Cartas que nunca vou te entregar escrita por penelope_bloom


Capítulo 3
Cinco Segundos


Notas iniciais do capítulo

Um dia, eu juro que vai dar certo.



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CINCO SEGUNDOS

Ele andava distraído, pagava sua passagem com calma e girava a catraca do ônibus naquela manhã chuvosa de Curitiba. Nunca tinha encarnado em Curitiba. Não, ele não sabia de como costumavam ser suas outras vidas. Afinal garoto ali de cabelo preto não acredita nessas coisas. Ele é ateu.

Olha! Ela veio correndo, preocupada com o horário do ônibus. Nem viu que sua blusa está virada do avesso. As vidas se passam, mas ela continua destrambelhada. Ela acabou de pisar numa poça e vai acabar ficando resfriada por causa disso. Pragueja mentalmente, mas está absorvida com o fato de a porta do ônibus estar se fechando.

Não, sinto muito. Não adianta você torcer, ele não vai segurar a porta do ônibus pra ela. A porta vai fechar. Ele dentro, ela fora.

Parece que também não ser nessa vida que esses dois vão finalmente se acertar. Não vai ser nessa vida que ela finalmente vai poder abraçar ele.

Ali, separados por aquele vidro sujo de ônibus ele vai olhar para ela. Simplesmente olhar, analisar seu rosto vermelho de correr, se perguntar se deveria ter segurado a porta e dar de ombros.

Vai notar que sua camiseta está ao contrário.

Vai trata-la com indiferença, assim como em todas as outras vidas.

Ela vai ficar brava, mais vermelha do que já está.

“O que custava esse imbecil ter segurado a porta?!” ela vai pensar revoltosa.

E assim o ônibus vai embora.

Por causa de cinco segundos.

Depois de muitas vidas, encontros, enlaces, os dois se encontraram nessa vida, idades certas, momentos certos, os dois normais e emocionalmente preparados para se encontrarem. E quase deu certo. Por causa de cinco segundos, ela não entrou no ônibus. E por causa desses cinco segundos deu tudo errado.

Por cinco segundos, ela não se sentou ao lado dele.

Por cinco segundos, não puxaram assunto e discutiram sobre algo em que certamente discordariam.

Por cinco segundos, ele não disse a ela que sua camiseta estava do avesso, fazendo-a ficar mortificada de vergonha.

Por cinco segundos, ela não perguntou nome dele.

Por cinco segundos, ela não olhou melhor nos olhos dele e reconheceu aquele verde que ela conhecia há tantas vidas.

Por cinco segundos, ele não perguntou o nome dela, e por um impulso estranho anotou seu número de telefone.

Por cinco segundos, eles não sentiram a necessidade de continuar um do lado do outro.

Por cinco segundos, ela não presenciou quando ele finalmente estava ali, pronto para sentir algo por ela, como qualquer outro homem.

Por cinco segundos, eles não tiveram a vida que em tantas outras vidas desejaram.

Por cinco segundos, ela perdeu a oportunidade de, finalmente, abraçá-lo.

E enquanto ela se abrigava da chuva em baixo do ponto de ônibus, e ele sentava-se no banco duro os dois sentiram algo estranho. Frustração? Suas almas não tinham se encontrado depois de tanto tempo.

Mas foi algo rápido. O mal estar durou apenas uns cinco segundos.


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