Drunk in love escrita por Aquarius


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Hey there. NaLu fic, porque todos sabem que NaLu é a coisa mais fofa desde que vestiram um cachorro de coelho. Espero que goste ♥



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Definitivamente, Natsu chegara ao fundo do poço.

Em toda a sua vida, ele nunca se sentira tão mal. Mesmo quando caçoaram da cor peculiar de seu cabelo na infância, mesmo quando fizeram crueldades ao seu gato de estimação no colegial, mesmo quando levara sua primeira rejeição amorosa, Natsu nunca sentira nada tão ruim quanto o que se espalhava pelo seu peito agora. Uma simples cena. Foi tudo o que bastou para arruinar seu dia. O grande Natsu Dragneel, temido por todo o Ensino Médio, fora derrubado por uma simples visão. Ele tentava empurrar o nó em sua garganta para baixo, mas o relance do cabelo loiro, das mãos envolvendo a cintura dela, tornavam a tarefa impossível. Por que doía tanto? Ele encarou o pequeno copo de vidro em suas mãos, em busca de respostas. Entornou o líquido transparente, sentindo a queimação descendo pela garganta. Dava uma sensação engraçada, o álcool. Nunca fizera isso antes.

Mas ver aquilo... simplesmente o devastara. Caminhara inconscientemente até aquele bar fétido, sem se dar conta do que fazia até o copo de whiskey ser depositado à sua frente. Agora que já estava ali, nada lhe restava senão afogar suas mágoas na bebida e lamuriar sozinho. Veja bem, não é que ele não tivesse amigos: pelo contrário, dispunha de uma horda deles. Mas não queria que nenhum deles visse o grande "Salamander", como gostavam de chamá-lo, naquele estado deplorável. Mas seu desejo de solidão se estilhaçou quando a mão pesada de Gajeel Redfox pousou em seu ombro.

– Ei, Salamander.

O apelidinho infeliz. Em outras circunstâncias, Natsu teria ignorado a alcunha e cumprimentado o brutamontes, mas aquelas decididamente não eram circunstâncias comuns. Natsu se desvencilhou do toque com brutalidade, bufando e fuzilando o moreno com o olhar.

– Ora, mas o que é isso - disse ele, com o sorriso sarcástico de sempre. - Parece que alguém está mais esquentadinho que de costume.

Natsu revirou os olhos perante a piadinha infame, que se referia a uma situação em que acidentalmente tocara fogo na escola. O incidente ocorrera um pouco antes de Natsu arranjar amigos, quando ele ainda era uma criança excluída.

– O que você quer, Gajeel? Não to com saco pras suas merdas. Se me encher, te cubro de porrada.

Rosnou. O moreno riu, para seu desgosto crescente, mas não fez menção de aceitar a provocação, como normalmente fazia. Subitamente, mudou de assunto:

– Então... parece que você viu.

Natsu sentiu o estômago revirar. É claro que tinha visto. Ele sempre observava cada passo dela. Não tinha como perder aquilo. Mas não foi capaz de responder, não confiava na própria voz, que certamente vacilaria. O nó na garganta se apertou e ele franziu o rosto numa careta, entornando o copo mais uma vez. Seus olhos se tornaram levemente marejados. Se Gajeel reparou, não disse nada. Ao invés disso, chamou a garçonete e pediu outra rodada para os dois, dizendo que era por conta dele. Natsu sentiu gratidão pelo fato de o amigo não ter tocado mais no assunto.

Durante o resto da noite, Gajeel se provou uma companhia melhor do que Natsu poderia pedir. Pagou bebidas para os dois, sem censurá-lo pelo alto teor de álcool das bebidas que escolhia. Não dizia nada. Apenas brindava, vertia o copo e dava ocasionais tapinhas consoladores nas costas do garoto, que, mesmo com a intenção de soarem sutis, faziam-no engasgar e cuspir no balcão. A madrugada chegou e, com as faces rosadas e um sorriso idiota, Gajeel se ofereceu para acompanhá-lo até em casa, mas Natsu recusou com um aceno. O moreno deu de ombros e passou um braço pelos ombros do menor, apertando seu ombro afetuosamente. Aquilo valeu mais do que palavras para Natsu, que aceitou o gesto em um silêncio grato. O som das passadas de Gajeel se distanciou até que restaram apenas ele e a garçonete, que polia o balcão.

Natsu cravou o olhar nas tábuas de madeira do chão, ignorando os olhares maliciosos que a mulher lhe lançava. A simples ideia de ter alguém nos braços, que não fosse a responsável por ele ter ido ali, lhe parecia inconcebível. Passou alguns minutos encarando o assoalho. Quantos, não saberia dizer. Não importava. Ele só conseguia pensar nela. Na cor achocolatada de seus olhos, na curva do seu sorriso, o cheiro de seus cabelos... e então aquela cena horrível voltava a lhe martirizar. Era como a dor de um punhal nas costas. Ele deitou a cabeça sobre os braços cruzados, respirando fundo, tentando clarear seus pensamentos. Falhou, é claro. O olhar furtivo da garçonete o irritou.

A bebida o deixara etéreo e estranhamente leve, e um pouco da dor em seu peito havia minguado. Não que isso a tivesse tornado pequena, apenas suportável. Trôpego, Natsu se ergueu e atravessou a porta, sem se dar ao trabalho de olhar para a garçonete quando esta assoviou, provocativa. Ele pensou em ir para casa, mas seus pés não pareceram receber o recado. Quando deu por si, havia tomado o rumo da casa dela. É claro. Como poderia ser diferente? Ele sempre voltava para ela. Sem pensar muito bem no que fazia, apanhou algumas pedras da rua e começou a atirá-las contra a janela dela, não que todas acertassem o alvo. Sentindo-se subitamente tonto, fez um esforço para se firmar em pé e tornou a jogar pedrinhas. Longos minutos se passaram até que a conhecida silhueta surgiu por detrás do vidro, se enrolando furiosamente em um robe.

– O que, em nome de todos os espíritos... ó céus, Natsu?

Ele forçou sua visão a se focar, o que demorou alguns instantes. Os cabelos loiros estavam bagunçados, a face rosada marcada pelo travesseiro, e a cor azul do robe ressaltava seus olhos achocolatados. Natsu achou que nunca a vira tão linda, mas era difícil dizer, já que estava tudo meio borrado e confuso. Mas a voz dela ali, dizendo seu nome, lhe arrancou um sorriso sincero que ele não achou que pudesse exibir naquele dia.

– Oi, Luce.

A garota não pareceu muito feliz.

– O que você está fazendo aqui? Sabe quantas horas são? Perdeu o juízo?

Ele soltou uma risada nasal. Ela era tão adorável.

Seu cabelo loiro brilhava de um jeito prateado a luz da lua. Ou seriam alucinações da bebida? Ele não se importava. Não fez nada além de ficar plantado ali, oscilando levemente para os lados, admirando a beleza especial que só ela tinha. Queria dizer algo, queria dizer o quanto era linda, queria abraçá-la, gritar com ela, perguntar o que significava aquela cena toda mais cedo, dizer que ela era apenas dele... mas nada saía de sua boca, como se seus dentes estivessem colados num sorriso abobalhado. A garota apenas o encarou de volta, um misto de confusão e surpresa em seu rosto.

– Ah meu Deus, Natsu... você está... está bêbado?

Isso arrancou mais risadas. Lucy não pareceu achar graça alguma. Nesse exato momento, Natsu deu uma guinada para a direita, tropeçando ao tentar se reequilibrar e caindo de joelhos.

– Opa - sussurrou ele. Mais risadas. Lucy apertou a ponte do nariz com o indicador e o dedão, se permitindo dar uma pequena risada.

– Você é um idiota, Natsu. Anda, sobe aqui. Vamos dar um jeito... nisso.

O garoto sentiu o peito inchar de felicidade. Ele poderia chegar mais perto dela, sentir o seu cheiro... tentou se por de pé, mas seus joelhos falharam. Ele riu de si mesmo. Por que estava rindo tanto? Não era para estar bravo com ela? Não devia querê-la fora de sua vida por toda a dor que lhe causara? "Você não liga para a dor. Não consegue ficar sem ela.", lhe informou uma voz interior. Mas Natsu estava aéreo demais para lhe dar atenção. Lucy fez um gesto de desaprovação.

– Você não tem jeito mesmo. Eu vou aí te buscar, fica quietinho.

Como se ele fosse, algum dia, fugir dela. Natsu se sentou, esperando enquanto a silhueta de Lucy sumia da janela, para depois aparecer às suas costas, passando os braços por baixo dos seus. Ele sentiu o esforço da loira para erguê-lo do chão e se içou para cima, tendo a vaga consciência de que ela não conseguiria carregá-lo. A garota passou para o seu lado, apoiando o braço esquerdo de Natsu sobre seus ombros.

– Vamos, eu te ajudo.

Ele sentia-se inebriado pela proximidade da menina. Olhou para ela, encontrando seu olhar. Sorriu, bobo.

– Luce. Você parece uma fada.

A garota o encarou, um leve rubor subindo para as suas bochechas, o que provocou mais risos em Natsu.

– Cale a boca - ela murmurou, escondendo o rosto. Sem mais comentários, ele se deixou guiar para dentro do pequeno prédio, subindo as escadas com certa dificuldade. Se sentia tão leve que seus pés se confundiam a toda hora, como se não compreendessem que ele não estava flutuando, e sim andando. Lucy, é claro, não perdia uma vacilação do rosado, amparando-o sempre. Quando chegaram à frente da porta da loira, ele se sentiu mais ousado. Talvez fosse a bebida, ou talvez fosse a necessidade de reparar a cena que tanto lhe torturava. Algo o impeliu a agir, e Natsu plantou um beijo estalado na bochecha da garota, que arregalou os olhos para ele.

– Você é doce, Luce. Como mel.

Ela o encarou, a boca aberta em choque e o rosto em brasa.

Após um momento, ela pareceu recuperar a fala.

– Você deve ter tomado uma coisa bem forte.

Murmurou, empurrando os dois para dentro do apartamento. Natsu riu e se desvencilhou dela, tendo a súbita impressão de que seu peso a estava esmagando. Ficou surpreso quando suas pernas vacilaram e Lucy o amparou antes que voasse ao chão.

– Seu idiota. Não se solte de mim.

Com isso, Natsu se sentiu um completo inútil, mas não desobedeceu. Eles se encaminharam tropegamente para o sofá, onde ele desabou em cima da loira.

– Natsu... não consigo... respirar... - arquejou ela.

Com um muxoxo de insatisfação, Natsu deslocou o peso para o lado, mas envolveu a cintura da garota com os braços antes que ela pudesse se levantar. Ela pareceu surpresa, e fez menção de protestar, quando a voz sonolenta dele a interrompeu:

– Você é minha, Luce... só minha. Prometa que vai ser só minha.

A menina ficou boquiaberta. Quem era aquele ser tão parecido com Natsu? Porque definitivamente não podia ser ele. Natsu não expressava seus sentimentos. Não era romântico. Não desde Lisanna. Lucy precisava dizer algo a ele para que a soltasse, tentou persuadi-lo para que pudesse lhe dar um copo d'água, e quem sabe, trazer seu amigo de volta. Mas ele não pareceu convencido até que ela se rendeu, sussurrando:

– Está bem, Natsu Dragneel. Eu prometo ser só sua.

O olhar que surgiu no rosto corado do amigo fez o coração de Lucy acelerar. Brilhava como se ele nunca ouvira palavras mais bonitas.

Era como ver o sol nascendo por trás de uma colina enorme e cinza. Lucy se pegou encarando-o abobalhada, e tratou de se recompor. O garoto nem estava em plenas faculdades mentais, pelo amor de Deus.

– Ok - respondeu ele, ainda radiante.

Seu aperto se afrouxou, mas Lucy já não tinha certeza se queria sair dali.

"Recomponha-se, Lucy. Esse é o Natsu."

Esse pensamento a trouxe de volta à razão, e ela se levantou e caminhou em direção a cozinha, em tempo de ouvir Natsu cantarolar baixinho uma música que Lucy cantara para ele em seu aniversário de 17 anos. Ela sorriu e balançou a cabeça, afastando os pensamentos que divagavam na direção de um par de olhos ônix e cintilantes de alegria.

– É só o Natsu. O que eu tenho na cabeça?

Ralhou consigo mesma. Lucy respirou fundo e encheu uma caneca qualquer com água gelada, tomando o caminho de volta para o sofá. Natsu logo virou a cabeça na direção dela, os olhos brilhantes. Ele encarou a caneca, arqueou as sobrancelhas, e voltou a olhá-la nos olhos.

– Caneca do Batman?

Ele perguntou, um sorriso se insinuando no canto de sua boca. Ela corou ligeiramente e virou o rosto.

– Bebe logo. Idiota.

Natsu obedeceu, sentindo uma sensação agradável com a água limpando o sabor alcoólico de sua boca e clareando vagamente seus pensamentos. Ao menos agora conseguia focalizar as coisas com mais facilidade.

– Ei, Luce... - começou, depois de pousar a caneca vazia na mesa de centro. Natsu hesitou um pouco antes de continuar. Ainda não sabia bem o que fazia.

Mas a pequena parte consciente de si que lutava para retomar o controle estava ganhando alguma força, e sentiu que precisava retirar aquele peso do peito.

– Aquele beijo... mais cedo... - não terminou a frase, deixando-a no ar. Lucy pareceu não entender de início, mas piscou algumas vezes e corou.

– Eu não ligo, Natsu. Você está bêbado, tudo bem.

Dessa vez foi Natsu quem não entendeu. E então a compreensão se espalhou por seu rosto. "Você é doce, Luce. Como mel." Ele dissera mesmo isso? Ruborizou.

– Bem, não estava falando disso... mas me desculpe.

Lucy fez um aceno de cabeça, a cor do rosto voltando ao normal. Se virou para ele.

– Do que você estava falando então?

O garoto engoliu em seco, não conseguindo mais encará-la.

– Na escola, hoje de manhã... na saída. Você e o Loke.

Falar o nome dele em alto e bom som revirou as entranhas de Natsu. O jeito que Loke envolveu a cintura da sua loira e devorou a boca dela... ele sentiu vontade de vomitar e espancar o sorrisinho orgulhoso daquele palhaço ruivo, mas se conteu. Lucy arregalou um pouco os olhos, desviando os olhos do perfil corado de Natsu, encarando o emblema de seu herói favorito na mesa.

– Se você quer mesmo saber, ele que me beijou. Quer dizer, o Loke sempre deu em cima de mim, mas como eu nunca levei a sério, nunca lhe dei uma resposta definitiva... e ele interpretou como um sim.

Lucy esperava que Natsu lhe dissesse alguma coisa. Qualquer coisa. Mas o Salamander apenas baixou a cabeça, calado como um túmulo.

Olhando agora, seu rosto estava sério, como se ele não tivesse tacado pedrinhas na janela dela com o sorriso mais besta do mundo uns momentos atrás. Mas pelo jeito anuviado que Natsu encarava o chão, Lucy podia dizer que ele ainda não estava totalmente lúcido. O silêncio se prolongou por alguns minutos, até que Lucy achou-o insuportável e o rompeu:

– Natsu?

O rosado se voltou para ela, o olhar sombrio.

– Você nunca bebeu antes. Por quê agora?

O garoto não respondeu. Apenas a encarou com seu olhar penetrante, que alcançava a alma. Natsu parecia enxergar através dela, como se seus segredos mais íntimos fossem livros abertos para ele. Aquele olhar intenso lhe causava pequenos arrepios na espinha e uma sensação quente se espalhando por seu peito, que ela reprimiu, assustada. Ele ainda a fitava, como que fazendo uma análise completa de seus pensamentos, e Lucy, incapaz de desviar dele, retribuía o olhar. Natsu finalmente parecia ter caído em si. Virou o rosto e corou. Lucy se surpreendeu. Nem parecia a mesma pessoa que a encarara desafiadoramente há pouco. Como ele podia ser tão inconstante? Primeiro aparecia todo bobo, na frente da sua casa, rindo como um louco. Depois, agia esquisito, roubando beijos e falando bobagens. E então, assumia uma postura séria e meio fúnebre ao mencionar Loke... estava agindo como um... Lucy levou uma mão à boca, como se a verdade tivesse despencado debaixo de seu nariz. "Natsu está agindo como um idiota apaixonado", pensou. Ela o olhou de soslaio.

De repente, sentiu-se quente como um vulcão em erupção. Abanou o rosto, mas a sensação não passou. Natsu continuava alheio a ela, com o rosto corado, contornando com os dedos as asas de morcego desenhadas na porcelana. Lucy respirou fundo, prendeu o cabelo nervosamente em um coque e girou o corpo, ficando de frente para o garoto.

– Natsu. Olhe para mim.

O garoto obedeceu, com certa relutância. Ela parecia estar falando com um cãozinho que fizera algo errado e estava prestes a levar bronca do dono. Lucy quis rir com a comparação, mas se manteve séria. Queria interrogá-lo, mas ao ver a expressão perdida em seu rosto, se derreteu. Sem pensar claramente, tomou as mãos dele nas suas - gesto que o fez estremecer de leve - e olhou em seus olhos, com a voz mansa:

– Por que você resolveu beber?

Natsu tentou desviar o olhar e pensar em qualquer coisa que não fosse o calor e a maciez das mãos de Lucy, mas falhou em ambos. E então ele se rendeu. Sem conseguir pensar em palavras para dizer a ela, se inclinou para frente e a beijou, sutil e inocente como o sol beijando o mar. Um choque elétrico percorreu todo o corpo do garoto e arrepiou seus pelos. O sabor dos lábios de Lucy inebriou seus pensamentos. Natsu se forçou a afastar-se. Vendo o olhar petrificado de surpresa no rosto pálido da loira, ele sentiu seu peito se apertar. Estragara tudo. Lucy nunca mais ia querer vê-lo. Se amaldiçoou até a última geração por seu maldito gênio forte. Amaldiçoou Gajeel e suas bebidas grátis.

E então, como se acordasse subitamente do transe de um sonho, se levantou num pulo e sumiu pela porta de entrada. Lucy ficou ali, sentada, incapaz de mover um único músculo. Aos poucos, o baque do que acabara de acontecer se fez presente, e ela sentiu, dos pés à cabeça, tudo formigar em eletricidade, o coração quase saltando do peito. Seu corpo se moveu sozinho. Quando deu por si, estava no meio da rua, ofegando, sua mão fechada em torno do pulso de um Natsu completamente desorientado e surpreso. Lucy não sabia descrever muito bem a razão de suas ações seguintes: simplesmente entrelaçou seus braços no pescoço envolto pelo costumeiro cachecol de Natsu, ficou na ponta dos pés e atacou sua boca, sem aviso ou hesitação. O garoto reagiu num piscar de olhos, abraçando firmemente a loira, como que para ter certeza de que ela estava mesmo ali. Seus braços ergueram-na alguns centímetros do chão e ambos perderam a noção de tempo e espaço. As mãos de Lucy correram pelos cabelos rosados, pelos ombros largos e se cravaram na nuca do rosado, arrancando dele um gemido abafado. Natsu, por sua vez, passeava os dedos por todo o dorso de Lucy, acariciando ocasionalmente o topo de sua cabeça e suas bochechas. Eles se separavam quase imperceptivelmente para respirar e tornavam a se afundar em carícias. Natsu sentia que poderia explodir a qualquer momento. Seu coração podia ser ouvido para quem se dispusesse a chegar perto. Ele não sabia que podia se sentir tão feliz. Ele a amava, certo como o chão sobre seus pés. Quanto a Lucy, sua mente girava com a intensidade daquilo. A visão de Natsu, com os lábios inchados e vermelhos, respiração acelerada e pupilas dilatadas, provocava nela sensações fortes e novas, como fogos de artifício.

Natsu não podia acreditar. Ele a tinha ali, em seus braços, depois de anos imaginando como seria. E nem seus sonhos mais loucos poderiam chegar perto daquela sensação. A loira estava completamente à mercê do rosado. Não entendia o que se passava com ela: nunca se sentira tão atraída, tão quente, tão eufórica por ninguém assim antes. Ela não conseguia conceber a ideia de que passara tanto tempo sem beijá-lo, sem abraçá-lo e senti-lo tão perto. Como alguém podia fazê-la se sentir tão... completa? Lucy não conseguia pensar em nada senão Natsu. Queria ter percebido os sentimentos dele antes. O tempo que perdeu longe daqueles braços suplicava para ser compensado, e ela pretendia atender essa súplica. E então, uma crise de consciência a atingiu: Natsu estava bêbado, não tinha noção de que estavam no meio da rua. Ela era a responsável ali. Com óbvia relutância, ela se separou de Natsu, puxando seus braços de trás do pescoço do rosado. Queria tirá-lo dali, onde estavam expostos para qualquer pessoa em Magnólia que passasse pela rua às quatro horas da manhã. Com o rosto em brasa pelo que acabaram de fazer, Lucy recuperou o fôlego pesadamente e entrelaçou seus dedos nos de Natsu, puxando-o de volta em direção ao apartamento e ajeitando o cabelo para esconder seu embaraço. Sentia o olhar intenso de Natsu em sua nuca, mas não se virou para encará-lo. Derretia-se em vergonha só de pensar em si mesma saltando em cima dele como uma desvairada.

Não queria tê-lo agarrado daquele jeito. E se Natsu não gostasse realmente dela? E se estivesse apenas muito bêbado? Mas ela logo espantou esses pensamentos. Conhecia muito bem aquele garoto e sabia que ele não faria uma coisa dessas só por diversão. Brincar com o sentimento alheio era a última coisa que Salamander faria. Ele sempre queria todos sorrindo, com seu jeito brincalhão e doido. Lucy sorriu, a mesma sensação quente anterior lhe subindo pelo peito.
Ao subir os degraus segurando a mão de Natsu - que, ela teve de admitir, tivera um ótimo desempenho até então sem tropeçar nenhuma vez -, Lucy decidiu algo: era muito sujo aproveitar-se das condições do rosado, mesmo que ele parecesse muito mais lúcido. Por isso, quando entraram no apartamento e ela trancou a porta, prometeu a si mesma que não faria nenhuma besteira com ele. Guiou-o até seu quarto.

– Natsu, você vai dormir aqui.

Ele a olhou, um brilho que Lucy não reconheceu passando por seu olhar. Seria malícia?

– Nada de gracinhas - completou ela, suspeitando das segundas intenções de Natsu.

O garoto murchou ao som dessas palavras, mas concordou com a cabeça.

– Ótimo. Agora... ahn...

Lucy remexeu os dedos, inquieta. Ela não tinha nada que coubesse nele. E Natsu certamente não poderia dormir com aquelas roupas, estivera com elas o dia inteiro e fediam a álcool. Ela inspirou fundo e soltou o ar, calmamente.

– Nós vamos ter que despir você.

O garoto arregalou os olhos diante dessa frase.

Ele falou pela primeira vez desde que saíra como um furacão pela porta.

– Está tentando se aproveitar de mim, Lucy?

Disse ele com a voz arrastada, exibindo um largo sorriso cafajeste.

A garota corou com um tom de vermelho semelhante ao dos cabelos de Erza.

– Idiota.

Murmurou, dando um soco no braço do rosado, que riu e reclamou em tom brincalhão.

– Nervosinha.

Sussurrou ele, ao pé de seu ouvido. Lucy estremeceu até seu último fio de cabelo.

– Cale essa boca.

– Só se você calar pra mim.

Retrucou ele, de prontidão. Lucy nem precisou erguer o rosto para saber que ele estava sorrindo. Ela ergueu a mão e tapou a boca do garoto.

– Assim está bom? - disse ela, reprimindo um sorriso ao ver a careta dele.

Natsu bufou pelas frestas de seus dedos. Ela riu e deu um beijo em sua bochecha, o que tingiu o garoto de um tom adorável de rosa.

– Agora fique quieto. Não dificulte isso pra mim. - resmungou ela, tentando com todas as suas forças não corar novamente enquanto levantava devagar a barra da camisa branca que ele vestia. Natsu baixou o olhar e viu a situação embaraçosa em que a garota se encontrava e não pôde deixar de rir.

– Sabe, você não precisa fazer isso.

De fato, Natsu agora falava com mais rapidez e clareza, o brilho de inteligência voltando aos poucos aos seus olhos. Lucy se sentiu desconsertada... ela meio que queria fazer isso. Mas não ia deixá-lo saber.

– Preciso, sim. Você vai se atrapalhar todo e acabar quebrando alguma coisa, Natsu.

O garoto revirou os olhos e sorriu.

Para surpresa de Lucy, ele não disse nenhum comentário sarcástico como "você quer meu corpo nu". Apenas pousou sua mão calorosa no topo da cabeça da loira, num afago.

– Tudo bem, então. Pelo menos deixa eu te ajudar.

Disse ele, numa voz rouca que acelerou o coração da garota. Ela assentiu e deixou-o segurar suas mãos trêmulas, erguendo-as juntas ao passar a camisa pela cabeça. Lucy ficou sem fala por um momento. Natsu era... estonteante. À luz fraca dos primeiros raios de sol que surgiam, os contornos dele pareciam ainda mais perfeitos, completando um desenho incrível, e ela teve que exercitar um imenso autocontrole para não tocar cada canto daquela visão, e engoliu em seco. Se Natsu reparou algo, não disse nada. Observou Lucy se abaixar enquanto tirava suas calças, deixando-o só de cueca, no meio do seu quarto... ela engoliu em seco novamente.

– Você pode dormir na minha cama. - Lucy quis se socar pelo tom trêmulo que sua voz assumiu. - Eu vou para o sofá. Você vai ter uma enxaqueca difícil amanhã.

Dito isso, estava pronta para ir embora, quando a mão de Natsu se fechou em seu pulso.

– Ah, não. Depois de tudo o que aconteceu hoje, eu não durmo sem você.

Lucy teve certeza de que ele pôde ouvir as batidas altas do seu coração ao fim dessa frase. E ele ainda ficava fazendo aquela voz rouca, de propósito. Quis protestar, xingá-lo, socá-lo, mas quando abriu a boca, sua voz saiu rápida antes que ela pudesse se segurar.

– Ok.

A satisfação orgulhosa no rosto do rosado a enfureceu. Ela pisou em seu pé e ralhou:

– Convencido.

Ele abriu um enorme sorriso, que nada tinha de sedutor, mas era sincero e lembrou a Lucy novamente do nascer do sol. Ele a abraçou, cobrindo seu rosto e pescoço de beijos estalados.

– Você é incrível!

Riu-se ele, beijando a testa da loira, que estava confusa e abobalhada. Ela escondeu o enorme sorriso que ameaçava surgir em seu rosto e o afastou.

– Tá, já sei. Agora vamos dormir.

Dizendo isso, empurrou o rosado, que foi andando de costas até cair na cama, puxando a garota consigo. Lucy caiu em seu peito e Natsu a envolveu com os braços, prendendo-a.

– Natsu, me solta, está frio e estamos sem cobertores.

O rosado resmungou em negação.

– Eu te esquento.

– Tapado - xingou ela, rindo.

– É sério - sussurrou ele, beijando-a ferozmente. Lucy gemeu de prazer, mas o afastou.

– Eu nem estou de pijama.

– Luce, se você vestir um daqueles shorts minúsculos, eu não vou conseguir seguir a regra "nada de gracinhas".

Lucy quis rir, mas Natsu estava sério. Ele ficava "animadinho" tão facilmente? O garoto deve ter percebido sua expressão, porque disse:

– Quando é com você, eu perco o controle rápido.

Essa frase esquentou Lucy por completo. Ele tinha razão: não precisavam de cobertores. Mas Lucy ainda se remexia nos braços de Natsu.

– Eu realmente tenho que levantar, Natsu. Deixei alguma coisa ligada na cozinha.

Era mentira. Mas Lucy estava preocupada com o calor crescente que sentia.

Ela não confiava em si mesma. Se não se soltasse de Natsu, faria uma besteira e se arrependeria no dia seguinte. O garoto ponderou por um instante, e finalmente respondeu.

– Só se você prometer que vai ser só minha, Luce.

A garota corou.

– Natsu, você já me fez falar isso.

– Fala de novo. Eu amo ouvir você falar.

Ela sentiu o coração parar. Quase o disse, mas não teve coragem.

– Natsu, por favor. É embaraçoso. - suplicou.

O garoto soltou uma risada muito próxima ao seu ouvido, que levou novos arrepios por todo o seu corpo.

– Então não vai sair.

Lucy bufou. Estava falando com Natsu afinal, a criatura mais teimosa da face da Terra. Ela respirou fundo.

– Eu prometo que vou ser só sua, Natsu Dragneel.

O som do seu nome dito por ela daquela forma tão carinhosa fez loucuras com o garoto. Ele podia morrer feliz, ali mesmo. Um sorriso bobo se espalhou pelo rosto de Natsu, enquanto seu aperto se afrouxava em torno da garota. Mas ela não se moveu.

– Lucy?

A loira não respondeu. Não se sentia mais com uma ânsia terrível de tocar cada parte do corpo de Natsu. Um sentimento morno se instalara em seu peito ao ver o sorriso abobalhado na cara dele. Ela não precisava de seu corpo... se contentava com o sorriso mais lindo que já vira, ali, só para ela.

– Acho que eu não esqueci nada ligado. Eu só quero... ficar aqui com você agora. Tudo bem?

O garoto não acreditou em seus ouvidos. Não podia mais segurar o sentimento forte em seu peito. Proferiu as palavras antes que pudesse medir consequências:

– Eu te amo, Luce.

A garota ficou paralisada.

Ao olhar para Natsu, não viu nenhuma sombra de brincadeira ou hesitação em seu olhar. Ele estava completamente sério. Não parecia nem de longe estar sobre efeito da bebida. O peso dos sentimentos dele a assustou por um momento, mas ao ver a calma terna com que o garoto a olhava e abraçava, ela não temeu mais nada. Se ela lhe dissesse "Eu também", apenas pareceria que ela o estava copiando. Não seria exatamente sincero. Então ela se impulsionou para cima e o beijou, tentando transmitir no toque tudo o que estava sentindo. O garoto não pareceu nem um pouco desapontado. Lucy sentiu os lábios de Natsu deixarem sua boca, para depois subirem e descerem por seu pescoço, a cobrindo de beijos. As borboletas em seu estômago faziam cócegas. Sentia-se como uma adolescente tola e apaixonada. Ela se enroscou mais no rosado, entrelaçando suas pernas com as dele, e descansou a cabeça em seu peito, se deleitando com o subir e descer da respiração de Natsu, que batia quente em seu cabelo. A ideia de passar o resto de sua vida com ele parecia tão tangível quanto a pele bronzeada do garoto sob seus dedos. Natsu entoava a mesma música que cantara há algum tempo, e Lucy deixou que o sono a embalasse aos poucos. A canção enchia seus ouvidos e ela adormeceu com a voz rouca de Natsu ribombando em seu peito.


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Notas finais do capítulo

Reviews bem-vindos sempre. Obrigada por chegar até aqui ♥