Esta Noite é a Noite! escrita por Carlos Abraham Duarte


Capítulo 3
...E Uma Noite Inesquecível




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Noite na Youkai Gakuen.

Num céu vermelho-escuro sem estrelas, a Lua surgiu por trás de uma enorme nuvem. Era cor de sangue, parecendo muito maior do que Tsukune alguma vez a vira em qualquer lugar do mundo humano. Isto, ele conjeturou, devia ser um dos efeitos colaterais da barreira protetora de energia mística que isolava a academia do mundo dos mortais (e que, de igual modo, dava à luz do dia a aparência de crepúsculo). À luz espectral dessa Lua carmesim moviam-se, por entre as grotescas árvores mortas e o caótico emaranhado de ervas, lápides, urnas, cenotáfios e mausoléus ruinosos do tétrico cemitério, coisas cujas formas bizarras e apavorantes não foram feitas para serem vistas por olhos mortais. Percorrendo tal paisagem surreal e sinistra, tinha-se a impressão de estar em outro planeta, ou, pior ainda, numa verdadeira antessala do Inferno.

Somente uma solitária figura humana - um rapaz atlético de cabelos negros rebeldes, trajando calça jeans e camisa polo - ousava desafiar os mudos horrores sob o luar sanguinolento.

Tsukune se achava à frente da porta do quarto de Moka Akashiya, na ala feminina do dormitório estudantil da Academia Youkai. A porta de número 413, com o morcego estilizado! Seu coração batia com tamanha força que ele duvidava ser capaz de falar. Embora Tsukune tivesse um bom pretexto para estar ali - a jovem vampira era excelente aluna em matemática, bem ao contrário de seu amigo mortal, e os dois já haviam combinado de estudarem juntos desde o semestre passado - , sentia-se como se estivesse prestes a profanar o sacrário residencial de uma deusa. Voltaram-lhe à mente as palavras pouco gentis do lobisomem Ginei Morioka: "Uma vampira de sangue real e um cara como você? Sem chance!" Inconscientemente franziu o cenho. Um cara como eu... Porque eu sou humano?! Cerrou e descerrou os punhos. Danem-se as regras. Danem-se todas aquelas leis vampíricas racistas, medievais. Eu já tomei minha decisão. Respirou fundo, bateu à porta e esperou. Ouviu passos leves e cautelosos se aproximarem, logo depois o ruído da maçaneta e, por fim, a porta se abriu.

- Tsukune-kun - disse a voz suave, musical e extremamente encantadora de Moka.

- M-Moka-san... - tartamudeou Tsukune, piscando os olhos, maravilhado com a singela beleza da jovem youkai, de pé, à sua frente, no limiar da porta do quarto. Moka trazia sobre o corpo esguio e curvilíneo um vestido leve de seda preta, com detalhes cor-de-rosa e um decote profundo, que lhe realçava a alvura da pele, banhada pelo luar escarlate. "Linda demais!", pensou extasiado. "Moka-san, você é linda e sensual a qualquer hora do dia... ou da noite, usando um vestido ou o uniforme de colegial". E o poder de fascinar da vampira tomou conta do rapaz humano novamente. Engolindo em seco, ele meteu a mão no bolso da calça jeans e tirou o papel dobrado que continha o recado de Moka, e disse, meio atabalhoadamente: - Boa noite, Moka-san, você me convidou pra vir aqui, lembra? Eu...

Não completou a frase. Em um gesto rápido, Moka o puxou para dentro do quarto e fechou a porta atrás deles sem som algum. - Boa noite, Tsukune - ela disse, em tom discreto e carinhoso. - Me perdoe o mau jeito, mas não é seguro lá fora. - Ela indicou-lhe a cadeira da escrivaninha com a mão, para que se sentasse. - Tsukune, eu te chamei porque percebi que, desde cedo, você vinha tentando falar comigo, porém sempre aparecia alguém ou alguma coisa para atrapalhar. Aqui, não. Você pode falar à vontade, que somos só nós dois e ninguém mais.

Sem se mexer, Tsukune relanceou o olhar em volta. Estou nos aposentos da Moka-san. A mera constatação de tal fato fez o sangue pulsar mais rápido em suas artérias. Na Academia Youkai os alojamentos eram todos individuais, para preservar a privacidade dos estudantes. Foi o que permitiu a Tsukune esconder sua origem humana, evitando assim ser morto pelos youkais. Ele nunca adentrara o quarto de Moka, e sabia que nenhum outro homem havia feito isso antes (se bem que Moka já houvesse estado no quarto de Tsukune, cozinhando para ele, durante a convalescença do rapaz após a peleja contra Kuyou Youko, no ano letivo anterior). Notou que na decoração predominavam os tons de rosa e lilás, com algum azul escuro e vermelho vivo como detalhe, e lamentou sua ignorância quase total do significado das cores no feng shui.

- Então... Tsukune-kun? - Uma ligeira impaciência vibrou na voz doce de Moka. Qual lembrete de sua verdadeira natureza, o rosário de ferro puro pendia entre os seios da vampira, que o decote generoso do vestido desvelava parcialmente; incrustado no centro da cruz de ferro, o rubi astérico brilhava sinistramente, redondo, feito o olho maligno de um demônio do Makai.

- Moka-san... - ele principiou, fitando o belo rosto, sentindo-se mergulhar nos profundos olhos verdes cintilantes da ayashi, como que mesmerizado. Dentro do peito o coração martelava-lhe impiedosamente. Mentalmente gritou para ela: Eu te amo!

- Tsukune... - ela replicou, orbes cor de esmeralda sempre fixos nos do jovem humano, achocolatados, parecendo tão mesmerizada como ele.

- Moka-san...

- Tsukune...

Houvesse um clarividente observando a cena e parecer-lhe-ia que o homem e a mulher - humano e ayashi - se achavam imersos em luminosa atmosfera áurica cor-de-rosa. Como em tantas vezes anteriores, seus rostos foram se aproximando um do outro, lentamente, deixando os lábios bem próximos, como se quisessem se beijar. "Já vi esse filme antes", pensou Tsukune. "Dúzias de vezes, e termina sempre do mesmo jeito. Kappu-chu!" Apesar disso, a boca de Moka o atraía feito um ímã, ou um turbilhão de Charybdis. Ele simplesmente não podia - não queria - se desviar da mesma, de seus lindos lábios coralinos, de seus dentes alvíssimos, de sua língua...

E então, no último instante, aconteceu!

Os olhos castanhos de Tsukune alargaram-se até a máxima extensão possível, pupilas dilatadas tremeluzentes de estupefação, quando, pela primeira vez, os lábios de Moka, rosados e macios, pousaram docemente nos seus. Oh, Deus! Seu coração ribombava em sua caixa torácica. Ato contínuo, as bocas se abriram em silêncio, permitindo às línguas ansiosas se encontrarem, timidamente, de início, acariciando-se, provando-se, explorando-se num roçar leve e trêmulo que logo evoluiu em uma dança erótica, frenética, embalada ao ritmo de sensações indescritíveis que nenhum deles conhecia. Moka enlaçou os braços em torno do pescoço de Tsukune; ele, por sua vez, envolveu a cintura dela com um dos braços e, com delicadeza, colocou a outra mão na nuca da vampira, dedilhando os fios rosados da linda cabeleira que lhe descia até os quadris. Sentindo a maciez dos seios dela contra seu peito, Tsukune aprofundou o beijo explorando os lábios, o céu da boca e por baixo da língua quente de Moka, misturando suas salivas. Por vários segundos preciosos, o humano e a youkai permaneceram imóveis, agarrados um ao outro, lábios contra lábios, sugando o fôlego, a saliva, sentindo o bater de seus corações em uníssono. Depois que suas bocas se separaram, Tsukune e Moka ficaram se encarando, olhos nos olhos - castanho-claro contra verde-esmeralda - , e afinal, a garota vampira sorriu, e disse: - Tsukune, eu te amo.

- Eu também te amo, Moka-san - ele replicou gentilmente. E tornou a beijá-la.

- Tsukune foi o meu primeiro - comentou Moka, com um toque de malícia. - De novo.

- Hmmm?

- Você foi meu primeiro amigo, e também o primeiro humano de quem eu suguei sangue. E agora, é o primeiro homem que eu beijo. Meu primeiro beijo na boca!

- Sinto-me honrado.

- Ah, não seja bobo! - Moka riu, afastou-se um pouco e sentou-se na beira da cama forrada com lençóis lilases. - Você queria muito isso, não queria?

- Se eu negasse, estaria mentindo.

- Eu também. Mas o desejo de sangue...

- O que importa é que você finalmente aprendeu a controlar o seu ímpeto de vampiro. - Tsukune sentou-se ao lado dela na cama, roçando timidamente o dorso de sua mão direita (no pulso, o "cadeado sagrado" de ferro puro que impedia que o sangue vampírico injetado por Moka para salvar-lhe a vida, meses atrás, o transformasse num ghoul) nas costas da mão esquerda da jovem ayashi de cabelos róseos. - Beijar é muito melhor que morder jugulares ou carótidas, né?

(O beijo de Moka-chan e Tsukune-kun acionou 29 músculos faciais, sendo 12 dos lábios e 17 da língua, e queimou mais de 12 calorias em dez segundos. Nada mal, hum?)

- Tsukune - disse Moka, entre curiosa e apreensiva - onde você aprendeu a fazer aquelas coisas com a língua? Você já tinha beijado alguém antes?

O rapaz corou. - B-bem, na verdade... Eu aprendi graças à Kurumu-chan, que...

- Kurumu-chan?! - Moka arregalou os olhos de horror. - Aquela succubus pervertida beijou você? Ela vai te escravizar e te sugar toda a força vital até a morte!

Tsukune fez um gesto apaziguador. - Não, não é nada disso, Moka-san. Kurumu-chan só me emprestou alguns vídeos e DVDs educativos sobre sexualidade.

- Humpf! Faço uma ideia do que a diabinha peituda considera "educativo".

- E não, eu nunca beijei ninguém antes. Nem humana, nem youkai.

- Oh, Tsukune-kun! - Moka exclamou, juntando as mãos. - Então eu fui a sua primeira!

- Foi sim. Pra falar a verdade, nunca fui um cara popular com as garotas humanas.

Moka envolveu Tsukune com seus braços alvos e roliços, e o apertou num abraço cálido e ternuroso. - Tsukune... Eu tô morrendo de vontade de fazer uma coisa...

Ele olhou-a bestificado. - M-Moka-san!?

- Não é o que você está pensando - ela retrucou defensivamente, e suas faces rosadas ruborizaram-se ainda mais. - É apenas uma... uma fantasia que eu tenho... Me desculpe!

No instante seguinte um Tsukune atônito deu por si com o rosto enterrado no decote de Moka, que com suas mãos apertava a cabeça dele contra seus fartos seios redondos e firmes. Ela o embalava carinhosamente se balançando para frente e para trás, com os dedos acariciando-lhe a nuca. "Estou sufocando!", pensava Tsukune meio atordoado. Seus olhos arregalados e a ponta de seu nariz encostavam na pele branca das duas esferas suculentas que pareciam prestes a escapar pelo amplo decote. Ele rendeu-se, afinal, mais satisfeito que constrangido por sentir a maciez dos seios dela (a sensualidade do contato de pele com pele). Ouviu Moka sussurrar-lhe: "Eu te amo... Eu te amo". Por que não? Kurumu fazia isso sempre, todos os dias, e ele jamais reclamava.

- Eu sempre quis fazer isso, Tsukune-kun - explicou Moka alegremente. - Todos os dias eu via a Kurumu-chan te abraçar e quase te esmagar com aqueles peitões dela, e ardia de ciúme. Queria fazer o mesmo com você, mas me faltava coragem. Agora... Seu coração está disparado, Tsukune-kun. Tudo bem?

- T-tudo bem - falou Tsukune, tentando ajeitar com as mãos o cabelo negro despenteado. Pensou, admirado: "Uau! Moka-san se soltou um bocado esta noite!"

Ela mergulhou seus olhos cor de esmeralda nos dele, cor de terra. - Tsukune - murmurou a moça vampira - tem alguma fantasia secreta que gostaria de realizar?

- Fantasia? - repetiu Tsukune, sem acreditar no que ouvia. Ocorreu-lhe uma ideia ousada demais, e ele enrubesceu só de pensar naquilo. Inspirou profunda e ritmicamente, e soltou bem devagar - uma, duas, três vezes. "Eu tenho calma. Eu tenho domínio próprio".

- Tsukune... - ela lhe tocou a face com os dedos frios.

- Moka-san... Eu sei que você vai me chamar de pervertido, mas... - ele baixou o rosto. - A verdade, Moka-san, é que eu queria tocar nos seus seios, e cada vez que eu vejo a Yukari-chan fazer isso... apertando seus seios... Eu sinto uma inveja danada dela, perdão!

A jovem de cabelos róseos mirou-o com um misto de carinho e comiseração. - Não tem porque se desculpar - disse ela. - Tsukune não é nenhum pervertido, é o homem que eu amo. - Em seguida tomou as mãos dele e trouxe-as até os seus seios túrgidos.

- Me toque, Tsukune. Não precisa se envergonhar.

"Os seios da Moka-san são tão lindos, tão macios, firmes e redondos", pensou Tsukune, perplexo e fascinado, enquanto apalpava e apertava as duas esferas perfeitas que quase pulavam para fora do decote, experimentando-lhes a textura aveludada da pele alva, os mamilos duros por baixo do vestido de alcinhas preto, transparente. Ele apertou delicadamente os mamilos eriçados dela com os dedos, por baixo do sutiã de renda, e Moka soltou um gemido quase inaudível de prazer. Até parecia que aquela não era a Moka Akashiya com a qual ele estava familiarizado.

"Estou massageando os belos seios da divina Moka-san!", Tsukune pensou embasbacado. Chegou a recear que a bela vampira estivesse de novo sob o efeito de algum feitiço afrodisíaco criado pela endiabrada Yukari, a bruxa menina-prodígio cujo maior sonho era participar de um ménage-à-trois junto com Moka e Tsukune. "Oh, meu Deus, o Horehore-kun de novo não!"

Como se lesse seus pensamentos, Moka disse-lhe mansamente: - Pode ficar tranquilo, Tsukune. Desta vez estou cônscia de tudo. Nada de Horehore-kun, nada de afrodisíaco mágico.

Ela suspirou fundo e fechou os olhos. Em seguida relaxou vagarosamente. "É tão bom", murmurou. Era claro que se deliciava com o toque das mãos de Tsukune em sua carne macia.

- Moka-san tá me mostrando mais uma faceta que eu não conhecia - disse ele, espantado. Lógico que estava excitado - afinal, era homem - , mas a mera visão do vetusto rosário que descia pelo rego entre os seios de Moka, com o rubi astérico de um vermelho sanguíneo piscando malignamente no centro da cruz de ferro, bastava para lembrá-lo de que havia um limite até onde ele podia ir com ela. Era um símbolo aziago para Tsukune, um sinal de alerta máximo: Cuidado, vermezinho humano!

"Se eu, mesmo acidentalmente, remover a cruz do rosário no pescoço da Moka-san, o sangue da vampira adormecida no corpo dela despertará completamente", Tsukune refletiu, preocupado. "E a Moka-san se tornará um demônio sexy, violento e cruel, de olhos vermelhos e cabeleira prateada, capaz de me chutar a vinte metros de distância que nem uma bola de futebol". (Por alguma razão metafísica ora desconhecida, alguma obscura e misteriosa lei profundamente enterrada nos arcanos do Universo, somente ele, um mortal, tinha o poder de tirar a cruz do rosário de Moka e assim liberar o alter ego demoníaco dela, a "Ura-Moka". De-chu!)

Num átimo, voltou-lhe à mente, tal como um dobre de finados, a voz fria da "outra Moka", falando com a arrogância de uma deusa ofendida: "Ponha-se no seu lugar, Tsukune... Meu orgulho supremo como uma vampira não permite que um mero humano como você possa me tocar... Você não tem a mínima chance de me ter".

Conforme esperado de uma vampira com dupla personalidade.

Tsukune suspirou. Ergueu os olhos para ela, mas quem se encontrava diante dele era a sua Moka - a "Omote-Moka", como a outra a chamava desdenhosamente - , sorrindo-lhe graciosamente. "O sorriso da Moka-san é tão brilhante que inunda de luz mesmo os momentos mais escuros e tristes", pensou, comovido até o fundo da alma. "É o seu dom. Pouco me importa que chamem isso de 'presença', 'fascínio', 'coisa de vampiro'. E seja lá qual for a personalidade, 'Ura-san' ou 'Omote-san', eu nunca vou deixar de gostar dela".

- Sua fantasia se realizou, não é, Tsukune? - Não se tratava de uma pergunta, mas de uma simples constatação do fato. Moka ajeitou o vestido preto que batia um pouco acima dos joelhos, um gesto de recato que intrigou o moço depois do que haviam feito. Teria ela voltado a ser a pudica Moka Akashiya de sempre?

- S-sim... Obrigado por tudo, Moka-san - disse ele, levantando-se e fazendo uma grande mesura de agradecimento diante dela. - Nunca me esquecerei desta noite.

Moka estendeu a mão para Tsukune voltar a se sentar do lado dela, e ele assim o fez.

- Eu também não esquecerei - disse ela, irradiando de seu semblante tranquilidade e uma grande alegria. - Foi muito bom fazer algo diferente hoje. Expressar honestamente o que sentimos um pelo outro após passar dois semestres inteirinhos evitando falar disso, ou, pior ainda, sendo interrompidos sempre que tentamos fazê-lo. - Fez uma pausa e fitou ligeiramente o relógio despertador digital cor-de-rosa em cima da escrivaninha. - Já é bastante tarde da noite. Tarde demais pra você sair por aí, pra voltar ao dormitório masculino. Você pode dormir aqui, no meu quarto, OK?

- No seu quarto? - repetiu timidamente o garoto humano. Dando um sorrisinho amarelo envergonhado, ele disse: - OK, OK. Se você tiver um futon reserva pra mim...

- Esqueça o futon. Este leito - ela bateu com a mão espalmada na cama - é grande o suficiente para nós dois dormirmos sem problemas.

- E-eu e a Moka-san... juntos na mesma cama?! - exclamou Tsukune, gaguejando e corando até a raiz dos cabelos. "Calma, calma, Tsukune", disse para si próprio. "Fique frio". Não pôde deixar de ficar ruborizado, porém apressou-se em dizer, com um sorriso embaraçado: - Er... tá legal. Tudo bem. Eu juro pra você, Moka-san, não serei desrespeitoso em momento algum.

- Tsukune-kun - ela disse - você está parecendo um pimentão de tão vermelho.

- Moka-san...!

- E não precisa jurar nada para mim. - O sorriso dela era cativante. - Como já falei antes, eu confio no Tsukune-kun do fundo do meu coração. - Ela entrelaçou sua mão com a dele. - De mais a mais, sua mãe me pediu para tomar conta de você, lembra?

- Moka-san...

- Tsukune...

Beijaram-se longamente, abraçaram-se, acariciaram-se mutuamente e trocaram as juras de "Eu te amo!", conforme o esperado de um par enamorado. (Enfim!)

Em seguida, fizeram uma divertida guerra de travesseiros e almofadas, deram risada até caírem exaustos, cobertos de penas de ganso, felizes como crianças.

Entre beijos, penas e fronhas, Moka encostou os lábios sedosos ao ouvido de Tsukune e murmurou: - Gostaria que esta noite não terminasse nunca. O que acha de voltar aqui amanhã, à mesma hora? Hein, Tsukune?

- Quer dizer, outro encontro às escondidas? Aqui no seu quarto, após o anoitecer?

- Lógico. Poderíamos nos encontrar toda noite, ou noite sim, noite não, dentro das nossas possibilidades. E até combinar um sinal em código, tipo três batidas curtas na porta, seguidas de uma pausa, mais três batidas longas. Gostou da ideia?

- Gostei, sim, Moka-san. - Suavemente, Tsukune envolveu-a em seus braços morenos e beijou-lhe a boca com ternura. Correu os dedos pelos cabelos lisos dela, depois pousou a mão direita (com o "cadeado sagrado") no ombro delicado, onde ficou alisando a pele macia, branca e aveludada. - Mais dois anos e a gente vai se graduar, e então, quem sabe, eu e você poderemos ficar juntos em definitivo, seja no mundo dos humanos ou dos youkais. - Começou a beijar os ombros macios de Moka, passou a beijar-lhe o pescoço e se deteve na base, para lhe sentir o latejar das veias. - Isso parece um sonho. Até que enfim temos tempo um para o outro.

- Quer sugar meu sangue, Tsukune? - indagou Moka de supetão, com um sorriso cândido. - Se você quiser, eu deixo.

- Quêêê?! Não, sem chance! - Tsukune sacudiu a cabeça veementemente. - Eu não curto esse lance de chupar sangue dos outros, de jeito nenhum. Sem ofensa, Moka-san. - Todavia, apressou-se a acrescentar, como que pedindo desculpas por tamanha grosseria: - Mas eu compreendo que pra Moka-san o compartilhamento do sangue é um ato de amor.

"Foi por amor que a Moka-san me deu seu sangue, e com ele o poder ayashi da Ura-Moka selada. Eu só estou vivo até hoje por sua causa."

Ela o encarou, momentaneamente em dúvida, e falou: - Tsukune, você e eu estamos ligados pelo laço de sangue. Fale comigo e conte-me a verdade. O que está escondendo de mim?

Ele resolveu contar-lhe tudo, afinal. Pensou: Será minha prova de amor.

É verdade que já se haviam passado mais de seis meses desde que o youki do sangue vampírico que Moka injetara em Tsukune fora selado pelo exorcista-diretor da Youkai Gakuen, assim evitando que o jovem humano voltasse a se transformar num monstro carniçal, um ghoul. No entanto, as recordações daquele dia nefasto em que ele, viciado no sangue de Moka pelas repetidas injeções recebidas, chegara ao ponto de querer morder a amiga preciosa, ainda estavam bem impregnadas na memória de Tsukune. Tal como o rosário de Moka lacrava seu verdadeiro "eu", vampiresco e sombrio, o "cadeado-selo" de Tsukune tinha o poder de prender o "espírito" da besta-fera, mas não o impedia de desejar o sangue da vampira que era sua fonte de força.

Ela tomou as mãos dele entre as suas. - Eu compreendo o que você deve estar passando. Sofro muito com os sintomas de abstinência, você sabe. Suco de tomate ajuda a aplacar a sede, daí que eu bebo bastante suco de tomate enlatado.

- Já superei isso. O selo que o diretor colocou em mim - ele exibiu o pulso direito com a corrente de ferro de cinco voltas donde pendia o cadeado místico - controla o youki do sangue de vampiro que corre nas minhas veias, e impede o pior. Mas agora eu também entendo o que se passa com você, Moka-san. Compreendo quão difícil é se controlar, reprimir a sede de sangue, tendo o objeto do nosso desejo tão perto, e, ao mesmo tempo, temendo perder o controle e acabar machucando a pessoa amada. Moka-san, nós somos iguais.

Moka abraçou Tsukune pela cintura e encostou a cabeça em seu ombro. - Creio que estamos chegando a um melhor nível de compreensão e aceitação entre humanos e youkais, e em particular entre humanos e vampiros. E tudo graças ao meu amado Tsukune!

"Você me chamou de seu sol, mas a verdade é que você, Tsukune, tem sido meu sol, meu polo de luz desde que vim para esta academia... Desde que nos conhecemos, no dia em que eu te atropelei com minha bicicleta e te fiz sangrar. Sem o Tsukune, eu ainda seria apenas uma triste e solitária criatura das trevas, a "flor inalcançável" que todos cobiçam, mas que não tem amigos, e que odeia os humanos. E talvez fosse até cair na lábia e nas garras de youkais inescrupulosos que nem o Gin-senpai, o Inui Jyunya e o Saizou Komiya. Tsukune me ensinou a fazer amigos, a sorrir, a gostar da vida, a confiar nas pessoas, independente de raça ou aparência física."

- Todos podemos viver em paz e harmonia, desde que respeitando as diferenças alheias. Que importa se você bebe sangue, se é alérgica a alho e a prata, se não pode nadar comigo na praia ou na piscina porque a água te queima, ou, ainda, se sua comida tem gosto de capim porque você usa erva d'água pra cozinhar, em vez de água pura? Eu te aceito do jeitinho que você é.

- Por causa disso, vai ganhar um... um beijo!

O jovem humano deu uma risadinha encabulada. - Sabe, Moka-san... Eu andei pesquisando sobre cultura vampírica na biblioteca da escola, me familiarizando com os hábitos e costumes de vocês. E sabe o que eu descobri? Que sugar sangue tem a mesma conotação sexual que beijar na boca pra nós, humanos.

- Ohh...!

- Talvez seja por isso que a Moka-san nunca me beijou antes, até esta noite.

- Tsukune...

- Moka-san...!

Seus olhares se permutaram, seus rostos se aproximaram e seus lábios se entreabriram, tímidos, ansiosos, num convite e numa oferta para um novo beijo. (De novo a atmosfera áurica em tons de rosa-avermelhado, rosa-choque, rosa-bebê envolvendo os dois "amigamantes". Chu!)

- Tsukune - Moka sussurrou - eu já falei que você tem um cheiro delicioso?

Ela abriu sua boca, mostrando os quatro dentes caninos longos e pontiagudos crescendo, desviou dos lábios de Tsukune e desceu para o pescoço dele, para aquela carótida tentadora, e...

Kappu-chuuuuu!!!

(Uma vez vampira, sempre vampira... Fazer o quê, né? De-chu!)

 

FIM


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Notas finais do capítulo

Em minha fic, tanto o rosário de Moka quanto o cadeado de Tsukune são feitos de ferro puro, pois é crença generalizada que este metal repele ou anula o poder dos demônios, fadas, espíritos e entidades congêneres; igualmente, considerei a pedra vermelha da cruz de Moka como sendo um rubi astérico, porquanto acreditava-se que seu brilho "estrelado" (em forma de estrela, de linhas cruzadas de luz) devia-se a um espírito ou demônio guardado dentro do mesmo. Rubis e safiras astéricos sempre foram tidos na conta de pedras mágicas de grande poder.
Laço de sangue é a ligação mais potente e mística entre dois vampiros, ou entre um vampiro e um mortal que tenha recebido seu sangue; essa espécie de elo psíquico dá ao vampiro doador poder sobre o receptor (conforme visto, por exemplo, em "Blood+"). Porém, parece que a Moka nunca se interessou em fazer uso de tal prerrogativa sobre o Tsukune. (Talvez pela mesma razão que leva a Kurumu a se abster de usar seu charm de succubus para conquistá-lo.)