Afinal, somos todos mutantes. escrita por mooncandy


Capítulo 3
Colégio novo, vida nova


Notas iniciais do capítulo

Gente, os primeiros capítulos serão mais para a apresentação dos personagens e da escola em geral. Provavelmente a partir do 5º capítulo que a história vai começar a tomar forma. Enfim, aí vai o 2º cap. Espero que gostem.



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Não dormi a noite inteira. Só de pensar que em dois dias não estarei mais aqui, com a minha família, me bate um desespero. Eu nunca quis ir para esse colégio, mas eu não tenho escolha, já que eles eles são os únicos que podem me ajudar.

Pego o meu celular para ver o horário, são quatro da manhã. Dou um longo suspiro e sento na cama silenciosamente para não acordar a minha irmã Laura, de nove anos, que divide quarto comigo. Pelo menos agora o sonho dela de ter um quarto só para ela vai se realizar, da pior maneira, mas vai.

Levanto sem nem me importar de calçar as minhas pantufas e vou em direção ao banheiro que fica no final do corredor. Fico observando todos os detalhes da nossa casa quando começo a ficar tonta. A cada passo que dou a minha cabeça parece girar cada vez mais e sinto que estou começando a perder a consciência. Me encosto em uma das paredes e escorrego lentamente até o chão.

Não tenho forças para mover um músculo, muito menos vontade. Minha visão começa a ficar embaçada e, deitada ali no chão, finalmente me entrego para o sono que custou para me dominar.

(...)

Estou em uma sala completamente branca. Há uma garota deitada em uma maca de metal à minha esquerda. Há também uma porta do meu lado direito, ela não tem maçaneta, o que me impede de qualquer tentativa de sair desse lugar.

Percebo um leve movimento da menina, ela parece estar dormindo profundamente e seus longos cabelos brancos escorrem pelo seu corpo quase alcançando o chão. Ela é muito bonita, me pergunto o que ela está fazendo em um lugar desses.

Do nada, ouço duas vozes através da porta:

– O que faremos agora? - É uma voz grossa, parece um homem.

– Como eu vou saber? - Indaga uma voz feminina - Não foi ideia minha trazê- la até aqui. Não seria melhor falarmos com o chefe?

– Você está louca? E se ele descobrir que trouxemos a pessoa errada?

– Nós podemos matá-la. - Ela fala com a voz calma, como se já tivesse feito isso várias vezes antes.

De repente, ouço um barulho ensurdecedor, o que faz com que a garota acorde num pulo. Ela se senta na maca, agora eu posso ver que seus olhos são amarelos. Eu tento me mover mas parece que meus pés estão colados no chão.

– O que foi isso?! - Grita a mulher do outro lado da porta.

– Acho que ele ouviu a nossa conversa! Parabéns, agora quem vai morrer somos nós!

– VOCÊS ME TROUXERAM A MUTANTE ERRADA? - Exclama uma voz muito mais alta do que as outras.

– Chefe, nós não sabíamos... - O homem tenta se explicar.

– CALADOS! EU SABIA QUE NÃO PODIA CONFIAR EM VOCÊS, SEUS INCOMPETENTES!

Sinto uma forte pontada na cabeça e minha visão fica turva. A última coisa que me lembro é da porta sendo aberta com toda a força e da garota sendo arrastada para o lado de fora aos prantos por alguém que eu não consegui reconhecer.

(...)

Desperto com alguém cutucando meu braço.

– Filha? - Minha mãe parece preocupada - Ah, até que enfim você acordou.

– Eu... Ai! - Minha cabeça está latejando, como se alguma coisa extremamente forte a tivesse atingido em cheio. Estranho.

– Minha querida, como você veio parar aqui? - Ela diz colocando a mão na minha testa - Meu Deus! Você está ardendo em febre! Venha eu te ajudo a levantar.

Ela me segura pela cintura e passa meu braço esquerdo pelo pescoço dela. Minha mãe não é muito mais alta que eu, mas é bem mais forte.

Ela me leva até o quarto e me deita na cama delicadamente, sentando ao meu lado. A dor na cabeça está mais fraca agora e a temperatura parece estar baixando, mas isso é o que menos importa. Eu estou intrigada mesmo é com o sonho que tive há pouco. O que será que ele significa? Quem seriam as pessoas que estavam falando? Quem era a garota que estava deitada e o que eles pretendiam fazer com ela? São muitas perguntas para poucas respostas.

– O que aconteceu? - Ouço a voz sonolenta da minha irmã, quebrando a minha linha de pensamento - Já está na hora de levantar?

– Minha Nossa! - Minha mãe exclama - Que horas são?

– São... Seis horas. - Falo, um pouco incomodada pelo brilho repentino do celular nos meus olhos.

– Meninas levantem, eu vou acordar seu pai e pegar um remédio pra você, Aurora.

– Mas hoje é sábado. - Digo.

– Ah! Eu não avisei vocês? - Eu não tenho certeza se ela está falando isso pra nós ou para ela mesma.

– Avisou o que mãe? - Pergunto - Do que você está falando?

– Laura, você faz um favor pra mamãe?

Ela assentiu, se levantando da cama que fica na frente da minha e se aproximando para ouvir melhor.

– Você acorda o papai por favor?

– Tudo bem. - Ela sai do quarto com preguiça e segue para o corredor.

– Mãe... - Tento falar mas ela me interrompe.

– Aurora, eu sinto muito por não ter te contado antes. - Ela se levanta e vai na direção da janela para abrir a cortina - Nós recebemos uma ligação da diretora do seu novo colégio ontem. Ela nos perguntou se nós não preferíamos levar você hoje para o colégio, ao invés de segunda.

– O que? Mas por que isso agora? Não estava tudo certo para segunda?

– Sim, estava, mas ela disse que pelo seu histórico escolar seria melhor para você se acostumar se chegasse antes ao colégio, você sabe, para conhecer o lugar.

É verdade que quando eu era mais nova, eu encontrava uma grande dificuldade em socializar com as pessoas. Os médicos diziam que eu tinha dificuldades contextuais na hora de me relacionar com alguém. Mas isso quando eu tinha dez anos de idade. Eu já estou com dezesseis agora, e nunca mais apresentei nenhum problema.

Mas como eu não estou com vontade nenhuma de brigar com ninguém hoje, muito menos com a minha mãe, decido apenas aceitar e fazer o que ela me pediu.

– Ok então mãe, eu vou arrumar minhas coisas. Te vejo lá em baixo.

– Que bom que você entendeu filha. Ah! Quase me esqueci do seu remédio.

– Não precisa mais. - Digo, um pouco mais ríspida do que eu esperava, mas eu tenho meus motivos para estar com raiva.

– Certeza? - Ela soa apreensiva.

Faço que sim com a cabeça enquanto me levanto da cama. Vou arrumar minhas coisas o mais rápido possível para poder aproveitar as últimas horas que ainda tenho em casa.

– Voltei... Cadê a mamãe? - Laura entra no quarto.

– Ela foi preparar o café da manhã. - Digo, enquanto a puxo para um abraço.

– Você vai embora?

– Vou, mas eu prometo que volto. - Falo quase chorando - Você vai se comportar, não vai?

– Sim... Por que eu não posso ir com você?

– Porque você é muito pequena ainda, quando crescer entenderá.

Uma lágrima escorre pela minha bochecha e rapidamente eu a seco com a manga do pijama. Ela não podia me ver chorando. Não agora.

– Agora vá se arrumar. - Digo, dando um empurrão de leve no ombro dela.

– Ok.

(...)

Após me despedir de Laura e deixá-la na casa da tia Agatha, nós seguimos viagem para o meu futuro colégio: Internato Sweet Amoris para Jovens Superdotados.

Durmo quase a viagem inteira e acordo com o meu pai me chamando dizendo que estamos quase chegando. Pego um espelho que tenho na bolsa para ver o meu estado. Como eu não dormi quase nada de noite eu estava com duas olheiras enormes. Decido passar um corretivo que por sorte havia deixado ali, um pouco de rímel e de blush para dar um ar de saúde.

– Bom, é aqui. - Meu pai fala.

Abro a janela e coloco a cabeça para fora. Meu Deus! Que colégio enorme! Tenho certeza de que vou me perder lá dentro. Nos identificamos na portaria e passamos pelo gigantesco portão automático.

Descemos do carro e somos recebidos por uma garota de cabelos castanhos compridos, ondulado nas pontas e de olhos azuis. Ela diz que vai chamar o representante para nos atender. Entramos pela porta dupla de madeira e ficamos na recepção.

Aproveito o tempo que tenho ali para observar os detalhes daquele lindo lugar. Virada de frente para a porta eu conseguia observar uma mesa de madeira escura do lado esquerdo, provavelmente da recepcionista e um enorme candelabro de cristal acima da minha cabeça. Atrás de mim tem uma escada de mármore claro que contrasta com o tom escuro da mesa e das cadeiras, mas que combina perfeitamente com a cor nude das paredes.

Estou tão distraída que levo um susto quando ouço um barulho vindo da porta. Um garoto de cabelos loiros e olhos dourados aparece. Ele está ofegante.

– É... - Ele diz - Bom dia.

– Ah! Finalmente alguém pra nos atender! Você sabe há quanto tempo nós estamos esperando? - Minha mãe exclama, um pouco exageradamente.

– Carla! Oh, me desculpe pela grosseria de minha esposa, mas faz quase meia hora que nós estamos aqui.

Meia hora? Eu nem percebi o tempo passar.

– Não precisa se desculpar, eu entendo perfeitamente. - O garoto fala - Meu nome é Nathaniel Rousseau.

– Eu sou Roger e essa é a minha esposa Carla e nossa filha Aurora Blanc. - Eles se cumprimentam.

– Muito prazer. - Ele fala. Percebo que ele está me encarando, mas estou tão distraída com seus olhos cor de mel que nem me preocupo em desviar o olhar. Ele não é diferente dos outros rapazes que já conheci, a não ser pelo fato de ele ser mutante.

– Então. - Meu pai quebra o silêncio - O que acham de dar uma volta pelo colégio?

– O que? Ah, claro. - O garoto fala, dando um sorriso.

Desvio o olhar dos olhos para uma das mãos dele. Ele esta segurando uma pêra? Por que ele está segurando uma pêra? Acho que ele percebeu meu olhar e colocou a pêra na mesa ao seu lado.

Rio um pouco da situação. Coitado, ele provavelmente deveria estar tomando café antes de nos atender. Me sinto um pouco mal por isso e abaixo a cabeça rapidamente, evitando olhá-lo nos olhos.

– Vamos? - Ele diz.

– Vamos? Nós não, vocês vão. - Meu pai diz, do que ele está falando?

– O que?! - Digo, quase gritando - Pai! Vocês não vêm?

– Tenho certeza de que você está em boas mãos filha. - Ele sorri, odeio quando ele faz isso.

Ele vêm na minha direção e deposita um beijo suave na minha testa, para logo depois me abraçar. Minha mãe faz a mesma coisa.

– Eu te amo. - Ela sussurra - Nós mandaremos notícias, eu prometo.

Meus olhos se enchem de lágrimas, mas eu me recuso a chorar na frente de estranhos, muito menos de meninos, então eu apenas fico encarando a porta.

Eu poderia estar em casa agora, dormindo ou fazendo qualquer outra coisa que uma pessoa comum faz em um sábado de manhã. Mas não. Eu tinha que ser diferente, justo eu.

Eu só queria ser normal. Será que isso é pedir muito?


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Notas finais do capítulo

Povo, eu ainda não tenho uma previsão de quando novos capítulos vão sair. Agora que eu to de férias provavelmente eles venham com mais frequência, mas como eu estou sem pc talvez demore mais. Enfim, beijinhos pra vocês e até o próximo cap. :3



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