Em algum apartamento, em alguma cidade, de algum país, de algum continente, de algum planetinha qualquer, eu me encontrava.

O dia lá fora está nublado e frio. De nada me interessa. Em um dos poucos cômodos, a luz dourada das lâmpadas comuns foram trocadas pela beleza incomum das luzes negras. Bugigangas brilhantes espalhadas por todo lugar. Luzes de natal esparramadas pelas paredes. Fotografias antigas presas no espelho. Um milhar de psicodelias flutuando pelo ar.

Deitado na cama, tomo um ultimo gole do meu copo. Garrafas vazias, caixas de pizza, embalagens diversas e maços antigos eram resquícios das eras milenares em que passei no quarto, acumulando-se pelo local todo. Quantos dias? Ou meses? Ou anos?

Bom, novamente digo: de nada me interessa.

Espere... Houve... Houve uma vez... Em que eu saí do isolamento do qual me cerquei. Não me pergunte quando foi, estaria fritando todos os meus neurônios com esses questionamentos.

Havia luz lá, mais do que eu desejava, e bebida e comida. E pessoas. Difícil saber o que era mais desprezível naquele momento: eu ou os outros. Enfim, me lembro de estar próximo de um balcão, eu estava um tanto cabisbaixo. Se não me engano, pensava no sentido (de forma muito subjetiva) da minha vida. Pensava nos amigos falsos, nas minhas falhas, no meu futuro, emprego, família, sociedade, nos idiotas... Inebriante e entediante.

No entanto, a resposta de tudo veio de uma maneira bastante inusitada: cabelos e olhos castanhos. Pouco mais baixa que eu. Sorriso alegre e expressão sóbria. Uma vibração deliciosamente positiva e inclinações brincalhonas.

Em algum momento, depois de uma boa conversa, nós dois estávamos numa rua deserta. Os postes nos iluminavam. A mais alta hora da madrugada.

O seu mais terno olhar.

O meu mais suave carinho.

O nosso mais ardente beijo. Dançamos juntos num mundo solitário.

O quarto isolado reclamava minha alma. Afinal, ainda sou um servo do império da reflexão. Uma vida inteira sob a servidão do “hoje”.

Com a cabeça encostada em meu ombro e com o corpo aninhado ao meu, sob as cobertas, sei que não carrego mais o fardo sozinho. Sei que você está comigo. Sei que você ficará comigo. Dentro do quarto, nos perdemos no tempo. Aguardamos a eternidade.

“All the double-edged people into schemes, they make a mess, then go home and get clean. You're my best friend and we're dancing in a world alone, a world alone, we're all alone.

But people are talking, people are talking;

Let 'em talk.”