O convite escrita por Miss Addams


Capítulo 4
A conversa


Notas iniciais do capítulo

Vamos ver a continuação do capítulo passado...

Caso o link não funcione, aqui esta: https://www.youtube.com/watch?v=qCZNxmo6pxs
Música tema deste capítulo, Ecos de amor, cantada pela dupla Jesse y Joy



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"Ya están desgastadas todas las palavras lo que queda entre tú y yo no le alcanza al corazón y desde mi pecho suena tu recuerdo. Todo lo que fue de los dos son ecos de amor."

https://www.youtube.com/watch?v=qCZNxmo6pxs

Quando Júlia finalmente chegou lá fora sentiu desespero porque não o encontrou, como ele podia desaparecer dessa forma como num passe de mágica? Já na calçada entendeu o motivo, ele estava um pouco mais afastado encostado no muro da casa de olhos fechados.

Ponderou antes de chamá-lo.

:- Felipe? – ele imediatamente tomou um susto e olhou em sua direção surpreso. Parecia muito distante olhando para baixo e sem focar em nada, nessa troca de olhares deu para ver como o dele estava marejado, mas não tinha apenas raiva pela discussão de agora a pouco, mas também tristeza e isso foi o que mais doeu nela.

:- O que faz aqui? – Nem o tom grosso fez com que ela se afastasse, ao contrário ela se aproximou mais dele.

:- Não vai embora assim. Por favor! Você sabe como Laila é, ela não mede suas palavras fala o que dá na telha dela.

:- E por algum acaso ela deixou de falar a sua verdade? – ele devolveu. – Eu realmente desapareci, mas tinha os meus motivos e mesmo que soubesse que seria pressionado eu aceitei isso.

Mais uma vez Júlia ponderou e deu um suspiro para que se acalmasse e como se assim os pensamentos em sua mente se organizassem, tinha que ter cautela com ele, qualquer botão que apertasse errado faria com que ele se afastasse novamente. E era a última coisa que queria naquele momento depois de tanto tempo.

:- No estado que você está não pode sair daqui, pelo menos enquanto se acalma, não precisa voltar lá para dentro. Podemos ficar aqui na calçada ou no jardim, você escolhe!

:- Por que esta fazendo isso? – mais uma vez ele foi rude. Antes ele nunca agiria assim com ela, mesmo no calor das brigas que tiveram, ele sempre foi amável.

:- Eu só quero lhe ajudar Felipe. – ela se aproximou mais e tocou seu braço, o efeito foi imediato ele se afastou como se houvesse levado um choque. E isso a assustou.

:- Disculpa. – ele falou visivelmente confuso, não sabia como agir diante dela, queria ir embora só que cada vez que a olhava não conseguia dar um passo sequer, mesmo com raiva. – Podemos entrar e ficar no jardim desde que eu não tenha que entrar novamenti. – Felipe tentava encontrar um equilíbrio por dentro para voltar em si. Isso deixava seu sotaque argentino mais acentuado.

Ela deu um sorriso fechado breve por estar aliviada e deu as costas para ele sabendo que a seguiria, assim aconteceu ela foi andando até os fundos da casa onde ali havia um mini parquinho com alguns brinquedos para Joaquim, Júlia se lembrou da primeira vez que veio quando Miguel tinha acabado de construir houve uma inauguração alguns colegas do Joaquim vieram e tudo foi bem festejado, era um lindo dia de domingo a família quase toda reunida, e esse foi um dos momentos que ela não só sentiu a ausência de Pedro como também a falta de Felipe, mal sabia que isso seria quase rotineiro em sua vida.

Claro e ao pensar em parque e família é impossível não lembrar daquele dia em que todos os irmãos foram e tiveram uma das primeiras tentativas reais de aproximação. Foi uma noite mágica.

Bem e agora ela estava ali com ele, ambos em cada um dos balanços na árvore em silêncio.

:- Eu não sei bem se é o momento apropriado, – Júlia começou falando e olhando para cima, apesar de tudo aquela era uma noite linda, estrelada. – se você quer falar. Mas, eu queria conversar. – Ela olhou para o seu lado direito, o encarando.

:- Eu estou disposto, não tem como fugir mais disso e pra falar a verdade estou cansado. – Ele também a encarou por fim cedendo, era aquele Felipe que ela conhecia muito bem.

:- Que história é essa de acidente? – ela decidiu ir pela preocupação e consequentemente também pelo assunto menos doloroso.

:- Que te posso dizer? Depois de muito tempo entrou uma verba extra e os planos sairia do papel, decidimos optar pelo primeiro item de necessidade do vilarejo, um posto de saúde que tivesse o maior número possível de estrutura e segurança, eu estava ajudando a construir, estávamos no processo final da obra, mas clima mudou e mesmo estando sem tantas condições continuamos na obra, no meio de uma forte ventania quando estávamos já saindo uma das cordas principais se soltou e ela sustentava alguns sacos de cimento, fui atingido. Cuidaram como puderam de mim. Foi algo complicado porque quando estava melhor vinha uma infecção atrás da outra e o processo real de cura foi difícil. Não podia entrar em contato com meus pais adotivos por que eles estavam viajando numa segunda lua de mel, eu consegui o contato com Miguel e ele me ajudou em tudo. Fiquei internado um tempo em São Paulo devido a algumas complicações, mas que tudo foi resolvido e eu estou bem.

Júlia precisou de um tempo para absorver toda aquela história, se deu conta de vezes que Miguel fazia viagens relâmpagos a São Paulo, dizia que estava ajudando um velho amigo, no fundo era o próprio filho.

:- Me machuca saber disso. – ela disse realmente sentida. – Paro para pensar se tivesse acontecido algo mais grave, nós só saberíamos quando encontrasse você num estado de saúde pior do que esteve? Deus nos livre, mas se tivesse sido fatal. Felipe, você nos privou quando você mais precisava. Ela queria poder que de todos se colocou em primeiro lugar porque foi uma das pessoas que mais o ajudou quando esteve internado.

:- Eu me arrependo, mas estava decidido obriguei Miguel para que não contasse nada sabendo que ele é bom em guardar segredos. O meu problema real não foi o físico, Júlia. Foi o emocional.

Só pela forma como ele a encarou, ela sentiu que era a principal culpada por tudo que ela passou mesmo que ele não colocasse em palavras nada. Nem agora e nem depois, mas ela sabia disso.

:- Então você e Pedro conversaram? – O primeiro tema doloroso foi citado.

Felipe deixou de olhar para ela e olhou para o longe sem focar em nada específico, começou a balançar uma perna freneticamente por estar nervoso.

:- Quando completou um mês que eu estivesse fora. – ela assentiu mesmo que ele não pudesse ver, se lembro que ainda tinha notícias dele esse período. – Notei que a situação estava insuportável, ainda não nos falávamos, um evitava o outro sempre. Eu decidi tomar a iniciativa, que foi frustrada porque nenhum estava pronto para uma solução. Talvez essa tenha sido a pior briga que tivemos, foram pronunciadas palavras feias. No meio dessa conversa era claro que ele te amava e não queria nenhum tipo de ameaça. E pior ficou evidente que eu ainda te amava como antes, Júlia.

Cada palavra dita por ele deixava Júlia pior, um começo de choro estava a caminho.

:- Então cometi o mesmo erro que você, omiti a verdade, ainda te amando, preferi te ver feliz com outro do que infeliz do meu lado. Entretanto não conseguiria fingir que estava tudo bem, conviver com vocês em harmonia. Sabendo que Pedro tem o apoio dos outros, que eu era o errado.

:- Não fale assim. – ela o interrompeu limpando a primeira lágrima que escorregou de seus olhos.

:- Por mais que já tenhamos falado sobre isso, não foi pessoalmente então eu quero repetir. Eu estava com você verdadeiramente, desejava isso porque você foi o homem que eu mais estive em paz. Eu também te amava, mas tinha a minha história do passado, que foi interrompida que se eu não vivesse aquele “e se” me correria por dentro. Eu amava o Pedro por mais que negasse, por mais que ele tivesse me machucado de uma forma sem precedentes. O pior de toda essa história é saber que independente da minha decisão alguém sairia machucado e ter esse peso é insuportável Felipe. Saber que por sua causa você pode ferir alguém que ama e ainda afetar a vida de tantos. Da sua família. Esse era o pior dos meus medos, o maior dos meus pesadelos desde que pensava que Pedro era o meu irmão. E olha o que eu causei em você? Eu sou a culpada dessa história. – Agora ela não conseguia esconder as lágrimas teimosas que caiam de seus olhos se mostrando frágil dessa forma.

:- Será que essa história realmente tem culpado? – ele perguntou tão abalado quanto ela. – Eu fui o responsável pelos meus atos, fiz tudo consciente. Assim como você, assim como provavelmente Pedro, queria negar, mas no fundo eu sabia que vocês não tiveram um ponto final.

:- Durante esse tempo, ás vezes sozinha me perguntava se eu tivesse feito essa viagem. Teria...

:- Sido um erro? – ele completou.

:- Pois é. – ela concordou. – Eu estava tão desesperada para mostrar que estava te apoiando que te coloquei em primeiro lugar antes mesmo do que eu queria. E se não tivesse acontecido a viagem e mesmo que nosso casamento tivesse continuado, como sobreviveria? – Essa foi a vez dele de assenti, era tudo complicado. Ou simples demais. – Você lá, eu aqui. Eu não queria que você mudasse, só que eu também não deveria mudar só por sua causa, antes de mim. Para ficarmos juntos.

Por mais que as feridas estivessem abertas, aquela conversa estava sendo a melhor opção.

:- Tudo ficou diferente depois que você partiu. Todos estavam desesperados para recuperar o tempo perdido agora com Miguel alcançável, tão aflitos que nos fechamos a nossa volta, veja o que aconteceu com Bernardo.

:- Eu imagino essa urgência que eu não pude participar. Mas, eu te confesso que senti muita falta. Talvez agora tudo mudem já que foi exposto num típico jantar familiar.

:- Você não precisa passar por isso mais, tenho certeza que todos também sentiram sua falta, apesar dos pesares. Eu senti! Só não poderia falar para você sem que soasse de uma forma equivocada. Você esta aqui Felipe, pode mudar isso. Como antes conseguimos uma reaproximação, me deixa te ajudar.

:- Não sei Júlia. Como eu disse não estou preparado para conviver.

:- Não me faça me sentir pior, não continue afastando todos de sua vida. – Júlia estava tentando argumentar de forma coerente só que sentia por ele se afastar de novo. Ainda mais por sua causa.

:- Não consigo fazer isso, sendo que ainda amo você.

A declaração dele foi tão certeira que desarmou ela, saber disso no verbo presente e ele ali tão perto, tão exposto quanto ela.

:- Talvez tenha dado a minha hora eu preciso agora ir. – ele estava fugindo de novo, era o que Laila diria se estivesse presente, estava poupando ela de uma situação constrangedora. Afinal pensava ainda que Pedro e ela estavam juntos, queria poder dizer que não, só que não seria justo parecia até que fosse algum tipo de brincadeira de mal gosto. Ele se levantou do balanço e se colocou em sua frente lhe deu um beijo na testa e a agradeceu em sua outra língua, como só ele poderia fazer. – Gracías. Foi bom conversar com você. Tchau.

Ele deu alguns passos e ela não conseguia pensar em mais nada para falar de forma rápida. Ele já estava no meio do caminho quando ela lhe chamou.

:- Felipe?

Ele parou e virou para onde ela estava, já tinha se levantado do balanço e agora que a encarava quase perdeu a coragem de falar o que queria, então cruzou os braços como se fosse uma proteção e de modo que lhe desse em si mesma uma espécie de abraço.

:- Não fica tão longe, por favor. Eu... – hesitou mordendo os lábios confusa em formular algo. – Eu quero estar perto de agora em diante, realmente senti a sua falta.

Ele formou um pequeno sorriso fechado e assentiu brevemente e depois se virou e seguiu o seu caminho para a frente da casa para ir embora por fim. Júlia sentia no fundo da sua alma que ele não cumpriria com isso, mais uma vez se afastaria e mais uma vez ela o perderia.


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