Minha Gotinha de Amor escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 8
O melhor dos conselhos


Notas iniciais do capítulo

Talvez eu consiga compensar um pouco do atraso.. hehe :P
O próximo vai ser curtinho. Ia postar tudo junto mas, se eu fizesse isso, esse ia ficar grande demais, então em breve eu posto :)



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Fazia duas semanas desde o fatídico incidente com o “quase beijo”. Duas semanas que Spencer e Aria não conversavam a sós, como indivíduos. Aquilo era desanimador, Aria não conseguia descrever de outra forma. Apenas... foram dois dias extraordinariamente maravilhosos, em que as duas pareceram desenvolver uma conexão surreal. Naqueles dois curtos dias, houve uma intimidade enorme circundando Spencer e Aria... e agora, parecia que tudo aquilo tinha evaporado para o desconhecido, de onde havia saído.

Spencer se mantinha cada vez mais ocupada. Passava praticamente todos os seus horários de almoço com o clube de debates e parecia que todos os dias eram dias de testes. Sempre que Aria a via, ela estava com o nariz enfiado em um livro, e francamente? Isso já estava começando a irritar. E isso quem dizia era Aria, a maníaca pelo período romântico inglês, a que sempre puxava um livro da bolsa nos momentos de tédio ou nos quais ela simplesmente se sentia carente.

Aria via Spencer apenas por um par de minutos diariamente agora, na hora do almoço, isso quando a via, pois nessas duas semanas foram vários os dias em que Spencer enfurnara-se na biblioteca para escrever para o jornal da escola, junto com alguns outros alunos que também desempenhavam a mesma função que ela, como Andrew Campbell.

Aquilo já havia atingido o ridículo, para falar a verdade. Durante todas as vezes que estivera com as garotas até agora, Spencer parecera querer esquivar-se de qualquer tentativa de contato visual mais profundo, de todas elas, não apenas das de Aria. E Spencer sempre se despedia delas com um beijinho apressado no rosto de cada uma, coisa que ela só fazia quando se sentia culpada em relação a alguma coisa.

– Está para nascer alguém com alma mais nerd – Alison dissera carinhosa e constantemente naqueles últimos dias, enquanto via Spencer se afastar, apressada, depois de ter beijado a bochecha das quatro.

Bem, isso era verdade, Aria sabia, mas aquilo ia além do “espírito nerd” de Spencer. Ela estava claramente as evitando. Mais do que isso, ela parecia não querer enfrentá-las. Pensando egocentricamente outra vez, Aria concluía que fazia sentido Spencer querer evitá-la por causa daquele “quase beijo”. Talvez tivesse se arrependido do que tentara fazer e agora não soubesse como agir perto de Aria. Mas, se fosse esse o problema, por que Spencer insistia em dar gelo em todas as quatro e não apenas em Aria?

Mas não era apenas o gelo que Spencer andava dando em suas amigas que preocupava Aria, mas também o isolamento da morena. Quer dizer, os pais não costumam dizer a seus filhos que eles podem adoecer se estudarem demais, isso porque quase nenhum adolescente na face da terra era como Spencer Hastings. O fato agravante era que Spencer estava realmente exagerando.

Aria só conseguira se acalmar um pouco quando vira Spencer, no último sábado, perambulando pela cidade ao lado de sua irmã, Melissa. As duas tinham sacolas de lojas de grife em mãos. Aria não atrevera-se a atravessar a rua para dizer oi. Spencer parecia feliz e pela primeira vez em vários dias tinha um sorriso no rosto, parecendo ter esquecido finalmente dos livros.

Se Aria bem conhecia Spencer, Melissa tivera que arrastá-la para aquele passeio no shopping. Ao contrário da irmã e de seus próprios pais, até, Spencer era uma boa poupadora de dinheiro. Mas, embora tivessem suas divergências, ela e Melissa, nos últimos tempos, eram como melhores amigas. Algo que, para Aria, surgira repentinamente e exatamente na época do fim do noivado de Melissa, há quatro anos.

Spencer e Ali costumavam dizer que se derretiam pelo noivo de Melissa, Ian, porém Aria sabia que nenhuma das duas gostava de Ian de verdade, só competiam para ver quem atraia mais a atenção do rapaz. Na verdade, Ali e Spencer costumavam competir a respeito de tudo, principalmente a respeito de quem era a melhor líder para o grupo.

Na época, as meninas ainda estavam no oitavo ano e Spencer não via a hora de Melissa ir para a faculdade. O celeiro dos Hastings – que Melissa transformara em um loft e morava até então com o noivo – seria quase que propriedade de Spencer assim que Melissa fosse para a Upenn. Tudo o que Spencer sabia era que passaria a ser quase que totalmente independente e que teria a privacidade que sempre desejara. Sua empolgação era sobre-humana a respeito disso. Porém, sem mais nem menos, no primeiro fim de semana de folga de Melissa da faculdade, chegara à Aria a noticia de que o noivado estava acabado e, também de uma hora para outra, Spencer começara a não ligar mais para o celeiro. Começara também a pedir às amigas para que não insistissem em fazer suas usuais festas do pijama no local.

Alison fora a que ficara mais frustrada.

– Spence, aquele lugar é como o nosso próprio Taj Mahal! – ela por vezes protestara, fazendo birra.

– Quer para você? – devolvera Spencer certa vez, aparentando estar irritada – É todo seu!

Assim como a empolgação de Spencer em relação ao celeiro desaparecera, os comentários maliciosos a respeito de Ian também desapareceram. Apenas Alison às vezes disparava uma ou outra piadinha sobre o rapaz finalmente estar solteiro, mas ao ouvir tais, Spencer apenas revirava os olhos.

À partir dessa mesma época também, abraços entre Spencer e Melissa, nos demais fins de semana de folga da garota, passaram a ser constantes.

– Isso é tão fofo! – Emily costumava dizer, inocente e sonhadora, sempre que presenciava algum dos gestos entre as duas irmãs.

Aria e o resto das meninas apenas observava em silêncio, tentando descobrir da onde viera tamanha conexão. Afinal, desde que Spencer nascera, ela tentava superar Melissa em alguma coisa. Nas notas, campeonatos escolares de xadrez, até mesmo em arrumação de camas – por mais incrível que pudesse parecer. E simplesmente... toda essa competitividade fora deixada de lado. Ninguém entendia. Spencer era complicada. A família Hastings era complicada, na verdade.

Aria suspirou, estando no momento sozinha à uma das mesas do refeitório da escola naquela segunda-feira. Tinha sua cópia levemente amarelada de Madame Bovary ao lado de sua bandeja. Estava a quatro páginas de terminar o romance. Estivera lendo bastante ultimamente. Exatamente por se sentir daquele jeito, carente. Mas percebia que não ansiava mais por ver Spencer. Quer dizer, de que adiantaria vê-la se aquela versão de Spencer tinha os olhos mais opacos e mais desprovidos de emoção que Aria já vira? De que adiantava vê-la se... os olhares calorosos que Spencer a lançara naqueles dois distantes dias... não existiam mais?

Aria se sentia fria no momento. Congelando talvez, até. E a única coisa que a esquentaria seriam aqueles olhares. Os olhares da Spencer corajosa que ela sempre conheceu. Da Spencer que não fugia das circunstâncias, por piores que elas estivessem. Aria fechou os olhos por um segundo. Era como se ela pudesse sentir a saudade tomando conta de cada órgão presente em seu corpo. Abriu os olhos para avistar Hanna ao longe. Ela não carregava uma bandeja, apenas uma maçã na mão direita. E envolvida ao nível dos ombros pelo braço esquerdo da loira, estava Mona, que também não carregava o almoço entre as mãos.

Hanna, mesmo estando a alguns metros de distância, fisgou o olhar de Aria, cochichou algo para Mona e beijou-a na testa. Isto é, manteve os lábios pressionados à testa de sua amiga de tal maneira que, durante tal tempo, precisou fechar brevemente os olhos. Em seguida, Mona se afastou para ir em direção à mesa onde seus amigos a esperavam, e dentre estes estava Lucas Gottesman – também um dos alunos para quem Ali precisara pedir desculpas durante seu “período de redenção”.

Era oficial, Aria havia deixado de se sentir apenas feliz por aquelas duas. Começara, há algum tempo, a sentir certa inveja da relação delas. Uma inveja branca, mas ainda assim. Quer dizer, mesmo que elas não estivessem em um relacionamento romântico, aquele singelo beijo na testa pareceu... um tanto romantizado, por assim dizer. Na verdade, Ezra costumava beijar Aria daquele jeito em público, onde sabia que não podia beijá-la nos lábios. E, pelo que Aria já havia observado, Hanna e Mona pareciam não ter vergonha de serem vistas juntas andando de braços enganchados ou mesmo mãos eventualmente entrelaçadas.

– Olá, mon amour – cantarolou Hanna delicadamente, sentando-se à frente de Aria.

A morena não respondeu, apenas continuou a fitar Hanna com um sorriso bobo nos lábios.

– O que foi? – a loira juntou as sobrancelhas e deu uma mordida em sua maçã.

– Vocês duas... – Aria suspirou – como vocês conseguem?

Hanna virou o pescoço para trás e lançou um sorriso breve à Mona, que repetiu o gesto.

– Conseguimos o quê?

– Ser... desse jeito. Tão sutis e ainda assim tão...

– Namoráveis? – Hanna completou, lançando um olhar brincalhão e malicioso à Aria ao mesmo tempo.

– Não era isso o que eu ia dizer – Aria balançou a cabeça, embora em momentos peculiares, como o que Aria acabara de presenciar, elas parecessem mesmo um casal.

– Bem, eu tenho certeza de que a turminha de vagabundos do time de lacrosse acha que nós nos “pegamos” de vez em quando.

Aria deu uma leve risada, embora estivesse sentindo-se um tanto constrangida. Ela odiava supremamente termos como “pegar”, “ficar” e “lance”, se tais fossem atribuídos a um namoro.

– Não incomoda a vocês que eles pensem isso? – Aria arriscou, ainda incerta.

– Por que deveria incomodar? – Hanna deu de ombros e mordeu sua maçã mais uma vez – Eles não passam de idiotas sem cérebro. Eu sei o que Mona e eu temos. E isso não interessa a eles.

Aria ergueu as sobrancelhas, um tanto surpresa. Uau. Hanna não parecia brava ou algo do tipo enquanto falava. Parecia apenas... segura de si. Aria suspirou novamente, encolhendo os braços. Tem tanta coisa que eu ainda quero te perguntar, ela pensou consigo.

– Sua pergunta tem a ver com você estar curiosa em relação à Spencer? – a loira indagou docemente, como se lesse os pensamentos de Aria.

A morena apenas ergueu os olhos, na esperança de que a ficha de Hanna fosse cair sem ela precisar dizer nada, como da última vez. Aria tinha a impressão de que tinha em seu rosto uma expressão de cachorrinho pidão.

– Ela anda meio distante ultimamente, não é? – sugeriu Hanna, e Aria sentiu-se acolhida devido àquela voz baixa e delicada.

– Você acha? – disparou ela, ressentida.

Hanna ficou um tempo em silêncio, como se estivesse pensando seriamente no que falaria a seguir.

– O que você quer? – perguntou, como se, desta vez, ela fosse a psicóloga de cabeceira de Aria – Quer dizer, você fugiu quando ela tentou te beijar, não é?

– Eu fugi porque estava apavorada! – Aria disparou outra vez, com os olhos arregalados pregados em Hanna – Estava com medo de que aquilo fosse real... e de que não fosse ao mesmo tempo. Você entende?

– Acho que sim – Hanna sorriu – Mas, então, o que você quer?

Aria pensou por um tempo, deixando o ar escapar tremulamente por entre seus lábios.

– Eu quero que Spencer olhe para mim do jeito que Mona olha para você. Ou vice-versa.

Hanna riu levemente, talvez do pequeno grande desespero da amiga.

– Desculpe, Han – a morena continuou –, mas não tente me convencer de que a amizade de vocês é uma amizade normal.

A loira ainda parecia estar achando aquela discussão engraçada.

– O que é algo “normal”, Aria? – ela rebateu, um sorriso travesso ainda em seus lábios – Francamente? O que é normal ou não é questão de ponto de vista. Nenhuma amizade é comparável. Por exemplo, certas coisas me ligam à você, outras me ligam à Emily, outras à Ali... e outras à Mona. Cada laço de afeto é especial de um jeito diferente. Não há nada para rotular ou sentir vergonha. Sabe por quê? – ela baixou o olhar para encontrar o de Aria, que no momento estava de cabeça baixa, escutando – Porque nós somos apenas pessoas.

Aria levantou o olhar devagar e sorriu timidamente.

– Esse discurso descreve Emily totalmente, mas eu nunca pensei que ouviria você dizendo algo assim – disse ela baixinho, esperando que a amiga não se sentisse ofendida. Hanna, porém, simplesmente sorriu também.

– Escute, eu não sei dizer o que Mona e eu temos – ela recomeçou, pausadamente – Sinto que não preciso dar um nome a isso. Mas seja o que isso for, eu sei que ela se sente da mesma forma. Digo isso porque nunca precisei beijá-la para “testar”. Nada precisou ser forçado, agimos naturalmente e nos sentimos confortáveis do jeito que as coisas estão. Claramente não é o que está acontecendo entre você e Spencer.

– E como eu faço para descobrir o que está acontecendo? – perguntou Aria fracamente, como se não tivesse um pingo de experiência e estivesse conversando com a mãe pela primeira vez sobre relacionamentos.

– Fale com ela! – disse Hanna, como se fosse extremamente óbvio (e na verdade era), com os braços esticados e a ponta dos dedos tocando a bandeja vermelha de Aria – Espalhe as cartas na mesa quando vocês estiverem sozinhas. Se for preciso, segure-a pelo braço, diga com todas as letras “precisamos conversar” e não faça com que soe como uma opção. Seja direta com ela, honesta e não faça esses joguinhos estúpidos de mascarar a outra metade da verdade.

Quando Hanna finalmente parou para tomar fôlego, Aria percebeu um brilho ávido nos olhos azuis dela. A loira parecia uma revolucionária e, de alguma maneira, Aria sentia que ela falava por experiência própria. Sinceramente, a postura corajosa de Hanna naquele momento lembrava-a inegavelmente de Spencer.

A morena suspirou.

– Pelo jeito como você fala, parece que uma guerra está à minha espera.

– Talvez seja mesmo uma guerra – Hanna deu de ombros, casualmente – Uma guerra que você precisa enfrentar. Porque, garota, alguma coisa “diferente” por você ela sente, senão ela não teria tentado te beijar. E alguma coisa “diferente” por ela você também sente, senão não estaria se questionando.

Hanna concluiu, lançando à Aria um sorrisinho sábio, no exato momento em que as três outras cadeiras em volta da mesa moveram-se, quase que simultaneamente. O resto do grupo estava ali agora, e Aria não conseguiu erguer o olhar de imediato. Observou Hanna roubar uma das batatas assadas do prato de Emily e em seguida levantar-se para finalmente pegar seu próprio almoço.

Assim que Spencer sentou-se ao seu lado e depositou seu livro de latim sobre a mesa ao invés de uma bandeja de comida, Aria irritou-se novamente, mas não conseguiu dizer nada pois as palavras de Hanna ainda retumbavam em sua mente, deixando-a levemente atordoada. Palavras essas que compuseram o melhor conselho que ela já recebera na vida.

Spencer mal conversou com o grupo. Passou o resto dos minutos daquele tempo livre traduzindo um texto para sua aula de latim, de três folhas, frente e verso. No momento ela estava trabalhando nas últimas linhas e sua caligrafia havia ficado um tanto desleixada da metade da terceira folha até o final. A garota tinha pequenos calos no polegar e no indicador da mão direita.

– Spence, há quanto tempo você está trabalhando nisso? – perguntou Aria, preocupada.

Spencer parou de escrever por um segundo e coçou uma sobrancelha, ainda assim não olhando diretamente para Aria.

– Hã, pelas últimas doze horas, talvez? – ela respondeu vagamente, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Aria agora percebia que os longos cabelos de Spencer estavam levemente embaraçados e presos em um rabo-de-cavalo. Sutis olheiras destacavam-se no rosto da garota.

– Spence, você não dormiu?

– Eu não estava com sono – respondeu ela, sem tirar os olhos de seu texto.

– Você ao menos tomou café da manhã? – Aria sabia que Spencer não era fã de comer de manhã cedo, em dia de escola. Ela sempre dizia que não tinha tempo.

Foi como se Spencer não tivesse escutado, apenas continuou escrevendo.

– Spencer – Aria chamou-a mais firmemente.

Spencer largou o lápis e puxou da bolsa uma embalagem vazia daquelas minúsculas barrinhas de proteína.

– Meu café da manhã – informou ela.

– E você não vai comer nada agora? – indagou Aria, alarmada, porque no exato momento o sinal para a próxima aula soou, fazendo Spencer fechar seu livro e levantar-se num flash.

A garota fisgou uma mordida de uma segunda maçã que Hanna tinha em sua bandeja.

– Estou alimentada – disse Spencer, sorrindo – Não se preocupe, falo com você depois.

Hanna protestou infantilmente ao ver o que a amiga havia acabado de fazer, porém Spencer já estava longe. Aquilo definitivamente tinha que parar, pensou Aria, convicta, e pararia muito em breve.


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