Subi os três lances de escada sem nenhum problema, mas quando cheguei ao sexto estava louca para desabar em minha cama. Apoiei na parede quando finalmente atingi o último degrau, respirei fundo e, sem soltar as sacolas de supermercado, quase gritei:

— Maldito elevador. Essa porra vive quebrando!

Depois que recuperei o fôlego, retomei minha caminhada até o fim do corredor, virei à esquerda e paralisei no meio do caminho. O analisei com cuidado, muito cuidado, mas quando vi que estava dormindo enquanto escorava as costas na parede ao lado da minha porta, suspirei cansada. As pernas estavam atiradas pelo chão, a cabeça baixa com algumas mechas de seu cabelo negro cobrindo a testa.

Vestia-se como sempre gostou de se vestir. Calça jeans gasta e desbotada pelo uso, camisa vermelha lisa e húmida com as mangas desenhando os bíceps que tinha – mas nada fartos – e coturnos pretos, sujos de lama seca.

— De novo não...

Andei lentamente cautelosamente, destranquei a porta com um silêncio promissor e entrei sem fazer barulho. Em seguida, fechei a porta e passei o trinco. Perfeito! Me virei e a consciência pesou.

— Merda!

Tentei continuar meu caminho até a cozinha e essa tarefa nem era difícil. Bastava apenas dar dois passos, o balcão de mármore preto ficava ao lado da porta.

Me chame de gente ruim, mas a última coisa de que eu precisava era Cauã me torrando a paciência, mas acabei cedendo aos impulsos que a culpa causava, larguei as sacolas no balcão e voltei até a porta de meu apartamento. Abri devagar e o vi na mesma posição de antes.

Chutei de leve a sua coxa, não tendo reação, chutei mais forte e quase saí correndo de volta para dentro, mas o máximo que consegui foi fazer sua mão cair de seu colo e pender no chão.

— Meu Deus... Cauã! – Agachei ao lado dele e encarei seu rosto com uma expressão cautelosa.

Toquei sua testa com cuidado para ter certeza de que aquele suor não era provindo de uma febre alta.

— PUTA QUE PARIU, ME LARGA!

Ele me puxou pelo pulso esquerdo, me jogou em seu colo e prendeu meu braço em minhas costas com uma mão. Grudou seus lábios nos meus e, com minha outra mão livre, comecei a bater em seu peito.

— Estava querendo me deixar aqui, é? Sua maldita sem coração.

— Desgraçado, me larga!

— Nem pensar, você está me devendo um pedido de desculpas.

— Não te devo nada, que porra.

— Que boca suja, tisc, tisc, tisc. Mas pode deixar que eu cuidarei disso para você.

Me beijou de novo.

Por causa dele eu tinha sérios problemas com o sindico, se ele nos visse ali poderia me por para fora e só Deus sabe quanto foi custoso arranjar aquele apartamento.

Consegui convencer Cauã de me soltar, mas não adiantou nada eu correr na frente e tentar fechar a porta, ele era mais forte e conseguiu empurrá-la me fazendo tombar no chão.

— Não precisa ficar de quatro por mim, baby.

— Vai se foder! – Me virei e me sentei cansada o observando fechar a porta atrás de si.

— Não, obrigado. Exceto se você quiser que a gente visite sua cama, ou sofá... ok, ok, não serei exigente e o chão é mais que suficiente.

Ele veio em minha direção e, surpresa com o que ele estava prestes a fazer, me levantei às pressas indo direto para meu quarto. Claro que ele não permitiu que eu fechasse a porta e teria parado no chão mais uma vez se ele não tivesse conseguido me segurar pela cintura, me jogar na cama e exibir seu melhor sorriso.

— Estava com saudades de mim, baby?

— Você não tinha ido para Indonésia?

— Voltei hoje.

— E o que está fazendo aqui? Eu estava bem feliz sem você!

— Eu vim matar as saudades, baby. Sabe que te amo, não é?

Me calei. Não conseguia contra-argumentar aquilo e simplesmente procurei voltar a respirar tranquila quando senti seus lábios nos meus.

Estávamos mais uma vez em minha cama.

Mais uma vez brigando.

Mais uma batalha para saber quem de nós dois iria desistir primeiro.