O Rebelde escrita por Sereia Literária


Capítulo 9
Dúvidas e Mentiras




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Fiquei tensa e abalada o resto do dia. O que ele queria escondendo o segredo? Os segredos. Minha respiração ficou ainda mais ofegante quando pensei no que ele poderia pedir para manter-se calado. Pensei em muitas coisas, umas mais baixas que outras, e me vi enjoada e ainda mais preocupada. Apoiei-me nas paredes para não cair no chão. Fiquei lá por um tempo e olhei muito em volta antes de sair.

Absorta em pensamentos, me peguei desprevenida quando Isaac se aproximou.

–Como vai?

Levei um susto e logo ele percebeu que eu não estava bem.

–Vai ficar tudo bem- disse, ele, baixinho, virando-me para ele.

–Sua mãe vai melhorar- disse Oliver, surgindo ao meu lado e me dando um abraço. Se eles soubessem que isso não era o que mais me preocupava... Sabia que mamãe ficaria bem. Com certeza, estava recebendo o melhor tratamento de Iléia. Papai faria o impossível por ela, e ela ficaria bem.

Mesmo assim, aceitei ser abraçada por aqueles bracinhos pequenos. Retribuí o abraço e, mesmo ele estando enganado quanto ao motivo, me senti confortada por ele. Isaac me abraçou também, mas eu tinha a impressão de que ele desconfiava que minha mãe não fosse o único motivo, mas mesmo assim, permaneceu calado, um ato pelo qual fiquei grata.

Na mesa de jantar, as conversas se desenrolavam ao meu redor, mas eu me sentia acuada e sabia que David queria exatamente isso, principalmente pelo fato de ele estar sentado em um lugar distante, porém do qual pode me observar muito bem. Meu estômago estava embrulhado, e eu me forçava a comer o mínimo necessário a um passarinho.

–O que há entre você e ele?- perguntou Oliver, se referindo a David. Ele havia percebido; afinal, ele era muito inteligente. Não queria revelar tudo a ele, era jovem demais e já era muito maduro sem essa informação.

–Nada, Oliver- disse, mas senti que ele não acreditou, então continuei.

–Ele é estranho...

–Você tem medo dele- disse ele, completando minha frase. Nem precisei responder.

–Não se preocupe, não o deixarei encostar um dedo em você- disse ele, e isso foi muito fofo. Senti vontade de apertá-lo.

Peguei seu rostinho com minhas mãos e beijei o topo de sua cabeça.

–Eu sei- disse, sinceramente. Não que eu achasse que ele poderia mesmo impedir se algo realmente sério acontecesse, mas tinha certeza de que ele iria tentar, e isso era tudo.

Vi então que Conor passava de mesa em mesa. Seus olhos encontraram os meus e nós dois sorrimos ao mesmo tempo.

–Mas parece que mais alguém vai te proteger também...- disse Oliver, voltando para o seu prato de comida, o rostinho com olhar brilhante e sorriso maroto. Fiquei vermelha e ele disse que já sabia. Ele era mesmo muito esperto e astuto para a idade.

–Você é muito esperto, garoto- elogiei, mas isso deixou triste.

–O que houve?- disse, me aproximando dele e envolvendo seus ombrinhos.

–Eu nem sei ler... Tenho vergonha disso.

–Ei, nada disso. Eu posso te ensinar, o que acha?

Ele virou o rosto para mim e seus olhos negros e grandes já brilhavam. A pele morena e os dentes claros em conjunto com os cabelos e os olhos deixavam uma coisa bem clara: ele seria muito bonito quando crescesse.

–Eu iria adorar Katie!- disse ele.

–Quando começamos? Depois do jantar?

Ri com seu entusiasmo.

–Não, Oliver. Hoje já é tarde. Começamos os estudos amanhã, certo?

–Certo, certo- respondeu ele, balançando a cabeça freneticamente. Não pude deixar de sorrir também, era muito reconfortante saber que eu poderia fazer uma coisa que alegrasse alguém deste modo. Me fez até esquecer de David por algum tempo.

–_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-

Antes de ir para o meu quarto, fui até o de Conor. Se eu queria ensinar Oliver a ler, precisava de um livro. Com certeza, queria uma leitura bem menos densa e culta que Romeu e Julieta, mas se não houvesse mais nada...

Bati na porta e Conor atendeu.

–O que a traz aqui?- perguntou ele, enquanto eu entrava.

–Vim atrás de um livro. Vou ensinar Oliver a ler- disse, já na frente da prateleira, me virando para ele, que se aproximou lentamente enquanto falava.

–Então, é pelo livro que veio aqui?

–Uhm...Não sei...- disse, torcendo uma mecha de meus cabelos e me fazendo de inocente. Ele então me puxou pela cintura para um beijo, e logo eu havia me esquecido do livro. Ele me ergueu em seus braços fortes, envolvendo minha cintura e minhas costas, enquanto meus braços usavam seu pescoço como apoio – não que eu precisasse, pois ele me aguentaria muito bem por si só.

Ele então foi para o sofá onde eu fiquei em seu colo com as pernas dobradas, os braços em seu rosto e pescoço, e ele ainda junto de mim. Então, ele passou a beijar cada canto de meu rosto, dizendo palavras amorosas a cada beijo. Seus lábios eram quentes em contato com a minha pele, e minhas mãos brincavam com seus cachos escuros.

–Eu te amo... Minha princesa- disse ele, entre beijos e passou a beijar meu maxilar e meu pescoço. Mas a palavra princesa me fez lembrar de quem eu era, de onde deveria estar e principalmente, me fez lembrar de David. Comecei a ficar tensa e ele reparou. Seus lábios pararam no mesmo instante e ele me olhou fixamente.

–Eu nunca lhe faria nenhum mal, você sabe disso, não sabe?- disse ele, os olhos brilhando com a luz suave da lua que entrava pela janela.

–Claro que sim Conor! Sei disso- disse, colocando a mão em seu rosto.

–Então o que a preocupa?

Prendi a respiração e soltei lentamente. Tinha a nítida sensação de que Conor não deveria saber, ou David deixaria tudo vazar. Isso seria péssimo para mim e principalmente para ele, afinal, ao longo dos dias, descobri que ele era como um líder para eles, e se descobrissem que havia me abrigado e ainda por cima se envolvido comigo, haveriam revoltas e ele poderia sofrer muito, e eu não sabia que tipo de penas eles tinham para que crimes.

–Pode me contar... Pode contar tudo para mim, Katherine- disse ele, tocando a lateral de meu rosto e uma parte de meus cabelos.

–Sim, eu sei... Eu só estou... Confusa- menti.

–Pelo o que?

Silêncio. Devia ter desconfiado que ele encararia isso de maneira errada.

–Você se sentia atraída por algum dos Selecionados?

Senti-me gelar, e nesse momento soube que deveria abrir o jogo. Ele sabia ler por detrás de minhas palavras, mesmo contra a minha vontade

–Conor, eu me sentia atraída, sim, pelos Selecionados. Por um em especial.

Ele baixou os olhos, mas eu segurei sua mão e ergui seu rosto. Os olhos tristes, magoados.

–Mas era só isso. Eu não amei nenhum deles. Nem perto disso. E eu te amo, Conor. Como nunca pensei ser possível.

–Então o que a confunde?- perguntou ele, e senti um ponto de esperança e outro de desconfiança em sua voz.

–Não sei o que meus pais pensariam...- disse. Apesar de não ser isso o que me perturbava, era uma verdade.

Ele então virou minha mão e beijou sua palma. E depois, a parte posterior da mão... E depois a ponta de cada um de meus cinco dedos. A minha pele ficava quente e formigava de maneira agradável a cada beijo.

–Eu também te amo...- disse ele, os olhos fixos nos meus. Mas havia um ´mas` implícito em sua voz.

–Assim como você, não sei o que pensariam se soubessem...- continuou ele.

–E realmente não me importo- termniou. Aquilo me encheu de todos os sentimentos por dentro. Ele largaria tudo por mim! Logo Conor me trouxe mais para perto e me abraçou. Depois de mais um beijo, ele me levou para o meu quarto.

–Sinto-me observado...- comentou ele, olhando em volta. Já havia soado o toque de recolher, e ele se recusou a me deixar voltar sozinha para o meu quarto. As ruas de terra estavam escuras, com um poste de luz fraca a cada 30 ou 50 metros.

Quando chegamos ao meu quarto, eu fiquei em frente à porta e me virei para ele.

–Boa noite, Conor.

Ele então se aproximou de mim e eu fiquei entre ele a porta, suas mãos em meu pescoço enquanto nossos lábios dançavam. Fiquei na ponta dos pés abraçando seu tórax. Parecia que tínhamos a altura perfeita um para o outro. Quando nossos lábios se separaram e ainda estávamos muito próximos, ele disse, muito próximo a mim:

–Boa noite, Katherine.

Quando ele foi embora, vi um vulto no fundo da paisagem escura, e um arrepio percorreu minha espinha. Entrei no quarto no mesmo instante.

Deite-me na cama ainda tensa. Sabia que era David lá fora. Tinha medo de que ele entrasse e tentasse qualquer coisa. Tinha medo do amanhã e medo do agora. Me virei e me revirei mil vezes, tentando todos os métodos que eu conhecia para me acalmar; desde pensar em ambientes calmos – como praias ou cachoeiras – como em contar ovelhinhas.

De repente, ouvi o som de passos se aproximando. Logo depois, a porta se abriu e eu fiquei tensa, já pensando em mil probabilidades; iria bater nele? Chutar as ´zonas inferiores`? Estava perto de alguma coisa que machucasse? Iria apenas correr? Se gritasse, alguém iria ouvir e ajudar?

–Não consigo dormir, Katie.

Soltei meu corpo ao perceber que se tratava do esperto garotinho que não havia aprendido a ler.

–Ah, é?- perguntei, me recuperando do susto e sentando-me na cama.

–Sim, tive pesadelos- disse ele, sentando e meu colo sem nenhum aviso prévio.

–Que pesadelos, Oliver? Geralmente, quando conta, parece menos real e ruim- disse, e era verdade. Mas ele se recusou e disse que me contaria de manhã.

Deitei-me na cama e ele ficou do meu lado, o bracinho passado por cima de mim e o rostinho próximo do meu. Era como se ele fosse meu filho, e acho que ele começava a me considerar uma mãe. Afinal, não é a mãe que recorremos quando temos sonhos ruins?

–Te amo, Katie- disse ele, quase dormindo.

–Também te amo- sussurrei depois de dar-lhe um beijo no topo da cabeça.

Fiquei procupada. Rezava para que David não o houvesse visto chegando, pois ele poderia machucá-lo para me atingir. Pode-se pensar que isso é baixaria, mas de David, não duvido nada.

O que era pra ser uma terapia e um consolo para Oliver acabou sendo para mim também. Eu acabei relaxando e me sentindo mais segura, e dormi ao lado dele.


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