Death Memories: Operação Marshall escrita por Nael


Capítulo 15
Querida Mamãe


Notas iniciais do capítulo

Betado pela Moonlight.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/630208/chapter/15

“Aaron Nimzowitsch não era exatamente um poço de simpatia. Certa vez, ao ser derrotado por um mestre a quem considerava muito inferior (Becker), não se conteve e declarou aos berros, para que todos ouvissem: "Meu Deus, como se explica que eu tenha perdido para esse imbecil?"

P.O.V Matt

Fiquei catatônico. Ouvi pelo que pareciam horas a narração do Mello, de como fora vendido, obrigado a jogar para sobreviver e manter sua irmã a salvo e ainda sim era espancado e violentando. Mas por mais que soasse estranho o que realmente me chocava era o tal labirinto. Não podia ser... Qualquer um teria dificuldades de acreditar naquilo, parecia muito fantasioso e impossível. Qualquer um menos eu.

– Um... Labirinto? – foi tudo que falei quando ele acabou. Ainda estávamos sentados no terraço. – Não... Quer dizer... Que loucura, que pessoas fazem coisas assim? É... É bizarro. – eu queria falar tantas coisas ao mesmo tempo que não podia evitar de gaguejar. – Eu... Você... Como consegue... E ainda... – Mello me olhava com uma cara de confusão e eu sabia que seria questão de tempo até ele me dar um tapa na cara para eu parar de agir daquele jeito.

– Mihael... – falei baixo colocando o notebook de lado e me arrastei pra perto dele. Antes que ele pudesse fazer qualquer coisa eu o abracei. – Sinto muito, de verdade eu...

– Matt... – acho que ele ficou assustado, não se mexia ou falava nada, muito menos me abraçava de volta. O fato é que eu só ganhava dois abraços de verdade por ano, um do Mello e outro da Jullie no meu aniversário. – Eu... – ele me afastou gentilmente. – Não quero mais falar disso.

Suspirei e permaneci na sua frente. Eu ainda tinha que falar sobre isso, eu precisava, eu... Ele era meu melhor amigo, mesmo que talvez ele não me considerasse assim eu nunca esqueceria o que ele fez por mim então eu tinha que falar.

– Depois... Depois que perdi minha mãe e fui parar naquele orfanato com você e a Lisa... – ele me olhou surpreso. – Olha, eu... Eu que sempre fui mimado, tive tudo e nunca passei por nada além de alegrias na vida quando perdi tudo entrei em pânico. Mas você... Depois de tudo isso ainda está aqui, ainda está lutando e...

– É claro, ela... Ela não pode ter morrido por nada.

– É, eu entendo. – em parte eu entendia já que ele nunca me contava como ela morreu e eu apesar da curiosidade sabia que era melhor evitar esse assunto. – É só que... Eu passo tanto tempo lamentando por não ter mais minha vida perfeita, sei que muita gente no orfanato tem historias difíceis e sinceramente, dado o modo como fui criado... Achei que isso poderia justificar minha dor só que...

– E justifica. Você é um riquinho mimado que não sabe como agir sem seus empregados. – Mello riu de canto. Foi exatamente assim que nós nos conhecemos.

– Pode ser, mas você não só jogou a realidade na minha cara como me ajudou a lidar com ela. Então eu quero fazer o mesmo por você, acontece que eu ainda sou um pirralho mimado e... E não sirvo pra nada.

Parecia que por mais que eu tentasse, por mais que me esforçasse eu nunca chegaria aos pés do Mello. Não apenas em questão de inteligência, pódio, ou seja lá o que for. Eu posso ser uma calculadora humana, um ótimo hacker, mas ainda sim ele era superior a mim, ao Near, a qualquer um. E o pior é que nunca enxergava isso e nunca entenderia como eu o admirava por ser tão forte.

Mello começou a rir alto.

– Mas o que... – ergui os olhos pra ele, mas me calei perante sua expressão calma e alegre. Era muito raro ver isso nele.

– Você é idiota, um completo babaca, seu otário. – ele continuou rindo. – Mané...

– Tá, entendi. – me irritei. – O que é tão engraçado? O idiota é você porque eu tô aqui tentando te dar apoio e você faz pouco caso.

– Obviamente. – ele respondeu. – Afinal, você não pode fazer nada mesmo, você é um inútil. – fiquei sério, mas ele ainda mantinha o tom brincalhão. – Porque... É dever do irmão mais velho dar apoio e aprender as coisas antes. Por isso eu estou te desmimando pouco a pouco.

Fiquei sem entender, sem parecer ouvir e sem falar. Ás vezes me perguntava se Mello realmente se importava comigo, se nossa amizade era agora forte o suficiente, afinal ele saiu sem pestanejar ou se despedir do outro orfanato para entrar na Wammy’s.

Era um fato que nos entendíamos com um olhar e convivíamos até bem, mas eu também sabia que era uma ferramenta ótima pra ele e um brinquedo ideal para se passar o tempo, descontar a raiva, aliviar o estresse e receber apoio. E que talvez ele só me suportasse. Não que ele seria capaz de me deixar para trás para morrer, ele já havia se ariscado por mim eu só não sabia por qual razão. Se por eu ser seu amigo ou uma peça importante. Ouvi-lo dizer tais coisas fez tudo o que eu achava saber sobre ele começar a desmoronar.

– E só pra você saber eu não estou te fazendo de substituto da minha irmã, porque ela era maravilhosa e você só dá trabalho. Eu só... – ele parou de rir ficando mais sério.

– O que? – Falei quase num sussurro.

– Eu só tive três amigos em toda minha vida além da minha irmã e quero manter pelo menos o ultimo que me sobrou.

Eu fiquei surpreso com aquilo, apesar de como começamos nossa amizade Mello nunca me disse tais coisas, mas também acho que nunca precisou. E embora só agora eu começasse a concluir isso e conhecer de verdade Mello eu notei que nós dois já éramos unidos dessa forma por causa da Lisa e eu nunca entendi o por que.

– Você vai mesmo embora Lisa? – perguntei para a garota de cabelos acinzentados, quase brancos.

– Sim, meu irmão me encontrou e vou estudar em um internato. – Mello ao meu lado não dizia nada apenas tinha aquela expressão de que iria socar alguém. – É quase a mesma coisa daqui, só que é uma escola bem rígida de meninas.

– Entendo...

– Escutem. – ela falou serena como sempre enquanto um motorista colocava sua mala no carro. – Eu realmente vou sentir falta de vocês dois, especialmente as discussões, mas também quero que nunca briguem. – soltei um risinho. – Amigos, irmão acabam se desentendendo para então fazerem as pazes, se for assim podem discutir a vontade só não deixem nada nem ninguém nos separar. Nem mesmo essa distância.

– Você vai ficar isolada, nunca mais vamos nos ver. Apenas diga adeus logo. – Mello falou parecendo entediado e irritado.

– Não, eu não vou dizer, porque um dia eu os acharei de novo. Até lá cuidem-se. Vocês são extremamente diferentes, mas é exatamente por isso que se dão bem.

– Até parece. – o loiro suavizou um pouco sua expressão.

– Está na hora, senhorita. – o motorista falou entrando no carro.

– Nós três somos um ótimo time e ainda jogaremos muitas partidas de tênis. Mas até lá... – ela nos abraçou, cada um de um lado. – Não importa quantos amigos eu faça eu nunca vou esquecê-los, porque nós três somos irmãos. Não de sangue ou de coração. Mais do que isso, somos irmãos de almas e almas não desaparecem nunca.

– Sabe... – falei. – Depois que tudo isso acabar eu já sei o que irei pedir de natal. – voltei a me sentar perto do notebook e o coloquei no colo. – Acho que o nosso diretor não terá problemas em encontrar uma garota em um internato, não é?

Mellody, Lisa e Eu... Quem seria a outra pessoa que também foi amigo do Mello e ele acabou perdendo? Subitamente me esqueci do que tinha para falar sobre o labirinto, achei melhor guardar pra depois ou até mesmo nunca contar principalmente depois do que Mello disse. Eu não queria perder sua amizade, porém mais do que isso não queria que ele acabasse tendo que me afastar ou me perder também. Entretanto aquelas imagens do passado começaram a me atormentar...

– Mãe! – gritei saindo correndo pelo jardim da mansão. – Você voltou! – pulei no colo dela que me recepcionou com um sorriso e me girou no ar.

– Meu amor, que saudade. – ela voltou a me abraçar já no chão. – Eu demorei bastante, não foi?

– Demorou, prometeu estar aqui três dias atrás.

– Eu sei, eu sei, mas ainda cheguei a tempo do seu aniversário. – minha mãe tinha cabelos escuros na altura dos ombros, olhos âmbar e um sorriso único. – Além disso, te trouxe vários presentes da Espanha.

Os nossos empregados começaram a tirar as coisas do porta-malas do carro, havia vários pacotes embrulhadas, todas eles para mim. Sempre que minha mãe viaja ela demorava, mas sempre que voltava além de me dar toda atenção me enchia de presentes dos locais onde fora.

– Oba, oba. Quero abrir agora. – sai correndo e pulando perto de um dos empregados.

– Mail, espere... Mail... – minha mãe ria. – Ai caramba.

– Levaremos tudo para seu quarto Mestre Mail. – um deles me respondeu e eu me acalmei um pouco entrando na casa com a minha mãe.

– E então? O que tem pra me contar da Espanha? Aliás, quando é que vai me levar pra viajar com você mamãe?

– Quando for mais velho, como sempre. – fiz bico pra ela. – Ora Mail não seja assim, essas viagens a trabalho são muito chatas, você acabaria ficando sozinho. – ela apertou meu nariz e começamos a rir. – Ele está dando muito trabalho? – ela perguntou para a mulher que apareceu atrás de mim.

– De maneira alguma, madame. – Kadoshi respondeu afagando meu cabelo. – Ele está indo muito bem nos estudos, é muito esperto. – sorri nervoso e minha mãe fez uma cara de desconfiada. – Até mesmo com os idiomas, aos poucos está aprendendo bem.

– Vachement? – ela começou a falar em francês. – Se quer viajar o mundo tem que aprender muitas línguas.

– Eu vou aprender, pode apostar. – respondi. – Além disso, Kadoshi convenceu Adam e os outros a me ensinarem de um jeito divertido. Jogamos até paintball, acredita?

– Você realmente ama jogos, não é? – ela riu. – Acho que está na hora de trocar seu Nintendo não é? – e assim se passou a manhã e a tarde, minha mãe me mimando. Não que ela me enchesse de presentes e pronto, ela era realmente atenciosa e ouvia minhas historias malucas de heróis dos quadrinhos e games.

Eu mostrei pra ela como havia aprendido calcular bem por conta do paintball e ela elogiou minha mira, mas disse para eu nunca atirar em ninguém. Além disso, jogamos tênis, mostrei meus golpes de kung fu, montamos a cavalo, jogamos vídeo game e jantamos pizza. Então ela me contou suas historias da viajem para que eu dormisse.

Naquela noite, porém eu levantei para beber água já que a jarra ao lado da minha cama estava vazia. Passando pelo corredor vi a luz do escritório acessa, minha mãe costumava ter reuniões em casa, mas não tão tarde. Me aproximei para ouvir.

– E vai funcionar? – ouvi um homem perguntando.

– Levará algum tempo, mas certamente funcionará basta ter os materiais e montagem correta. – minha mãe foi firme, ela sempre tinha um tom superior ao tratar de negócios.

– Entendo. Entretanto houve uma mudança no pedido. – o homem pareceu rir.

– O que quer dizer?

– O cliente quer mais... Como direi, dinâmica. Que tal se implantasse algumas coisas nas paredes?

– Tão em cima da hora é contra o contrato. – foi a vez de reconhecer a voz de Kadoshi, ela parecia furiosa. Nunca a via assim, mesmo quando eu aprontava ela era calma e carinhosa comigo.

– Isso subirá o valor dos custos e consequentemente do meu trabalho. Além disso, por violar o que tinhas concordado antes o prazo será estendido.

– Certamente senhora Jeevas. Sendo assim aqui está uma lista do que o cliente gostaria, algumas ideias para você se inspirar. – o homem parecia tranquilo.

– Entendido. Está tarde, se isso é tudo deve se retirar. Adam, o acompanhe, por favor. – ouvi passos e corri me escondendo atrás de uma cortina. Não pude ver direito através do tecido e por conta das luzes fracas, mas Adam saiu acompanhando um homem que era mais alto e parecia usar terno. Em seguida minha mãe e Kadoshi saíram.

– Não devia tê-lo deixado entrar aqui.

– Eu sei, mas ele já sabia da casa a muito tempo. Uma hora ia dar as caras. – sua voz parecia cansada e ela suspirou. – Eu estou tentando manter a postura, mas o fato é que não estou em posição de controle aqui. Tenho que fazer esse trabalho rápido.

– Com o nosso aparato tecnológico pode até conseguir, mas ainda sim será trabalhoso. Algo desse tipo nunca foi construído antes.

– Eu sei. Passarei o dia fora amanhã e terei que ir para o laboratório em breve.

– Mas senhora, acabou de chegar e é o aniversario do Bocchan. – Kadoshi era japonesa e só me chamava assim.

– Eu tentarei não ir embora antes disso. Deixarei Hilary e Tom tomarem conta da festa, mas para todos os efeitos se ele perguntar diga que fui preparar tudo.

– Entendido. – ela respondeu bruscamente.

– Kadoshi, minha amiga...

– Eu sei, não se preocupe. Nós cuidaremos do Bocchan. Não importa como. Aquele desgraçado pode achar que não passamos de empregados e talvez queira nos subornar, mas neste momento pode ter certeza de que nenhum de nós, seus amigos, iremos te trair.

– Eu sei, sempre serei grata por isso. É melhor todos descansarmos, amanhã será um longo dia.

Fiquei meio chocado com tudo o que ouvi, Kadoshi não costumava se comportar daquele jeito. Então entrei no escritório e fui até a mesa acendendo apenas o abajur, lá havia alguns papeis com tabelas e gráficos. Vasculhei as gavetas e encontrei uma pasta preta. Abri e retirei os papeis, nela havia desenho de engrenagens e uma lista... Reconheci alguns, eram todos de revolveres e pistolas, mas também havia bestas, rifles dentre outras armas. Por baixo dessa lista havia então alguns papeis dobrado. Abri o primeiro, era maior que os outros e estava desenhado um labirinto enorme.

As observações no canto estavam em ideogramas que coincidentemente era minha pior língua por mais que Kadoshi tentasse me ensinar. Voltei a olhar o labirinto, havia dez números espalhados ao redor, mas não eram saídas, observando bem não havia saída nenhuma. Abri mais alguns dos papeis, no total eram doze e pelo menos em todos que abri haviam labirintos sem saída.

– Que estranho... – pensei alto enquanto guardava tudo de novo. Nunca entendi porque minha mãe, uma engenheira tão renomada e requisitada cometeria o engano de fazer labirintos fechados. Nunca perguntei também porque um homem estaria interessado em comprar aquilo.

Mas então depois de ouvir a historia do Mello eu comecei a me arrepender amargamente disso e um sentimento horrível se apoderou de mim, eu queria sair gritando dali, mas não podia. Nem sequer conseguia contar a ele por puro medo e também falta de explicações. Mãe... Quem era você afinal?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom, como visto na curiosidade foi daí que tirei o nome do Aaron Hayden.
É isso... espero que o capítulo tenha valido pra relaxar do Enem. =D
Quero teorias sobre o Matt!! Soltem a imaginação.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Death Memories: Operação Marshall" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.