Cold Blood escrita por Miss America


Capítulo 2
Capítulo 1 — We Are Liars


Notas iniciais do capítulo

(Nós somos mentirosas)

Oi gente, tudo bem? Aqui está o primeiro capítulo de Cold Blood, ele ainda é sobre a festa de início de ano, ou seja, se passa um ano atrás. Por mais que o capítulo esteja um pouco extenso, acho que vocês vão gostar. Quero agradecer quem comentou no prólogo e favoritou, um muito obrigado a Miss Sociopath pela sugestão para a Lexi.

O que vocês acham da Kat McNamara para representá-la? Eu acho que ela loira ficaria perfeita. Sem mais delongas, tenham uma boa leitura, vejo vocês nas notas finais :)

Músicas do capítulo:
Iggy Azalea - Fancy ft. Charli XCX
Lizi Kay - Do You Like What You See
Mikky Ekko - Who are you really?



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Capítulo 1

WE ARE LIARS

 

O celular de Catherine vibrou em cima da bancada indicando que ela havia recebido uma mensagem, mas ela não se deu o trabalho de conferir o que era e continuou beijando o universitário que ela havia acabado de conhecer. Ela estava um pouco bêbada e estava sentada em seu colo, beijando seus lábios com delicadeza enquanto suas mãos exploravam lentamente o peitoral do rapaz fantasiado de marinheiro. Antes de vir para a festa e suar para entrar naquele vestido apertado que fazia parte de sua fantasia, ela havia tido uma pequena discussão com Alexia e a loira ficou aliviada momentaneamente ao ver que a amiga tinha desaparecido. Ja bastava tudo o que ela e as amigas haviam feito antes da festa começar.

Quem visse de fora aquela cena, jamais imaginaria que a loira nos braços daquele rapaz desconhecido era a doce e meiga Catherine Gilbert.

No outro lado da sala, encostada na parede com um copo de bebida cheio na mão estava Erin McCarthy, vestida de bruxa. Não, não era qualquer bruxa: era ninguém menos ninguém mais que a fantástica Mortícia Addams. Por mais que o vestido preto fosse mais decotado do que a da personagem original, Erin sentia-se maravilhosa com aquele batom vermelho e o tecido preto que ia até os pés.

— Com inveja? — Samanta Langdon apareceu de repente do lado de Erin, fazendo-a quase derrubar sua bebida. A morena mais alta estava vestida de anjo. O vestido branco era curto demais e mostrava suas longas pernas, seus pés estavam calçados de luxuosos saltos brilhantes e aquela auréola peluda ficava hilária combinando com o par de asas infantis.

— Não, claro que não — Erin deu de ombros e parou de olhar Catherine se agarrando com o universitário.

Nenhuma das três parecia querer falar sobre o que havia acontecido horas atrás e Erin continuou calada como o juramento mandava. Seus olhos castanhos focaram em seu copo ainda cheio de bebida alcoólica. Ela sentiu-se tonta por um instante. Odiava tudo que continha álcool e não sabia porque tinha aceitado aquela quando um garoto passou e a ofereceu. Ela olhou para o copo uma última vez e se esgueirou pela parede até achar um vaso de flores. Sem nem pensar duas vezes, ela jogou todo o conteúdo nas raízes da planta. 

 Sam viu o que ela tinha feito, mas ignorou. Erin sorriu para ela, apontando para um canto onde seu ex-namorado engraçava-se com uma garota.

— Hector está cantando aquela menina desde que cheguei e eu estou aqui que nem uma retardada olhando para eles há meia hora sem fazer nada.

— Sorte sua ser solteira — a outra comentou e roubou a bebida de um garoto que passava ao seu lado, ele tentou reclamar e pegar a garrafa de volta, mas ela apontou para ele e depois para si mesma, fazendo um sinal de que iria pegar o seu número de telefone depois. O garoto sorriu achando que tinha se dado bem e assim que virou as costas, ela revirou os olhos. Idiota, pensou, continuando a conversar com a amiga:

— Kurt não larga do meu pé. — ela disse com a fala um pouco arrastada por conta dos inúmeros copos que havia virado. — Sabe como eu consegui despistar ele para vir até aqui falar com você? Eu disse que estava morrendo de cólica e você era a única que tinha remédio.

— Não vamos falar sobre namorados, ok? Homens não são um bom assunto — Erin deu um sorriso sem graça e olhou discretamente para a mesa de bebidas onde o namorado da amiga com quase dois metros de altura, Kurt Husenberg, estava procurando o que parecia ser um copo descartável.

— Vamos sair daqui! — ela ouviu Sam dizer urgentemente e foi puxada pela mão até o segundo andar depois que a amiga acabou sua bebida e decidiu dançar. 

A propriedade abandonada onde estava acontecendo a festa de início de ano ficava no final de uma rodovia não utilizada e era famosa por ser o cenário de diversas lendas urbanas. Era uma mansão grande e luxuosa com dois andares e mais de sete quartos que eram totalmente apavorantes à noite. Naquela segunda-feira, entretanto, as iluminações coloridas e o som alto que vinham das potentes caixas de som localizadas no gramado davam-na um visual totalmente o oposto de assombrado e todos os jovens se divertiam como podiam em meio aos móveis velhos e as paredes empoeiradas.

Um cômodo sem móveis do primeiro andar foi transformando em uma pista de dança e uma multidão de adolescentes dançava livremente no lugar ao som de Fancy, da Iggy Azalea. Erin não gostava de muita gente no mesmo lugar, mas Sam empurrou-a mesmo assim em direção ao tumulto. Uma garota vestida de policial estava agarrando-se com uma outra vestida de hippie e Erin franziu as sobrancelhas ao reconhecer que uma delas era Clarke Anderson, sua parceira de laboratório do ano passado.

Sam começou a dançar no refrão e Erin tentou acompanhar seus passos, frustrada pelo fato da amiga dançar melhor que ela. Uma música mais animada começou a tocar e por mais que ela estivesse desconfortável no meio daquela gente toda, ela deu as mãos para a garota. Elas riram e dançaram juntas, coladas uma na outra, até os seus pés doerem e elas não aguentarem mais.

*  

Muito longe de onde as duas se divertiam, Catherine e o universitário estavam entre beijos e risos enquanto subiam a escada em direção à um dos quartos. Antes de chegar na porta do cômodo, o garoto prensou-a na parede e começou a beijar seu pescoço e sua mão aproximou-se perigosamente das coxas da loira.

Catherine fechou os olhos e imediatamente espalmou as mãos nos ombros do rapaz, tentando empurrá-lo para longe dela.

— Desculpe, eu não posso. — ela sussurrou baixinho. O rapaz sorriu achando que aquilo se tratava de algum tipo de provocação e aproximou-se dela, que virou-se e começou a descer as escadas.

— Onde você está indo? — o rapaz a seguiu, puxando seu braço ao alcançá-la.

Ela sentiu o seu interior inteiro entrar em estado de pânico.

— Olha, isso... Não vai rolar, eu sinto muito. Desculpe. Eu mal te conheço, nem sei seu nome.

O rapaz riu:

— E daí? Estamos em uma festa, você é bonita, beija bem e você estava comigo no sofá dois minutos atrás...

— Por favor, me solte. — Catherine pediu com suavidade, mas não adiantou. O garoto continuou puxando-a. Ela tropeçou nos degraus da escada e caiu de joelhos quando ouviu uma voz atrás de si perguntar:

— Catherine? Está tudo bem? — ela virou-se lentamente e viu Kurt olhando para ela com os seus grandes olhos azuis. O marinheiro hesitou por um segundo e no outro, a soltou. Ela instantaneamente entrou em estado de alívio. Kurt olhou feio para o garoto e ele se apressou para sair dali o quanto antes, resmungando alguns palavrões.

— Obrigada, eu nem sei como me livraria dessa se você não tivesse aparecido. — Catherine agradeceu a Kurt quando ele voltou-se para ela e a ajudou a se levantar, segurando-a pelos cotovelos. 

— De nada. Eu estou aqui para salvar donzelas em perigo. — ele brincou e Catherine achou o comentário engraçado ao reparar que ele estava mesmo usando uma roupa de salva-vidas, com direito a protetor solar no nariz. Ele ficou encarando-a antes de coçar atrás da nuca. — Você... Hm, viu Sam por aí? Acho que ela está me evitando.

A loira negou com a cabeça e Kurt estreitou os olhos, como se desconfiasse de sua resposta. Ela sorriu por educação e desceu as escadas com pressa, passando as mãos pelo cabelo. Eles eram amigos, mas não o suficiente para compartilhar segredos e informações.

Depois de muito custo, ela caminhou entre as pessoas e conseguiu voltar para o lugar onde os dois estavam se agarrando e pegou o celular esquecido em cima da bancada, vendo que havia recebido uma mensagem de Lexi:

Me encontrem na floresta daqui uma hora, por favor.

Perto da clareira. É urgente!

— Lexi

Catherine olhou para os lados. Ela leu a mensagem novamente e um calafrio percorreu o seu corpo. Conferindo as horas na tela inicial, ela viu que estavam atrasadas quase uma hora e qualquer que fosse a urgência, provavelmente Lexi já teria perdido a paciência e ido embora, xingando-as de tudo quanto for nome. 

Observando Catherine procurando pelas amigas no meio da multidão do segundo andar, uma pessoa fantasiada de Jason Voorhees puxou a manga da jaqueta militar que vestia e conferiu as horas no relógio de pulso.

A máscara branca com furos ganhava diferentes colorações à medida que as luzes coloridas atingiam-na e ela sorriu por debaixo do disfarce ao ver que Sam continuava dançando e todos os demais estavam ocupados demais dançando ou beijando alguém. Ninguém estava prestando atenção. Seu sorriso aumentou ainda mais e então, ela desapareceu no meio da multidão.

A música foi trocada na pista de dança e dessa vez, fora por uma melodia mais lenta. Erin aproveitou o ritmo menos animado e decidiu dar uma pausa na diversão, tirando os sapatos pretos nada confortáveis enquanto cambaleava procurando por um lugar para sentar-se e descansar um pouco.

Sam continuou na pista, estava tonta e completamente fora de si. Quando a música foi trocada pela terceira vez, ela sentiu um calor imenso e precisou sair do meio das pessoas para respirar ar puro. Quase caindo por todo caminho, algumas vezes ela teve que segurar-se em desconhecidos para realmente não sofrer com um vexame público. 

Quando finalmente conseguiu sair do cômodo abafado e chegar ao jardim, viu Kurt conversando com um cara na varanda da casa. Querendo fugir do namorado, ela deu meia volta e trombou no peito de alguém, fazendo-a desequilibrar e cair no chão.

— Desculpa aí, ruiva. — o garoto que ela havia acabado de trombar desculpou-se e segurou a garota pela mão, ajudando-a se levantar. Sam tentou falar que seus cabelos não eram ruivos e sim um castanho claro, mas sua voz não saiu de jeito nenhum e nada pareceu fazer sentido, tudo ao seu redor estava girando.

Seus olhos azuis petróleo encararam o garoto e ela riu para ele, o reconhecendo. Era Ethan Williams, o novato que Lexi tinha achado um gato. Sam não podia discordar. Os olhos cor de mel, o cabelo cor de areia bem aparado e o olhar misterioso o davam um charme natural. Sam sorriu ainda mais, tocando o queixo do garoto com o polegar.

— Você me lembra um ursinho de pelúcia. — ela disse com a voz manhosa, estava completamente amolecida em seus braços.

Ethan sorriu e pegou a auréola de sua fantasia que havia caído no chão com a queda. Sam aproveitou e olhou o garoto de olhos expressivos que usava apenas uma camisa branca, calças jeans e tênis esportivos.

— Não deu tempo de comprar uma fantasia? 

Ele teve que gritar por causa da música alta:

— Decidi vir na festa de última hora — disse, colocando uma mecha de cabelo da garota atrás de sua orelha e entregando-a o acessório.

— Odeio essa coisa, ela fica caindo toda hora e aperta o meu cérebro. — Sam resmungou, fazendo uma careta. Ethan riu e de repente ficou com uma expressão séria:

— Quem é aquele cara que está olhando para a gente? — ele perguntou e Sam virou-se rapidamente. Quando tudo parou de girar, ela viu seu namorado e revirou os olhos, voltando sua atenção para o novato.

— Meu namorado, ele é um idiota. Não ligue para ele.

— Parece que ele não gosta de ver você conversando com outras pessoas. — o garoto disse e Sam deu de ombros, tendo outra crise de riso. Quando ela parou, Ethan continuou:

— Eu preciso ir... A gente se esbarra por aí, pode ser?

— Você sabe o meu nome? — ela perguntou e ele sorriu de um jeito encantador, dando-a um beijo na bochecha e sussurrando em seu ouvido:

— Eu sei o nome de todo mundo, anjo

*  

Não demorou muito para Catherine achar Erin largada em um sofá com a cabeça enterrada nos braços, falando sozinha. Depois de explicar sobre a mensagem para ela e as duas irem até Sam, as três agora estavam do lado de fora da casa abandonada, perto do local onde Lexi havia combinado na mensagem. A floresta que rodeava Santa Kennedy era escura e possuía bastante vegetação por culpa do clima subtropical da Nova Zelândia.

O vento frio balançava o topo das árvores e elas não estavam muito longe do local da festa. Catherine estava tentando buscar sinal na clareira para mandar uma mensagem para Lexi perguntando onde ela havia se metido. Erin procurava pela amiga na escuridão e Sam estava abraçando uma árvore, tentando não se desequilibrar.

— Não consigo sinal — Catherine comentou e suspirou pesadamente, virando-se para a amiga vestida de anjo. — Onde está seu celular, Sam?

— O dela acabou a bateria e eu não sei onde enfiei o meu. — Erin disse e saiu de trás de uma árvore enquanto retirava o chapéu de bruxa da cabeça, balançando a cabeça negativamente. — Nenhum sinal dela por aqui... Por que ela nos mandou essa mensagem pedindo para encontrar com a gente sendo que ela nem está aqui? 

Catherine passou as mãos pelo rosto e encarou a amiga:

— Você acha que o sumiço dela tem a ver com... o que aconteceu antes da festa? — ela perguntou. Não queria tocar naquele assunto e viu que Erin também não quando a morena revirou os olhos:

— Claro que não, ninguém viu a gente.

A loira assentiu levemente, concordando.

— O que vamos fazer então? — ela perguntou hesitante e percebeu que Sam havia ficado quieta. Ela olhou para a garota e franziu as sobrancelhas ao ver que ela estava olhando fixamente para um ponto no chão, próximo de seus pés.

— Isso não era de Lexi? — Sam perguntou, entortando um pouco a cabeça para o lado ao reconhecer o acessório da fantasia da amiga.

Catherine pegou o objeto em meio às folhas e gritou ao aproximá-lo do rosto e vê-lo mais de perto, deixando-o cair. Sam sentiu seu estômago revirar e Erin olhou com os olhos arregalados enquanto encarava o estetoscópio manchado de sangue. 

— Senhoritas, por favor.

O xerife e maior autoridade de Santa Kennedy estava olhando para as garotas na sua frente com uma expressão séria. Elas ficaram em silêncio e o sujeito gordo e dono de uma saliente barriga escondida atrás da farda verde militar suspirou, encarando cada uma das belas moças. Em seus rostos, ele procurava por algum sinal de medo ou de arrependimento, mas apenas o que encontrou fora um trio de expressões exaustas e olhares cansados.

Era o primeiro dia de aula, noite onde todos os adolescentes irresponsáveis da Santa Kennedy High estavam bêbados por causa da festa de início de ano, uma tradição da cidade. Fazia exatamente duas horas e meia que aquelas jovens estavam ali, quietas e caladas, cada uma em um canto separado da sala.

— Vocês precisam me contar o que aconteceu.

— Quantas vezes vamos ter que repetir que não nos lembramos de nada? — Erin, sentada mais ao fundo, disse revirando os olhos enquanto massageava as têmporas. — Alguém colocou alguma coisa nas nossas bebidas e nós apagamos.

As três garotas pareciam um pouco bêbadas e ao julgar pelas fantasias que vestiam, o xerife supôs que a festa era temática. Era um bom tema, contando que todos os anos novas famílias se mudavam para a cidadezinha neozelandesa e uma festa de início de ano onde os novatos se escondiam debaixo de máscaras parecia ser uma ótima forma de socializar e encontrar amigos sem serem julgados antes por suas aparências.

— Foi isso o que aconteceu? Vocês não se lembram de mais nada? — o xerife persistiu e quando viu que não iria ganhar respostas, levantou-se e começou a andar pela sala. Parou perto da janela e ficou observando o movimento da delegacia do outro lado do vidro através das persianas:

— Sabe, eu conheço a família de todas vocês. Seus pais foram meus companheiros de escola e suas mães eram amigas da minha esposa antes dela falecer. Santa Kennedy é uma cidade pequena... e eu amo essa cidade tanto que faria de tudo para proteger cada cidadão que pisa nela. Eu conheço os Grimes, o pai de Alexia faz parte do conselho e é um excelente membro, ele sempre tem sugestões incríveis para o crescimento da cidade — ele disse e então, virou-se para as garotas com expressões cansadas:

— Não ouço muito falar sobre Alexia, mas vocês eram amigas dela, provavelmente saíam e não se desgrudavam, faziam tudo juntas, não é isso que as amigas fazem? A questão é como a amiga de vocês desaparece de uma festa e nenhuma das três sabe do paradeiro dela?

A garota sentada perto da porta vestida de abelha olhou para o outro lado da sala. O xerife forçou a memória e lembrou-se de seu rosto, era a única loira das três e estava segurando uma jaqueta de couro nas mãos, apertando-a com força enquanto respirava fundo, parecia prestes a ter um ataque de pânico. Era filha dos Gilbert, a família mais rica da cidade.

— Não sabemos de nada que possa ajudar as equipes de busca.

O homem suspirou:

— Um detalhe já ajuda. Sei que é uma droga ficar sentando nessa cadeira dura tentando lembrar das coisas ruins que aconteceram na festa, mas eu tenho os pais de Alexia na sala ao lado querendo saber onde a filha se meteu e eu preciso saber todos os detalhes para encontrá-la.

Erin parou de massagear as têmporas e o encarou sem paciência. Os olhos castanhos estavam um pouco avermelhados — pela bebida, o latino imaginou — e carregados com delineador. O resto da maquiagem começava a derreter.

— Alexia não ficava grudada na gente o tempo todo, ok? — ela suspirou. — Nós não sabemos onde ela se enfiou e sinceramente, não dou nem um dia para ela aparecer na cara de pau dizendo que saiu com um garoto e perdeu o horário.

— Então quer dizer que ela estava flertando com um garoto na festa? — perguntou o homem parecendo interessado. — Pode ser uma possibilidade... por acaso vocês sabem me informar como seria esse garoto? Ela aparentou estar interessada em alguém?

— Sim — Sam sussurrou baixinho. O latino lembrou-se de quem ela era com mais facilidade, havia nascido na Austrália e se mudado com os pais para a Nova Zelândia fazia menos de um ano. Seu pai era professor e um homem respeitado na cidade.

A garota olhou antes de continuar para Erin e Catherine com um olhar cúmplice antes de continuar. A loira virou o rosto para a direção oposta, querendo esconder os olhos cheios de lágrimas. Erin levemente assentiu. Sam olhou-as uma última vez e então, virou-se para o xerife:

— Tinha um garoto novato chamado Ethan — ela começou, lembrando-se do que haviam combinado de falar ao serem chamadas pela polícia e terem que ficar esperando do lado de fora da sala de interrogatório.

Sam sentia-se horrível por ter que mentir daquele jeito, mas ela entre as três era a que mentia melhor e, droga, ela odiava tanto ter que fazer aquilo... Mas o que elas podiam fazer, no final de contar? Contar sobre brincadeira estúpida que Lexi inventara fazer com aquela pobre garota antes delas voltarem para a festa, como se nada tivesse acontecido? Ou a briga entre ela, Erin e Lexi? Não, elas não podiam, suspeitas iam começar a surgir e elas haviam feito um juramento, estavam dispostas a guardar aquele segredo até o túmulo caso fosse preciso.

— Ele era bonito, musculoso e tinha tatuagens... Lexi gostou dele e ficou conversando com ele por alguns minutos. Eles saíram da festa e depois nós não a vimos mais.

O mexicano assentiu levemente.

— Vocês conversaram com ele?

— Não. Ele tinha cara de mais velho, era talvez um ou dois anos mais adiantado que a gente na escola. Só isso que sabemos. Como Erin disse, nós estávamos bêbadas e não nos lembramos de muita coisa.

— Tudo bem, as informações foram suficientes, estão dispensadas. — O xerife deu um sorriso sincero para Sam. Catherine nem esperou ele terminar a frase, levantou-se da cadeira com pressa e com a mesma velocidade, abriu a porta da sala e correu para fora da delegacia.

Sam sorriu nervosa:

— Acho que essa história toda a deixou enjoada.

— Amanhã iremos falar com os seus pais e os responsáveis da festa, caso julguemos necessário, iremos pedir um depoimento individual de cada uma. Caso lembrarem-se de alguma coisa, não hesitem em contar para a polícia, todos os detalhes são essenciais para o caso. — o xerife disse e abriu a porta para as moças, empurrando-as educadamente para fora da sala. — Boa noite e não se preocupem, iremos encontrar a amiga de vocês.

As duas saíram da delegacia e encontraram Catherine sentada no meio-fio da calçada, perto de uma viatura policial. As mãos da loira estavam sobre o rosto e Erin franziu as sobrancelhas quando viu que seus ombros levantavam e abaixavam lentamente. Sam e ela se entreolharam e sem saber o que fazer, sentaram-se ao lado da loira.

— Mentir para a polícia é errado. — Catherine murmurou com a voz quase inaudível, retirando as mãos do rosto agora encharcado pelas lágrimas.

Sam passou um braço em torno da loira em um sinal de conforto, dando uma olhada rápida para Erin que dissesse alguma coisa. A morena balançou a cabeça e apoiou a cabeça no ombro da amiga chorosa:

— Ninguém pode ficar sabendo daquela brincadeira idiota, Cath. Lexi deixou bem claro que não devíamos dizer nem uma palavra até ela dizer que sim.

— E desde quando você faz as coisas que Lexi ordena? — Catherine suspirou pesadamente. — Você falou que colocaram alguma coisa na nossa bebida e que apagamos e se... eles pedirem um exame?

— Não vão pedir isso.

— Não importa, Erin. — Catherine cruzou os braços, querendo espantar o frio. — Nós colocamos a culpa em um garoto inocente que nós nem sabemos o sobrenome só porque Lexi o achou bonito, ela mal chegou perto dele na festa. Ela não mandou aquela mensagem por nada, nós ignoramos e agora a culpa...

— Nós? Você foi a única que recebeu a droga dessa mensagem — Erin levantou-se e encarou a loira com raiva. — Pelo que eu me lembre, foi você quem ignorou Lexi e continuou se esfregando no colo do seu ficante!

Sam arregalou os olhos e tentou pará-la:

— Erin, não foi bem isso o que...

— Não, Samanta. Eu não quero saber, Catherine não pode nos culpar sendo que você não recebeu a mensagem e eu nem sei onde a porra do meu celular foi parar! — A morena rebateu e virou-se de costas, respirando fundo enquanto alisava os cabelos em uma tentativa de se acalmar. — Vocês sabem que eu estou certa... Não podemos contar tudo o que aconteceu, nós juramos! Se a polícia descobrir o que aconteceu... Merda, eu nem sei o que acontece com a gente.

Depois de um longo silêncio que mais pareceu uma eternidade, Catherine passou o dorso dos dedos debaixo dos olhos, enxugando as lágrimas que formavam no canto dos olhos e olhou para a morena com asas felpudas pregadas atrás das costas sentada ao seu lado. Sam encarou-a de volta e deu de ombros:

— Por mais que Erin esteja errada dizendo que a culpa foi inteiramente sua — Sam disse e olhou feio para a morena em pé que mantinha uma expressão indignada. —, ela tem razão em não podermos contar para ninguém sobre o que rolou antes da festa. Se alguém ficar sabendo, vamos parar na cadeia... e eu duvido que vão interrogar Ethan, ok? Você não precisa se preocupar, eles não têm provas e o que nós falamos para o xerife provavelmente nem vai ser suficiente para prendê-lo.

— O que vamos fazer, então? Vamos ficar aqui, sentadas, esperando Lexi aparecer e dizer o que nós devemos fazer? — Catherine perguntou com a voz baixa. Ela estava cansada e não queria brigar com as amigas, agora mais do que nunca elas deviam ficar unidas e deveriam pensar no que iriam dizer para todos que perguntassem depois que a noite clareasse e o sol aparecesse.

— Claro que não, ela não vai aparecer do além — Erin disse brincando, mas calou a boca e revirou os olhos depois que viu que nenhuma das duas estava rindo. — Ok, senhoritas não-estou-para-gracinhas-hoje, alguma sugestão?

Sam suspirou.

— Acho que devemos ir para casa, tomarmos um banho quente, esquecer essa história e tentar dormir — ela disse e antes de levantar-se do lugar, apertou um dos ombros de Catherine. — Lexi vai nos explicar amanhã porque sumiu, vai dar tudo certo e ninguém vai preso.

Catherine fungou, mas por fim também se levantou e abraçou Sam.

A delegacia de Santa Kennedy era um prédio velho feito de tijolos que ficava bem no meio da cidade. O irmão mais velho de Erin havia oferecido uma carona para elas voltarem e ele não demorou muito para chegar.

Sam esperou as amigas entrarem no carro e aproveitou para olhar as estrelas. Os pontinhos brancos no céu escuro daquela noite estavam mais brilhantes do que nunca e ela deu um sorriso triste, se virando para caminhar na direção oposta. Tudo vai ficar bem, ela pensou positivo enquanto caminhava de volta para sua casa não muito longe dali.

Ela estava indo virar a esquina do quarteirão quando sirenes chamaram sua atenção e ela voltou sua atenção para a delegacia. Quando virou-se e viu a movimentação na porta do departamento policial, não acreditou no que viu, arregalou os olhos e precisou segurar o queixo para que ele não caísse.

Saindo de uma viatura sendo escoltado por dois policias e com as mãos algemadas atrás das costas, estava Ethan Williams, olhando fixamente para ela.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Espero que sim porque esse é um dos meus preferidos HAUHAU. Perguntas soltas do capítulo: Por que o celular de Erin sumiu? Por que ela não queria falar do namorado de Sam? Quem é Ethan Williams e por que elas jogaram a culpa nele? Por que Catherine não queria mentir sobre o ocorrido na festa? O que aconteceu naquela noite para elas terem jurado não contar para ninguém e o mais importante: onde está Lexi?

Não se esqueçam de comentar sobre suas teorias e o que vocês acharam das meninas (ainda não apareceu muito sobre cada uma, mas no próximo capítulo tem mais).

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https://twitter.com/sterollarke.

Beijos!