De Seattle para Veneza são 11 horas de voo, foi a viagem mais longa da minha vida, Elisa foi do meu lado, pegamos o voo as 16:30. Ela não deu uma palavra se quer, não sei como não ficou surda, chegamos as 01:30 na Itália.
Como sempre Rafael havia pensado em tudo, do voo a estadia.
—Então vocês entenderam? -Rafael dizia mais uma vez. -Agora vocês vão chamar-la de Júlia, ela é minha irmã!
—Ainda nao entendo porque você quer mudar tanto meu nome! -Elisa falava em um tom sério. -Gosto do meu nome, e nem uso Parker, uso o sobrenome da minha mãe, ou Emma, nem sei como chama-la mais.
—Quem você tem como referência de mãe? É ela, então ela continua sendo sua mãe! -disse o Guilherme, o mais racional de todos. -E isso é pra sua segurança Júlia, pois eles estão atrás de você, e quando resolvermos tudo, você volta a usar seu nome certo?
A única resposta que deu foi um leve aceno com a cabeça.
—Bom, vou pegar nossas reservas! Fiquem aqui, porque muita gente já chama atenção demais! -e saiu.
O hotel como não seria diferente era suntuoso, refinado em cada detalhe, a cara do Rafael.
—Ele podia ter se tocado disso antes de ter arrastado todos nós pra cá! -ela disse se jogando em uma poltrona vermelha que compunha uma espécie de sala de espera.
—O Rafael é assim, ele nao gosta de viajar só, porque ele tem medo que possa acontecer. -Fred dizia enquanto encarava sua garrafinha, que sabíamos muito bem o que continha.
—O que tem nessa garrafa? É algum tipo de droga ou álcool? -Elisa disse se levantando.
—Nao é da sua conta Júlia! Para de ser intrometida. -disse o Rafael voltando com as chaves em sua mão. -Bom, tá aqui as chaves de vocês, cada um ganhará um quarto, e todos estamos no mesmo andar!
—Que surpresa! -Elisa disse revirando os olhos.
—Olha garotinha, se não tá feliz, pode se mandar! Quero ver quanto tempo você dura sem sua proteção!   Porra Elisabeth, você nao quer saber quem matou seus pais não? Ou ao menos saber sua história? Ou quem ta atrás de você e porque?
—Ok Rafael, onde é meu quarto?
—É no sexto andar, 405!
E ela saiu, deixando só nos cinco, sem nenhuma vez olhar pra trás.
POV ELISA
Bom me joguei na minha cama, nao tinha remédio mesmo, o fuso horário tava me atingindo em cheio, são nove horas de diferença, vim dormindo o caminho inteiro, ou melhor fingindo, nao sei como nao fiquei surda por ter ouvido tanta música, mas em consequência estou morrendo de dor de cabeça. E pra completar a lista de problemas meu nome agora é Júlia, irmã do Rafael.
Fiquei rolando de um lado pro outro na cama, que saudade do Lucas, como minha vida que aparentemente era perfeita, tinha ficado assim?
O relógio de cabeceira marcava 4 da manhã, os meus "protetores" deveriam estar dormindo a uma hora dessas. Resolvi sair um pouco, da uma espairecida, mas sem abusa da sorte, não conhecia nada da cidade, afinal nunca tinha visitado, então resolvi ficar no hotel mesmo. Fiquei perto da piscina, sentei na borda e coloquei os pés dentro da água. O Rafael tinha comprado roupa pra mim, não que eu não tivesse dinheiro pra isso, mas ele disse que era perigoso sair, e principalmente se eu tivesse que mexer na conta ou utilizar cartão, iriam me encontrar em menos de cinco minutos. Pra Lucas não teve o mesmo problema, ele tinha roupa na casa.
Sentir uma presencia perto de mim, era apenas o Fred, nos nao tínhamos conversado muito, ele era um cara reservado, até com os próprios amigos mesmo.
—Então Júlia? O que faz acordada tão tarde? -ele disse se sentando ao meu lado.
—Sem sono e você? -eu disse sem olha-lo.
—Fuso horário, e nao suporto a Itália! -conseguir sentir a dor por trás das palavras.
—Porque?
—Sabe sou italiano, nasci aqui, cresci aqui, fui criado com uma garota maravilhosa, crescemos juntos, eramos muito amigos mesmo, faria qualquer coisa por ela, morreria por ela, então já deu pra notar que no fim acabei me apaixonando por ela, e a queria pra mim! -ele disse encarando a ondulação da água na piscina.
—E você ficou com a garota?
—Ela conheceu um cara melhor do que eu! E se casou com ele! -ele deu uma risada sem humor.
—E você? Superou? Afinal um amor desses não é tão fácil de superar né?
—Sempre a amei, só que respeito a relação dos dois, é um amor épico, daqueles que não nos metemos. Eu sei que ele morreria por ela também e a ama talvez mais do que eu! E ela é a parte boa dele!
—Já ouvi isso mais de uma vez!
—Lucas te disse isso ne?
—Como sabe que foi ele? -disse pela primeira vez olhando-o.
—Elisabeth, Lis ou Júlia, você agora tem tantos nomes. De todos posso dizem com uma certeza até cega se bobear, o Lucas foi o que mais sempre sofreu com tudo.
Fiz menção de falar algo mais ele fez um gesto com a mão pra que eu apenas ouvisse.
—Ele se sacrificou, perdeu os pais cedo demais, nao teve uma infância, não teve uma adolescência, onde podia ser rebelde, enquanto muitos estavam aprendendo a dirigir a ficarem bêbados, levando a garota que gostava para bailes, fazendo coisas que tenho certeza que você fez, ele estava aprendendo como sobreviver, aprendendo a lutar para ser forte, aprendendo a ser disciplinado, aprendendo a ser um homem, aprendendo a ser um soldado, e ele tinha apenas 15 anos. Sei que você nao gosta do Rafael, ele é difícil mesmo, mas tem o Lucas como se fosse um filho, tentava ao máximo limitar essa vida dele. Tentava obriga-lo a ter uma vida normal, o matriculou em uma escola normal em Nova York, mas pra que? Ele foi expulso em menos de uma semana! O Rafael ficou furioso -ele deus uma leve risada, lembrando  da cena. -Mas quando ele soube que você, Elisabeth estava em perigo, quis aprender tudo que podia para te defender. E acabou fazendo coisas que ele se arrepende ate hoje. Não estou pedindo pra você perdoa-lo, mas que seja menos dura com ele. Porque a vida já foi bastante má com ele por toda ela!
Ele se levantou, mas quando ele deu as costas disse.
—Elena é o nome dela!
E me deixou lá, sozinha, apenas escutando o barulho da água na borda da piscina