Um lugar para ficar escrita por Renata Leal


Capítulo 2
Capítulo 2




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"Estou pensando em como as pessoas se apaixonam de maneiras misteriosas"

Thinking out loud – Ed Sheeran

Ao voltarmos, Mariana ficou brincando comigo por conta da situação extremamente constrangedora. Já se passaram horas desde que derrubaram suco em mim e o cheiro não saiu.

Eu pensei em pedi à minha avó para fazer uma pizza caseira, mas lembrei que prometi às meninas que iríamos. Clara me disse que Pedro estava muito mal por ter terminado com uma namoradinha, então era necessária a nossa ida ao bairro da noite hoje porque precisaríamos o divertir.

– Ele sempre foi muito sentimental. E teve diversas namoradas. Ele compartilha suas histórias comigo. É tão engraçado. Um dia temos que sentar para ele contar, pelo menos, algumas. Vale a pena. – Clara disse.

– Ele não parece nem um pouco que é sentimental. – Mariana comentou enquanto dava um gole no seu suco de maracujá.

– Ah, mas é! – Clara disse. – Ele disse que teve uma namorada que terminou com ele porque ele dava buquê de flores todo mês para ela! Ela não aguentou tanto grude!

– Isso foi desculpa. Ela não gostava dele, certeza. – falei. – Fala sério! Quem não gosta de buquê de flores?

– Case com o Pedro, então. – Clara disse. – Sério. Vocês são iguais! Muito românticos, fofos e sentimentais.

– Para com isso, ele é meu primo.

– E daí? – Mariana interviu. – Nada haver essa proibição entre primos.

– O que é nada haver é vocês falarem isso! Que absurdo! Pedro me viu nascer!

Tentei cortar esse assunto. Era, sinceramente, um absurdo o que elas estavam falando.

A gente ficou conversando um tempo e quando deu 18h Clara disse que a gente podia ir logo para a pracinha e depois comer uma lasanha num restaurante que abriu. Concordei na hora. Tinha um bom tempo que não comia lasanha!

Passamos na casa do Bruno e do Pedro para irmos ao bairro da noite. Eles resmungaram, estavam jogando. Tivemos que desligar o vídeo-game à força. Eles continuaram resmungando, mas Fabiana apareceu. A mãe deles era totalmente contra eles ficarem em casa à noite! Ela é bem jovem. Sou apaixonada por ela! Ela fica aconselhando a Clara com os namorados dela e a Mariana com as paixões platônicas dela. Eu nunca me senti à vontade para falar sobre essas coisas com ela, até porque eu não sou de me apaixonar assim como a Mariana e a Clara. Mas, já presenciei os “conselhos amorosos” dela e digo, sinceramente, que são realmente muito bons! Aprendi bastante com ela.

– Vocês não vão ficar em casa de maneira nenhuma! Todos pra fora, agora! – Fabiana disse nos expulsando como se expulsasse muriçocas e mosquitos.

*

O bairro não estava muito cheio. Começava a encher à partir das 20h. Ficamos conversando e andando. Foi bem divertido. A noite não estava tão fria como costuma ser, estava um tempo agradável, mas mesmo assim eu usava casaco.

Encontramos Marcelo, o namorado da Clara. Ele tinha marcado com ela e até avisou que levaria uns amigos. Mariana logo se animou.

Mari comentou comigo que tinha um garoto que ela gostava e Clara suspeitava que ele sentia o mesmo. O nome dele era Yago. E ele foi. Pelo visto, eu ficaria sozinha. Não desanimei. Afinal, eu tinha os meus primos.

E agora não éramos mais cinco pessoas. Éramos nove. Eu, Mariana, Clara, Bruno, Pedro, Marcelo, Yago e mais dois amigos.

Sentamos na pracinha. Clara e Marcelo ficaram trocando carícias (e salivas); Mariana ficou conversando com Yago – discretamente, ela me perguntou se eu não me importava. Claro que eu não me importava! –; os outros dois amigos ficaram conversando entre si; fiquei conversando com Bruno e Pedro.

– Eu podia estar com a minha namorada aqui. – Pedro falou.

– Para de ficar se torturando! – Bruno falou dando um tapinha na cabeça dele.

– Já está ficando chato eu tocar nesse assunto o tempo inteiro, né? – ele disse, reparando que estávamos já de saco cheio. Eu não culpava o Pedro. Ele era realmente apaixonado pela garota (ainda é, sei lá), pelo que a Clara nos contou.

– Tudo bem, Pedro. É normal você sentir falta. Só tente esquecer. – falei.

– Não dá... – ele disse com uma voz tristonha.

– Vamos falar sobre outras coisas! – eu disse o abraçando.

E ficamos conversando. Ficamos conversando sobre algumas séries e livros que tínhamos em comum. Até que uma pessoa que passou me chamou atenção: a garota da praia. Aquela que estava com o rapaz que derrubou suco em mim. Ela se sentou num banco bem em frente ao meu e estava com mais duas amigas.

Ela olhou para mim. Congelei. Torci para que não me reconhecesse. Mas, ela não tirava os olhos de mim.

Ignorei e continuei a rir e conversar com os meninos. Pedro me abraçou pondo todo o seu peso sobre mim. Reclamei.

– Você é pesado, sabia? Só uma observação! – brinquei. Ele riu e imediatamente pegou meu braço e colocou no ombro dele.

– Estou vendo que alguém está carente... – Bruno brincou.

– Estou sim! – Pedro fingiu chorar e abraçou Bruno, que logo resmungou. Dei boas risadas. Aqueles dois me divertiam muito. Eram muito unidos e eu admirava demais isso neles.

Decidimos comer logo.

*

A noite estava bem interessante. Conversávamos sobre tudo. Não estávamos mais “separados”. Todo mundo conversava com todo mundo enquanto esperávamos a comida. Pedimos pizza.

– Eu acho que você precisa de outra pessoa para ocupar a sua mente. – Mariana falou para Pedro.

– Não sei não... – ele disse.

Imediatamente pensei na Luna. Eles seriam um casal perfeito! Pedro era um menino sensível, inteligente, engraçado... A cara de Luna!

– Eu tenho uma amiga que eu acho que você vai gostar... – falei.

– É por isso que eu amo Malu! – Clara falou.

Peguei meu celular e mostrei a foto de Luna. Ele a achou linda. Fiquei falando sobre ela. Ele concordou comigo em relação à mera semelhança que existia entre eles. A única diferença é que Luna é bem alegre, mais alto astral e Pedro é mais tímido. Mas, nada que atrapalhe um belo romance entre os dois. Como eu nunca pensei nisso?!

– Alguém tem uma caneta para me emprestar? – a Mariana perguntou. Acho muito difícil alguém levar uma caneta na bolsa, então ela pegou uma que estava no balcão ao lado da nossa mesa.

De repente, ela me entregou um guardanapo.

“Será que você ainda não percebeu que aquele rapaz não para de te olhar? À sua frente”

Como ela estava do meu lado, dei uma cotovelada de leve e, discretamente, fui em busca do rapaz. Percebo que um rapaz loiro dos olhos claros, nem magro nem gordo, me encara sem dó, nem piedade. Eu conhecia a cara maliciosa de Mariana, então, rapidamente, adivinhei os seus pensamentos.

Eu tinha que admitir: ele era um gato. Faz o meu tipo. É exatamente assim o meu tipo. É tão estranho falar que tenho um tipo de menino pelo qual os meus olhos gostam de olhar.

Eu devo estar parecendo uma retardada olhando para ele desse jeito. Vai ficar parecendo que eu quero o mesmo que ele! Para de olhar, Malu!

Ele se levantou e foi até a minha mesa.

– Oi, eu sou o Caíque.

– Malu. – falei.

– A gente vai à praia amanhã, quer ir conosco? – ele disse apontando para uma garota e um garoto que o acompanhavam. A garota era morena como eu, porém seu corpo era escultural (que inveja). O rapaz era alto e bem magro.

– Passo lá, se der. – falei. Não podia ser disponível por completo.

Ele pediu o meu número de celular. Percebi que Mariana me cutucou com os pés e imaginei que estivesse sorrindo feito uma boba. Dei o meu número, sem pedir o dele, claro, pois eu não queria ficar naquela: “você podia ter me ligado, tinha meu número”. Agradeci a Deus por ele não ter oferecido o número dele. E, então, ele foi embora junto com a garota e o garoto.

– O que foi aquilo? – Mariana perguntou. Essa pergunta é bem típica dela.

– Nem eu sei.

Todos ficaram sorrindo maliciosamente para mim e brincando comigo dizendo que eu estava “arrasando corações”. Mas, nem liguei.

O pessoal me deixou em casa e eles foram para as suas. Logo, dormi.

*


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