Afinal, somos todos mutantes. escrita por mooncandy


Capítulo 8
O Tarado do Corredor




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/631341/chapter/8

Eu estou nesse colégio há 3 dias e só consegui causar confusão.

Recapitulando: Primeiro desliguei todo o bloqueio de poder e causei uma mega confusão com a diretora. Depois fiz a maior besteira beijando o Ken e o Nathaniel quase pegou a gente no flagra.

E por terceiro? Bom, hoje de manhã quando fomos tomar café da manhã eu esbarrei em um cara de cabelos vermelhos, que eu ainda não descobri o nome, e derrubei todo o meu café quente nele.

Agora nós estamos na enfermaria porque eu me queimei. Ele também se queimou, mas se recusou a passar qualquer remédio, dizendo que não precisava dessas frescuras. Eu fingi que não percebi que ele me chamou de fresca.

Rosa até se ofereceu para vir aqui comigo, mas a diretora, de novo, chamou nossa atenção e obrigou o cara a vir junto.

— Moça? - A enfermeira chama a minha atenção.

— Hã?

— O seu nome, qual é?

— Ah, é Aurora, Aurora Blanc.

— O que? - O cara do cabelo vermelho me encara.

— Que foi? Algum problema?

— Não, nenhum. - Ele diz levantando as mãos na altura da cabeça.

— Então não enche.

— Escuta aqui, até onde eu sei, se você não tivesse derrubado o café em mim, eu não precisaria estar aqui com você, então não enche você.

— Ei! - A enfermeira chama nossa atenção - Parem com isso. Deixa eu ver sua mão.

Estico meu braço na direção dela enquanto viro meu rosto na direção do rapaz. Ele não tira os olhos de mim, que irritante.

— Castiel. - A mulher fala - Você pega aquela caixa azul em cima da minha mesa por favor?

— O que vou ganhar com isso? - Ele sorri malicioso.

Acho que já estou entendendo o que rola entre esses dois aqui.

— Um muito obrigada. Pega logo. - Ela quase o fuzila com o olhar.

Ele pega a caixa e a entrega para a enfermeira.

— Vai arder um pouco. - Ela fala enquanto pinga um líquido azulado na queimadura.

Dói um pouco na hora mas depois passa, ela enrola uma faixa na minha mão e me libera em seguida.

— Qualquer coisa é só voltar aqui. - Ela sorri.

— Ok - Digo fechando a porta.

O ruivo não para de me encarar. Será que ele não percebeu que eu não quero papo?

— Perdeu alguma coisa aqui?

Ele ri. Ele até que fica bonito sorrindo.

Aurora! Foco! Não da mole pra um cara que você nem conhece.

— Como é seu nome mesmo? Flora? Dora?

— Não te interessa.

Ele segura o meu braço e me vira para ele.

— Você ta muito irritadinha pro meu gosto. - Ele sorri aproximando seu rosto do meu - Quer que eu te acalme?

Seus olhos param nos meus. Meu coração acelera e meu rosto queima. Devo estar parecendo um pimentão.

— Me solta seu tarado! - Grito me soltando dele - Vai acalmar sua vó!

Saio correndo pelo corredor e vou na direção das salas de aula. A minha é a sala B.

Bato na porta e um homem alto de cabelos pretos abre.

— Pois não?

— Eu sou Aurora, vim da enfermaria. - Mostro minha mão para ele.

— Aurora... Ah sim, me falaram de você, pode entrar. Não tinha mais um com você?

— O ruivo? Acho que é Castiel o nome dele. Ele já chega.

O professor abre a porta e me apresenta para a turma.

— Pessoal! - Todos estão conversando - Pessoal!

Eles olham para a frente.

— Essa é Aurora, aluna nova. Ela vai estudar com vocês a partir de agora. - Ele abaixa o tom de voz - Eu sou Noir, professor de biologia, especializado em mutação. Pode escolher seu lugar.

Olho para a frente e vejo a Rosa acenando para mim no fundo da sala. Enquanto vou até ela sinto o olhar das outras pessoas me metralhando por trás.

— Amiga, guardei um lugar pra você. Como ta a mão? - Ela tira a bolsa de cima da cadeira para eu me sentar.

— Ta boa. - Digo me sentando.

— Então essa é a Aurora. - O garoto na frente de Rosalya se vira.

— Aurora, esse é o Alexy. Alexy, essa é a Aurora - Ela nos apresenta.

— Prazer em te conhecer, Alexy. Gostei do cabelo. - Digo, fazendo ele sorrir.

— Vamos parar de conversar aí atrás?! - O professor grita.

— Desculpa professorzinho, pode continuar! - Rosa faz um coração com as mãos.

— Claro que posso Rosalya. Então, vamos continuar de onde paramos na semana passada, alguém se lembra sobre o que falamos?

— Sobre a mutação corporal externa, professor. - É a voz do Nathaniel, ele senta na frente, não sei como não o vi antes.

— Exatamente, Nathaniel. Alguém pode me dar um exemplo?

Quando uma garota levanta a mão para responder a porta da sala se abre.

O tarado do corredor entra e vai direto para o seu lugar.

— Bom dia pra você também, Castiel. Já que você interrompeu a aula, que tal nos dar um exemplo de mutação corporal externa?

Ele senta e olha para a turma inteira. Seus olhos param em mim. Um sorriso surge no seu rosto.

Droga Aurora, se controla, não fica vermelha. Tarde demais.

— Ela. - Ele aponta para mim.

— Como? - Acho que o professor está mais confuso do que eu.

— As bochechas ficaram vermelhas, mutação corporal externa. - Ele explica colocando os braços atrás da cabeça e apoiando os pés na mesa.

Meu Deus, que vergonha. São nesses momentos que eu queria ter um portal para Nárnia na minha mochila.

— Não sei se isso se encaixa no perfil de uma mutação, Castiel, mas obrigada pela colaboração. - Ele diz arregaçando as mangas da camisa - Muito bem, como disse na aula passada...

Começo a prestar atenção nos outros alunos da sala mas não consigo desviar o olhar quando chego no Ken. Eu não tinha nem visto ele quando entrei.

Ele percebe que estou olhando e acena para mim. Como ele pode agir tão naturalmente depois do que aconteceu ontem?

Sorrio e aceno, tentando parecer normal.

— Alguma dúvida, Aurora?

Muito bem Aurora, conseguiu chamar a atenção de novo.

— Não, nenhuma.

— Você não prefere sentar aqui na frente? Esse conteúdo é difícil e acho que você deveria prestar atenção.

Não. Não quero. Prefiro ficar aqui.

Pena que eu não tenho opção.

— Tudo bem. - Me levanto e sento na cadeira ao lado do Nathaniel.

— Oi. - Ele diz.

— Oi.

— Você ta bem? Parece meio preocupada.

— To bem. - Sorrio. Parece que ele não se lembra mesmo do que aconteceu ontem.

Passei as três primeiras aulas, que eram com o Noir, tentando focar na matéria, mas a cena de ontem de noite não para de passar na minha cabeça.

Agora está na hora do intervalo, e eu, Rosa e Alexy estamos na cantina para pegar nossos lanches.

— Vamos sentar lá fora, ta sol hoje. - Rosa fala.

— Ah querida, você acha mesmo que o meu irmão vai querer sentar lá no meio do mato? Nunca. - Alexy diz enquanto come um pedaço de uma maçã.

— Azar o dele. Eu e a Aurora vamos lá, não vamos?

— Pode ser.

Ela cerra os olhos para mim.

— É impressão minha, ou você ta meio pra baixo hoje?

— É dor de cabeça, só isso.

— Sei. - Ela soa desconfiada.

Andamos até o pátio e sentamos em um dos bancos ao lado do jardim.

— Odeio sol, odeio mato, odeio insetos! Por que vocês sentaram aqui hoje? Lá dentro é tão melhor.

— Para de encher o saco e senta Armin. - Alexy resmunga.

— Quem é essa? - O garoto pergunta.

— Onde você tava quando o professor apresentou ela pra gente? - Rosa fala.

— Devia estar jogando Lol ou sei lá o que. - Alexy diz, enquanto digita alguma coisa no seu celular.

— Meu nome é Aurora. Sou a aluna nova.

— Seja muito bem vinda, Aurora. Se precisar de alguém pra te mostrar o colégio, é só me chamar. - Ele pisca o olho para mim.

— Menos né, Armin? Eu já fiz isso. - Rosa olha para os lados - Vocês viram as meninas?

— To mandando uma mensagem pra elas agora. - Alexy fala.

— Que meninas? - Pergunto.

— Elas. - Rosa aponta para uma garota ruiva e outra de cabelos roxos.

— Oi gente! - A ruiva fala - Você é a Aurora, né?

— Eu mesma. - Sorrio.

— Meu nome é Íris, e essa é a Violette.

— Oi. - Ela me olha mas logo desloca o olhar para alguma coisa acima de mim.

— Oi. - Digo.

Um breve e constrangedor momento de silêncio surge entre nós. Até que uma voz brota bem perto do meu pescoço.

— Oi Aurora.

Meu corpo paralisa e eu engasgo com o suco.

Disfarça, Aurora. Disfarça.

— Que susto, Ken! - Digo, limpando a garganta.

Rosa parece perplexa.

— Vocês já se conhecem?

— É uma longa história. - Falo.

— Que bom que temos bastante tempo. - Ela fala - Conta tudo.

Deixo Ken falar enquanto saio para ir no banheiro. Não pode ser que o que aconteceu ontem não tenha significado nada para ele. Essa atitude dele está muito estranha.

Quando estou prestes a entrar no banheiro a diretora me chama.

— Senhorita! Preciso falar com você. Apareça na minha sala em cinco minutos.

Para variar ela parece irritada.

— Posso usar o banheiro primeiro?

— CINCO MINUTOS!

— Ta, já entendi.

Depois de sair do banheiro aviso a Rosa que vou na sala da diretora e sigo direto para lá.

Bato na porta e ela abre imediatamente.

— Está atrasada. Entre.

— Com licença. - Entro na sala.

— Sente-se. Você imagina o motivo de eu te chamar aqui?

Balanço a cabeça em sinal negativo.

— Os resultados do seu teste de nível de poder saíram. - Ela tira os óculos e esfrega os olhos - Eu geralmente os entrego para o aluno na sala de aula, mas o seu caso é diferente.

— Mas o teste não saía em uma semana?

— Sim, mas nós atualizamos o nosso sistema. Preste atenção, Aurora. Em todos os anos da história desse colégio pouquíssimos casos como o seu foram registrados. Você é uma mutante nível ômega.

— E o que isso quer dizer?

— Você é muito poderosa. - Ela diz isso com certa alegria na voz - Seus poderes ainda não foram aprimorados, mas com tempo e muito treino puxado, você pode se tornar uma pessoa muito poderosa!

— Poderosa? - Sussurro olhando para baixo.

— Sim! Ah, Aurora, você não tem noção do poder que tem nas mãos. Você não acha isso maravilhoso?! - Ela se levanta da cadeira.

— Não! - Digo, com vontade de chorar - E se eu não quiser tudo isso? Você nem me perguntou como eu me sinto a respeito disso! Eu vim aqui para aprender a controlar meus poderes, não para me tornar super poderosa!

Parece que ela levou um balde de água fria na cara.

— Se você me dá licença, eu vou voltar para a minha aula.

— Espere! - Ela corre na minha direção - Creio que eu tenha me exaltado um pouco, volte e sente-se, por favor.

— Eu acho que você não entendeu. - Me viro para ela - Eu não quero ser poderosa. Eu quero aprender a me controlar, só isso.

— Tudo bem. Se é isso que você quer, quem sou eu para julgar, não é mesmo? Mas vou logo avisando: Com a quantidade de poder presente no seu corpo, eu duvido muito que você não sinta a necessidade de utilizá-los no dia-a-dia.

— Bom, se isso acontecer, problema meu. Com licença.

Saio da sala sem olhar para trás e corro para a aula.

Não sei da onde tirei essa coragem toda para falar com a diretora assim, mas ela estava agindo de um jeito muito estranho. Achei melhor ficar na defensiva com ela.

Antes de voltar para a classe entro no banheiro para jogar uma água no rosto.

Entro em um dos boxes para tirar a faixa da mão e escuto a porta do banheiro se abrindo.

— Ei, Castiel! O que aconteceu? A professora não gostou de você ter saído da sala desse jeito. - Um rapaz fala.

MEU DEUS.

Entrei no banheiro errado. Mas também, que tipo de banheiro masculino não tem mictórios?

— E por que você veio atrás de mim, Lysandre? Você odeia perder aula.

— Ela me pediu pra vir aqui. Você sabe, pra ver se você não faria nenhuma burrada.

— Que saco! Eu odeio que fiquem me controlando! Ainda mais aquela professora velha!

— Ei! Calma aí! O que aconteceu pra você ficar assim? - Ele para por um instante - É... É por causa da Debrah?

Depois de quase um minuto ele responde.

— Se você quer saber, é, é sim. Ontem de noite, quando saí do quarto, ela apareceu no corredor.

— Apareceu como?

— Era ela. De verdade. Eu sabia que tinha acontecido alguma coisa. Lysandre, ela falou comigo, disse que precisa de ajuda.

— Castiel...

— Escuta. Ela falou sobre uma tal de Aurora. Que só ela pode ajudar.

Eu? Aurora Blanc? O que eu tenho a ver com essa garota? E mais importante, como eu posso ajudar alguém que eu nem conheço?

— Eu falei com ela ontem, quando fui atrás de você. Mas como ela pode ajudar? A Debrah nem a conhecia.

— Não sei, por isso tenho que me aproximar dela.

— Olha Castiel, eu não sei mesmo o que dizer.

— Vamos pra sala. Já estou melhor. Depois falamos sobre isso, aqui não é seguro.

Ouço a porta batendo e saio do box. Corro para o banheiro feminino e me encaro no espelho.

O que eu tenho a ver com essa garota? Logo eu que sou nova no colégio, isso não faz sentido.

Não sei o que esse cara pretende fazer comigo, mas ele vai descobrir que eu não estou nem um pouco disposta a colaborar com qualquer coisa que ele inventar.

Decido não ir para a sala de aula, não tenho cabeça para 3 aulas de química. A diretora deveria rever esses horários, são muitas aulas seguidas.

Ando pelo corredor e vou até o pátio. Sento em um dos bancos onde nós lanchamos no intervalo e pego o meu celular. Tenho algumas mensagens para responder, uma da minha mãe, outras de uns amigos e um e-mail do colégio.

Sim, o colégio manda e-mails para os alunos, avisando datas de algumas coisas e não sei mais o que, eles falam que é para economizar papel.

Respondo minha mãe e meus amigos, e logo depois entro no e-mail do colégio.

"Nossa mais nova parceria! Instituto Neurológico de Paris..."

Pulo o texto e abro uma das imagens.

É uma sala. Branca. Com uma porta sem maçaneta. E com uma maca de metal.

A mesma sala que eu vi nos sonhos.

A mesma, idêntica.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Afinal, somos todos mutantes." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.