O convite escrita por Miss Addams


Capítulo 1
O reencontro


Notas iniciais do capítulo

Vamos lá. Divirta-se!



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"Si soy amado, cuanto más amado, más correspondo al amor. Si soy olvidado, debo olvidar también, pues el amor es como el espejo - tiene que tener reflejo"

Pablo Neruda

Ela olhava para aquela fotografia como se num passe de mágica pudesse reviver aqueles momentos felizes novamente, a sintonia de todos era tão visível que ficou eternizada naquele registro, qualquer ação era multiplicada por cada vida ali presente como se cada sorriso fosse estendido e sustentado por mais tempo. Aquela viagem feita de barco em comemoração ao aniversário do Joaquim tinha sido determinante para o que viria a seguir.

Então rompendo todo seu momento melancólico escutou o barulho da porta se abrindo e os passos pesados pelo apartamento em direção ao quarto.

Julia se virou em direção a entrada do quarto para ver a chegada de um cansado visivelmente Pedro, e apesar de tudo não o reconheceu. Ele deixou a mochila no quanto do quarto e foi até ela selar sua boca brevemente com um beijo.

:- Não tem ideia do quanto eu estou cansado. – ele se lamentou o que era óbvio sentando ao seu lado e começando a tirar suas roupas, tudo que mais desejava aquele momento era tomar um banho.

:- Talvez não seja o melhor momento, mas podemos conversar um pouco? – sobretudo ela estava calma.

:- Tem que ser agora, amor? Acabei de chegar e estou sem animo para nada, quero apenas descansar. – ele se levantou e foi pegar sua toalha já indo em direção ao banheiro.

:- Pedro, nós precisamos conversar. – Júlia insistiu e ela se perguntou se ele não reparava o quanto ela também estava cansada, porém emocionalmente.

:- Aconteceu alguma coisa? - Ele perguntou e ela escutou o barulho da água caindo.

“Sim” ela pensou novamente e suspirou porque sentia que ele não estava prestando atenção e estava agindo em um tipo de estado automático. Antes que pudesse ter qualquer espaço para raiva ou mesmo tristeza o telefone tocou, e ela atendeu.

:- Ah droga. Se for o Luís avisa que eu não vou no almoço que marcamos, por favor. – Pedro gritou do banheiro.

Era o Luís sim só que não estava perguntando por Pedro e sim ligando para dar uma má noticia que deixou Júlia deslocada e sem saber como agir tamanha era sua preocupação.

:- Era o Luís? - Pedro apareceu de toalha já seco e curioso vendo ela com um olhar distante ainda com o telefone na mão mesmo que a ligação tenha sido finalizada.

:- Bernardo. – Júlia voltou do transe em que estava. – Ele foi atropelado.

Não deu tempo para que eles trocassem muitas palavras depois do que foi informado por Júlia, ambos se trocaram para ir imediatamente para o hospital ter notícias do irmão e entender o que realmente aconteceu.

Júlia não imaginava que podia dirigir tão rápido dentro do limite da velocidade até o hospital, Pedro a questionava só que era em vão ela não tinha informações de nada do ocorrido. Quando chegaram, logo foram para a sala onde todas as visitas esperavam, e lá encontraram os outros irmãos que também aguardavam.

:- Que bom que vocês chegaram! – Laila exclamou aliviada.

:- Viemos assim que podemos. – Júlia a cumprimentou. – Agora alguém explica essa história direito, o que aconteceu?

:- Um maluco que só pode ter comprado a sua carteira de motorista, estava em alta velocidade atropelou Bernardo. E para piorar sequer parou para prestar o socorro, o babaca! – Laila disse raivosa.

Estavam presentes ali, Laila, Luís e Elisa, por um momento Júlia estranhou a presença da prima afinal fazia pouco tempo da reaproximação dela com Bernardo, a amizade deles passou por um período conturbado por conta do namoro dela.

:- A verdade é que pensamos logo em Elisa, já que o acidente aconteceu perto de sua faculdade, ela foi a primeira a chegar para ficar com Bernardo aqui. – Laila continuando explicando.

:- Pois é e por sorte soubemos que não foi nada grave. Devido ao impacto, Bernardo usou o braço para se proteger e graças a isso ele teve uma fratura. Miguel acabou de sair para resolver a questão da papelada da conta do hospital e Marlene esta com Bernardo o acompanhando nos outros exames. – Dessa vez foi Luís que comentou.

:- E com todo esse ocorrido o motorista desapareceu? Temos que denunciar esse cara o quanto antes. – Pedro comentou irritado.

:- E claro que isso vai acontecer, nenhum babaca faz isso com um irmão meu e fica por menos. – Laila concordou.

:- Assim que soubermos da melhora no estado de Bernardo para entender o que aconteceu, vamos tomar as providências necessárias para que se encontre o culpado. Agora foi bom que vocês chegaram porque a verdade é que não posso ficar mais tempo aqui, deixei mamãe com as crianças que acabaram de voltar da viagem com a mãe e agora tenho que voltar. – Luís se lamentou.

:- E eu também não posso ficar aqui porque alguém tem que ser a mulher de negócios dessa família. Enfim, fora que não queríamos deixar Elisa aqui sozinha. – Laila olhou para ela que estava aérea e voltou de seus pensamentos após ser mencionada.

:- Que isso não tenho nenhum problema em ficar aqui se for preciso. – Ela negou com a cabeça.

:- Fez bem em ter nos chamado, afinal quanto mais apoio Bernardo tiver nesse momento, melhor. E pelo menos nós reversamos. – Júlia deu um sorriso fechado e abraçou a prima de lado vendo o estado dela. Tinha algo estranho que ela só saberia depois quando ambas conversassem.

Neste instante todos foram interrompidos pela chegada de Marlene.

:- Júlia e Pedro que bom que vieram, fico feliz em ver vocês. Pena que nessas circunstâncias. – Marlene chegou ainda um pouco agitada, mas ainda assim aliviada. – Cheguei com boas notícias Bernardo está bem, graças a Deus só temos que esperar mais um pouco porque ele só vai ser liberado depois que saírem os resultados dos outros exames e por fim vamos para casa.

:- Apesar de Laila e Luís estarem de saída nós estamos aqui para ajudar no que for necessário, fique tranquila quanto a isso. – Pedro comentou se levantando para cumprimentar a Marlene.

:- E eu só tenho mesmo a agradecer a todos, meu filho. Depois de tanta preocupação que eu passei hoje. – ensaiou um sorriso de agradecimento, mas olhando ao redor estranhou a ausência de alguém.

:- Miguel esta resolvendo a parte financeira de tudo, não faz muito tempo que ele saiu daqui. – Luís olhou o relógio para verificar a hora.

:- Não é isso, eu só estou sentindo a falta do... – Marlene se interrompeu ao ver a chegada dos dois. E isso fez com que todos olhassem para a mesma direção que ela.

Não foi só a chegada de Miguel no ambiente que causou a surpresa de todos, mas por ele estar acompanhado de Felipe, o que deu no ar um clima de curiosidade acima de tudo, afinal eles não tinham notícias dele fazia muito tempo desde que ele viajou para África a trabalho.

:- Quando cheguei na administração para pagar a conta do hospital, já estava tudo certo. – Miguel indicou com a cabeça Felipe que estava ao seu lado, desconfortável encarando a todos.

:- Então foi você que trouxe Bernardo para cá. – Elisa comentou surpreendida e ligando alguns fatos. – E você era o amigo que ele encontraria hoje.

:- . Tudo o que aconteceu foi uma fatalidade, na verdade, eu esperava Bernardo para almoçarmos. Na hora em que combinamos ele estava chegando e quando já estava do lado de fora do restaurante e já tinha o avistado, presenciei tudo. Não tive tempo para mais nada. – Felipe se lamentou deixando evidente o seu sotaque argentino mais forte, acontecia quando ele ficava nervoso ou preocupado.

:- Não sabíamos que estava aqui no Rio Felipe. – Luís constatou.

:- Eu estou a pouco tempo, cheguei hoje. Estava em São Paulo.

:- O que fazia em São Paulo? - Laila perguntou mais séria, estava evidente em sua expressão que não tinha gostado de saber que o irmão estava na cidade e sequer entrou em contato com a família.

:- Trabalho. – Felipe se limitou a dizer, se sentindo encurralado.

Antes que Laila falasse novamente, Miguel perguntou de Bernardo a Marlene e o assunto da conversa mudou de rumo, logo após saber do estado do irmão Felipe anunciou que precisava ir embora não deu mais espaço para mais perguntas e depois de abraçar o pai, se despediu de todos com palavras apressadas, sua pressa em sair dali era evidente.

Durante o pouco tempo em que esteve presente, foram poucos momentos nos quais ele olhou para Pedro e principalmente para Júlia.

:- O que deu nele? - Elisa perguntou assim que ele foi embora.

:- Não sabemos, também achei estranho essa ida tão repentina quanto a sua chegada, ainda mais dessa maneira. – Luís arrumou os óculos em seu rosto.

:- Deve ser compromisso com o trabalho. – Pedro tentou parecer despreocupado e tentou arrumar alguma justificativa. O que não deu certo.

:- Por favor, vocês não sentem o cheiro de fuga no ar? – Laila disse revirando os olhos e mexendo em suas mechas loiras. – Todos a encararam esperando o comentário ácido a seguir. – Não está na cara que ele esta nos evitando? Ou melhor, evitando o casal aí. – apontou tanto para Pedro como para Júlia. – Desde que voltaram Felipe foge de encontros familiares e possíveis encontros com Pedro e Júlia como o Gandhi foge de comida quando esta fazendo greve de fome.

:- Laila! – Luís repreendeu a irmã gêmea inutilmente porque as palavras já foram ditas e o constrangimento já tinha sido instalado.

Júlia abaixou a cabeça sem saber como encarar a todos, tinha ficado afetada por esse encontro inesperado com Felipe depois de tanto tempo e ainda mais porque nos últimos dias estava pensando muito nele, no quanto sentia sua falta vez ou outra.

:- Felipe deve ter suas razões para agir dessa forma. – Miguel defendeu o filho. – E nós temos que ir, senão vamos nos atrasar. – Chamou Laila e Luís já que eram os três que tinham compromissos agora à tarde.

Foi a deixa para começar a despedida de Miguel que precisava ir por conta da ONG, Laila e Luís que precisavam ir embora. Logo pelo o meio da tarde Bernardo foi liberado e Júlia e Pedro o levaram junto à mãe e Elisa para sua casa. A prima optou por ficar na casa de Bernardo por que precisava conversar com ele e ajudaria no que fosse necessário e Marlene agradeceu muito aos dois, mas disse que só a presença de Elisa seria a de grande ajuda.

A volta para o apartamento de Júlia foi feita no maior e constrangedor silêncio entre o casal. Eles não se falaram desde que Laila expôs o que pensa no hospital, e ambos sentiam e sabiam que mais cedo mais ou mais tarde as palavras escapariam, impulsivas ou atrevidas e por mais dolorosas que fossem. Eram necessárias.

Insegura ela bateu na porta e então esperou. Como imaginava escutou o silêncio e ficou indecisa sobre abrir ou não a porta, não queria ser inconveniente, porém sua curiosidade foi maior. Novamente deu dois toques na porta como um aviso de sua presença e mais uma vez não teve resposta, assim que ela abriu e colocou apenas a metade do corpo para dentro do quarto.

Viu que estava tudo tranquilo e quieto porque ele estava deitado de olhos fechados e com fones de ouvido colocados, balançava um dos pés no ritmo da música constante. Essa foi a razão pela qual ele não a escutou bater na porta.

Elisa, então entrou no quarto e foi se aproximando devagar, sentou na poltrona ao lado da cama e com cuidado fez um carinho no braço livre do gesso de Bernardo, mesmo assim ele tomou um leve susto e a encarou com os olhos arregalados.

:- Me desculpa. – disse culpada assim que ele tirou o fone de ouvido.

:- Não tem o porque só sinto um pouco de dor, os remédios já estão fazendo efeito tem algum tempo. – ele tentou amenizar, mas ao ver que a expressão dela não mudava continuou a falar. – Pensei que já tivesse ido embora, Elisa. Não me olhe assim, o susto já passou.

:- Ainda bem. – Ela falou e ele se deu conta que não falava apenas pela sua chegada ao quarto e sim pelo acidente também. E ele ficou incomodado com o olhar dela sobre ele.

:- Pois é. – ele deu os ombros.

:- Talvez essa não seja a hora perfeita, mas eu preciso tirar uma dúvida que esta me corroendo tem muito tempo.

:- Fala. – ele se ajeitou de uma forma que melhor pudesse ver o que ela tinha para lhe contar e que não sofresse com algum tipo de dor.

:- Foi ele verdade? – Elisa foi direta e fez com que Bernardo se assustasse. Até levou o corpo um pouco para trás como uma reação de fuga. Não imaginava que ela faria uma pergunta afirmativa como essa. – Não pense em mentir para mim. – Ela encarou os olhos castanhos dele com firmeza e também desespero, porque estava tão nítido que ela queria que ele não confirmasse sua suspeita quanto os seus olhos azuis.

E ele faria isso, daria a resposta que ela queria a que menos a machucasse.

:- Não mente pra mim. – Dessa vez ela abaixou a cabeça e ele esperou qualquer outra reação dela, quando levantou a cabeça tinha os olhos marejados e mordia o lábio inferior se controlando na sua frente. Então Bernardo se assustou porque Elisa não se mostrava assim tão frágil para ele há muito tempo.

Teve vontade de abraçá-la para confortá-la!

:- É verdade, foi ele. – Ele disse quase culpado, optando pela verdade que ele já estava decidido a contar.

Ela ficou calada, os dois se encarando, ele esperava que ela desabasse a qualquer momento, não imaginava que o sentimento por ele fosse tão grande para deixá-la nesse estado.

:- No fundo eu sabia. – Foi o que ela disse, enrugando a testa lembrando de fatos passados. – Hoje eu tentei marcar um almoço e ele desconversou, disse que tinha compromisso o que eu estranhei por que sempre esteve livre esse horário. Como eu sai mais cedo fui numa lanchonete perto da faculdade com umas amigas, quando já estava de volta ao estacionamento correndo para minha pegar meu pen drive que esqueci na sala. – ela olhava para o nada – Vi o carro dele, tinha pressa e sequer me escutou quando eu chamei por ele. O carro tinha uns arranhões que não estavam ali ontem, Bernardo.

Ela encarou o amigo com pesar.

:- E assim que perdi o carro de vista, recebi a ligação do seu acidente, só consegui me lembrar dos momentos em que acabamos nos encontrando, os três. O clima tenso. Sua implicância com ele. A implicância dele com você. E ligando a outro fato, ele estava bêbado na última festa que fomos e ficou um pouco agressivo verbalmente, nada preocupante até ele começar a contar histórias de seu namoro, o que ele já fez por ciúme. E agora isso acontece eu não consigo acreditar.

:- Eu imagino o quanto deve estar decepcionada. Queria contar para você antes, mas eu não tinha provas de nada seria minha palavra contra a dele e convenhamos Elisa, ninguém acreditaria em mim.

:- Não fale assim. Como se merecesse o que aconteceu, Bernardo, talvez se você tivesse falado... – ela foi interrompida por ele.

:- Eu falei. Várias vezes, ninguém quis me escutar, nunca gostei desse cara, mas sempre respeitei o seu namoro. Eu só não contei das últimas ameaças porque voltamos a nos falar agora desde nossa última briga, seria um retrocesso eu brigar.

Bernardo se referiu aos últimos meses, desde que ele soube do envolvimento de Elisa com Tiago, no começo foi mais implicante e isso casou uma discussão entre ele e Elisa. Ficaram brigados e com raiva um do outro num nível que eles se evitam, Bernardo se isolou muito. Tudo isso até que Julia fez a ponte entre eles e os dois resolveram se entender.

:- Eu vou terminar com ele. – Ela anunciou e ele nem teve tanto espaço para ficar feliz com a notícia, porque havia tristeza e muita decepção no olhar dela. Ele não aguentava isso, não a queria ver assim.

Calmamente e começou a se remexer e dar espaço para que ela se deitasse, Elisa nem protesto, tirou os tênis e se deitou colocando a cabeça bem acima do peito de Bernardo, com um tempo em silêncio ele sentiu algumas gotas de lágrimas molharem sua camisa, ela finalmente chorava.

:- Por mais apaixonada que eu esteja, não consigo seguir com isso, minha decepção é tão grande que eu estou devastada. Como pode alguém que nós amamos nos machucar dessa forma? - ela ainda chorava silenciosamente.

:- Eu não sei explicar. – ele disse começando um cafuné nos cabelos castanhos dela.

:- Eu fiz isso com você também, te machuquei, a diferença é que eu atropelei o seus sentimentos, Bernardo.

Ele ficou sem ter o que falar diante daquele fato, ele sofreu muito por ela esses últimos meses.

:- Sabe de uma coisa? - ela soltou um suspiro e ele viu ela passar os dedos em seus olhos para tirar qualquer vestígio de que ela tenha chorado. Depois voltou a apoiar a mão no peito de Bernardo e começar um carinho. – Amanhã, vou terminar com ele e não vou ficar muito tempo triste, vou dar a volta por cima e tudo ficará bem, vou encontrar ainda um cara que não seja um completo imbecil que só sabe quebrar meu coração.

Talvez você já tenha achado. Ele pensou, só não disse em voz alta ela voltou a chamar sua atenção.

:- E você vai denuncia-lo.

:- Eu sei. – Bernardo suspirou sentindo cansaço só de imaginar toda a burocracia, mas aquilo era o certo a se fazer e se a pessoa que mais poderia ser afetada estava pedindo, ele não negaria. – Agora vamos escutar algumas bandas, faz tempo que não fazemos isso.

Ele não pode ver, mas Elisa sorriu com a sugestão, aquele era um momento perfeito mesmo para eles compartilharem um fone de ouvido e desfrutarem de seu gosto musical. E por mais que eles não falassem, não verbalmente, seus gestos como o cafuné dele e o carinha dela em seu peito dizia que eles sentiam falta de momentos assim.


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