When Tomorrow Comes escrita por Mermaid, Reyna


Capítulo 7
Trust




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Estou sentada na cama do quarto de hóspedes encarando a parede. Não consigo imaginar um único motivo para confiar em Adam, mas eu confio. E me sinto completamente idiota por isso. Faz exatamente duas horas que ele saiu do quarto, depois de nossa conversa. Por mais que eu tente não consigo lembrar de mais nada útil.

Ouço a campainha tocar. Adam havia dito que Hillary estava vindo para cá, por isso resolvi ficar no quarto. Não suportaria vê-la novamente.

Olho para o lado e encaro o abajur na mesa ao lado de minha cama. Decido treinar aquela coisa de mover objetos com a qual ainda não me acostumei. Concentro-me e logo o abajur está flutuando em frente ao meu rosto.

Faço o abajur voltar para a mesa e começo a me perguntar se consigo fazer isso com objetos mais pesados. Por que não tentar? Logo uma cadeira está flutuando pelo quarto. Permaneço com ela flutuando e tento levantar o abajur ao mesmo tempo. Sim, eu consigo. É impressionante. Em cinco minutos todos os objetos imagináveis presentes no quarto estão flutuando. Quando percebo, até mesmo a cama onde estou sentada está levitando.

Perco o equilíbrio e a cama cai no chão, assim como os outros objetos, com um barulho ensurdecedor. Logo depois, Adam e Hillary entram no quarto, assustados.

― O que aconteceu? ― Adam pergunta.

― Nada.

― Foram seus poderes, não foram? ― reclama Hillary. Ela se vira para Adam ― Está garota é louca, não está vendo? Por que a mantém aqui? Ela só veio trazer problemas.

Ele suspira e sai do quarto.

― Vamos descer, Hillary ― diz do corredor.

― Não! Essa problemática vai destruir tudo, você não vê? ― ela grita.

― Saia ― falo em voz baixa. Ela continua parada ― Saia. Agora ― repito um pouco mais alto. Hillary senta na cadeira que eu estava usando para testar meus poderes, mostrando que não está disposta a deixar o quarto ― Saia! ― grito.

Faço com que a cadeira se arraste violentamente para fora do quarto, levando Hillary também. Depois bato a porta.

Consigo ver a cadeira batendo violentamente contra a parede antes que a porta se feche. Hillary solta um grito e começa a bater na porta.

― Você vai se arrepender de ter feito isso, garota! ― ela grita.

Aproximo-me da porta e dou uma risada de desdém. Ela bate na porta uma última vez antes de ir embora. Está furiosa, pisando com força no chão enquanto anda. Hillary grita histericamente lá embaixo. Adam está escutando calado, até que o escuto gritar de repente. Com muita raiva.

― Hillary, será que por um minuto, pelo menos uma vez na sua vida, você pode calar a boca?

Ela para de falar. Escuto a porta da rua batendo. Logo depois, alguém subindo as escadas e batidas na porta.

― Posso entrar? ― é Adam. Faço com que a porta se abra.

― Sua namorada é louca ― falo.

― Ela não é minha namorada. Quer dizer, é, mas eu não gosto dela. Já te disse isso.

Solto uma risada sarcástica.

― Adam, você tem que escolher. Se você realmente não gosta dela, termine. Agora.

― Você sabe que não posso. Estou com ela porque não tenho escolhar.

Assinto.

― Tudo bem. Então eu vou embora.

Eu já não sabia mais em quem confiar e nem o que fazer. Abri a gaveta do criado-mudo enquanto Adam tentava me convencer a ficar. Mal prestei atenção. Quando tirei minha escova da gaveta, notei algo lá dentro que eu não tinha visto antes. Um colar. E parecia familiar.

Pego o colar e o observo por um instante. Uma fina corrente prateada com um pingente de pássaro da mesma cor.

Por um segundo, tenho um vislumbre de Adam segurando o colar. Ele está sorrindo. Eu pude reconhecê-lo, mas ele estava claramente bem mais novo. Talvez doze ou treze anos. Viro-me devagar para olhá-lo.

― Você me deu esse colar, não é? ― pergunto em voz baixa.

Ele assente e olha para baixo, sem dizer nada.

Volto a olhar para o colar e uma lembrança me ocorre. É como se eu tivesse dez anos novamente.

Os cabelos cachados de Adam ― não presentes agora ― caem sobre seu rosto.

― Trouxe isso para você, ruivinha ― ele estica o braço e me entrega o colar ―, pelo seu aniversário.

Eu o abraço. E então volto à realidade.

― Quando é meu aniversário?

― Primeiro de julho ― ele diz em voz baixa.

― Se você me deu este colar… Por que não está comigo?

― Takeda não queria que você tivesse objetos com lembranças do passado.

Não respondo. sento na cama observando o colar, porém mais nenhuma memória me vem à mente. Adam quebra o silêncio.

― Audrey, você sabe que dia é hoje?

Percebo que não tenho a menor ideia. Nem me dei ao trabalho de perguntar a alguém. Faço que não com a cabeça.

― 29 de junho ― ele diz.

― Dois dias… ― digo em voz baixa. Adam assente ― Dezoito anos… ― sussuro.

Ele se levanta e caminha até onde estou. Por fim se senta ao meu lado e, juntos, continuamos a fitar o colar.

― Adam ― chamo. Ele vira o olhar para mim ― Se Takeda não queria que eu carregasse objetos do passado, por que ele permitiu que eu tivesse contato com você?

― Porque ele queria que você se sentisse segura.

Paro para pensar sobre os primeiros momentos de que me recordo, começando no banheiro público.

Segura? ― pergunto, quase rindo daquilo ― E o homem que tentou… ― ele me interrompe.

― É, Takeda não contava com aquilo.

― Espere. Então eles já sabem de tudo o que aconteceu? Como?

― Antes de te contar tudo eu preciso que você confie completamente em mim, Audrey.

― Eu confio ― respondo sem ter muita certeza.

― Não. Não confia ― ele abaixa a cabeça ― Você tem alguma noção do que é conhecer uma garota há treze anos e de repente tirarem ela de você? A única pessoa em quem você confia? E ainda sentir como se fosse sua culpa? Na cabeça dela, todos os momentos que vocês viveram não existem mais. Você tem alguma ideia do que é isso, Audrey?

Balanço a cabeça.

― Você tem alguma ideia do que é acordar em um banheiro sujo lembrando apenas seu nome e idade? Tente entender, Adam.

Ele apoia os cotovelos nas pernas e a cabeça nas mãos.

― Desculpe. Só… é difícil lidar com isso.

― E você acha que não é difícil para mim?

― Eu sei. Eu sei que é. É que… você confiou em mim a vida inteira. Naquele orfanato, tudo o que tínhamos era um ao outro, É difícil te ver assim ― ele vira o rosto para mim. está claramente abatido ― Eu vou matar Takeda.

― Que tal esfriar a cabeça e tornar as coisas mais fáceis? Você pode começar me contando tudo.

― Tudo bem. O mais rápido possível. Quando te largaram naquele banheiro, você não estava sozinha. Alguns agentes do grupo seguiam você. Jason era um deles. Seu poder é metamorfose animal. E todas as vezes que Hillary vem aqui é para fazer uma análise. Ela coleta dados e envia um relatório para Takeda. Por isso é extremamente importante que ela não saiba que você se lembra de algumas coisas e nem do que eu te disse.

― Isso estava um pouco óbvio. Mas e quanto aos meus poderes? Ela pode saber que eu sei controlá-los?

― Não, isso tudo bem. Faz parte do plano.

― Qual é exatamente o plano? Digo, antes de enfrentá-los e tudo o mais.

― Dessa vez, você vai confiar neles.

Paro um momento para refletir.

― Um Cavalo de Troia. Porque é mais fácil destruir um Castelo do lado de dentro. Temos um trato, Adam.

Ele suspira.

― Audrey, para isso funcionar você tem que confiar de verdade, não só da boca para fora.

As memórias que recuperei quando vi o colar me tranquilizaram um pouco. Além disso, não tenho outra escolha. Assinto.

― Já disse que confio em você. Podemos prosseguir, por favor?

Ele solta uma risada sarcástica.

― Apenas quando o que você diz for verdade ― ele se levanta e caminha até a porta ― Eu vou pedir uma pizza. Você pode jantar comigo se quiser.

― Tudo bem.

Abro o guarda-roupas do meu quarto e pego algumas peças de roupas que Adam havia deixado ali e vou para o banheiro tomar um banho antes do jantar.

Meu cabelo ainda está limpo, então decido lavá-lo depois. Após me vestir, analiso a roupa no espelho. Uma regata branca lisa e um short jeans. Roupas da Hillary. Pelo menos a garota tem bom gosto.

Desço as escadas e encontro Adam sentado no sofá assistindo à televisão. Caminho até o sofá e me sento ao lado dele.

― O que está passando? ― pergunto.

― Um filme.

Acabo nem perguntando qual é o filme. Eu olho para a tela, mas não estou absorvendo nada. Estou pensando em tudo o que Adam me disse.

― Você não precisa se torturar com isso o tempo todo ― ele olha para mim ―, pode esquecer e fingir ser uma garota normal por alguns minutos.

― Não, é bom. Eu gostaria de me lembrar de mais algumas, aliás.

― Algo específico? Talvez eu possa ajudar.

― Qualquer coisa.

Passamos alguns segundos em silêncio. Ele se levanta bruscamente e sobe sem dizer nada. Fico um pouco confusa, mas espero que ele volte. Ouço uma porta abrindo lá em cima e momentos depois ele desce com um objeto em mãos. É um globo de neve.

Ele tem uma base azul com detalhes prateados. Dentro, há uma casinha no mesmo tom de azul da base. Adam senta-se ao meu lado novamente e chacoalha o globo. Observo a neve caindo lá dentro. Por alguma razão, não consigo tirar os olhos do globo. Sorrio sem motivo aparente.

― Você se lembra disso? ― ele pergunta.

Faço que não com a cabeça. Ele me passa o globo. Levanto-o à altura dos olhos.

Observo-o, revirando minha mente à procura de algo que me faça lembrar, mas nada me ocorre. Adam começa a falar.

― Vire-o.

Faço o que ele diz. Na parte de baixo do globo há algo escrito com caneta permanente. Já está um tanto apagado.

“Para sempre seu. Adam”

Então começo a me lembrar.


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