O que tem por detrás da porta? escrita por Escr Taty


Capítulo 2
Capítulo 01 – O fim do amor puro e clichê


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, hoje estou trazendo um capítulo meio triste, mas necessário. No final pode ser que vocês deem risada do azar alheio HSUASHAUSHAUHSAU



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Cinco anos... não foram longos cinco anos, foram maravilhosos cinco anos que me faziam me perguntar quando aquele namorido iria se tornar em meu marido de verdade.

Nos conhecíamos desde o colégio. Ele era o popular e irresistível jogador de futebol, eu era a nerd. Na época não existiam redes sociais e nem nada do tipo, mas eu já era viciada em fóruns que, se comparados com os de hoje em dia, pareciam de amadores. Existiam umas tais fanfics e eu era apaixonada por uma em específico, a que contava sobre como a nerd se tornou a mais bela das mais belas em um baile da escola. Claro... era em inglês.

Assim como todo clichê que li, eu me tornei visível para o popular e acabamos namorando. Guilherme finalmente me enxergava e isso era mais que a realização de um sonho.

Se nosso namoro se tornasse um livro algum dia, com certeza levaria um título água com açúcar, desses que todos estão acostumados em ver nas bancas de revistas. Mas não foi no colégio que ele me notou como uma possível namorada, foi na faculdade.

— Mas eu pensei que...

— Desculpa, eu... eu não sei como explicar... não queria que as coisas chegassem... desculpa, Bia.

Naquele dia eu resolvi expor o que estava pensando. Morávamos juntos há três anos e eu, estupidamente, havia decidido propor casamento. Foi aqui que a bomba caiu...

— Tudo bem, se não quiser agora, tudo bem... é só uma formalidade e tal... Eu posso esperar, não precisa ficar nervoso, ok?

— Bia, eu não posso mais fazer isso.

— Gui, não se preocupa, não me machuca em nada. O que me importa é que estejamos juntos e...

— Eu sou gay.

O que se diz uma hora dessas? O que dizer quando seu grande amor se revela no mesmo instante em que você expõe seu desejo de casamento? Eu não sei você, nem sua reação, mas a minha foi uma só... ficar muda.

— Eu queria ter contado antes... – Como eu não ousei nem piscar, ele continuou. – Eu não queria que as coisas ficassem assim, eu juro por Deus que não queria te machucar, mas Bia... eu sou... gay.

— Quando...?

— Quando o quê?

— Quando pretendia me contar?

— Eu descobri faz... uns quatro anos.

— Quatro... – comecei a rir, porque depois do susto, vem o choque e... – quatro anos! – ...depois do choque vem a raiva! – ESTAMOS JUNTOS HÁ CINCO ANOS, PORRA!

— Bia...

Me levantei do tapete enquanto andava de um lado para o outro. Sentia as lágrimas consumindo minha pele, mas a raiva e a dor... ah, essas me consumiam muito mais!

— Cincos anos juntos, Guilherme! – gritei o mais alto que pude, depois sussurrei – Cincos anos!

— Bia, por favor, me perdoa. Eu não sabia como te contar...

— Ah é? E nunca levou em consideração o quanto me apaixonei cada dia por você? Merda, Guilherme! Você sabe que eu nunca tive preconceitos, você sabe que...

— Beatriz, você realmente não tem, mas é de mim que estamos falando. Tem certeza de que não iria tentar me consertar? Que iria arranjar a cura gay? Eu tentei de tudo, juro que tentei, mas não posso mais me esconder com você fazendo planos e...

— Foda-se os planos! – gritei de forma tão estridente que não sobrou ar nos pulmões. Quando me recompus, fui ao quarto e ele me seguiu. – Eu não estava ligando para os planos, só queria que você me amasse e confiasse em mim.

— Mas eu te amo, Bia. Só que...

— Não, não ama. Se me amasse teria tido o pingo de consideração por mim. Teria me contado, teria me dado o direito de escolher.

— Eu fiquei com medo, ok? – Ele me puxou pelos braços e me fez olhá-lo nos olhos, assim como eu, estava chorando. – Você é meu bem mais precioso, fiquei com medo de te perder. Como posso sobreviver sem a pessoa que mais me ama nesse mundo? Mas esse amor está errado, porque não te vejo do mesmo jeito que você me vê e isso vai te matar aos pouquinhos cada dia. Eu te amo ao ponto de ignorar o meu egoísmo e te deixar ir, mas, por favor, não se vá totalmente.

Não saber como reagir era a coisa que eu mais sabia fazer. Então peguei minha bolsa e saí de lá. Até o término do nosso namoro era clichê, pois estava de noite, chovendo e fazendo frio.

Mesmo assim, andei sem rumo pela rua asfaltada e com poucos carros. Como um prelúdio do fim, meu salto esquerdo quebrou na base, senti a perna dobrar para o lado, ergui os braços para o alto a fim de me segurar em algo, em vão, e caí de lado em uma poça de lama... de fato... nada é tão ruim que não possa piorar.

— Merda, merda, merda...

Me levantei ensopada com os cabelos negros cobertos de respingos de lama e chuva. Abanei as mãos na vã tentativa de me livrar da lama que impregnava meus dedos, mas em dia de chuva você nunca deve ficar ao lado do meio-fio...

Tentei voltar a andar, embora minha calça jeans estivesse marrom. Mas, por instinto, me encolhi e senti como se estivesse sendo atingida pelo tsunami. Quando passou, o que antes não estava molhado começou a pingar.

— Filho da puta! – gritei. Meus olhos estavam fechados para impedir que a água suja jorrada por um carro apressado entrasse em contato com as córneas.

Como podem ver... foi um dia marcante...


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Notas finais do capítulo

Caso tenha não se sinta uma pessoa tímida, não hesite em me contar o que achou do capítulo ^^