Pov Ally

– Pronta pra conhecer o Austin? – Alexa perguntou, enquanto saíamos de seu quarto. Ela havia me explicado exatamente o que eu deveria fazer, e, mesmo não sendo tão difícil sentar e conversar com um garoto, pra mim é grande coisa. Fico nervosa perto dos garotos; claro, com exceção dos meus irmãos.

– Claro. – falei, não muito confiante. – Por mais que você tenha explicado, como esses cadernos antigos vão te ajudar a descobrir o que tem de errado com o seu irmão?

– Eu já te disse, Ally... quando éramos crianças, o Austin costumava ter diários, mas como ele não gostava da palavra, dizia que eram seus “Cadernos de Pensamentos”. Além de escrever os sentimentos mais profundos e absolutamente tudo que acontecia, ele guardava papeis importantes pra ele lá.

– Papeis importantes? Tipo... cartinhas de amor?

– Sim. – Alexa parou quando chegamos na escada e examinou a sala de estar. – Mas, não só isso. Ele guardava provas que tirava notas baixas, autorizações de passeios que não queria ir, tudo que ele considerava importante.

– E, só porque ele perguntou sobre esses cadernos, você acha que a chave pro seu enigma está em objetos de mais de dez anos? – questionei, em tom baixo, como um sussurro.

– Sim, eu acho. – a loira se virou para mim, e pegou minhas mãos. – Prepare-se para perder o fôlego.

– Por que?

– Digamos que o Austin é... um pedaço de mal caminho. – disse, me fazendo revirar os olhos e rir. – Eu estou falando sério! Se ele não fosse meu irmão gêmeo...

– Meu Deus! Pensei que gostasse do MEU irmão. – provoquei, deixando Alexa vermelha.

– Voltando ao plano... eu vou apresentar vocês, e sair discretamente para ir ao porão. Você tem que fazer o possível e o impossível pra manter o Austin ocupado e nem cogitar a ideia de que eu estou procurando os cadernos dele. – assenti, começando a descer os degraus da escada, tomando cuidado para não tropeçar em um e cair. Seria uma péssima primeira impressão.

Ao descer o último degrau, observei que Amber e seu pai ainda estavam presentes na sala, mas não estavam sozinhos. Sentado no braço na poltrona, em frente a Amber, e de costas para nós, estava sentado um loiro, que eu logo deduzi ser Austin.

– Austin! – Alexa o chamou. Ele se virou, depois de soltar um muxoxo. – Essa é a Ally, minha melhor amiga. – percebi o desconforto de Amber. Ela deve ter ficado magoada por Alexa ter me apresentado como sua melhor amiga. – Ally, esse é Austin, meu irmãozinho.

– Sabe que odeio quando me chama assim. – disse ele, rindo, irônico. Tenho que admitir, ele é mesmo lindo! – Mas, de qualquer forma, é um prazer te conhecer, Ally. – caminhei até ele, que ainda se encontrava sentado e estendi minha mão.

Apertamos as mãos, enquanto eu simplesmente não conseguia deixar de encarar seus olhos. Castanhos esverdeados, parecem imãs.

– Acho que vou deixar vocês conversarem. – Alexa falou, me tirando de meu transe. – Austin, por que você não mostra a Ally suas fotos? Ela adora fotografia também.

– Sério? – perguntou ele, sorrindo pela primeira vez. Assenti. – Eu acho que nunca, na minha vida, achei alguém de dezesseis anos que gostasse de fotografia!

– Eu também não. – comentei, correspondendo a seu sorriso.

– Minhas fotos estão no meu quarto. Se quiser, eu posso te mostrar.

– Eu adoraria. – respondi, me preparando para subir as escadas novamente.

(...)

O quarto de Austin é nem diferente do de Alexa. Não em termos de tamanho, até porque nesse quesito os dois são iguais, mas sim na decoração. No canto direito, ao lado de sua cama, se encontra um violão, em seu devido suporte; do outro lado do quarto, uma pequena estante com câmeras fotográficas, o que mais me chamou a atenção. As paredes num tom de azul escuro, quase preto, davam o quarto um ar mais adolescente, o que realmente somos.

– Seu quarto é incrível! – exclamei, o encarando. Seu sorriso havia desaparecido. – O que foi?

– Sério? – questionou, irônico. – Acha mesmo que eu não percebi que isso tudo é apenas um plano da minha irmã? Enquanto você está aqui, “me distraindo”, Alexa está no porão, procurando meus cadernos.

– Como... ?

– Posso ser irmão gêmeo da Alexa, mas... digamos que eu fiquei com boa parte da inteligência. – continuou com seu tom de ironia e sarcasmo, me fazendo questionar se, como minha amiga disse, um dia, ele já foi doce.

– Então, se você sabe, por que me trouxe aqui e não foi atrás dela? – perguntei.

– Porque não estou preocupado em ela estar lá. – respondeu. – Meus amados cadernos não estão mais no porão. Eu os tirei de lá enquanto vocês estavam no quarto dela.

– Se escondeu, com certeza tem algo neles que não quer que vejamos... – conclui, ficando em sua frente. – Alexa acha que você mudou. Eu não posso concordar, já que eu não conheci o “Antigo Austin”.

– Sim, eu mudei. Se passaram cinco anos, as pessoas mudam, isso é inevitável. – Austin cruzou os braços, o que destacou seus músculos, que estavam um pouco descobertos, já que ele usava uma regata. – Mas, de qualquer forma, não tem nada de mais nos meus cadernos. Só não quero que Alexa leia meus pensamentos. É meio pessoal.

– Eu entendo. Já tive diários. – admiti, me lembrando do caderno de capa marrom que tinha aos doze anos. – Mas, sobre uma coisa Alexa não mentiu, eu sou apaixonada por fotografia.

– Sendo assim... não vejo nenhum problema em te mostrar meus álbuns.

Austin foi até seu armário e pegou uma caixa branca, que era consideravelmente grande. Colocou o objeto sobre sua cama e se sentou na mesma, fazendo um gesto com a cabeça, me convidando a fazer o mesmo.

– Você é organizado. – comentei, observando como organizada a caixa se encontrava. – Queria que meus irmãos fossem assim.

– Tem irmãos?

– Sim, tenho dois, na verdade. São insuportavelmente desorganizados. – Austin riu, e, dessa vez, soube que ele não estava sendo sínico.

– Quando eu era criança, uma vez, deixei o meu quarto uma enorme bagunça; e a minha mãe me fez arrumar tudo, senão não poderia repetir a sobremesa. – disse, rindo novamente. – A partir desse dia, eu me tornei organizado. No começo era só por obrigação, mas, agora, eu não suporto ver alguma coisa fora do lugar.

– Mais uma coisa que temos em comum. – Austin me entregou uma álbum de fotos, que tinha em sua capa “2014”.

– Essas são minhas fotos mais recentes. Tirei todas em Nova York. – falou, me observando em cada movimento.

– Você tem talento. – falei, admirada pelas fotos.

– Obrigado!

Uma foto me chamou a atenção. Era de uma garota, com cabelos castanhos, muito bonita, por sinal. Ela tinha um cigarro em sua mão, e a maquiagem em seus olhos era um pouco forte.

– Quem é essa garota? – perguntei a Austin, que arregalou os olhos no momento em que se tocou de que garota eu perguntava.

– N-ninguém. – respondeu, rapidamente, nervoso.