Minha Gotinha de Amor escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 13
N.A.


Notas iniciais do capítulo

Oi! Voltei (depois de quase 235 anos) só pra dizer: não me odeiem, porque eu amo vocês e abandonar essa fic (assim como qualquer uma das minhas outras) não está nos meus planos. :)



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Fazia três sábados que Spencer comparecia às reuniões dos narcóticos anônimos; há três sábados as palavras “você não precisa fazer isso” saíam da boca de Spencer com destino aos ouvidos de Aria, mas os olhinhos esperançosos da garota a entregavam, dizendo o completo oposto, isto é, “por favor, vem comigo”. E Aria ia; não necessariamente em respeito àqueles pedidos silenciosos ou à promessa que fizera à sra. Hastings, mas sim por vontade própria; por querer estreitar ainda mais o laço que havia entre elas; por se sentir literalmente incapaz de deixar que Spencer ouvisse sozinha aqueles discursos e relatos sem ter ao seu lado uma mão para segurar – aliás, tal coisa era, com certeza, o melhor daquelas reuniões.

Durante aquela única hora semanal, Spencer permanecia absolutamente quieta, de olhos vidrados em quem eventualmente se levantava e decidia falar. O lugar era um auditório pequeno e aconchegante que era usado regularmente por estudantes de teatro em um instituto de artes na Filadélfia chamado simplesmente de Centro da Criatividade – Aria achava até engraçado, tendo ela uma alma tão artística (ou ela assim se julgava), mas nas manhãs de sábado, tal servia somente como ponto de encontro para o grupo.

Ninguém se atrevia a usar o palco. Todos eram extremamente tímidos, mesmo a maioria sendo adulta e masculina, então apenas o diretor do grupo – um sujeito extrovertido, que falava agitando os braços e cujo sobrenome era o único que se conhecia ali – sentava na beirada do palco e ficava com as pernas balançando, o que dava às pessoas – ou ao menos à Aria – sensação de familiaridade e deixava tudo mais fácil, por assim dizer.

A voz do homem, que provavelmente estava na casa dos quarenta, não era o que Aria classificaria como “voz de veludo”, mas era simplesmente boa de se escutar e, por vezes, ela pegava-se de olhos fechados, com a cabeça recostada ao ombro de Spencer, apenas inspirando calmamente o ar fresco que saía dos dois condicionadores de ar e sentindo a palma da garota colada à sua, afinal, elas ainda não andavam muito de mãos dadas em público morando em Rosewood, e ali, naquela sala onde as pessoas sabiam apenas os primeiros nomes umas das outras e ninguém as conhecia, era o local perfeito para fazer aquilo. Aliás, estando algumas vezes de olhos fechados, Aria podia fingir que ela e Spencer estavam ouvindo algum recital literário em alguma cidade bem longe de Rosewood; Nova York, talvez.

Aria e Spencer nunca conversavam sobre o que era ouvido pelas duas nas reuniões; Spencer nunca demonstrou querer, então Aria apenas deixava-a refletir internamente. Mas a moreninha às vezes pensava consigo que Spencer não pertencia a um grupo como aquele. Muitos dos depoimentos eram bastante pesados e feitos por adultos emocionados, que diziam ter perdido tudo ou quase tudo por causa de drogas muito mais pesadas que anfetaminas; muitas daquelas palavras eram duras de ouvir e vinham de pessoas que diziam realmente estar ou ter estado no fundo do poço. E Spencer... bem, Aria achava que Spencer era muito cheia de vida para aquilo tudo.

Peter Hastings claramente não concordava com Aria. Na manhã do primeiro sábado, no caminho para a primeira reunião, Spencer finalmente contou a Aria o que seu pai tentara fazer: isolá-la do mundo. Literalmente. O sr. Hastings achava que a única possível “cura” para “o que Spencer tinha” era deixá-la em casa, trancafiada, sem celular – nem mesmo telefone residencial, aliás –, sem internet, sem escola e sem amigas, até que ela demonstrasse “estar em condições” de poder ter tais coisas de volta.

Aria parou de caminhar e segurou o pulso de Spencer, sentindo-se verdadeiramente enojada, em especial depois de ter ouvido aquela última parte.

– Você só pode estar brincando comigo – a moreninha conseguiu balbuciar.

– Não estou. Também tive vontade de vomitar. E o pior é que não termina aí.

Spencer contou que o pai quisera contratar um conselheiro especializado em abuso de drogas por jovens; um cara que passaria uns tempos morando no celeiro da família e atuando como uma babá para Spencer.

– Eu sei que não tenho chance quando meu pai fica de pé, falando firme e com as duas mãos na cintura – a morena balançou a cabeça –, então eu nem tentei gritar com ele porque sabia que iria piorar as coisas. Mas eu fui salva, acredita? Por alguém que eu nunca pensei que fosse me salvar assim algum dia.

E ao fim, a verdadeira heroína acabara por ser ninguém menos que Veronica Hastings, que batera o pé e, pela primeira vez, não assentira para o discurso do marido com um “seu pai está certo, querida”.

– Ora, Peter, não seja ridículo! – a mãe de Spencer começara a protestar – Eu até concordo que ela deva começar a ver um psicólogo, mas o resto disso é um absurdo! Não vou deixar que você tire da nossa filha o privilégio de ter por perto as pessoas que mais fazem bem a ela. Ainda mais agora que tê-las longe é tudo do que Spencer menos precisa.

Aria ouvia tudo estando bobamente espantada.

– Te juro que nunca pensei ouvir algo assim vindo dela – Spencer confessou com voz e olhar distantes.

A moreninha também nunca esperaria tamanho ato de justiça vindo de Veronica – que, mesmo sendo uma advogada de renome, nunca antes havia sido tão justa com a própria filha –, e puxou Spencer para si num abraço apertado, sentindo-se imensamente grata à mãe da garota por simplesmente poder estar junto dela naquele momento.

– Acabei de decidir que amo a sua mãe. – disse Aria entre uma risadinha – Amo mesmo. Diga isso a ela.

Ao fim daquela primeira reunião, assim como no fim das duas posteriores – havia se tornado quase uma tradição –, Spencer fez à Aria um convite irrecusável. “Vamos tomar sorvete?”

– Eu amo mesmo a sua mãe, sabia? – disse a moreninha, estando de pernas cruzadas em um banco do parque Fairmount, um dos mais populares da Filadélfia, ao lado de Spencer e com um potinho de sorvete de baunilha com calda de morango em mãos – E me sinto no dever de amar o seu pai também, ao menos um pouquinho.

– E por que você não o amaria? – Spencer deu de ombros, levando uma colherada de seu sorvete de chocolate à boca – Ele é, tipo, o melhor pai que existe.

Aria riu, não deixando de perceber a ironia evidente no comentário da garota, e levou sua colher à boca dela em seguida, como se a calda de morango fosse sopa. Era engraçado, até, porque por mais que Aria soubesse que incontáveis pessoas estavam em volta delas, ela não se sentia nem minimamente envergonhada. Eram estranhos; estranhos que passavam pelas duas e não as olhavam realmente. Os que olhavam, provavelmente sentiam apenas uma inveja branca daquela relação por um segundo. Era gostoso estar ali, num refúgio a céu aberto. Era como se a Philly fosse manter em segredo os beijos que as duas trocariam em seguida, ou como se aquela cidade aceitasse tão bem aquele tipo de carinho que nem precisasse fazer daquilo um segredo em primeiro lugar – diferentemente de Rosewood.

– Eu falo sério. – Aria protestou – Afinal, os dois juntos fizeram você.

Ela tocou a ponta do nariz de Spencer com um indicador.

– Ótimo. Agora eu estou imaginando meus pais na noite de núpcias deles, obrigada.

Aria riu outra vez e as duas começaram uma singela briga de sorvete. Foi possível sentir alguns olhares sobre elas durante aquele momento, e um par de versos de uma música da qual Aria não lembrava o nome não saía de sua mente, funcionando como uma melodia de fundo que mesclava-se perfeitamente com as risadas das duas. "Se as pessoas olham para nós, é porque nós combinamos muito bem juntas".


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Notas finais do capítulo

A frase é da música She Keeps Me Warm, da Mary Lambert, que eu ouvi em um vídeo de Sparia no youtube. Puro amor s2



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