A Herdeira escrita por Amigo Anônimo


Capítulo 1
Tempo inexorável


Notas iniciais do capítulo

Cá está o primeiro capítulo da minha nova fanfic.
Está um pouco curto, mas eu prometo deixar os próximos capítulos com, no mínimo, 2.000 palavras.
Boa leitura!



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O dia mais uma vez amanhece. O sol aparece por detrás das nuvens e a luz dele invade o meu quarto, até tocar o meu rosto. Cerro mais ainda os meus olhos desacostumados com a excessiva luminosidade e aperto o travesseiro contra a cabeça, na tentativa de amenizar o barulho que vinha de fora do quarto.

É... Mais uma vez o dia amanhece. E mais uma vez tenho que me forçar a resistir não ficar mais tempo na cama que a cada manhã parecia mais atraente.

Gostaria de me acostumar com isso, mas não consigo. A sonolência acaba sempre me provocando o egoísmo de continuar a me deliciar do maravilhoso ato de dormir. Admiro aqueles que são mais fortes do que eu nesse aspecto, como os empregados de minha casa. Eles já começam o dia andando para lá e para cá, nunca estão parados. E permanecem desse jeito até o fim de cada dia.

Talvez simplesmente desistissem da esperança de poder ter mais descanso do que possuem. Talvez essa fosse a realidade os adultos. Aceitar a realidade, por mais cruel e injusta que ela pareça.

E eu logo terei de pensar dessa mesma maneira...

Consciente de que logo alguém viria me forçar a sair da cama, me levanto, impulsionando o corpo para frente. Estico os meus braços para cima, espreguiçando o corpo e tentando me despertar totalmente. Ao meus pés entrarem em contato com o chão frio, sinto os braços arrepiarem, e então logo busco por algo me aqueça, optando por cobrir o meu corpo com um roupão.

Troco minhas vestes de dormir por um vestido azul longo e de tecido leve. Ele possuía mangas longas que iam até um pouco mais adiante do cotovelo. Na bainha, era bordado com fios finos de ouro, fazendo o formato de flores. Era um vestido bonito e nem tão exagerado, como a maioria dos vestidos que tenho que usar são. Não que a ideia de vestidos exóticos não me agrade, mas aqueles que quase me sufocam de tanto enfeite eu não considero boas opções.

Minhas pernas me levam até a porta e quando já estou para abrir a porta, lanço um olhar para um quadro. Nesse quadro estava pintada uma bela mulher de cabelos loiros, como os meus, presos em um coque. Ela usava um elegante vestido rosa bebê com alguns babados, sem exageros. Quase todos os seus traços do rosto lembravam o meu, pelo menos assim as pessoas diziam.

Ficar observando aquele retrato começou a trazer uma dor já vivida à muito tempo atrás, mas junto com ele estavam boas lembranças das quais eu sempre forçava a minha mente a guardar. Deixo um sorriso fraco em meu rosto, para logo depois suspirar e girar a maçaneta da porta que me levava aos longos corredores da casa.

— Bom dia, senhorita Lucy — Duas empregadas param para se reverenciar no meio do corredor.

— Bom dia — Cumprimento simpaticamente.

As duas moças possuíam um uniforme que misturava as cores preto e branco. Aparentavam serem ambas jovens, mas já no fim da adolescência e no começo da idade adulta. Elas carregavam em seus frágeis braços caixas que aparentavam ter um conteúdo bem pesado.

— Venham, eu vos ajudarei — Tomo uma caixa que estava pilhada em cima de outra nas mãos de uma das mulheres. Sinto um grande peso e tenho que manter minhas pernas bem firmes para não cair e largar a caixa. — Para onde levaremos?

— Não precisa fazer isso, senhorita! — Uma das mulheres se adiantou em falar. — Deixe todo o trabalho conosco.

Olho para as duas, que transpareciam timidez e medo com o meu ato.

Medo. Provavelmente elas temiam que meu pai desse um sermão nelas por aceitarem minha ajuda. Isso me irrita. Ele não me deixa eu me aproximar dessas pessoas apenas por suas condições sociais serem diferente das minhas.

— Não se preocupem, meu pai está no escritório — Falei, pensando na hipótese desse ser o motivo da inquietação delas.

As duas se mostram mais aliviadas, mostrando que minha suposição estava correta.

Fomos andando carregando as caixas até onde as duas haviam me indicado. Passamos pela porta do escritório de meu pai e confirmo que ele realmente estava ali ao ver a luz saindo do cômodo. Segurei um suspiro de alívio ao seguir em frente, quando esbarro em algo que me faz deixar a caixa escapar das minhas mãos. Fecho os olhos por reflexo e somente após alguns segundos os abro e consigo ver em que eu esbarrei.

Na minha frente, estava um homem alto de cabelos loiros, com alguns fios brancos. Possuía um bigode grosso que ficava logo acima de sua boca. Suas sobrancelhas estavam franzidas, revelando no meio delas uma ruga. O silêncio incomodador pairava, nenhuma das empregadas ousava pronunciar qualquer palavra.

— Pai... — Falei quase em um sussurro.

— Que pensa que estás a fazer, Lucy? — A voz dele saía em um tom ríspido.

Engoli em seco e olhei nos olhos dele, posteriormente abaixando a cabeça e encarando o chão debaixo dos meus pés.

— Estava ajudando-as a carregar as caixas — Expliquei, temendo que todo o castigo viesse para mim. Era o que eu merecia.

Vi ele mudar o alvo de seu olhar para as outras duas mulheres presentes, dando dois passos até elas. Elas pareciam sem saber o que falar.

— Desculpe-me, meu senhor! — Uma elas começou. — A culpa foi toda minha, pode castigar-me.

— Como se atreve a dirigir uma palavra em voz alta para mim sem pedir minha permissão?! — O humor dele pareceu piorar e com isso elas começaram a tremer mais de nervosismo. — Se ajoelharão no milho como castigo de ter feito minha filha machucar as mãos para fazer um trabalho imundo como esse, que deveria ser feito por vocês.

— Mas, pai... — Tentei me opor, porém ele me interrompeu.

— As duas, se retirem. Agora!

Caminhando às pressas para longe de nós, não sem antes pegar as caixas, elas se distanciaram pelo corredor.

Senti toda a culpa pesar em mim. Ninguém deveria ser punido por um erro que certamente eu cometi. Precisava explicar isso para ele, entretanto já sabia que ele mal me daria ouvidos. Como sempre.

— Pai, a culpa não é delas — Falei. — Fui eu que me ofereci. Por favor, não faças tu isso com as duas.

— Lucy — Ele se dirigiu até mim e segurou minhas mãos. Parecia haver carinho em sua voz, mas eu não seria enganada por essa aparência. — Entenda que você é uma Heartfilia, nunca precisará ajudar ninguém. Tens os servos para fazer os trabalhos por ti.

— Isso não é certo, pai! — Elevei meu tom de voz e eu senti que ele fechou mais sua mão contra as minhas, provocando um pouco de dor.

Ele solta minha mão ao perceber que me machucava. Recuou um passo para trás e pós suas mãos atrás das costas, mantendo uma perfeita postura. Vi em seus olhos a desaprovação. A típica expressão sombria tomou mais uma vez o seu rosto.

— Sou eu quem define o que é certo por aqui — Disse, autoritário. — Agora vá comer. Deve adiantar-se para começar suas tarefas logo.

Sem poder dizer mais nada contra, apenas confirmei com a cabeça e saí andando pelo corredor.

Quando já estava distante dele, me encostei na parede e levei uma mão ao rosto. Senti que lágrimas enchiam os meus olhos e me forcei a não deixa-las cair.

Um desejo impossível sussurrava na minha mente.

Queria voltar para os dias mais felizes da minha vida.

Queria voltar à época antes da minha mãe ir embora por toda a eternidade.


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Notas finais do capítulo

Postarei o segundo capítulo assim que puder. Portanto, espero que aguardem pacientemente.
Obrigado por ler e até o próximo capítulo! ♥



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