Segredos de Da Vinci escrita por Lucas Nascimento


Capítulo 2
Controle


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal. Tudo bem?

Vamos aos avisos: férias de julho, e esse mês farei um mochilão - então não tenho data para postar os próximos capítulos.

Garanto normalidade apenas na segunda semana de agosto, quando volto de viagem. Juro que vou recompensá-los postando o equivalente ao tempo perdido, durante os deslocamentos terei tempo para escrever, só não sei se terei internet para postar em cada destino.

Ameeeeeei de paixão todos os reviews que vocês deram. Até respirei mais aliviado.
Obrigado pelos elogios, por lerem, por tudo, tudo mesmo. Vocês são uns amores.

Vamos ao que interessa.
Boa leitura!



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O Vaticano havia me encomendado a criação de um Santo Sudário de Turim. Fiéis da Igreja, acreditam que o tecido no qual Jesus fora enrolado e colocado no sepulcro após a crucificação teria poderes milagrosos de cura e salvação. Afinal, teria sido justamente este tecido que ele calmamente dobrou e deixou como prova de sua ressurreição dos mortos. Lógico, a igreja se aproveitaria disso para lucrar.

Mas Jesus morreu há 1503 anos. Se essa história realmente aconteceu, eu não sei. Se esse pano realmente existiu, eu também não sei. Da mesma forma que o Santo Graal, o Santo Sudário pode não passar de mera especulação barata, e é de especulação barata que vive a tal religião. Eu vivo de fatos.

Mas em troca de muitas moedas de prata dos romanos católicos, eu faço qualquer coisa. Inclusive criar um suposto rosto do tal profetinha Jesus, baseado no meu, em um tecido um pouco mais antigo para não levantar suspeitas posteriores de uma fraude. Eles venderão milagres, ou um pedaço do céu, com uma obra de arte. A minha obra de arte.

***

Lisa estava ansiosa e feliz para o início da pintura de seu retrato. Eu havia reservado segredos ocultos que colocaria naquela obra. Mon Salai lembra muito a minha modelo, e era disso que eu precisava para homenageá-lo.

As montanhas de Firenze são o melhor cenário para essa pintura peculiar. Uma estrada praticamente deserta, um rio e as montanhas ao fundo. Pronto. Já temos o cenário, modelo e contexto.

Conversei pouco com Lisa, ela é uma mulher muito bela e quieta, mas estava feliz. Pedi para ela fazer a pose desejada e logo ela se ajeitou: ela usava um vestido com dobras marrons e esverdeado com os braços dourados. Ela cruzou os bracos sob o apoio do assento e com a mão esquerda segurava uma manta negra sob as pernas que não seriam mostradas. Seria apenas o busto.

Lisa sorriu. Um sorriso que me impactou. Um sorriso marcante, que eu nunca havia visto. Pacato. Sutil. Tímido. Revelador. Impactante. Feliz. Misterioso. Mil definições para o sorriso que ficaria impregnado por um bom tempo sob aquela tela.

Passei algumas horas a fio fazendo os desenhos de fundo da paisagem: darei uma sensação de realidade, como se aquilo tivesse sido capturado por alguma engenhoca de captura de imagem nunca vista antes. Se comparados, os lados esquerdo e direito, se alinharão perfeitamente. Quando eu colocar o busto de Lisa, parecerá um lado maior que o outro e o horizonte ficará desproporcional. Isso se chamará... hmm, realismo. Pedi que ela ficasse à vontade enquanto realizava essa tarefa.

Ao terminar a paisagem, passei a desenhar sua silhueta, deixando espaço para fazer as mudanças e edições póstumas, que seriam muitas. Eu pedi três anos de prazo na entrega, para que fique perfeita, e para que envie uma mensagem. Toda obra de arte passa uma mensagem. A minha, desta vez, não era pagã aos olhos da igreja, e sim o meu amor a Gian. Então, no caso, um crime.

Eu não tenho medo de assumir minha homossexualidade e nem de ser uma pessoa um tanto indecifrável: é por isso que escrevo de trás pra frente, exumo defuntos nos cemitérios para estudar anatomia, dizem, aliás que é feitiçaria. Criei dispositivos de defesa, armas de guerra, e ainda assim, sou criticado por alguns. Oras, todos os avanços na história da humanidade não foram bem vistos. Noé foi chamado de louco ao construir uma arca gigante; Abraão era velho demais para ter um filho; Jesus morreu e ressuscitou. A própria igreja se alimenta de fábulas impossíveis e acusa um grande visionário como eu. Fariseus hipócritas. Nunca conseguirei entendê-los, mas são bons parceiros comerciais, é bom manter as aparências por isso.

Terminei a construção do busto de Lisa sob a tela e a liberei para ir para sua casa. Eu também precisava voltar para o meu ateliê e colocar no quadro o que eu realmente queria fazer, só que sem a interferência de terceiros. E, pintando ao ar livre, eu correria riscos de ter o fator surpresa contra mim e não ao meu favor.

***

– Mon Salai, cheguei, meu amor. - chamei, excitado para dar continuidade ao trabalho.

Gian apareceu alguns segundos depois, entrou na sala e me beijou de leve nos lábios.

– Oi, mestre. Que bom que chegou. Já estava com saudades. - ele disse, afagando minha barba.

– Passei o dia com Lisa, criando o retrato. Mas ainda não terminei a parte principal. - falei, sorrindo.

– Posso ver? - perguntou.

Mostrei o que havia feito para o meu diabinho, ele sorriu e olhou encantado para a obra.

– Ficou perfeito. Sei que está faltando os retoques finais, mas não entendi. Como ainda falta a parte principal? - indagou ele.

– Preciso adicionar símbolos e colocar o mais belo rosto representado no lugar do rosto desta linda jovem, caro Gian. - falei, e apertei seus dedos entre os meus. - Eu preciso encaixar você aqui.

Ele me olhou boquiaberto. Ele não havia acreditado que eu faria aquele quadro em sua homenagem. E, muito menos, imaginara que seu rosto seria estampado ali.

– Querido, não precisa disso. Você vai se complicar se fizer isso. - ele colocou as mãos no rosto como se quisesse espantar o pensamento.

– Gian, temos sorte de nossa modelo se chamar Lisa. Não irei me complicar. - tranquilizei-o. - Aliás, já tenho um nome para a pintura. Chamaremos de Mona Lisa.

Peguei um papel, pena e tinta e escrevi, pela primeira vez, do jeito comum para que ele entendesse o que eu queria dizer.

MONA LISA

MON SALAI

– Gian, meu amor. Eu sou Leonardo Da Vinci, nada foge do meu controle...


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Notas finais do capítulo

E ai, o que mais gostaram? Deixem nos comentários. Deem dicas, criticas, sugestões.
Olha só 4h da manhã, termino de arrumar as malas e vou escrever e postar.

Juro que se eu tiver internet, aonde eu estiver, vou tirar um tempinho e irei postar o capítulo.
Conto pra vocês depois como foi o mochilão (pra quem não sabe: é uma viagem com vários destinos, no meu caso serão 10 cidades diferentes na América do Sul.).

Fuuuuui.