Tentadora escrita por Ina Oliveira


Capítulo 6
Ás vezes, temos parentes muito loucos...


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora. Leiam a Nota da autora no final da página.
Jesse PDV!



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Ás vezes, temos parentes muito loucos...

 

 

- Emmett?!

Eu arfei ao mesmo tempo em que ficava super confuso. Agora eu não tinha só um fantasma no quarto, mas dois. Oh céus! Acho que fui um menino muito ruim, pois Deus está me castigando agora. Podia apostar qualquer coisa no mundo que ele está sentado confortavelmente numa nuvem enquanto aponta o seu longo dedo para mim e diz: “Danação eterna para você, Jesse.”

Se não fosse trágico seria cômico e aí, talvez, eu pudesse rir.

- Que isso Jesse! Seja gentil e educado com o seu irmão. Eu não te ensinei nada? – Emm perguntou fingindo ressentimento.

- Sim. Você me ensinou a ter medo de garotas, o que era um travesti e como lidar com fantasmas. Nenhuma das três coisas tem me ajudado muito.

- Você tem medo de garotas? – Suzannah perguntou logo atrás de mim. Por um mísero segundo eu tinha me esquecido dela. – É, pensando bem... você tem um jeito meio estranho mesmo.

- Pelo amor de deus! Eu tinha sete anos. E EU NÃO SOU GAY! – gritei, mas ainda sim eu estava falando num tom baixo. Afinal de contas, eu não queria que toda a Carmel escutasse a minha discussão com dois fantasmas, particularmente porque ninguém além de mim podia vê-los.

- Como assim, nenhuma das três coisas tem te ajudado muito? Deixe de ser ingrato, piralho. Afinal de contas quem praticamente te ensinou a ser um mediador fui eu. – Emmett disse totalmente ignorando a minha pequena discussão com Suzannah.

- Exatamente. E olha só onde isso me trouxe? Cá estou eu, discutindo com o meu irmão morto e dividindo o quarto com uma garota morta. Ótimo.

Ironizei.

- Ai, isso doeu. – Emm protestou. Suzannah riu, o que pareceu despertar sua atenção pela primeira vez. – Tudo bem que você fala com os mortos Jesse, mas eu nunca pensei que quando você se envolvesse pela primeira vez com uma garota... bom, ela estaria morta.

Emmett deu um sorriso malicioso, considerado matador pelas garotas quando ele era vivo. Suzannah gargalhou ao ponto que eu engasguei.

- Ele é uma graça. Posso ficar com ele? – Suzannah disse fofamente. Eu revirei meus olhos.

- Oh, por favor. Eu não tenho nada com ela. Digamos que ela simplesmente invadiu o meu quarto.

- Hum... além de linda, perigosa. Uma ótima combinação. – Emm disse circulando Suzannah. Ela sorriu por um segundo antes de fechar totalmente a cara.

- Nem pense nisso grandão. Eu não sou sua presa, então pare de me circundar. – ela disse fazendo uma careta e se esparramando na cama novamente.

- Como eu disse... encantadora. – Emm sorriu para ela e lhe estendeu a mão. – Emmett Ackerman, a seu dispor.

Suzannah se empertigou toda e levantou da cama novamente. Foi tão rápido que eu quase não consegui ver.

- Hey! – ela disse quando ele alcançou sua mão a beijando. – Não use poder psíquico em mim. Nunca. Entendeu?

Emmett compartilhou um sorriso com ela que eu claramente não entendia.

- Com licença, - disse interrompendo o momento dos dois. - poderiam  me explicar o que está acontecendo aqui?

Suzannah bufou e foi em direção a estante. Era visível que ela não se importava com a minha confusão já que ela nem se incomodou a me esclarecer a situação.

- Relaxa irmãozinho. Eu não vou roubar sua namorada.

- Ela não é minha namorada! – eu me apressei a dizer.

- Realmente. Jesse não iria agüentar comigo. – Suzannah murmurou, mas eu tenho certeza que ela sabia que podíamos ouvir. Emmett riu enquanto eu fiz um enorme bico.

- Sério? Não são namorados? – Suzannah virou-se de repente. Cascatas de cabelo negros esvoaçando ao seu redor. Seus enormes olhos verdes piscavam flertando com Emm.

- O que você acha? – ela lhe perguntou.

- Fantástico. Acho que nos daremos muitíssimo bem. – Emm piscou para ela e pasmem-se, mas ela deu um daqueles sorrisinhos tímidos. Nombre de dios!

- Muito bem. Agora que você já se apresentou apropriadamente, - eu disse me virando para Emm. – poderia me explicar o que foi aquilo? Que diabo de poder psíquico é esse?

Emmett ao invés de me responder, deu passos largos até mim e me esmagou num enorme abraço de urso.

- Estou contente em te ver também irmãozinho. – sorri por cima do ombro dele. Pra falar a verdade estava ficando com saudades dessa montanha de músculos, mas eu nunca me pegaria dizendo isso em voz alta. Eu o abracei de volta antes de me sentir sem ar.

- Emm... não.posso.respirar! – ele riu e me soltou. Parecia que eu tinha voltado aos meus doze anos quando ele me apertava tão forte que os meus olhos quase saltavam das órbitas.

- Então? – eu pressionei.

- Ah, não é nada demais. Eu a forcei a levantar da cama e vir na minha direção. Você sabe com... o poder da mente. – Emmett terminou imitante um guru barato. Revirei meus olhos.

- Eu não sabia que você podia fazer isso. Quero dizer, eu sabia que você podia fazer isso com objetos, mas não sabia que fazia com humanos.

- O que acha que eu fico fazendo quando não estou com você?

A pergunta, por um momento, me pegou desprevenido. Eu nunca tinha pensado nisso para falar a verdade. Eu simplesmente achava que quando ele não estava lá... bom, não estava em lugar nenhum.

- Ah! – Emm suspirou. – Eu ficava treinando com um shamam que conheci quando passei um tempo assombrando cemitérios.

- Você assombrou cemitérios? – Suzannah perguntou antes mesmo que eu tivesse a chance de fazê-lo. Parece que a conversa finalmente chegou a um tópico que a interessava.

Emm sentou-se a beira da minha cama e chamou-a para se sentar ao seu lado. Ela foi sem nem pestanejar.

- Sim. Eu achava que era divertido naquela época. Também já assombrei um edifício abandonado, já quase matei uma velhinha do coração e bem, tenho um gato de estimação. Isso tudo antes de voltar para casa e encontrar o Jesse totalmente perdido. O que posso dizer? Ele não vive sem mim.

Emmett disse como se eu nem mesmo estivesse ali.

Dei um riso sarcástico a ele, mas eu sabia que ele tinha razão. O pior momento da minha vida foi quando eu achei que os tinha perdido para sempre. Sacudi a cabeça e voltei a realidade.

- Sempre modesto, não? O que me lembra... o que você veio fazer aqui exatamente? – Emmett nem piscou.

- Jesse, eu já te disse. O meu lar vai ser sempre onde você está.

Eu sei que normalmente o meu irmão é sempre músculos e sarcasmo, e quando digo sarcasmo é um alto, alto nível de sarcasmo, mas quando ele fala coisas assim... bom, ele quase se torna novamente o garoto alto, implicante e super protetor da minha infância.

- Bom, preciso te atualizar então. – eu comecei falando quando percebi que Suzannah o encarava com lágrimas nos olhos.

- Suzannah, você está bem?

Ela piscou desorientada e eu me perguntei por um momento porque ela poderia estar chorando.

- Sim. Eu... Só tenho algumas coisas para fazer. – e antes que eu pudesse protestar, ela se dissipou do meu campo de visão.

- Aonde ela foi? – perguntei ao Emm que também encarava o lugar onde ela tinha estado há um minuto atrás.

- Não faço a mínima idéia. Sou um fantasma, não um vidente.

Ele disse me dando um sorrisinho sacana. Ignorei sua resposta.

- Pensei que fantasmas não pudessem chorar, mas agora a pouco... ela estava quase chorando. Você viu? -  Emm acenou. – Você sabe porque?

- Sem placa de guru aqui, cara, já disse. – ele disse enquanto gesticulava para frente do seu peito.

- Tudo bem. Entendi. Acho que vou ter que me preocupar com ela mais tarde. – Emm me deu um olhar estranho.

- O que foi?

- Nada. É só... há um tempo atrás você chutaria o primeiro fantasma que visse pela frente. Sendo uma mulher ou não. Sendo bonita ou não. E agora... isso. Eu chego aqui e encontro você dividindo o quarto com uma fantasma. Uma fantasma gostosa.

- Emmett! Você poderia ter um pouco de respeito, por favor?

- Gay... – ele murmurou.

- Eu ouvi isso.

- Eu sei. As vezes me decepciono com você. Tem certeza que é meu irmão?

- Claro que sim. E não é como se eu não notasse isso também, eu só não saio por ai falando igual a você. – Emm me deu um olhar acusador.

- Eu sabia que não era o único a reparar naqueles olhos verdes.

- Por favor. – revirei meus olhos. – Além do mais não é como se eu estivesse tendo algo com ela. Como eu estava dizendo... eu preciso te atualizar...

- Relaxa. – Emmett me cortou deitando-se em minha cama. – Eu não durmo em serviço. Já estou sabendo tudo da sua nova família.

Eu trinquei os dentes quando ele disse nova. Eu só tinha uma família. E ela se resumia a ele, meu pai e minha mãe. Tudo que viesse depois era uma patética tentativa de substituição.

- A propósito, eu adoro o piralho. Ele me lembra você com essa idade.

- David? É, ele é bem legal. Acho que é o membro da família que eu mais gosto.

- Não seja tão duro, Jesse. Andy gosta de você. Ele se preocupa de verdade.

Emm nunca usava esse tom sério comigo, então nas raras vezes que ele o fazia, eu sempre era pego de surpresa.

- Eu... me desculpe. Eu só não queria substituir vocês. – Emmett riu.

- Não seja ridículo. Eu sou único! – Esse era o velho Emmett de volta a superfície. – Além do mais, ninguém nunca poderá nos substituir. Você sabe disso.

Eu acenei.

- Eu sei, mas mesmo assim prefiro que você esteja aqui para me lembrar.

- Apesar de ter dezenove anos e ser um homem formado, você ainda é um garotinho pra mim. Tem certas coisas que você ainda não está pronto para enfrentar sozinho. – ele disse para ninguém especifico e sim mais para ele mesmo. Não perguntei o que ele queria dizer com isso.

- Emmett? – eu o chamei.

- Sim.

- Você vai ficar? – ele sorriu e se sentou novamente na cama.

- Jesse, você está especialmente sentimental hoje. – revirei os olhos para ele e bufei. – Mas é claro. Eu já disse que não tenho para onde ir.

- Nenhum cemitério ou casa para assombrar? – eu transbordei ironia.

- Nop! – ele disse sorrindo. – Quem é ela?

Ele voltou a se deitar e colocar os braços atrás da cabeça. Eu juro que se ele não fosse um fantasma e bom, meu irmão eu o mataria por ser tão folgado.

- Ela quem?

- A garota. Suzannah, foi como você a chamou.

- Nenhuma placa de guru aqui. – eu disse o imitando. Ele gargalhou e eu percebi que estava com saudades desse som também. – Não faço a mínima idéia. Ela simplesmente surgiu aqui. Tudo que sei é que ela não está morta a muito tempo, seu nome é Suzannah e ela mora aqui.

- Oh, por favor. Qualquer um poderia descobrir isso. Você mora aqui com ela e não sabe de nada? – ele suspirou.

- Me dê algum crédito. Estou aqui a apenas algumas horas.

- Sério? Meu relógio de fantasma deve estar quebrado, pois eu simplesmente não tenho noção do tempo quando não estou aqui com você.

Ele deu de ombros.

Eu sorri. Eu sabia que ele não tinha relógio de fantasma nenhum, mas ainda sim a piada era engraçada.

- Tudo bem. – eu disse batendo palmas. – Você pode ficar, mas tenho que te estipular regras.

- Claro, claro. – Emm disse com sarcasmo revirando seus olhos.

- Nada de implicar com a Suzannah. – ele resmungou decepcionado. – Nada de assombrar as pessoas dessa casa. E principalmente... nada de me expulsar da minha cama a noite. A cama é minha, entendeu?

Ele riu.

- Nenhuma chance de você mudar de idéia sobre a cama?

- Zero.

- Tudo bem. – ele murmurou vencido.

 

Eu ouvi um barulho e levantei meu rosto do travesseiro. Olhei ao redor no quarto e não vi ninguém. Eu estava sonolento, mas meus instintos de mediador me faziam ficar alerta. Notei que Emm estava dormindo no tapete, ao chão, do lado da minha cama. Sorri quando ouvi seu ligeiro rouco. Deitei novamente e decidi voltar a dormir.

Um barulho novamente me despertou e percebi que vinha da porta. Alguém estava batendo na minha porta. Olhei para o relógio digital que ficava no criado mudo. Três e meia da manha. Que ótimo! Quem seria?

Levantei mal humorado e quase tropecei no Emmett. Cambaleei até a porta do quarto e destranquei a fechadura. Ela fez um clique que pareceu insuportavelmente alto no silencio da noite. Parado ali no corredor, do outro lado da porta, estava David.

- David? – eu disse esfregando os meus olhos. – Tudo bem com você?

David pareceu enrubescer. Isso era um grande fato tendo em vista que eu consegui perceber até no escuro.

- Desculpa te incomodar a essa hora, Jesse. Mas eu não consigo dormir. Tive vários pesadelos. Será que eu poderia dormir aqui com você?

Eu pisquei confuso.

- Dormir aqui? O que há de errado com o seu quarto?

- Ele está muito frio. Eu não sei. Está me parecendo estranho.

Pensei um pouco em suas palavras. Será que tinha um fantasma em seu quarto? Afinal de contas, toda vez que um fantasma está no recinto a temperatura cai consideravelmente. Mas eu estava acostumado demais com isso para realmente me importar. Então eu suspirei. Poderia ser Suzannah. Ela parecia chateada quando evaporou daqui. Talvez ela preferisse ficar no quarto de David por enquanto.

Percebei que o menino ainda me olhava a espera de uma resposta. Eu escancarei a porta e dei espaço para que ele passasse.

David caminhou apressadamente até a cama e no caminho, transpassou Emmett. Ele levantou a cabeça por um segundo, murmurou que ninguém tinha respeito pelos mortos e voltou a dormir.

Ainda me pergunto como ele consegue dormir já que ele está morto. A única resposta que recebi dele quando lhe perguntei isso foi...

- Eu não durmo, seu lerdo. Eu recarrego as minhas energias fantasmagóricas.

Tanto faz. Eu ainda não entendo isso. Balancei minha cabeça, fechei a porta novamente e fui em direção a cama.

David tinha se instalado ali e para minha surpresa, ele estava com seu travesseiro. Nem tinha visto ele trazer isso consigo.

Eu peguei o meu próprio travesseiro e caminhei em direção a bay window.

- Jesse, onde você vai? – David levantou a cabeça do seu travesseiro.

- Vou dormir aqui. Você pode ficar com a cama.

- Obrigado. – ele murmurou. – Mas você poderia me contar uma história?

Por um segundo eu pensei em bufar, resmungar ou então dizer a ele como ele estava sendo insuportavelmente folgado. Afinal de contas, eu mal conhecia o garoto e ele já estava enchendo o meu saco. Mas eu olhei para ele por um minuto: seus olhos grandes, seu cabelo bagunçado, sua respiração irregular. Estava obvio que ele teve um pesadelo. Automaticamente, ele me lembrou alguém. Eu.

Uma memória cortou minha mente como um trovão.

 

- Irmãozão... – eu disse entrando no seu quarto. Eram mais de meia noite e eu sabia que ele estaria muito irritado.

- O que é, piralho?

Vi seus cabelos bagunçados, sua cama revirada e o escuro do quarto.

- Tive um pesadelo.

Emm levantou a cabeça e me olhou parado na sua porta. Ele sorriu e levantou sua coberta claramente me fazendo um convite.

- Fecha a porta. – ele murmurou quando eu dei um passo a frente. Eu fiz como ele me pediu. – Anda moleque. Vem aqui, eu vou te contar uma história pra você dormir.

Eu me aconcheguei ao seu lado na cama e Emmett me contou histórias até eu dormir. Sorri involuntariamente e andei na direção de David.

- Chega pra lá. – ele me obedeceu e eu deitei ao seu lado.

- Jesse?

- Hum-hum. – eu murmurei.

- Obrigado. Meus irmãos nunca fariam isso por mim, - ele disse meio tristonho. – não mais.

Eu não o perguntei a respeito disso, apenas puxei da memória alguma história para crianças e comecei a recitar. Alguns minutos depois David dormia. Senti minhas pálpebras pesadas e um pouco antes de eu fechá-las pude ver Suzannah debruçada aos pés da minha cama nos olhando com um sorriso bobo nos lábios.


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Notas finais do capítulo

[N/A]: Antes de tudo, devo um pedido de desculpas a vocês. Não era minha intenção demorar tanto, mas eu simplesmente fiquei sem tempo e sem inspiração nenhuma.
Eu consegui voltar a escrever porque me animei falando com um amigo meu. Muito obrigada Jp!!!
Este capitulo contem informações importantes. Ok?
Então...Eu amei o capitulo. E vocês?
Então, estão curiosas sobre a história, sobre os personagens ou possuem dúvidas e ideias?
Rrsrsrs.
Deixem as suas opiniões nas minhas reviews!
Beijos&Mordidas!
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Sou uma autora carente!
Necessito de reviews!