O Rebelde escrita por Sereia Literária


Capítulo 8
Segredos


Notas iniciais do capítulo

Fico felicíssima ao receber comentários! Obrigada pelo seu, Izabella! Também queria agradecer a Eleanor Liesel Grey e Loraaaah, que favoritaram a história! Isso é um estímulo maravilhoso para continuar! E desculpem pela demora para esta nova parte da história! Espero que gostem!



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Foi como acordar depois de noites sem dormir, completamente descansada e calma. Apesar do vento frio, sentia o calor do sol que entrava pela janela aquecendo uma parte de mim. Abri os olhos lentamente e respirei fundo. Passei as mãos pelos cabelos compridos e virei o rosto, que agora estava bem próximo do travesseiro, que tinha o cheiro delicioso de Conor. Olhei em volta e me deparei com um recinto de madeira, com um guarda roupa grande e de aspecto antigo. Em uma das paredes, uma janela de vidro e no centro do quarto, logo afrente da cama, um sofá e duas poltronas. Mais adiante, ainda se via uma escrivaninha de madeira e um armário repleto de livros. Sentei-me na cama e um feixe de luz do sol iluminou meus olhos e cabelos, que ficaram dourados como uma cascata de ouro. Olhei em volta e como não encontrei ninguém, decidi me levantar. O chão rangia levemente a cada passo meu. Fui me aproximando dos livros, com as lombadas exibindo os mais diversos títulos; desde romances antigos – que pareciam ser das primeiras edições – até livros de política, geografia e história. Pequei-me interessada por um livro do qual eu ouvira falar minha vida inteira: Romeu e Julieta, do mesmo Shakespeare que escreveu O Sonho de uma Noite de Verão. Passei o dedo com delicadeza por sua lombada empoeirada, as letras em estilo gótico douradas... Tirei-o da prateleira com delicadeza e me surpreendi com seu peso e grossura. Eram muitas páginas e elas pareciam implorar em seu interminável silêncio para serem lidas.

–Bom dia- ouvi uma voz atrás de mim. Era Conor. Fiquei tensa no mesmo minuto e me virei devagar. Ele estava sentado no sofá comprido, com o braço sustentando o peso do corpo, as pernas ainda cobertas pelo edredom. Os cabelos com cachos grandes cor de chocolate muito escuro estavam bagunçados e uma mecha caía de maneira tentadora sobre seus olhos dourados, e tive de me conter para não retirá-la.

–Não sabia que estava aqui...- disse, um pouco sem jeito.

–E se soubesse ainda bisbilhotaria em meus livros?- perguntou ele, mas sem maldade, falando mais como uma brincadeira.

–Talvez...- respondi.

–Como se sente?- perguntou ele, se levantando e chegando mais perto. Ergui os olhos e voltei a baixá-los.

–Eu pensei muito sobre ontem à noite... Sinto-me envergonhada e agora mesmo tenho vontade de me esconder só por ter tentando me... me...

–Não tem problema... O que importa é que você está aqui- disse ele.

–Graças a você- disse, erguendo os olhos a tempo de vê-lo se aproximar e me segurar pelo pescoço, enquanto seus lábios tocam os meus. Senti meu corpo vivo como nunca, onde seus dedos tocavam minha pele eu sentia formigar. Então soltei o livro e passei as mãos pelos seus cabelos sedosos e pelo seu pescoço, enquanto seu polegar acariciava minha bochecha e sua outra mão me trazia para perto dele pela minha cintura. Não era como beijar Natan: com ele, eu me mantinha em controle e conseguia distinguir realidade e sonho, conseguia me manter sã e sabia dizer onde terminava Natan e começava Katherine. Mas assim, com Conor, eu perdi meu senso, me esqueci de quem eu era, de quem ele era, e só mantive a noção de que nós éramos; não um casal apaixonado, mas um homem e uma mulher que se amavam agora e que isso não mudaria nem daqui a bilhões de anos. Nunca me senti assim, era como se eu e ele nos fundíssemos e completássemos um ao outro; era mágico.

–Isso é loucura- eu disse, quando nossos lábios se afastaram.

–Eu sei- disse ele antes de nossos lábios se unirem novamente. Sonhos, imagens do futuro... Imaginei que isso fosse se passar em minha mente, assim como acontecera com Natan, mas não; naquele momento, não havia espeço, tempo, pessoas ou qualquer outra coisa. Aqui só estávamos nós e nós mesmos...

–Temos que ir- disse ele, após mais um longo beijo. Suas mãos estavam enroladas em meus cabelos, e embora ele dissesse isso, não fez nada para realizar o feito. Ainda estávamos ali, de pé, o sol entrando pela janela e os livros atrás de nós.

–É, eu tenho que preparar o almoço...- disse, enquanto meus dedos desenhavam o contorno de sua sobrancelha e seus dedos acariciavam meus cabelos. Nos afastamos relutantes, mas antes disso, ele deu um beijo longo em minha testa, ao mesmo tempo que seus dedos pareciam não querer soltar-se de meus cabelos.

–_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-

–Ei, ei! Atrasada- disse Meg, enquanto entrei apressada pela cozinha. Eles já estavam a todo o vapor, e eu ainda estava tentando – sem sucesso – prender meu cabelo em um coque. Darcy então me puxou para um canto e me sentou em um banquinho, já separando meus cabelos e os arrumando em uma trança.

–Precisa disfarçar! Se se atrasar ou se demonstrar abalada sempre que uma coisa ruim atinge a família real, eles vão... Meu Deus, Katie! Quantos nós! O que houve?!

Senti-me corar, mas um sorriso passou pelo meu rosto. Senti novamente os lábios de Conor nos meus e a ternura dos mesmos em minha testa. Suspirei. Nesse momento, ela prendeu o elástico e se agachou em minha frente, o rosto com uma expressão conspiratória. Apesar do cabelo ruivo, o rosto dela não lembrava em nada o de minha mãe. Mas ela não era feia; era apenas diferente. Tinha um nariz pequeno e delicado, lábios finos e uma boca pequena. Os olhos eram castanhos e miúdos, o rostinho todo delicado e pequeno, assim como o porte da própria Darcy.

–Uhm...- disse ela, logo depois se levantando e me jogando um avental. Só depois disso percebi que estava enrolando a pontinha da trança em meu de dedo.

Naquele dia, podia-se dizer que eu estava nas nuvens, em outro mundo. Estava distraída e avoada, e comentaram isso mais de uma vez.

Mais rápido que nas refeições anteriores, o dia passou. Logo, eu estava servindo o almoço. Quase derrubei alguns pratos e tinha sopa em meu avental inteiro. Não vi Conor no almoço, isso me perturbou, e o fato de eu me perturbar com isso me deixou ainda mais perturbada.

Isso seria possível? Eu estaria mesmo amando um rebelde? O que meus pais pensariam disso? Eu seria apoiada ou não?

Percebi novamente que alguém me encarava, mas ignorei a sensação. Lembrei-me de um assunto que me incomodou muito, e fiz a pergunta para Darcy enquanto comíamos.

–Quando posso tomar banho?- perguntei. Ela engoliu um pedaço de cenoura e se voltou para mim.

–Logo depois que terminarmos –disse ela, continuando logo depois.

–Pode ir comigo, eu te mostro onde.

–Não há mesmo um chuveiro, estou certa?

–Certíssima, tomamos banhos no rio- disse ela.

–Não é perigoso sermos... Observadas?

–Não, aqui tomar banhos de rio é normal. Algumas pessoas tomam conta dos arredores só por rotina, mas na verdade há muito respeito entre homens e mulheres nessa questão por aqui...- disse ela, dando mais uma garfada.

Tentei me acalmar com isso, mas não adiantou de muita coisa.

–_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-

O rio era uma bagunça de sons e imagens. As mulheres não se importavam em arrancar suas roupas e deixar sua anatomia à mostra. Eu, por outro lado, me encontrava acanhada e com a toalha apertada contra meu peito – ainda coberto por roupas. Ao meu lado, Darcy começava a despir-se.

–Vamos Katie, não vai ter outra chance hoje. Acredite, esse é um dos horários mais calmos.

Refleti bastante se não era melhor feder um pouquinho a me sentir exposta, mas uma hora ou outra, meu cheiro ia me vencer. Era melhor fazer isso agora do que quando eu fedesse como um esgoto.

Coloquei a toalha em uma grade feita para esse propósito e desfiz o nó de minha calça, mas não a tirei.

–Anda logo!- disse Darcy, puxando a minha calça até meus joelhos. Me encolhi no ato.

–EI!- disse, e ela achou graça, mas eu não, e dei um tapa na mão dela.

–Se você se importa tanto com isso, pode tomar banho mais acima, onde não há ninguém. Mas já lhe digo que não há ninguém que cuide daquela parte; qualquer um pode vê-la.

–É uma área muito... Visitada?

–Claro que não- disse ela, soltando os cabelos.

Pensei bem. Era, com toda a certeza, bem mais seguro eu ficar aqui. Mas, segundo ela, não havia respeito entre homens e mulheres nos assuntos de banho? Mas tive um mal pressentimento e decidi entrar ali mesmo.

–Certo, tomo banho aqui. Mas com as roupas debaixo.

–Acredite, não precisa disso. Ninguém vai reparar em você- disse ela, dobrando as roupas sujas e se aproximando de mim, soltando meus cabelos.

–Mas me sentirei mais confortável- disse.

–Uhm, certo- disse ela, me puxando para o rio. Eu fiquei parada nas margens pelos primeiros segundos, as pernas juntas e os braços com o sabonete e shampoo contra o peito. Me sentia muito tensa, mas, de fato, ninguém reparou em mim. Fui andando pelas margens até achar um lugar um pouco mais calmo, onde me sentei em uma pedra submersa e comecei a me lavar. A água era extremamente fria e clara, mas me senti limpa como nunca.

Não demorei mais do que precisava e logo já me secava e trocava de roupas, olhando sempre ao redor. Logo depois, voltei para a cozinha, mas Meg me disse que a janta não era parte de meu serviço, que eu não havia sido escalada para aquela noite. Não posso descrever o alívio que foi sair da cozinha com aquela notícia. Eu estava andando por uma pequena rua quando vi Conor, que conversava com uma senhora. Parecia que ela precisava de alguma coisa e ele a iria ajudá-la. Quando me viu, ele sorriu, conversou mais um pouco e pediu licença, vindo até mim. Ele pegou minhas mãos e me puxou de novo para uma parte mais discreta da ruazinha, um cantinho discreto. Logo que chegamos lá, ele tocou meu rosto. Só então percebi o quão próximos estávamos.

–Pensei em você o dia todo- disse ele, o rosto muito próximo do meu.

–Também pensei em você... Muito- disse, as mãos já em seu pescoço e em seu rosto quando nos beijamos. Foi um beijo mais forte dessa vez; era mais voraz, mais intenso e rápido. Imagino que seja como um beijo de um marinheiro e de uma donzela que esperou por anos enquanto ele estava no mar... Cheio de saudade, amor e...

–Conor...- ouvi a voz de uma senhora interrompendo meus pensamentos e nosso beijo. Nossos lábios se desenlaçaram no mesmo instante, ambos assustados e surpresos. Por sorte, ela o chamava de um lugar onde não nos podia ver; da entrada da rua. Ele me olhou nos olhos, e senti que assim como eu, ele não queria que aquele momento terminasse assim. Mas entendi também que eu deveria ficar ali até que eles saíssem.

–Um minuto, senhora Tuíde- gritou ele, e antes de sair, me deu mais um beijo rápido e falou baixinho ao pé de meu ouvido, com a voz sedosa e melodiosa:

–Nos vemos no jantar...

Logo, soltou-se de mim e andou até a senhora, e eu, atordoada e enfeitiçada por ele, por nós, demorei um pouco para me recuperar. Levei o dorso da mão à boca e sorri e ri, feliz. Havia achado o amor. A partir daí, soube que nunca mais viveria sem ele, sem Conor. Saí do cantinho andando em nuvens, mas me senti sendo atingida como uma bomba quando vejo David, os olhos azuis e sugestivos, me encarando na esquina da rua. Ele sorriu de maneira irônica e sarcástica, mas maldosa. Ele havia visto Conor e agora me vira. Sabia de tudo. Seus olhos sorriam tanto quanto seus lábios, e ele me olhava de cima a baixo. Logo depois, olhou na direção que Conor seguiu.

–Isso explica muita coisa... É muito... Interessante saber disso...

Então ele se aproximou mais de vinte metros em dois segundos e me prendeu contra a parede. Senti meus ombros se encolherem. Quando ele chegou bem perto. Ele sorriu daquela maneira nojenta que ele sempre fazia, e senti seu hálito quente e fétido quando estava tão próximo de mim. Ele segurava meu braço com muita força. Então me dei conta de que era ele quem me seguia e me observava, me deixando desconfortável a todo momento. Ele chegou mais perto e eu virei o rosto.

–Não se preocupe Princesa... Seus segredos estão a salvo comigo... Por enquanto.

Dizendo isso, ele me deixou sem ar e senti meu peito queimar e meu estômago se contorcer. Logo, ele soltou meu braço e saiu andando.

Ele sabe. Sabe muito. Sabe tudo.


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