Minha Gotinha de Amor escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 14
Livre e gay


Notas iniciais do capítulo

*suspiro de arrependimento*
Foram quase dois meses sem atualizar? É isso mesmo, produção? Parece que foi ontem que foi natal ;-;
Ai, mas se vocês tivessem estado dentro da minha cabeça por esses dois meses, teriam ideia do tamanho do meu bloqueio...



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— Está querendo me convencer de que você realmente raspou as costeletas do seu pai, enquanto ele dormia, porque sua avó te ofereceu cem pratas?

— Ei, eu tinha dez anos! – Spencer rebateu do outro lado da linha – Na época era como se fosse um milhão de dólares.

   Aria riu.

— Eu queria te-la conhecido. Ela parece ter sido a melhor avó do mundo.

— E foi. Só que o meu pai não acha que ela tenha sido tão boa assim. Ele ainda tem uma cicatriz bem pequenininha, de um lado do rosto. Ah, mas por cem pratas eu faria de novo.

   Aria gargalhou desta vez e, como sempre, ouvir a risada da morena entrelaçando-se à sua em seguida era uma das melhores sensações do mundo.

   Modéstia à parte, Aria tinha a impressão de que aquelas conversas noturnas com Spencer ao telefone estavam fazendo mais bem à garota do que as reuniões dos N.A. Não que Aria pensasse em si como uma grande apaziguadora de pesadelos, mas às vezes a solução mais eficaz era a mais simples. Além do mais, Spencer quase não abria a boca em tais reuniões, sua postura permanecia rígida durante sessenta minutos, ela não parecia estar à vontade. Talvez o que a garota mais precisasse, verdadeiramente, fosse de alguém para conversar, alguém que a deixasse ser ela mesma. Em suma, Aria sentia que estava ajudando.

   Muitas vezes, as duas adentravam a madrugada conversando, enroladas em seus cobertores; falavam baixinho, na maior parte do tempo, para não correrem o risco de serem ouvidas por seus pais. Era quase como se dormissem juntas porque, uma vez que a ligação era encerrada, a presença de Spencer ainda remanescia em Aria – e ela esperava que a morena experimentasse da mesma sensação.

   Não era sempre que diziam “eu te amo” ao despedirem-se; o beijinho que jogavam uma para a outra e o “durma bem” deixavam aquele amor tão explícito que era simplesmente desnecessária a adição daquelas três palavrinhas. Porém, havia vezes, como aquela, que era inevitável. E as declarações escapavam, mais cheias de significado a cada dia que passava.

   Assim que Aria desligou, ao ouvir Spencer respondê-la, arrependeu-se. Quase discou o número da morena outra vez, mas controlou-se – embora estivesse ficando cada vez mais difícil controlar tal sentimento ultimamente –, virando-se para o lado oposto na cama e fechando os olhos.

   Fazia já mais de mês desde o primeiro beijo e Aria percebia que Spencer tomava cada vez mais e mais de seu tempo – no melhor sentido possível; percebia a vontade evidente que tinha de estar com ela em todo e qualquer momento que não estivessem juntas, inclusive a de dormir abraçada a ela naquele exato momento. E simplesmente a matava não poder alongar os abraços que dava em Spencer na escola – ou trocar carícias mais íntimas com ela –, simplesmente porque ninguém mais sabia sobre elas além de Hanna e Mona.

   Aria realmente não sabia por que ela e Spencer ainda não haviam contado a verdade para o resto do grupo. Bem, certo, era gostoso ter um segredo, e também era divertido mentir para se encontrar às escondidas com Spencer em algum cinema, por exemplo, enquanto quase todas do grupo não sabiam que as duas não estavam de fato estudando; mas Aria trocaria num piscar de olhos tal friozinho na barriga – causado pela ideia do “proibido” – pela estabilidade de poder andar de mãos dadas com Spencer em meio às outras meninas, durante uma eventual caminhada pelo shopping.

   Essa coisa de sair de fininho tem que acabar, Aria pensou, enquanto metade de sua mente já estava mergulhada no subconsciente, de uma vez por todas.

O que está pensando em fazer?, dizia a folha de papel que Spencer entregou a Aria durante a quarta aula da manhã seguinte, estando na carteira ao lado.

Nada além de dizer a verdade, ela escreveu logo abaixo da pergunta da morena. Estou cansada disso. De ter que segurar sua mão somente por debaixo da mesa da cantina.

   Spencer deu um sorrisinho ao terminar de ler e lançou um olhar enternecido a Aria, que sorriu junto como se dissesse “é a apenas a verdade”.

Eu entendo. E não poderia estar mais louca para dizer a todas o quão sã você me deixa.

 Foi a vez de Aria sorrir e trocar um olhar rápido com Spencer. Ela derretia-se cada vez que a morena mencionava algo sobre como ela tinha parte importante em sua recuperação. A maior realização de Aria era ter ajudado a trazer a velha Spencer de volta, e seu maior desejo era ajudar a mantê-la ali, para nunca mais ir embora.

   Ela mordeu o lábio e olhou instintivamente para a frente antes de recomeçar a escrever. O olhar de Ali, que, sentada mais à frente, dividia aquela aula com elas, fisgou o seu. A loira franziu o cenho em confusão; sua expressão dizia que ela havia testemunhado a troca de bilhetinhos. Aria baixou os olhos depressa.

Você sabe que ela está olhando para a gente, não sabe?

Sei. Está escrito na testa dela que ela desconfia de alguma coisa.

Depois da aula, então?

   Spencer assentiu discretamente ao terminar de ler a última pergunta de Aria, e o estômago da moreninha revirava em ansiedade. Era como se as duas estivessem participando de uma missão secreta. Era estúpido, mas Aria se sentia importante.

— Por que, gente? – Emily reclamou enquanto Spencer a puxava pelo braço até um dos bancos dispostos pelo pátio frontal de Rosewood High – Alguém morreu?

   Spencer revirou os olhos, contendo um risinho. Aria já estava ali sentada, olhando, impaciente, para as escadas do prédio da escola.

— Não te ocorreu que a gente possa querer reunir todo mundo para contar algo bom? – a mais esguia sorriu, gesticulando para que Emily também se sentasse.

— Quando a coisa é boa, o pessoal normalmente corre até você, te agarra e grita, não fica alimentando tensão – Emily rebateu.

— Até que enfim, mais uma! – Aria suspirou, aliviada, dando espaço no banco para Ali assim que a viu desfilando em seus saltos ao encontro delas, porém a loira permaneceu em pé.

— Posso saber o porquê de as duas nerds andarem de segredinho hoje mais cedo?

   Aria achou graça do desdém fingido de Ali, estando agora ao lado de Spencer no banco. A loira se importava muito com elas, só gostava de brincar de dizer o contrário.

— É claro que pode – Spencer manteve a cordialidade e trocou um olhar com Aria que dizia “é agora ou nunca”.

— Mas não devíamos esperar pela Hanna já que essa é uma reunião oficial? – Emily zombou.

   As duas, que estavam sob a mira daqueles dois pares de olhos, trocaram mais um sorrisinho cúmplice.

— Hanna já sabe – Spencer virou-se brevemente para Emily.

   Aria captou o momento exato em que os olhos de Ali arregalaram-se e riu outra vez.

— Como é que é?

   Todas ali sabiam que a coisa que Ali mais detestava, além de café morno, era ser mantida no escuro sobre algo por muito tempo, principalmente se tal coisa fosse uma suculenta fofoca. Porém, antes que Aria ou mais alguém pudesse ter a chance de responder, Hanna apareceu por trás sem ser vista, quase como se tivesse sido evocada.

— Eu ouvi meu nome? – com as sobrancelhas loiras franzidas, ela ajeitava a bolsa no ombro e parava em pé ao lado de Ali.

— Do que você já sabe? – Ali virou-se para ela bruscamente, intimando-a.

   A ruga no centro da testa de Hanna, causada pela dúvida, ficou ainda mais profunda.

— Não sei – ela olhou para as três no banco. – Do que eu já sei?

— De mim e Aria – Spencer replicou entredentes, como se estivesse indicando-a para não fazer alarde até que fosse a hora certa.

— Mas o que é que há com vocês hoje? – Ali exasperou-se, jogando o braço que não segurava a bolsa para o alto.

   Aria suspirou, sentindo o coração bater num ritmo mais acelerado. Aquela adrenalina era muito boa, mas ela sentia que tudo ficaria ainda melhor uma vez que tudo estivesse às claras para todo mundo.

— Eu não preparei um discurso – ela encarou Spencer. – E você?

— Eu também não. Mas quem sabe nós não agimos apenas... de forma natural? – a morena deslizou sua palma pela de Aria até suas mãos se entrelaçassem perfeitamente. Aria sorriu; fazer aquilo na frente das amigas trouxe a ela a quantidade exata de felicidade que ela esperava. Em seguida fitou Emily. O jeito como a garota observava aquele contato, quietinha e com um sorriso tímido nos lábios, indicava que ela entendia, diferentemente de Ali, que parecia ainda desejar uma resposta direta.

— Vocês querem falar de uma vez?

— Olhe para as mãos delas, Ali – Hanna aconselhou suavemente.

— O que tem as mãos delas? – o óbvio parecia estar encoberto por névoa densa para Ali. Foi a vez de Spencer rir baixinho, não acreditando que a outra ainda não havia entendido.

— Talvez devêssemos tentar o tratamento de choque – Aria inclinou-se devagar e deu um selinho em Spencer; um gesto tão espontâneo e livre de pudores que até ela mesma se surpreendeu.

   Enquanto ainda tinha os lábios colados aos de Spencer, Aria pôde ouvir o ah, meu Deus! abafado de Emily. Ao abrir os olhos, viu que a garota sorria. A sensação de aceitação era com certeza maravilhosa!

   E então houve um momento de silêncio. Ambas voltaram a encarar Ali como se perguntassem “o que você acha?”. Por um segundo – talvez mais – a expressão da loira em questão permaneceu indecifrável.

— Eu ainda sinto que fui a última a descobrir... – ela começou, cautelosamente – e isso é uma traição grande. Mas eu não acredito que vocês fizeram essa cena toda só para contar que estão ficando.

   Alison concluiu com um sorriso genuíno e Aria sentiu que conseguia respirar pronfundamente outra vez. A naturalidade com a qual a garota havia dito aquela última frase combinava com a personalidade dela – moderna, desbocada, quase como Hanna, apenas com um senso de humor mais ácido –, mas ainda assim era digna de se agradecer aos céus. Porém, Aria assimilou a última palavra um tanto mais tarde e contraiu o maxilar. Definitivamente, aquela expressão irritava cada célula que compunha seu corpo.

— Nós não estamos “ficando”, Ali.

— Então isso já é algo sério? – Emily interveio, maliciosamente curiosa.

   Aria encontrou o olhar de Spencer outra vez. Ainda de mãos entrelaçadas, elas sorriam uma para a outra, incertas quanto a responder aquilo, simplesmente porque aquele adjetivo não parecia descrever aquela relação. O que elas viviam era certamente algo doce, casto e intenso ao mesmo tempo. Mas “sério”? Sinceramente não parecia encaixar.

— Nós... ainda não sabemos direito o que isso é – Spencer acabou por responder, ainda de olhos presos em Aria, brincando com os dedos da moreninha entre os seus.

— É apenas amor – foi a vez de Hanna interromper, com seu entusiasmo caricato. – Livre e gay, não é?

   A colocação da loirinha arrancou risadas de todas ali e Aria questionou-se sobre o porquê de insistirem em dizer que Hanna tinha “parafusos soltos”, afinal ela era dona de uma grande sabedoria.

— Sim – ela fisgou o olhar de Hanna –, eu gosto dessa definição.


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