Um lugar para ficar escrita por Renata Leal


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, tudo bem? É só o começo, segurem o fôlego!



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Procurando por um som que nós não havíamos escutado antes.

Welcome to New York – Taylor Swift

6 de dezembro, segunda-feira, 9h

Estava chovendo. Seria uma viagem longa. Minha mãe diz que será uma chuva passageira. Eu espero. Em pleno verão, logo no dia que eu vou viajar isso acontece. Vou para o litoral, praia, sol!

Tudo bem, estamos no verão deve ser passageira mesmo, nada de pânico.

Não vejo a hora de chegar na casa da minha avó. Eu tenho certeza que ela preparou vários doces para mim e deve estar cheia de novidades em relação a doceria dela. Até delivery tem! Tenho certeza de que ela está muito feliz com tudo isso. Foi sempre o sonho dela. Decidi passar as férias inteiras com ela, mesmo abandonando a Luna e o Gabriel, estou muito feliz. Eu até chamei os dois para vir comigo, porém a Luna está recebendo umas primas da Inglaterra – mesmo sendo insuportáveis e metidas, são primas, então a mãe a obrigou ficar – e o Gabriel disse que ficaria com a Luna, para não deixa-la sozinha com as madames.

Eles dois podiam namorar. Já tentei falar isso para eles, mas eles não acham nada haver, dizem que são praticamente irmãos. Gabriel se sente bem mais à vontade com ela do que comigo. Ele conversa mais com ela do que comigo, apesar de eu e ela conversarmos muito. Às vezes fico com inveja porque ele sempre tem assunto para falar com ela... Não me conta nada!

A chuva passa. O céu está limpo. Mudo a playlist do meu celular. Estamos no meio do caminho. Meu pai resolve parar para comprar alguma coisa pra comer. Às vezes eu acho que isso é doença. Acabamos de tomar café da manhã!

Pego um pacote de biscoito recheado e um chá de pêssego. Pago e volto pro carro. Aumento o volume da música e observo as pessoas passarem. E a música vai tocando. Eu relaxo. Cinco minutos. Meus pais saem da lanchonete e vem em minha direção.

Sinceramente? Amo esse casal. Melhores pais do mundo. Eles se amam. Meu pai é muito carinhoso e até hoje a minha mãe fica sem graça com os repentinos “eu te amo, Helena!” que ele dá, às vezes. Divertidos.

Entram no carro e seguimos com a viagem.

Minha mãe chama a minha atenção.

– Tire esses fones, vai ficar com dor de cabeça. Converse conosco. – ela diz. É meio paranoia da parte dela dizer que eu fico no celular o dia inteiro. Eu estudo o dia inteiro! Preciso ficar à noite conversando com as pessoas. E não consigo viajar sem ouvir música. Não consigo tomar banho sem uma música. As únicas coisas que eu faço sem ouvir música são: comer, dormir e estudar. Apenas.

– O que foi? – pergunto.

– A mãe da Luna não deixou ela vir mesmo? – minha mãe pergunta. – Primeira vez que vocês passam as férias separadas, ela deve estar arrasada.

– Que nada, a Luna é dramática. Ela ficou me enchendo porque eu vou me divertir com a Dona Deise e ela ficará com as madames da Inglaterra. – eu digo. Meu pai sorri. – E tem o Gabriel, também. Eles se entendem. Tá tudo uma beleza.

– Verdade. Tinha me esquecido dele. – minha mãe disse.

Coloquei os fones novamente. Ela resmungou.

– Teremos as férias inteiras para conversar, Helena. Eu estou com sono, acordei cedo. Por favor! – eu disse. – Deixa eu me concentrar na minha música? – completei com voz triste.

– Essas crianças... Deixa, Helena... – meu pai falou. Agradeci e pus meus fones novamente.

*

O sol abriu. Chegamos no litoral e aquela vista me animava. Logo o sono passou.

A casa da minha avó fica numa rua bem perto da praia. O litoral só tinha casas, nada de coisas muito luxuosas, sempre simples. Isso que eu mais admiro nessa cidade. A casa dela é logo depois da doceria. É uma casa amarela. Muito fofa. Ela está na doceria atendendo um cliente, mas quando me vê, abre aquele sorriso e corre para o carro.

– Malu!

– Dona Denise!

Nos abraçamos. Vejo a minha avó uma vez por ano, somente nas férias de junho. Passo esse recesso com ela. E é sempre maravilhoso. Por isso, pretendo passar mais tempo com ela. Já fiz de tudo para ela morar comigo, mas ela não gosta de incomodar... Como se fosse incomodar! Mas, eu sei que ela ama isso tudo. Ainda mais agora que está com essa doceria.

– A viagem foi tranquila? – ela perguntou à mim.

– Foi sim. – respondi. Coloquei as minhas malas no meu quarto – sim, tenho um quarto na casa dela. – e meus pais colocaram a deles no “quarto de hóspedes”. São quatro quartos aqui. O quarto dela, um pra mim e dois para os meus primos, que as vezes dormem aqui, mas os quartos são considerados “de hóspedes” – meus pais ficaram em um desses quartos.

Tenho quatro primos. Mariana, Clara, Bruno e Pedro. As meninas são filhas da irmã mais nova da minha mãe, tia Cláudia. Os garotos, do irmão mais novo dela, Carlos. Ela é a do meio e a minha avó é apaixonada por ela, principalmente porque é que fica mais distante, sente mais a falta e etc. Ela também ama o meu pai e o trata como um filho.

Meus primos são como irmãos. Amo os quatro e sempre fomos muito unidos. A diferença de idade é pouca. Mariana tem a mesma idade que eu, dezesseis, Bruno tem dezessete anos e Clara e Pedro tem dezoito. A gente sempre sai à noite, quando eu estou aqui. Vamos para um barzinho que tem aqui perto. Na verdade, a gente sempre fica no “bairro da noite”. Chamamos assim esse bairro, pois é uma rua imensa onde só tem restaurantes, casas de festas, shows (pequenos, mais tem) e barzinhos. É muito divertido. Mesmo se não formos comer, ficamos na pracinha conversando. Ou às vezes, vamos para a praia, mesmo a noite. A brisa é boa, é bem tranquilo.

Arrumei logo as minhas coisas e fui para a doceria. Chegando lá, meus primos, meus tios, muita gente estava lá conversando. Assustei-me. Cumprimentei todo mundo e ficamos conversando. Eu podia perceber no olhar da minha avó a felicidade que ela sentia nesse momento ao reunir a família quase toda. Só faltava meu avô, que estava resolvendo uns problemas, mas disse que já estava chegando para almoçar.

Resolvemos que almoçaríamos todos juntos. Minha avó tinha feito comida, mas não foi o suficiente para tantas pessoas. Fomos num restaurante perto da casa dela e comemos camarão. Conversamos e rimos bastante.

Cheguei em casa umas 16h e fui ler um pouco. Resolvi dormi cedo. Mariana ficou um pouco chateada porque queria sair comigo hoje, mas eu falei que estava muito cansada e precisava dormir. Clara resmungou também, pois queria apresentar-me o Marcelo, seu namorado, mas entendeu. Prometi que sairíamos amanhã e fui dormir.

*

7 de dezembro, terça-feira, 7h (aproximadamente)

Acordei 7h e fui dar uma caminhada. Um pouco atrasada, mas fui. E foi melhor sensação de todas. Eu corria com a maior vontade, sem nem me preocupar com o cansaço. Só de admirar aquela paisagem e sentir o cheiro do mar já me proporcionava um prazer imenso. O suor escorria pela minha testa e eu sentia o sol queimando a minha pele. Não me importava. Eu me sinto livre nesse lugar.

Cheguei em casa depois de quarenta minutos de caminhada e tomei um banho maravilhoso com a água gelada. Coloquei uma roupa confortável e fui tomar café da manhã, afinal eu só tinha comido uma maçã para correr.

– Bom dia! – falei.

– Bom dia! Já caminhou? – minha avó disse tirando pães do forno. Na mesa estava Clara, minha mãe e meu pai.

– Já, sim. Cadê o resto?

– Mariana ficou dormindo. Os meninos, não sei. Só vim por causa desse pão delicioso que a minha mãe não aprendeu até hoje a fazer. – Clara disse rindo.

Sorri para ela e sentei. Tomei o meu café e fiquei assistindo TV com Clara. Mariana chegou com a maior cara de sono depois de uns vinte minutos.

– Bom dia pra você, Mariana. – Clara disse ironizando. Soltei uma risada.

– Eu juro que eu não queria sair da cama. – ela disse.

– Percebi. – falei.

Ficamos assistindo TV até umas 10h. Mesmo com o sol quente, sugeri darmos um mergulho na praia.

Todas toparam. Fomos. A praia não estava muito cheia, mas mesmo sendo às dez da manhã, ainda tinha gente que dava uma corrida. Tinha surfistas também.

Pegamos uma mesa e ficamos tomando Sol.

– Acha que eu vou pegar um câncer de pele? Tomei sol a semana toda. – Clara brincou.

– Você coloca o protetor número 60, não tem perigo, relaxe. – Mariana disse. As duas, como eu, eram muito brancas. A gente costumava ficar zoando com isso.

E ficamos ali tomando sol, bebendo água de coco e conversando.

– Para tudo – Mariana disse.

– O que foi? – perguntei.

– Discretamente, olhem para a minha direita. – ela disse. E eu olhei. Era um cara moreno... Lindo. Porém, parecia ter namorada. Tinha uma garota ao seu lado e eles bebiam água de coco. Ela tinha a pele um pouco mais clara que a dele e usava um biquíni preto. Ele estava de bermuda e sem camisa. Sem camisa.

– Que susto, pensei que era alguma coisa importante. – falei, fingindo não me importar.

– Homens são importantes. – ela sussurrou.

– Ele tem namorada, Mariana. Pelo menos, parece. – Clara disse.

– Pode ser irmã dele. – Mariana argumentou.

– Pode não ser. – Clara rebateu.

– Chega, vocês duas. – falei.

Decidi dar um mergulho. Ao voltar, posicionei a cadeira de forma que o Sol batesse. Recostei e fechei os olhos. Eu queria muito estar admirando a paisagem, mas não dava... O sol era muito forte e...

Uma coisa bem gelada escorreu pelo meu corpo.

– Ai, meu Deus! – alguém gritou. – Desculpa! Eu tropecei numa sandália e acabei derramando... Desculpa.

Eu não conseguia abrir os olhos direito por conta da claridade. Posicionei minha mão sobre minha testa para fazer sombra e tentar enxergar.

– Tudo bem, não tem problema... – eu disse. A pessoa começou a limpar o suco com uma toalha. Meus olhos doíam. Não conseguia enxergar. Apertei um pouco os olhos e pude perceber quem era. O rapaz da direita.

– Desculpa, mesmo. Eu não olhei por onde andava. Sinto muito.

Os olhos dele eram claros. Lindos. Ele me encarava com suavidade e limpava a minha barriga com delicadeza.

– Tudo bem, tudo bem – eu disse tirando as mãos dele da minha barriga. – Eu vou mergulhar outra vez, isso vai sair.

A minha pele estava grudenta.

– Desculpa, mais uma vez.

– Não se preocupe. Obrigada por... Limpar.

– Não há de que.

E ele foi embora. Levantei e fui para a sombra.

– O que foi aquilo? – Mariana perguntou.

– Você, que está na sombra, que devia me responder. Eu mal enxerguei.

– Ele derrubou suco em você! – Mariana falou.

– Ah, é, mesmo? Nem tinha percebido! – ironizei.

– A garota pareceu não se importar nem um pouco. E ainda saiu reclamando com ele por ter sido desatento. – Clara comentou.

– Estou dizendo que não é namorada dele! – Mariana falou. – Ele é o homem dos meus sonhos.

– Ignora isso, gente. Vou me molhar e vamos pra casa, já está tarde.

*


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Notas finais do capítulo

E, então? Críticas, sugestões, comentários...? Podem escrever!