. Se quiser, faça uma festa e chame todos os amigos que têm, mas não irá até lá sozinha com esse elemento.

— Esse o quê? — Indagou a garota em tom risonho.

— Deixe para lá.

— Então eu poderei ir ao boliche?

— Pergunte para o seu pai.

Annabeth saiu apressadamente, procurando pelo pai. Encontrou-o na garagem, mexendo em alguma coisa no motor do carro. Conversou com ele de forma natural, perguntando se ela poderia ir ao boliche com um rapaz e Piper.

— Não volte grávida. — Foi tudo o que o homem disse.

— Pai!

Frederick riu, dizendo que era brincadeira e que ela poderia sim ir ao boliche.

— Vou ligar a Piper. — Disse ela, animada.

Correu para dentro de casa e avisou Atena que o pai havia dito que sim.

— Nesse caso, eu digo sim também. Agora vá, me deixe trabalhar em paz. — Falou, atirando uma almofada na filha.

A garota abandonou a sala de estar rindo e devolvendo a almofada ao seu lugar de origem. Ao chegar a seu quarto, enviou uma mensagem à Percy.

“ Oi, eu poderei ir sim, desde que Piper e outras pessoas possam ir também”

“Sem problemas” — respondeu o rapaz rapidamente — “Nos vemos no sábado, então”

“Pode ter certeza” — Ela digitou, quase acrescentando a sentença “se eu sobreviver à ansiedade até lá”.

E, de repente, ela se tornara uma adolescente dos filmes clichê-americanos. Se tornara as garotas que sempre odiou.