Herdeira do Trono - Parte I escrita por NandaHerades


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Espero que gostem desse novo capítulo...
Beijos.

Nanda Herades



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Cheguei à lanchonete meia hora atrasada. Meu tio não disse nada, ele apenas me mandou ir para a cozinha e limpar o chão. Fui e comecei o trabalho árduo de toda segunda-feira. Os outros funcionários corriam para atender a fila de clientes que se formava. Quando terminei com a limpeza fui servir as mesas. A rotina era sempre a mesma, chegar perto do cliente, anotar o pedido e levar para a cozinha, depois buscar o pedido pronto e levar para o cliente faminto e muitas vezes mal educado. Fiz isso umas 50 vezes incansavelmente. Até que fiquei cansada e resolvi parar um pouco.

— Sara, estamos lotados hoje — a outra garçonete me alertou.

— Eu sei, mas estou cansada — falei.

— Sim, mas não consigo atender sozinha — ela disse enquanto olhava nervosa para os clientes enfurecidos com a demora — Por favor... Acabou de chegar um cliente, vá atendê-lo!

Eu fui. Peguei o bloco onde anotava os pedidos e fui atender o cliente que acabara de chegar. Ele olhou para mim e sorriu. Eu sorri de volta. O cliente me observava sem falar nada, sem nem manifestar o desejo de pedir alguma coisa e eu fiquei parada, não conseguia perguntar o que ele queria. Os olhos dele me surpreenderam, eram pretos, pretos de verdade, como se sua pupila estivesse dilatada o tempo todo. E seus braços eram tomados por tatuagens do tipo tribal. Ficamos naquele transe por alguns segundos.

— O que deseja? — perguntei formalmente.

Você, eu ouvi uma voz dentro de minha cabeça. É claro que aquilo era uma alucinação, minha mente me pregando uma peça.

—Um milk shake de morango e uma porção de batata frita — ele disse e me assustei com o fato da voz dele ser exatamente igual com a que ouvi na minha mente.

— Apenas isso? — perguntei enquanto anotava o pedido.

— Sim — ele falou e eu me virei — Por enquanto — eu o ouvi dizer quando eu estava distante o suficiente.

— Um milk shake de morango e uma porção de batata — gritei para o cozinheiro que já estava muito atarefado. Voltei a olhar para o cliente e vi que ele também me encarava, encarava descaradamente. Fiquei com vergonha por estar sendo tão observada. O que aquele homem queria de mim? Dei um sorriso envergonhado para ver se ele parava de olhar para mim, mas isso não adiantou, pelo contrário ele me encarou mais e começou a falar alguma coisa.

—Você vai ser minha — eu não o ouvi dizer, mas a leitura labial que fiz deu a entender que ele disse isso. Fiquei paralisada. O que significava aquilo? Quem era aquele homem? Fiquei com medo e comecei a pensar se não era ele quem me perseguia mais cedo.

— O pedido está pronto — o cozinheiro disse, mas eu não ouvi — Sara, o pedido está pronto.

Olhei para trás e peguei a bandeja com o pedido. Minhas pernas tremiam, eu estava com medo daquele cliente misterioso. Não queria servir ele, olhei para o lado e vi minha colega parada esperando por algum cliente.

— Amanda — a chamei — Você pode servir o cliente da mesa sete?

Ela assentiu e pegou a bandeja, mas imediatamente parou.

— Não tem ninguém naquela mesa, Sara — ela falou e olhei para a mesa que estava vazia como se ela sempre estivesse assim.

Voltei apreensiva para casa, eu rezava para que aquilo tudo fosse apenas uma alucinação. Primeiro eu sou perseguida no centro da cidade por um homem suspeito, depois esse mesmo homem aparece no meu trabalho e diz que vou ser dele. Que tipo de brincadeira é essa? Parece que estou em alguma pegadinha sem graça da TV, por favor, câmeras apareçam e me livrem desse pesadelo. Pesadelo? Ainda havia aquele velho pesadelo voltando e o anjo me dizendo para me proteger. O que estava acontecendo? Cheguei em casa e assim que passei pela porta um cachorro veio para meus pés, não entendi aquilo, não tínhamos cachorros.

— Filha, que bom que chegou — minha mãe veio até mim e beijou minha testa — Como foi o trabalho?

Uma bosta pensei em dizer, mas isso não seria agradável.

— Foi bem — respondi — Quem é esse? — apontei para o cachorro que puxava a barra da minha calça.

— Essa. Você quis dizer — minha mãe a pegou no colo e acariciou a cabeça do animal — Essa é a Vênus. Achei-a na rua, a coitadinha me seguiu até aqui, não tive como deixa-la abandonada.

— Mãe, mas a senhora sabe que não temos como cuidar de um animalzinho — eu disse, mas logo me rendi a graciosidade da cadela que lambia minha mão.

— Ela fica só até eu encontrar um lar melhor para ela — mamãe disse, eu sorri como resposta.

Fui para o quarto. Estava muito cansada, minha mente não conseguia esquecer aquele estranho, ele me assustava. Pensando nele eu tinha vontade de fugir, como se ele fosse perigoso, como se quisesse me matar ou fazer algo pior. Mas o que seria pior que a morte? Eu não queria descobrir. Tomei um banho rápido e deitei na cama. Até o sono me assustava, tinha pavor só de pensar nos pesadelos. Sempre achei que eles fossem consequência da vida no orfanato, da tristeza que eu sentia naquele lugar, mas com o retorno deles não podia dizer o mesmo.

Minha colega de quarto dormia na cama de cima. Eu não pegava no sono com facilidade. Resolvi levantar para tomar um copo d’água, mas assim que passei pelo corredor vi que a cozinha estava destruída e centenas de corpos mutilados estavam jogados no espaço. Gritei baixinho. Do lado de fora eu vi que uma guerra acontecia, o barulho dos tiros e bombas tomava conta da atmosfera. Eu corri, mas um homem me segurou. Ele era alto e tinha fogo nas asas, nos braços as tatuagens brilhavam em um tom de vermelho. Ele apertou o meu braço e me encarou com os olhos pretos mais horríveis que vi na vida.

— Venha comigo — ele disse com um tom de ódio na voz. Eu não tinha como recusar, afinal ele estava segurando meu braço e eu era apenas uma garota de treze anos. Ele estava andando em direção a um buraco de fogo que se formava no meio do jardim do orfanato, eu gritava para ele me soltar.

— Não — gritei, mas ele me atirou para dentro do grande buraco. Caí sem rumo, não conseguia ver nada abaixo dos meus pés. Senti alguém me segurando.

Um anjo me agarrou antes que eu chegasse ao fim daquele buraco. Ele me colocou no chão. As lágrimas caíram, tentei encarar o meu salvador, mas ele me impediu de olhar seu rosto.

— Não olhe para meus olhos — ele disse. Olhei para baixo e continuei a chorar.

— Estou com medo — falei entre as lágrimas.

— Eu vou te proteger, Saraí — ele falou e desapareceu.

Saí do pesadelo e percebi que eu estava tremendo. Olhei para o relógio no criado mudo e vi que eram três da madrugada, sentei-me na cama e tentei me acalmar. Fui ao banheiro e lavei o rosto. Lembrei-me de trechos do pesadelo e percebi que o homem que me perseguia estava lá, eu não conseguia mais definir o que era realidade e o que era sonho. Voltei para o quarto e tomei um susto com a janela que estava escancarada, fui até ela e olhei para fora.

No jardim da minha casa um homem olhava diretamente para meu quarto. Eu sabia quem era, era o meu perseguidor. Mesmo na escuridão da madrugada eu conseguia enxergar os olhos dele, os olhos mais negros e assustadores que eu já vi. Dei passos para trás e fechei a janela como se aquilo fosse um meio de me proteger. Olhei para minha cama e vi um papel amassado sobre meu travesseiro, meu coração acelerou. Abri o papel e li a mensagem.

THAYKLE MORTELS NTHIZ

Eu não entendia aquelas palavras, fiquei com mais medo ainda. Amassei o papel novamente e guardei dentro da gaveta do criado mudo. Resolvi deitar e tentar esquecer tudo aquilo. Eu estava quase dormindo quando ouvi algo arranhar a porta do meu quarto, com medo levantei-me e peguei o guarda chuva dentro do armário. Abri a porta rapidamente e não havia nada lá, apenas Vênus, era ela quem arranhava a porta e chorava. Ela correu e deitou no tapete ao lado da minha cama.

— Pelo menos terei uma companhia — eu falei como se ela pudesse entender.

Fechei a porta e deitei de novo. Olhei para a cadelinha que dormia tranquilamente e pensei se algum dia teria isso também. Dormir sem me preocupar com pesadelos ou homens que me perseguem. Tive uma leve sensação de que aquilo iria continuar por um bom tempo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada!
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