Pov Austin

“So give me reason
To prove me wrong
To wash this memory clean
Let the floods cross the distance in your eyes
Give me reason
To fill this hole
Connect the space between
Let it be enough to reach the truth that lies
Across this new divide”

Ao som de New Divide, do Linkin Park, peguei o caderno marrom que costumava escrever cinco anos atrás e comecei a folheá-lo. Na primeira metade, eu escrevera sobre as experiências diárias, na segunda eu escrevia sobre cada pessoa que conhecia e colava uma foto.

Cada um tinha sua página.

Meus pais tinham duas páginas, e eu havia colocado uma foto que Alexa havia tirado de nós três no nosso aniversário de dez anos. Mesmo sendo antiga, era, na minha opnião, a melhor foto que tinha com eles.

Alexa também tinha duas páginas, porque ela sempre foi a pessoa mais especial pra mim, minha melhor amiga. Minha irmã gêmea. Sorri ao olhar a foto que havia colado; era Halloween, tínhamos quatro anos, eu estava fantasiado de Batman e ela de Cinderela.

“Alexa Moon. Minha irmã, minha melhor amiga. Por mais que você seja insuportável às vezes, Lexi, eu te amo. É a melhor irmã do mundo, e eu não quero nunca te perder. Espero que esteja aqui daqui a uns cinco ou seis anos, para poder me dar conselhos sobre garotas quando eu tiver uma crush (apesar de eu achar que já tenho uma) Espero que ainda esteja aqui no dia do meu casamento, para me acalmar quando eu quiser desistir de tudo pela demora de minha futura esposa. Também quero que seja madrinha de meus dois filhos, que também serão gêmeos, Emma e Erick. Espero que continue estando presente em minha vida, nos momentos bons e ruins.
Austin Mônica Moon, 21 de novembro de 2009.”

– Sou um idiota. – murmurei para mim mesmo, não podendo escutar minha própria voz por causa da música alta.

Alexa havia sentido minha falta assim como eu senti a dela, e, em vez de conversar com ela, contar sobre tudo de bom e ruim que vivi em Nova York durante esse cinco anos, fui rude com ela, e a magoei.

Ela não tem culpa por eu estar sofrendo emocionalmente. Ela não tem culpa por eu ser tão idiota a ponto de ter me envolvido com aquela garota. Minha irmã não tem culpa por ela ter quebrado meu coração em pedacinhos.

Pausei a música, guardei o caderno em baixo de meu travesseiro e sai do quarto. Precisava conversar com Alexa, precisava me desculpar. Queria a abraçar e sentir o aroma de morango de seu cabelo.

Assim que parei em frente a porta rosa com um grande “A”, suspirei. Estava fazendo a coisa certa? Quer dizer, eu agi errado a tratando daquele jeito, mas ela tentou invadir minha privacidade, tentou ler os meus cadernos, que são como um diário, que eu proíbo todos de lerem.

Mas ainda é minha irmã, querendo ou não, pensei, já batendo na porta freneticamente.

Em menos de dez segundos, a porta se abriu, revelando Ally. Ela fez um sinal com um dedo indicador para que eu me calasse, fechando a porta atrás de si. Rapidamente, desci meu olhar para suas pernas, que estavam descobertas pelo pequeno short de pijama.

– Eu posso falar com a minha irmã? – perguntei, saindo do pequeno transe.

– Alexa está dormindo, acho melhor você falar com ela amanhã. – respondeu, cruzando os braços. – Se eu a acordar agora, eu e você sofreremos as consequências.

– Mas, é importante. – falei, colocando as mãos nos bolsos da calça de moletom. – Acho que ela não vai ficar tão brava se você que eu quero falar com ela.

– Tudo bem. – ela concordou, abrindo a porta devagar, entrando no quarto.

Assim que adentrei o quarto, vi uma enorme bagunça de roupas e sapatos, típico de Alexa. Minha irmã dormia em sua cama, tranquila, abraçada a um ursinho, enquanto sussurrava “Ben”, com um sorrisinho apaixonado.

Me perguntei na mesma hora quem ele seria. Seu namorado? Amigo? Com toda certeza não é só um amigo, não é, Austin? Seria um ficante? Ou apenas um cara por quem ela tem uma queda?

– Alexa, amiga, acorda. – Ally a chamou, com uma voz calma, enquanto chacoalhava seu braço levemente, o que não funcionou, já que a loira continuou dormindo. – Lexi, acorda, o Austin está aqui.

– Me deixa dormir mais um pouco, mãe. – murmurou Alexa, se aconchegando mais nas cobertas.

– ALEXA, ACORDA, PORRA! – gritei, a fazendo cair da cama. – Preciso falar com você.

– O que foi?... espera, você falou um palavrão? – ela perguntou, com a mão sobre a boca, surpresa. Assenti, revirando os olhos. – Aww.. estou tão orgulhosa de você. – completou, fingindo emoção.

– Podemos conversar? – perguntei, brincando com os dedos. Ela assentiu, com um pequeno sorriso no canto nos lábios.

Olhei para Ally, e ela logo entendeu o que eu havia pedido sem palavras.

– Acho que vou pegar um copo de água. – falou, caminhando em direção a porta. – Vocês querem?

– Não. – eu e Alexa respondemos em uníssimo. Sorri. Ainda tínhamos uma certa conexão.

Assim que Ally saiu, me virei para minha irmã, que havia se sentado em sua cama e voltado a abraçar o ursinho. Me sentei a sua frente, procurando as palavras certas.

– Sinto muito. – dissemos ao mesmo tempo novamente, causando algumas risadas.

Olhei para meus dedos, sem saber o que falar. Nunca fui muito bom com desculpas, talvez porque foram poucas as vezes que fiz algo errado e precisei me desculpar.

– Austin, eu sinto muito. – disse Alexa. – Você acabou de voltar, e, ao invés de estar te abraçando e contando como foram esses cinco anos sem você, eu agi pelas suas costas, tentei invadir sua privacidade, tudo por causa de teoria estúpida de que você mudou.

A abracei, sentindo o calor de seu corpo. Uma das coisas que sempre gostei em Alexa era o fato de seu abraço ser sincero. Quando eu estava triste por tirar um 8 em alguma prova, era a ela quem eu recorria por carinho.

Sorri com as lembranças.

– Eu também te devo desculpas. – falei, nos separando. – Não devia ter falado com você daquele jeito. Ando com a cabeça cheia, e às vezes desconto meus problemas nas pessoas erradas.

– Problemas? Que tipo de.. – a interrompi.

– Isso é um assunto que eu não estou pronto pra falar agora. – expliquei, abaixando a cabeça. – Mas, eu prometo que vou tentar te contar, Lexi. Só é difícil falar sobre isso agora, ok?

– Ok.

Alexa me abraçou de novo, se aconchegando em meu peito. Acariciei seus cabelos loiros, que estavam bagunçados pelo fato de ela estar dormindo cinco minutos atrás. Beijei o topo de sua cabeça, antes de nos separar.

– Está tarde. Você precisa dormir, e eu também. – disse, me levantando e a cobrindo. – Boa noite, maninha.

– Boa noite, Austin.

*-*

Pov Ally

Assim que sai do quarto de Alexa, caminhei a passos lentos – para não ser pega – até o quarto de Austin. Alexa precisava de celular dele, e eu tinha a oportunidade perfeita.

A porta do quarto estava aberta, então sem mais um barulho para me preocupar. Assim que entrei, pensei nos locais onde Austin poderia ter deixado o celular.

Alexa disse que, assim como eu, Austin é organizado. Geralmente deixo meu celular do lado de minha cama, no criado mudo, mas o loiro parece não ter isso em seu quarto. Alexa também havia dito que ele não tem redes sociais nem nada, o que diminui o uso do celular um pouco, assim como eu.

Quando meu celular não está no criado mudo, o deixo dentro da mochila – é claro, quando não estou jogando Flappy Bird. Procurei no quarto por uma mochila ou qualquer tipo de bolsa que Austin poderia levar para a escola amanhã.

No canto esquerdo do quarto, próximo ao grande armário, um chaveiro brilhou, me fazendo encarar uma mochila preta. Corri, sem fazer barulho, até ela. Não foi difícil achar um iPhone 6 preto.

Sorri, Austin tinha o mesmo modelo de celular que eu.

Temos mesmo muito em comum.

Coloquei o aparelho em minha cintura, sendo segurado pelo elástico do short de moletom. Cobri com blusa fina e resolvi sair do quarto o mais rápido possível.

Enquanto caminhava pelo corredor, ouvi os gêmeos desejarem boa noite um ao outro. Nervosa, entrei no banheiro e me tranquei no mesmo.

Deslizei na porta, chegando logo ao chão, suspirando em alívio. Não demorei a me levantar, afinal o chão estava gelado e tudo o que eu não queria era pegar uma gripe. Com o celular ainda preso em minha cintura, abri a torneira e lavei o rosto, passei um pouco de água nos cabelos, tentando tirar um pouco do laque que Alexa havia passado antes de dormir – quando ela inventou que eu devia mudar meu penteado, o que obviamente não deu certo.

Esperei alguns minutos antes de sair do banheiro e voltar para o quarto de Alexa, antes que ela pensasse que eu morri na cozinha pegando um simples copo de água, o que na verdade acabei nem fazendo.

– Você morreu na cozinha e ressuscitou?

Não disse?

– Não. – respondi ironicamente. – Na verdade, eu nem tomei água.

– Então por que vo.. – antes que ela pudesse terminar, peguei o celular de Austin e lhe mostrei. – Ally, você pegou o celular do Austin!

Ela me abraçou e tratou logo de arrancar o aparelho de minhas mãos, o desbloqueando rapidamente, já que Austin não foi esperto o suficiente para colocar uma senha.

– Menu. Contatos. – me aproximei da loira, para poder observar o que ela fazia. – Ótimo! Todos os contatos tem uma foto, vai ser fácil descobrir quem é aquela puta.

– Puta? Sério? – questionei, incrédula. Ela não sabia absolutamente nada sobre a garota e já estava a chamando de puta?

– Austin deixou escapar que está com alguns problemas. Ele só podia estar falando dela. – respondeu, enquanto observava cada contato na lista de Austin. - ... Robert. Samantha. Taylor... TAYLOR. É ela!

Alexa me mostrou a foto no contato da garota. Era realmente a mesma garota da foto que roubei de Austin. A foto na tela do celular era diferente, a garota estava sorrindo espontaneamente, parecendo não ter percebido que uma foto foi tirada.

– O que vai fazer? – perguntei, depois de passarmos mais ou menos meio minuto encarando sua foto.

– Não é óbvio? Vou ver se eles tem alguma conversa. – deixei Alexa sozinha com o celular, me sentando no colchonete rosa que minha amiga havia colocado no chão para eu dormir. – Droga! Austin apagou todas as conversas.

Alexa se sentou a minha frente, ainda com o celular em sua mão. Percebi que ela ponderava entre ligar ou não para a garota. Antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, apertei o botão e deixei no viva-voz.

No quarto toque, a ligação foi atendida.

– Austin? Por que está me ligando a essa hora? – uma voz feminina perguntou, sonolenta. – Por que está me ligando? Eu disse que o que rolou entre nós acabou, e nunca vai voltar a acontecer, ainda mais agora que você voltou pra Miami. Me esquece, porra!

Um silêncio se instalou no quarto, esperamos que ela continuasse.

– Se está me ligando por causa do nosso pequeno probleminha... já estou dando um jeito nisso, não se preocupe. Ninguém sabe além de você, e ninguém vai saber. Foi o maior erro da minha vida, e quanto mais rápido eu me ver livre disso, melhor.

Confusas, continuamos a não dizer nada.

– Austin? Austin? – Taylor agora parecia irritada com o silêncio. – Quer saber? Eu vou desligar. Não me ligue mais.

A ligação foi encerrada, nos deixando ainda mais confusas do que antes.

Peguei o celular das mãos de Alexa e exclui qualquer registro da ligação. Austin não poderia nem sonhar que ligamos pra alguém usando seu celular.

– O que diabos aconteceu entre eles? – Alexa questionou, confusa, assim como eu. – Se eu estava confusa antes, agora... ligamos pra ela, isso só me deixou com mais dúvidas.

– Bom... tem uma pessoa que talvez saiba o que aconteceu... – comentei, mesmo sabendo que a loira não gostaria nem um pouco de minha ideia.

– Não!

– Acho que, querendo ou não, teremos que falar com a Amber.