Sui Generis escrita por Human Being


Capítulo 22
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Alguns meses depois dos eventos da malograda missão em Mônaco, Saga conseguiu sua total recuperação com a inestimável ajuda dos seus companheiros de armas e da dedicada equipe médica que o assistiu no hospital de Atenas. E com a ajuda ainda mais inestimável de um membro dessa equipe em particular; com quem ele mantém hoje uma relação próxima, bastante próxima...

(Embora ele não assuma nada - ainda.)

E, enfim, o Santuário de Atena pôde voltar à sua normalidade...

...Ou quase.



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Arredores do Santuário, numa noite de sexta-feira qualquer...

— Saga, cara, isso é uma má ideia.

— Shura, fala sério. Você dizer que alguma coisa é má ideia é o cúmulo do lugar comum. Eu ia estranhar é se você dissesse que é uma boa ideia.

— Mas Máscara, isso é uma má ideia. - O espanhol refutou o italiano, sentado ao seu lado. - Presta atenção, nós tamos roubando o carro do Kanon!

— Ei, pera aí. Roubando é uma palavra muito forte. - Saga virou-se levemente em direção aos outros dois, sentados junto com Afrodite no apertado assento de trás da Ferrari, enquanto Camus estava mais confortavelmente instalado no assento dianteiro do possante. - Eu estou só 'pegando emprestado'. É diferente.

— Mas não era melhor avisar seu irmão que nós estamos 'pegando o carro dele emprestado', então? - O espanhol seguia confrontando o gêmeo mais velho, ainda que com delicadeza.

Saga virou-se para frente de novo, ignorando o outro. Colocou a chave na ignição, virou-a para ligar o motor.

— Olha, gente, olha. Prestem atenção no barulho do motor. - Saga não conseguia conter a euforia ao ouvir o ronco poderoso do motor, que tinha mais cavalos do que o haras de Saori Kido. E, como que para mostrar do que falava, pisou no acelerador e fez o motor rugir ainda mais. - Sintam o rugido desta máquina. Agora fala pra mim, Shura de Capricórnio, quando na sua vida você vai sentar sua bunda mole no banco de couro de um carro desses.

— Gente, vamos embora, que eu tô empolgadaço pra cair na gandaia hoje! - Máscara da Morte também estava eufórico. - Com um carrão desses, eu nem vou precisar perder tempo pra ficar de papo com a mulherada. Elas vão chegar querendo ser abelha pra pousar na minha flor, hein... Haja amor!(1) Parece até que eu tô vendo, vai ser direto na finalização!

— Mas Lucchese, mas não é meio que um pouco de preconceito achar que as mulheres vão chegar em você só por causa do carro? - Camus levantou a sobrancelha ruiva, numa clara expressão reprovadora. Por ele, tinha ouvido Milo e ficado em casa; mas quando soube que quem iria levar os intrépidos companheiros até a night ateniense seria a Ferrari de Kanon, reconsiderou. Não que ele fizesse uma imensa questão de andar no carro do outro, mas não perderia a oportunidade de ver o circo pegar fogo.

— Claro que eu não passo vontade porque não tenho carro, francês, mas também não vou negar que um carrão desses não chama a atenção da mulherada.

— Nisso o Pierino tem razão. - Afrodite completou, arrumadíssimo e perfumado, embora um tanto irritado por conta do pequeno espaço do banco traseiro do carro, que estava amarrotando sua roupa. - Não que eu precise disso também, afinal vocês estão -ah, ah- falando com Afrodite de Peixes, mas não vou negar que o carro tem presença.

— Então, gente, vamos embora! - Saga saiu da garagem da área de carga da Fundação Graad, próxima à entrada do Santuário. Aquele era o único lugar onde Kanon podia deixar o carro, uma vez que dentro do Santuário propriamente dito não havia nada que se parecesse com um estacionamento. Não que ele não tivesse reclamado, mas ele acabou tendo que engolir que era melhor isso do que deixar seu precioso carro dormir ao relento.

— Homem, pelo amor de Atena, dirige esse carro com cuidado. - Shura não conseguia evitar a sensação de frio na barriga ao saber-se dentro de um carro que custava, seguramente, mais de um ano do soldo acumulado de todos eles.

— Mas o que é isso, tá achando que eu não sei dirigir?

— Não é isso... - Shura sabia que Saga, como os outros cavaleiros de ouro, sabiam dirigir por exigência do treinamento. Afinal de contas, sendo eles 'a elite da elite da elite' dos Cavaleiros de Atena, não poderiam colocar uma missão a perder com algo tão prosaico como... Não saber dirigir. Mas também não era como se eles tivessem extensa prática em direção, porque eles, na maioria dos casos, se moviam à velocidade do som ou da luz... Assim, pouco compensava para eles arcar com os elevados gastos de um carro. Fora que, também... Não era como se eles ganhassem bem a ponto de manter um carro só pelo prazer de ter um carro. - É só que... Isso é uma Ferrari, e não um Chevette, cara.

— Por isso que eu digo que um carro não precisa custar tanto. - Camus replicou. - Um Chevette, por exemplo, faz a mesma função de te levar de um lugar para o outro por uma fração do preço desse carro aqui.

— Mas aí que cê tá enganado, francês. - Máscara da Morte olhava para o colega com um ar professoral. - É claro que nós não tamos indo de carro porque precisamos dele pra chegar lá, que nem o resto do planeta. Nós tamos indo de Ferrari porque nós queremos parar a Ferrari na frente da boate e descer do carrão na frente da mulherada pra chegar matando a pau. Literalmente!

A cara de Camus, ao olhar de volta para o italiano, mostrava com clareza que ele já estava se arrependendo de não ter escutado seu amigo Milo.

— Escutem, vamos parar de conversar besteira que a gente vai chegar lá em grande estilo. Mas que esse carro tem que voltar pro Santuário intacto, ele tem; e vocês estão me atrapalhando.

— Aliás, Saga, se fosse pra parar pra pensar, nem era pra você estar indo pra lá... - Camus foi cortado por um olhar afiado do colega que dirigia, numa espécie de pedido mudo para que ele mudasse imediatamente de assunto.

— Opa, isso é verdade! - Afrodite, porém, era como um tubarão para esse tipo de coisa: Bastava sentir o cheiro de 'sangue' para que nada conseguisse pará-lo. Muito menos um olhar reprovador de Saga. - Porque, se bem sabemos, Saga anda comendo bem...

— Que conversa é essa, Afrodite! - Saga fechou a cara, acelerando o carro sem perceber enquanto guiava o automóvel pela estrada sinuosa. - Eu estou comendo como sempre estive. Lembre-se que nós somos cavaleiros; manter nossa forma física é parte de nossa profissão.

— E quem é que tá falando de comida no sentido literal? - Máscara da Morte entrou na pilha do amigo sueco. - Nós tamos é falando da sua comida no sentido figurado... Ou cê acha que nós não tamos sabendo que você anda comendo a sua fisioterapeuta? E depois dizem que comida de hospital é ruim... O Saga bem que gosta!

— Eu não tô comendo ninguém, mas que coisa horrorosa! - Saga se irritou, sem querer pisando mais forte no acelerador. Realmente ele era mais acostumado a dirigir carros como Fuscas e Chevettes, que tinham motores com bem menos potência do que a Ferrari que tinha em mãos. - A moça é só minha amiga...

— Claro, claro. Amiga com benefícios, né? - Afrodite replicou, divertido. - Eu é que queria ter uma amizade colorida dessas.

— Eu não estou 'comendo' ela! É diferente! Eu só saí umas vezes com ela, tudo na maior educação e no maior respeito! Do jeito que vocês falam, parece que eu sou o quê? Um canibal?

— Mas Saga, nós somos canibais! - Máscara da Morte seguiu provocando o colega. - Eu, pelo menos, acho ótimo esse canibalismo aí... E vamos combinar que a tua fisioterapeuta é uma uvinha. Eu comia de boa!

— Opa, Saga, vamos diminuir um pouquinho a velocidade do carro, aí? - Shura apressou-se em advertir o colega, vendo que o carro ia mais rápido à medida que Saga ia se irritando.

— Mas Saga, você acha mesmo que o Lucchese ia pegar uma... 'amiga' sua? - Camus perguntou, também percebendo que o carro ia mais rápido do que o recomendado para aquela estrada. - Não precisa ficar nervoso por isso.

— Esse aí? O Máscara da Morte? Precisa ficar nervoso sim, porque mulher de amigo dele, pra ele, é ótimo! - Afrodite completou.

— Ô, carcamano safado, eu vou te avisar só uma vez... - Saga virou o rosto para trás para encarar o italiano nos olhos. - Você fique longe dela, ouviu bem? Longe! Senão eu não garanto a segurança das tuas 'joias de família'!

— Saga, olha pra frente, Saga... - Shura se desesperava à medida que o carro ia mais veloz, e Saga se virava para continuar sua rusga com Máscara da Morte. - Saga...

— ...Porque não é porque ela é minha amiga que você vai chegar 'tomando suas liberdades' com ela, não! Ela é uma moça de respeito, coisa com que você não está acostumado!

— E você está, Grande Mestre do Harém? - Máscara da Morte respondeu ao grego, carregado de ironia. - Porque você fala como se você fosse um santinho, mas a gente aqui sabe que a realidade é bem diferente!

— Mas era só o que me faltava, esse projeto de gângster psicótico ficar atrás de molestar as minhas... amigas! - Saga estava injuriado. - Cê não tem vergonha, não? Aliás... Vem cá, Pierino, já que cê tá nessa secura aí por mulher, por que você não vai atrás da tua 'conexão psíquica' com a loira pernuda? Cê bem que podia ir curar teu priapismo(2) com ela! Ali tem romance no ar, que eu senti!

— Epa, epa, epa! Ninguém colocou ela no meio dessa história! - Máscara da Morte se ofendeu. - Aliás, Saga, se você quer saber, ela apontou a 'pistola' dela foi pra você, e não pra mim!

— Isso se a 'pistola' da boneca ainda estiver por ali, porque é bem capaz dela ter ido lá pra tal lagoa na China resolver o problema dela... - Afrodite completou, colocando lenha na fogueira.

— Então, Domenico Pierino Lucchese, como que você foi capaz de fazer uma conexão psíquica tão rápido com a loira tripé, hein? É porque, no mínimo, você deve estar morrendo de vontade de fazer 'outras' conexões com ela! - Saga continuou espetando. - Mas nem dá pra falar que eu me surpreendo com isso! porque partindo de você, nesse caso, eu espero qualquer coisa!

— Isso é loucura da sua cabeça, ô seu pinel da personalidade dupla! - Máscara da Morte bradou, com o dedo indicador em riste. - Nada daquela conexão foi intencional, você sabe disso melhor do que eu! Aliás, bem que ela tem razão de dizer que você é um homofóbico, misógino e preconceituoso, sabia? E o pior é que você sempre achou que enganava todo mundo com esse disfarce de bonzinho, mas de bom moço você não tem nadica de nada! Cê é um belo dum santinho do pau oco, nisso o Kanon tá cheio de razão!

— Agora deu, viu? Eu ter que escutar o Máscara da Morte querer me dar lição de moral por conta de ser 'santo do pau oco'! - Saga se virou ainda mais em direção ao banco de passageiros, irritadíssimo. - Vem cá, cê não se enxerga, não?

— Saga, olha... - Camus olhou para a estrada, vendo uma curva que parecia ter praticamente que se 'materializado' ali. - Saga, SAGA, CUIDADO!

Na velocidade em que iam, o carro passou direto na curva e desceu ladeira abaixo, até parar no pé de um barranco no meio do mato.

— Gente... Gente... - A voz de Shura se fez ouvir depois de vários minutos de um silêncio quebrado apenas pelos gorjeios e chiados do motor. - Está todo mundo vivo?

— Mas o que foi que aconteceu? - Afrodite limpava a fuligem e a poeira da queda, grudadas em sua testa. - Saga, p****, você não viu a curva?

— Culpa desse italiano filho da p***, aí, que ficou me distraindo! - Saga explodiu, enfurecido.

— Culpa minha?! Quem tava dirigindo é você, cara!

Fils de pute! - Camus, o inabalável cavaleiro do gelo, estava enfurecido. - A gente quase morreu aqui, dá pra vocês pararem com essa discussão ridícula?

— Shura? Shura, o que diabos você está fazendo? - O tom desesperado de Saga indicava que sua atenção fora roubada dos arroubos de Máscara da Morte para algo ainda mais urgente. - Porque diabos você está usando a Excalibur pra cortar a porta do carro?

— Ué, ela emperrou e nós temos que sair daqui! - O espanhol replicou imediatamente. - Eu não sei vocês, mas eu estou sentindo cheiro de gasolina, e não quero ficar por aqui se esse carro explodir!

Camus, ao ouvir o espanhol, apressou-se em tirar a chave da ignição. Ato contínuo, chutou a porta do carro até que ela abrisse na marra, uma vez que elas estavam emperradas.

— Ei, ei, parem com isso! - Saga estava desesperado. - Dá pra vocês pararem de chutar o carro do Kanon? Por favor?

— Relaxa, Saga! - Afrodite arrombou sua porta com um tranco, para também pular fora do carro. - O seguro cobre os danos, pode ficar tranquilo. É só você falar pra seguradora que você é o Kanon, eles não vão encrencar com nada, tá tudo sossegado...

— Seguro? - O tom interrogativo de Saga deixou claro que ele não sabia do que falava o sueco.

— É, Saga, seguro. Porque esse carro tem seguro, não tem?

— Vocês realmente acham que o Kanon tem como pagar o seguro de uma p**** de uma Ferrari?! - Saga estava perdendo o controle. - É CLARO que esse carro não tem seguro!

— Epa, pera aí. - Shura imediatamente se meteu na conversa, nervoso como há muito tempo não ficava. - Você tirou a Ferrari do Kanon da garagem sem seguro? Saga, você tirou uma FERRARI da garagem sem seguro?!

— Claro que tirei, porque o carro NÃO tem seguro! Ele ia ficar o quê, parado na garagem?

— Saga, p*** que pariu, Saga, OLHA PRO CARRO! - Shura se exaltou. - Olha só o que virou esse carro! E agora, o que é que a gente faz?

— Ah, ele não está tão acabado assim... - Saga tentava se convencer que a situação da Ferrari não era assim tão grave.

— Olha... - Máscara da Morte levantou o capô do carro, liberando uma boa quantidade de fumaça e vapor. - Eu não sou especialista nem nada, mas eu acho que a batida 'bateu' o motor.

— Claro que bateu, o carro inteiro bateu! - Shura replicou.

— Não, cabra, o motor 'bateu', quebrou! Vai custar uma nota pretíssima pra arrumar!

— Você está dizendo que o motor da Ferrari bateu? - Camus sentia um frio no estômago, e por irônico que isso fosse, essa sensação gelada lhe trazia extrema preocupação; já que não se tratava de uma manifestação de seus poderes, mas sim de seu instinto lhe prenunciando gravíssimos problemas à frente. - Merde, merde, merde!

— Calma, eu posso estar errado... - O italiano deu de ombros. - Mas, de todo jeito, nós vamos ter que dar a má notícia por Kanon.

— Você ficou louco? - Saga não pôde evitar o tom levemente agudo de sua voz. - Ele vai me matar!

— Ué, mas ele agora não é seu irmãozinho amado? - Afrodite perguntou.

— Irmãozinho amado que vai arrancar meus olhos sem anestesia se eu der perda total no carro dele! - Saga respondeu, desesperado. - Aliás, ele vai arrancar os olhos de vocês, também!

— Pois eu acho que era bom a gente ir pensando num jeito de amansar a fera, porque tá saindo óleo do motor aqui embaixo, ó. - Máscara da Morte, alheio ao desespero coletivo, apontava uma mancha de óleo que saía debaixo do carro.

— Eu devia ter ouvido o Milo. Eu devia. - Camus andava de um lado para o outro, prevendo imensos problemas à frente. - Mas não, eu tinha que sair com esses connards pra verem eles acabarem com uma Ferrari que não é deles! E me meterem de gaiato no meio dessa palhaçada!

— Mas bem que na hora de vir você tava todo animadinho, então não vem, não! - Afrodite, que sabia muito bem o que dizia o francês em sua língua natal, retrucou prontamente.

Va te faire enculer, vous!— Bradou Camus, enquanto seguia andando em círculos tal qual bicho enjaulado. - Toi petit merdeur!

— Epa, que a coisa ficou séria! - Afrodite saiu de perto do francês furioso, que seguia resmungando um corolário das mais sujas expressões francesas. - Agora, vou te falar, essa boca suja... Ó, não é porque é em francês que a gente não entende, não! Eu, pelo menos, sei tudinho que você tá falando aí!

— P*** m****, cara... - Saga, quando nervoso, tão boca-suja quanto Camus (afinal, ele era irmão de Kanon) e não tinha a mínima restrição de falar seus palavrões em grego claro e inteligível. Ainda mais agora, que tinha uma Ferrari com motor batido para noticiar a um irmão que, segundo seus planos, a imaginava em segurança no estacionamento. - Nós vamos morrer. Agora sim nós vamos morrer, e não vai ter Zeus que nos traga de volta. Porque ele vai picar até as almas da gente em pedacinhos...

Ma che, o que o resto dos imbecilli tá fazendo aqui? - Máscara da Morte franziu a testa, ao ver Mu, Aiolia, Milo, Aldebaran, Aiolos e Shion chegando no topo da clareira onde tinham, literalmente, aterrisado com o carro.

— Eu chamei. - Shura disse, em tom grave.

Ma perché? Algum deles sabe arrumar motor de Ferrari, por acaso?

— Não. Eu chamei porque quando o Kanon aparecer aqui, nós vamos precisar de quem nos defenda.

Com isso, porém, o italiano teve que concordar.

— Mas o que foi que aconteceu aí embaixo? - Aiolia tentava ver o que acontecia lá embaixo, escuro como breu por conta da noite alta e da falta de iluminação. Nem viu o irmão Aiolos descendo como uma bala ladeira abaixo, com uma lanterna em mãos; e só se deu conta do que fazia seu intrépido irmão quando ele já ia pela metade do caminho. - Ei, Olos, volta aqui!

— Agora já foi... - Milo apertava os olhos, tentando ver o que tinha levado cinco poderosos cavaleiros de ouro para dentro de uma clareira no pé de um barranco. - Mas... Não tem uma coisa soltando fumaça ali, não?

Um feixe de luz, vindo da lanterna de Aiolos, bateu em cheio no rosto de Camus.

— Eh, vira essa luz pra lá! - Disse o francês, tentando cobrir os olhos.

— Mas o que aconteceu? - Aiolos voltou o feixe de luz mais abaixo; iluminando Saga, Shura, Máscara da Morte e Afrodite, que seguiam perto do carro. - O que é que tá soltando fumaça aí atrás?

— É o Mu, ali em cima? - Saga viu o vulto inconfundível do lemuriano, assim como o de seu antigo mestre Shion. - Mu! Shion! Desçam aqui!

— Não, vocês é quem tem que subir! - Mu gritou de volta, irritado por ter sido tirado da cama pelo que parecia ser uma estripulia dos colegas de trabalho.

— Não! Desçam aqui, nós precisamos de ajuda! - Saga disse, com voz suplicante. - Temos um ferido, sim...

— ...É, a Ferrari... - Máscara da Morte resmungou.

— Mas... Caramba! - Aiolos gritou ao ver o carro que Kanon ganhara na mesa de jogo, totalmente estropiado. - Isso é a Ferrari do Kanon?

— É, pivete. - O italiano assentiu. - No caso, ela não está ferida. È morta, mesmo.

— É pra isso que vocês me querem aqui? - Mu se materializou diante dos dois junto com Aldebaran, olhando para o carro apontado pela lanterna do arqueiro. - Eu sou reparador de armaduras, não um mecânico!

Aldebaran, porém, tinha algum conhecimento de mecânica; e por isso resolveu dar uma olhada no capô com a lanterna de Aiolos.

— Mu... - O brasileiro deixou o capô aberto para que a fumaça terminasse de sair, e voltou com uma careta de descontentamento que mostrava que ele, mesmo no alto de sua limitada expertise em mecânica e funilaria automobilística, acreditava que recuperar aquele carro seria uma missão impossível. - ...Já era.

— Sem jeito, mesmo? - Perguntou o lemuriano, que agora olhava assombrado para o automóvel sucateado pela batida.

— Nem que nós fôssemos a equipe dos boxes da Escuderia Ferrari, da Fórmula 1... - O brasileiro balançou a cabeça, em triste negativa.

— Mas poxa... Então meus pêsames pra vocês aí que ficam, porque eu vou me mandar... - Aiolos, em um raro momento em que decidiu ouvir seu senso de preservação, decidiu subir a ladeira de volta e distanciar-se o máximo possível da 'cena do crime'. - Porque quando o dono do carro aparecer aqui...

— Onde ele está? - A voz de Kanon, aos gritos, irrompeu pela noite; indicando sua aproximação do local do acidente junto com Shaka de Virgem, que vinha em seu encalço. - O que vocês fizeram com ele?!

Shion, alertado como foi por Mu da situação lá embaixo, correu para interceptar Kanon.

— Calma, Kanon, calma... - O Grande Mestre tentava acalmar o gêmeo mais novo. - Não houve nada mais sério com Saga... Ele, Shura, Camus, Máscara da Morte e Afrodite estão bem, foi só um susto...

— Sério? Que ótimo. - Ele respondeu, revirando os olhos. - Agora, ao que interessa de verdade: CADÊ MEU CARRO?

Os gritos de Kanon, no topo do barranco, se fizeram ouvir de forma clara lá embaixo.

— Bem, é isso... - Afrodite se ajeitou, tirando o máximo de sujeira de sua roupa para ficar apresentável para o que viesse. - Foi muito bom estar com vocês, foi muito bom brincar com vocês, mas chegou a hora...

Eles todos trocaram olhares graves, entendendo a situação que se descortinava: Os antigos Cavaleiros Renegados uma vez mais reunidos para um último momento antes do fim. Numa espécie de arco reflexo, todos voltaram os olhos para seu antigo líder, como que esperando pela orientação final... Até que a voz de Saga se fez clara, numa última ordem:

— ...Dispersar!

E, em uma fração de segundo, os cinco sumiram do mapa, seguindo cada um para uma direção. Bem a tempo de evitarem Kanon, que descia barranco abaixo como um bólido, parcamente contido por Milo, Aiolia, Shaka e Shion; enquanto Mu e Aldebaran seguiam esperando por ele, acompanhados por um Aiolos à meia-distância.

— Me dá essa lanterna! - Kanon foi até Aiolos e tomou a lanterna das mãos do arqueiro com rudeza, sem ouvir os seus pedidos para que tivesse calma.

— Kanon, espere! Você vai precisar ser forte!

Porém, nada o preparou para a visão de sua tão prezada Ferrari no pé do barranco; com a lataria vermelha retorcida, os eixos das rodas dianteiras e traseiras quebrados, vidros estilhaçados e portas arrancadas, penduradas apenas pela fiação do carro.

Fora, claro, a fumaça que saía do motor pelo capô aberto, e que denunciavam que o coração de seu possante tinha parado de bater para sempre.

Um momento de silêncio sepulcral tomou conta do ambiente; para ser quebrado em instantes por Shaka, que enfim resolveu se manifestar após abrir os olhos e ver o que estava acontecendo.

— Ora vejam, tanto barulho por nada! E eu pensando que os outros tinham sofrido um acidente grave, mas foi só o automóvel que sofreu maiores danos...

Kanon, porém, continuava calado; olhos esbugalhados e fixos nos restos de seu carro.

A lanterna caiu no chão, mas Kanon continuava imóvel.

— Kanon? Kanon, cê tá bem? - Milo tentava levantar o espírito do colega de armas, visivelmente abalado, enquanto Aiolia apanhava a lanterna do chão e olhava, estupefato, os extensos danos no carro mais caro que já tinha visto em sua vida.

— Eu acho que ele tá em choque, cara... - Por fim o Leão Dourado resolveu falar ao colega da oitava casa, que seguia tentando animar a ex-"agora moça".

— Mas como? Que absurdo, Kanon... Você devia estar feliz que seus amigos escaparam praticamente ilesos de um acidente dessa magnitude! - Shaka se irritou. - Em vez disso fica aí, desse jeito, por conta de uma coisa tão efêmera como bens materiais...

O gêmeo mais novo ainda estava em absoluto silêncio, mas cambaleou de forma vacilante e levou as mãos ao peito.

— Gente, gente, espera. O Kanon tá passando mal, calma aí... - Aldebaran se apressou em prestar socorro ao colega, temendo que o choque o levasse a um derrame, a um infarto, alguma emergência médica do tipo. - Mu, vamos levar ele daqui e dar uma água com açúcar pra ele, vai.

— Mas isso é um absurdo! - Shaka continuava abismado com a falta de desapego do colega. - Ficar assim só por causa de um carro? Ainda mais um carro que ele ganhou no jogo de azar? Mas é o cúmulo...

— Shaka, cala a boca! - Rugiu Aiolia, que em seu íntimo entendia (e como) a reação do colega, que agora parecia em estado catatônico. - Mu, Shion, vamos lá. Teleporta a gente pro Santuário, lá a gente bota o Kanon pra descansar, dá um copo de água com açúcar, um chá, um Valium...

— Mas e aí, como que fica o carro? - Aiolos perguntou.

— Depois a gente vem buscar, e vê o que dá pra se fazer... - Shion suspirou, resignado, imaginando porém que não haveria muito conserto. - Até porque, do jeito que ele está, daí ele não sairá nem tão cedo...

Enquanto Mu teleportava o grupo que apoiava Kanon, ainda em aparente estado de choque, Shion ficou para trás, de lanterna na mão, para avaliar os danos ao carro. E, ao que parecia, Aldebaran tinha razão: Para que aquele carro se equilibrasse em cima de suas quatro rodas e andasse novamente, só se ele fosse reconstruído praticamente do zero.

Não que isso fosse impossível, até que não era... Mas sairia caro. Muito, muito caro.

O Grande Mestre previa, porém, que parte (ou quase tudo) daquele conserto, caso ele fosse possível, viria das contas do Santuário. Ou da Fundação Graad.

Restava, porém, o expediente de convencer Saori disso. Sim, porque ela podia ser uma Deusa bondosa e compreensiva, mas muita coisa mudava quando o assunto era dinheiro...

OOO

Bem... Não se preocupem. Kanon terá sua chance de vingança... Eventualmente.

Porque um dia os cinco Cavaleiros Renegados terão que retornar a seus postos, do contrário serão acusados de deserção... E seguramente, uma acusação de deserção, em um lugar como o Santuário de Atena, é bem mais preocupante do que os danos materiais de um carro, como diria Shaka.

Não?

Agora sim:

FIM!

PS.: Informamos que nenhum cavaleiro,ou Ferrari, sofreu danos ou maus-tratos durante a confecção desse trabalho ficcional.

OOO


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Notas finais do capítulo

Jukebox e Google Tradutor:

(1) - Luiz Caldas - Haja Amor, música famosa do cantor e multi-instrumentista (e agora, segundo consta, metaleiro) que fez um mix de reggae e música popular conhecido nos anos 80 como "deboche". Fez estrondoso sucesso nos trios elétricos do carnaval baiano, e de lá para as paradas nacionais foi um pulo. Inclusive, Luiz Caldas também fez canções para aberturas de novelas globais antológicas como Tieta, baseada no livro homônimo de Jorge Amado. Pelo jeito, esta mais uma alusão de Máscara da Morte a seu gosto por fazer zum-zum na cama e gemer sem sentir dor. Agora, como que ele conhece essa música... Eu não sei. No mínimo, andou assistindo Globo de Ouro quando esteve em missão no Brasil? Bom, mais fácil ele ter escapado pra Bahia na época do carnaval, porque "atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu"...

(2) - Priapismo - Condição patológica onde o homem apresenta uma ereção sustentada e contínua, que pode se tornar dolorosa. Requer tratamento de urgência.

E, quanto aos impropérios proferidos por Camus... Infelizmente, por motivos de força maior, o Google Tradutor não pôde fornecer os seus significados. Mas é tudo palavrão cabeludo, podem acreditar.

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É isso, pessoal... Sui Generis está oficialmente completa.

Até me dói um tantinho dizer isso, mas é verdade...

Foi uma fic que eu achei uma delícia escrever. Eu sei que rir das próprias piadas é coisa de gente doida, mas também não é como se eu fosse muito normal... Mas certas loucuras libertam, e Sui Generis teve esse efeito em mim: Escrever não foi só uma forma de interagir com o fandom, mas foi também uma espécie de terapia.

A ideia me veio depois de ler pela enésima vez os mangás de Ranma 1/2, que é outra das minhas grandes paixões, e ela era bem a essência de Ranma: O que poderia acontecer se um dos "Homens dentre os Homens" consagrados à Deusa Atena caíssem numa lagoa mágica, e ficasse "preso" a um corpo de mulher?

A resposta está aí: Eu joguei o Kanon na lagoa, fiz graça, fiz piada, fui politicamente incorreta... Mas também tentei fazer com que o Kanon tivesse nesse "infortúnio" uma oportunidade de autoconhecimento e crescimento pessoal; e dos acontecimentos que viriam daí nasceriam situações capazes de fazer ele acertar alguns ponteiros que, na saga clássica, ficaram pendentes: Sua relação com Saga; seu irmão e, de certa forma, sua Nêmese.

Um foi(é) a Nêmese do outro, e é isso que explica Gêmeos, mas novamente aqui eu volto a tocar em One, a tal música do U2 que poderia servir pra eles de trilha sonora: São um, mas não são o mesmo, e é nas suas diferenças que eles se complementam, e é das diferenças que se percebe o verdadeiro amor de quem ama sem condições e preestabelecimentos.

Mas, fora minhas doidices compiladas em 21 capítulos (22, com o epílogo) essa fic também conseguiu tocar bem mais gente do que eu esperava, e me trouxe grandes amigos, dentro e fora do fandom, tanto pela graça de uma fic de humor, quanto pela certa dose de crítica (ela está presente SIM, e algumas pessoas perceberam!) às posturas sexistas de certos segmentos da sociedade. Coisa leve, mas está aí.

Por isso mesmo, eu fico muito contente que vocês tenham gostado e se divertido com ela!

E vou agradecer, aqui, a todos que deixaram reviews, favoritaram, seguiram, comentaram no facebook, ou mesmo aos que apenas leram e acharam graça do que eu escrevi aqui. Muito obrigada a tod s que entraram em contato comigo e com Sui Generis, de uma forma ou de outra; e tomara que ela tenha ainda um espacinho no coração de vocês mesmo depois de terminada, assim como ela sempre terá no meu!

MAS ESPEREM! Não pensem que as aventuras nesse "universo" acabaram, não! Sideways também vai receber o capítulo do Dohko, e um certo casal peçonhento também vai dar o ar da graça em uma fic só deles. Assim como os gêmeos, que não vão conseguir ficar muito tempo longe de vocês...
Enfim, STAY TUNED, que teremos novidades em breve!Inté!

~Human Being, 19/01/2013



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