Aurora acordou de um sono um tanto quanto conturbado. Ao olhar para uma brecha na cortina, percebeu que ainda estava escuro lá fora. Deveria ser umas quatro da manhã, quando ela olhou para o lado, viu Shaka dormindo ao seu lado, com o braço em volta de sua cintura. Aurora ainda não estava acostumada a ter um contato tão direto com homens, mas o toque e o calor de Shaka eram muito reconfortantes.

Ela ficou alguns minutos olhando para ele, seu rosto estava tão clamo e sereno que Aurora abriu um sorriso. Ela pensou em todos os dias e noite que Shaka devia ter passado em claro, sofrendo por ela. Para evitar chorar, ela começou a olhar para outros pontos. Notou a força nos braços do virgiano e seus músculos, seus cabelos que caiam e se espalhavam pela cama e o leve barulho de sua respiração.

Aurora saiu delicadamente para não acorda-lo, tomou um banho e vestiu uma roupa. Estava usando uma calça colada, com os matérias típicos de um treino. Ela olhou uma última vez para Shaka, sorriu e saiu.

Lá fora, ela percebeu que estava tendo uma leve garoa, porém persistente. Ao olhar para aquilo, ela sorriu. Fazia tempo que não via a água, que não sentia o frio agradável do vento e o cheiro de terra molhada. Porém ao mesmo tempo em que ansiava sentir tudo isso, lembranças horríveis.

(Aurora atordoada)– Sangue.... Shaka....... Shura..... Camus..... Atena..... Não......

Em sua mente, Aurora se via cruzando um campo de trigo. O céu estava vermelho e corvos sobrevoavam ele. Mais a frente ela via uma pilha de corpos, com todos os cavaleiros nela. Ela corre ate a pilha e cai em prantos.

Aurora precisa se apoiar em uma pilastra, ela aperta sua cabeça, na esperança de fazer aquilo parar. Suas juntas já se encontram brancas e suas pupilas estão muito dilatadas. Ela então faz a única coisa que vem em sua mente tão confusa. Sai correndo em meio a chuva.

O alívio que ela sente, é praticamente instantâneo. Aurora permite que a água fria umedeça seus cabelos, sentir a terra molhada e a grama entre os dedos. E foi assim, ajoelhada em meio a chuva que ela conseguiu a voltar a pensar racionalmente. Pois nesse momento em meio a garoa, ela sabe que é real e não uma traição de sua mente, por mais que ela saiba que não é uma traição totalmente.

Quando ela se sente mais calma, Aurora se levanta e caminha em direção a floreta. Lá ela vai em direção a cachoeira e se senta em uma pedra. O sol começa a dar sinais com seus primeiros raios, ao som do barulho da água, Aurora sente uma angústia. Sua mente a estava torturando.

Aurora ouve passos e em meio as plantas, Bonnie surge.

(Aurora)– Ah, olá Bonnie.

(Bonnie sorrindo) - Olá minha querida. Como está se sentindo?

(Aurora)– Estaria mentindo se falasse que estou totalmente bem. É como se eu soubesse do que aconteceu, mas só em partes. Estou muito confusa.

(Bonnie se sentando)– Bom, acho que chegou a hora de conversarmos um pouco.

Bonnie respira muito e começa a falar.

(Bonnie)– Na última vez em que nos encontramos, eu lhe disse que sacrifícios seriam necessários e que Nike ainda não estava totalmente me você. E no momento em que Ares perfurou seu coração com a lança, você disse adeus ao seu corpo como mortal e quando você disse que amava Shaka, deixou de ser uma Caçadora. E para que você pudesse assumir a forma da deusa Nike, partes suas tiveram que ser apagadas. Como a lua e a sua cicatriz no braço. Você se lembra de algo Aurora?

(Aurora)– Me lembro da dor, ainda é muito presente. Lembro de estar nos braços de Shaka, lutando para respirar e ver as mãos dele sujas de sangue. Mas então eu me vi em um lugar, onde tudo era branco. Mas eu não estava só.

(Bonnie curiosa)– Você estava com quem Aurora?

(Aurora)– Diana estava lá comigo. Ela me deu a força e o incentivo que eu precisava para derrotar Ares. Mas eu sabia que eu só poderia atrasa-lo, então eu me levantei, elevei o meu cosmo o máximo que eu pude. Era curioso, pois o meu corpo estava destroçado, mas dentro de mim eu me sentia invencível. Eu via luzes douradas envolta de mim e então eu consegui acertar um golpe em Ares e ele se desfez em fumaça....

Aurora então começa a chorar.

(Aurora chorando)– Lembro que estendi a mão para eles e meu maior desejo naquele momento era de toca-los uma última vez de sentir Shaka uma última vez. Mas eu não tinha mais forças.....

Bonnie se aproxima dela e começa a consola-la.

(Aurora secando as lágrimas)– Lembro de estar em um lugar lindo, com água, palmeiras e um céu lindo. Nele haviam algumas estrelas o enfeitando e havia também auroras boreais, nas águas tinham flores de lótus e eu me sentia em paz naquele lugar. Eu estava no Elíseos. Diana me encontrou lá e eu já sabia que ela iria pedir pra que eu voltasse. Porém ela disse que cabia a mim decidir isso, Diana me disse que não sabia se a guerra acabaria se eu voltasse. Mas eu sabia que era o certo a fazer, resolvi voltar.

(Aurora)– Diana me mostrou um passagem, era como ver o espaço. E lá no fim, eu podia ver a terra. Mas eu sabia que não seria fácil e foi só eu sair dos Elíseos, que......

Aurora voltou a chorar, porém dessa vez com mais intensidade.

(Aurora chorando)– A minha mente Bonnie.......

(Bonnie consolando-a)– Eu sei minha querida, mas eu vou te ajudar. Tudo vai se acertar, você vai ver. Você esta conosco agora.

(Aurora chorando)– Me ajude por favor....

Ouvir uma moça tão jovem dizer algo assim é de cortar o coração. Mas Bonnie faria o possível para ajudar Aurora.

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Do outro lado da Grécia, em meio a rochas, um céu tempestuoso e um mar raivoso, se encontra a fortaleza de Ares. Escura, grandiosa e sombria. Lá dentro no cômodo principal, usando uma túnica negra e com uma aparência debilitada se encontrava Ares. Ele estava olhando para um espelho, porém este não mostrava seu reflexo e sim o Santuário.

Mais precisamente ele mostrava Aurora conversando com Bonnie na cachoeira, Ares tinha um sorriso frio no rosto ao olhar para sena.

(Ares com a voz rouca)– Ah doce Aurora, vejo que conseguiu voltar dos Elíseos. Mas não é mais a mesma, talvez nunca volte a ser. Vejo em sua mente as piores coisas, que fariam até os espectros se arrepiarem.

Nesse momento entra uma serva.

– Deseja algo meu mestre?

(Ares se sentando em uma cama)– Não, estou apenas apreciando uma sena interessante.

– Perdoe-me por me intrometer, mas esta é a deusa Nike?

(Ares)– Ela mesmo, conseguiu voltar dos Elíseos. E ainda me deixou nesse estado.

– Com todo o respeito meu senhor, ela não me parece ser uma grande preocupação. Olhe só pra ela...

(Ares rigidamente)– Não a subestime. Pois em algo eu estava errado, ela será tão grandiosa quanto Diana, talvez até mais. O cosmo dela tem potencial para ser muito mais forte do que o de Atena e de Ártemis e a volta dela trará uma revolta imensa no Olimpo.

Nesse momento entra uma mulher trajando um vestido longo e preto, além de uma maquiagem pesada.

– Eu diria que poderá começar uma revolução.

(Ares)– Olá Morte. Talvez você esteja certa, essa moça trará a tona segredos que Zeus teve muito trabalho para esconder. Isso de fato poderá ser muito vantajoso para mim. Uma desestabilização no Olimpo

(Morte)– Irá tentar mata-la novamente?

(Ares olhando para o espelho) - De fato é uma decisão importante a se tomar. Há muito em jogo em uma única decisão.

As poucas tochas que iluminavam o local, o tornavam mais sombrio. Ares levanta com uma certa dificuldade e para em frente a janela.

(Ares)– Aurora começará seu treinamento e eu ainda estou me recuperando. Um ataque nesse momento seria uma enorme estupides.

(Morte)– Sente-se intimidado pelo poder de Aurora?

(Ares virando-se furioso)– Como ousa dizer algo assim. Você é a única Guardiã a estar viva, não irá querer que isso mude.

(Morte sorrindo) - Talvez meu senhor tenha se esquecido que eu sou a Morte. E que a única coisa que me prende a você são essas correntes. Mas talvez um ataque contra ela seja imprudente a qualquer momento.

(Ares estreitando o olhar)– Há uma coisa em Aurora que eu posso usar contra ela. Sua mente. Eu sei o que está acontecendo com ela e sei mais ainda que se trata de uma bomba.

(Ares volta a olhar pela janela) - Já tomei minha decisão. Hoje começa o outono, por tanto guarde minhas palavras. Ao cair do primeiro floco de neve, uma nova era se iniciará. Tic tic tic.