Safira: Carnificina Total escrita por Larenu


Capítulo 8
John


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, spin-off de sextas. Acredito que este seja o antepenúltimo capítulo da fic.



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— E então, quando tudo parecia estar bem, lá estava eu. Me chocando novamente com uma parede em meio a uma corrida. Tivemos dias maravilhosos enquanto começávamos a organizar a A.K.A. Mas então houve o desaparecimento dos Wingfoot, e o caos instalado na A.K.A.

“E Cletus, mais uma vez, se afastou de mim. Todo esse tempo, o ‘Carnage Killer’ continuara matando e fazendo sua festa em Nova York. Mas Cletus estivera presente. Eu senti-me então como uma idiota. Chorara várias vezes durante o dia. Estava crente de que Cletus estava me traindo. As saídas dele nos nossos tempos de casal, que foram aproximadamente três meses...

“Eu estava realmente mal. Sentia-me desapontada com ele. No dia em que as coisas começaram a mudar ao meu ponto de vista, eu estava sentada no escritório na Alias Investigations. As lágrimas desciam pelo meu rosto como chuva, enquanto escrevia, em uma folha em branco, uma carta.

“Minha mão tremia enquanto as palavras surgiam. Elas brotavam de minhas lágrimas fruto de minha dor. Conseguia sentir cada uma delas. Li-as novamente e amassei o papel, descontente com o resultado. Joguei a folha amassada num cesto de lixo e procurei por outra. Não havia.

“Coloquei os cotovelos em minha mesa e repousei o rosto em minhas mãos, soluçando em harmonia com as lágrimas. Foi quando senti a forte ventania entrar pela janela atrás de mim e derrubar o pequeno cesto de lixo. Olhei para as várias folhas de papel amassadas caídas no chão e me abaixei para recolhê-las. Coloquei-as no cesto e o pus em meu colo.

“Uma por uma, reli as cartas amassadas. Espremi todas no cesto e olhei pela janela. O sol estava encoberto por nuvens, de forma que estava escuro. Triste, me levantei e desci as escadas. Entrei no beco ao lado da rua, onde um mendigo me encarava de volta. Olhei para a lata de lixo na frente dele, que servia como fogueira para aquecê-lo.

“Com toda a minha força, virei as folhas de papel na lata em chamas e empurrei-as para o fundo, ignorando as chamas e apagando-as de meus braços. Me virei e deixei o mendigo, as primeiras gotas de chuva caindo em meus ombros e se misturando com minhas lágrimas.

“Quando subi, errei a chave da porta e quebrei o chaveiro sem querer. As chaves todas caíram no chão. Me agachei para recolher, contudo hesitei. Olhei para o vidro, onde estava o nome da Alias Investigations.

“Com um simples soco, estilhacei o vidro. Olhei em volta, catei todas as chaves e pulei através do buraco. Taquei meu cesto de lixo no chão e me sentei à cadeira. No verso de um documento, as palavras fluíram facilmente.

“Comecei a escrever. ‘Cletus, eu te amo. O amor não acabou. Infelizmente para ambos nós, a confiança, frágil em todos os relacionamentos, foi quebrada. E, uma fez desfeita, não há como reconstruí-la. Dói-me dizer isto, porém acho, do fundo do meu coração, que devemos sinceridade um a outro. Então, serei direta. Estamos acabados.’

“Suspirei. A parte mais difícil já fora. ‘Continuaremos a nos ver, é claro. Mas como colegas de trabalho. Por isso, estou deixando o apartamento por um tempo, mas apenas o suficiente para que você pegue suas coisas e se vá.’

“Pensei mais um pouco e reli o que já fora. ‘Presumo que esteja curioso por saber os meus motivos. Bom, como acha que eu me sinto sendo deixada só no meio da noite e durante o dia também? Permita-me responder isso. Sabe como é amar uma pessoa que te leva para o céu, mas te joga para o inferno a toda hora?’.

“Solucei, nervosa. ‘Não, você não sabe, pois eu nunca fiz isso com você. Você fez isso comigo. Sei que está me traindo, Cletus. Mas, quer saber? Eu meio que já esperava. Todo esse tempo que estivemos juntos, você sempre conseguiu tudo que quis. Creio até que me encaixo nessa categoria. Sinto que há um lado de você que nunca conheci, ou ao qual nunca dei a devida importância.’

“Apressei minha letra, ficando mais tensa. ‘Será que todas as coisas que você me disse nunca foram verdade? Quero muito acreditar que foram. Mas, nos jogos que você joga, você sempre vencerá. E eu, a iludida, sempre sairei perdendo. Sabe, não me arrependo de ter estado com você. Mas, se tivesse que fazer tudo de novo, teria terminado as coisas mais cedo.’

“Acabei por pressionar demais a caneta, cuja ponta se quebrou. Xinguei, joguei-a fora e peguei outra. ‘Mas sabe, Cletus, eu fiz muitas coisas das quais não me arrependo. E agora nos enterro debaixo delas. Adeus. E mande minhas saudações para sua próxima amante.’

“Dobrei o papel e me levantei, enxugando as lágrimas no cachecol. Fui até o quarto com um pedaço de barbante. E então amarrei ao batente da porta o meu bilhete. Foi quando recebi um telefonema. ‘Pois não?’ atendi.

“Uma voz masculina me respondeu. Não era Cletus. ‘Sente a falta de alguém?’. Engoli em seco. ‘Pois saiba que seus queridos Wingfoot foram vistos no Triskelion entrando em um laboratório. Desde então, sumiram. A única pessoa com acesso a esse laboratório é...’.

“Desliguei o telefone sem responder. Levantei-me, irritada, e corri até a cozinha. Abri a geladeira, pegando uma garrafa de uísque. Joguei o celular no bolso e saí de casa com a garrafa, já bebendo nela. Entrei em meu carro e liguei para a única pessoa em quem eu confiava naquele momento.

“A voz dela atendeu. ‘Jessica? O que foi?’ ‘Victoria, preciso encontrar-me com você o quanto antes. É urgente’. Victoria suspirou e sussurrou algo para alguém que estava com ela. ‘Está bem, estou indo’ ‘Obrigada. Nos vemos no Triskelion’. Desliguei e acelerei rumo ao Triskelion.

“Estacionei em frente a entrada ao chegar, terminando a garrafa de uísque e jogando numa lata de lixo antes de entrar. Corri ao entrar, mas fui parada por um agente. ‘Senhorita, agentes da A.K.A. não tem permissão de entrar neste corredor’ disse a voz, num tom zombeteiro.

“Aquele tom de voz masculino me era familiar. Era o homem do telefone. Olhei nos olhos dele e me preparei para empurra-lo. Foi quando Victoria Hand entrou correndo. ‘Ward, ela está comigo’. Ele saiu da frente. Cumprimentei Victoria e entramos no corredor dos laboratórios.

“Victoria parecia nervosa. ‘Você está bem, Victoria?’ ‘Sim. Quer dizer, tive que largar Isabelle com a desculpa de que era trabalho’. Engoli em seco. Ela fizera isso por mim­? ‘Oh, me desculpe, não quis...’ ‘Jessica, calma. Eu não teria vindo se não tivesse visto o desespero em sua voz’.

“Engoli em seco de novo. ‘Posso pelo menos saber o que é tão urgente?’. Assenti. ‘Acho que Cletus está mantendo os Wingfoot como reféns num dos laboratórios no subsolo’. Victoria freou. ‘Espere, como?’ ‘Ande, eu conto no caminho’.

“Contei a ela sobre a carta e a ligação, e também sobre eu e Cletus. ‘Jessica, eu sinto muito por você. Sério, eu não desejaria jamais que você sofresse assim. Sabe, eu nunca fui com a cara de Cletus’. Suspirei. Logo percebi como muitas pessoas não gostavam de Cletus.

“Victoria, Alexander, Jasper, Coulson, Melinda, Jemma, Leo, os Wingfoot, até o chato do Seth. E, é claro, você, diretor da S.H.I.E.L.D. ‘Eu não te culpo por isso, Victoria. Sério. Pensando agora, acho que, se eu não o conhecesse, não gostaria nada dele.’

“Ela deu um sorriso irônico, quando paramos em frente ao laboratório que eu visitara uma vez durante a noite, quando encontrara o Deathlok pela primeira vez. Quando entrei, minha reação foi pior. Tanto eu quanto Victoria gritamos ao ver a criatura vermelha feita de gosma que estava dentro de um tanque tubular de pé.

“Era apavorante. Um monstro humanoide feito de gosma, que estava com o peito aberto e moldado para um corpo masculino entrar. Um corpo masculino e esguio. Fios de gosma brotavam da criatura, soltos no líquido escuro que havia no tanque. Seus olhos brancos estavam vazios, e combinavam com os falsos dentes feitos de gosma.

“Victoria quase gritou. ‘O que é isso?!’ ela exclamou. Olhei em volta e vi uma tela branca, nela, pintada com sangue, as letras CK se repetiam várias vezes. Tudo fez sentido repentinamente. ‘Este é... C... K.’ eu disse, completamente nervosa.

“Então, Victoria também compreendeu. ‘Meu Deus, isso é terrível. Cletus é...’ ‘Sim, e ele vai matar William e Martha Wingfoot se nós não impedirmos’. Foi quando meu celular tocou. Relutante, eu atendi. ‘Pois não?’ ‘Jessica Jones? Aqui é John Jameson’. Eu quase gritei. John Jameson? O valentão do meu ensino médio em Midtown High School?

“Estremeci. ‘John? Como conseguiu meu número e por que está me ligando?’ ‘Bom, acontece que... eu gostaria de saber por que seu nome está escrito com sangue em Midtown. Junto dos corpos de um casal’ ‘Não saia daí. Estou a caminho’. E desliguei.

“Me virei para Victoria. ‘Tarde demais. Ele os matou. Mas vamos, temos que ir para minha antiga escola’ ‘Hã? Por quê?’ ‘Porque lá é a cena do crime. E parece que Cletus deixou lá mais do que uma simples assinatura’.

“A trajetória até a escola foi muito confusa. Chegamos lá rápido, mas quebramos várias leis de trânsito. Lá, John nos recebeu na entrada. ‘Jessica, posso saber o que está acontecendo?’. Suspirei. ‘Esta é Victoria Hand, agente da S.H.I.E.L.D. Ela quer ver os corpos.’

“Ele começou a nos guiar pelo colégio em silêncio. Apenas o quebrou uma vez, para perguntar o que estava acontecendo. ‘Sério, vocês têm que me dizer. Sabem como meu avô vai reagir ao descobrir isso? Tive que parar meu treinamento na NASA para vir aqui atender o chamado do zelador’.

“NASA? Eu soubera uma vez que ele sonhava em ser astronauta, mas nunca dera muita credibilidade a esse sonho. Muito provavelmente por que meus pensamentos e lembranças de John eram de bullying na escola.

“Chegamos finalmente a cena do crime. Em uma sala de aula, os corpos dos Wingfoot estavam sem a cabeça, que parecia ter sido à mão, e posicionados em carteiras de estudantes. Na mesa do professor, as cabeças faziam o papel de maçãs.

“Atrás da mesa, na lousa, as iniciais CK e meu nome, Jessica Jones, estavam pintados com sangue. ‘E é isto’ constatou ele. Fulminei-o momentaneamente e então voltei a me assustar com meu nome. ‘Jessica, temos que contatar o diretor da S.H.I.E.L.D.’ disse-me Victoria. Foi quando ouvimos a explosão.

“Corremos para a janela, a tempo de ver os destroços do carro de Victoria soltando fumaça. Como viemos no carro dela, não tínhamos um carro para voltar para o Triskelion. Eu e ela xingamos em voz baixa, sabendo quem fora o culpado. Quando a bomba fora colocada lá, porém, ainda é um mistério. Eu suspeito de Grant Ward. Victoria fotografou a cena do crime e olhou para John. ‘Senhor Jameson, o senhor tem carro?’ ‘Sim, é claro’.

“Ela olhou para mim, como se pedindo permissão. Assenti, sem ver outra saída. ‘Então precisa nos levar ao edifício do Triskelion. Sabe onde fica?’ ‘Sim, eu sei’ ‘Ótimo’. Descemos e fomos até o carro dele. Quando eu sentei no banco de trás, vendo Victoria e John na frente, me recuperei daquela nostalgia macabra.

“Quando começamos a nos mover, John insistiu em perguntar o que estava havendo mais uma vez. E então Victoria começou a falar. ‘Estamos no rastro de um assassino, o Carnage Killer’. Ele pensou um pouco. ‘Espere, o Carnificina?’.

“Dei um pulo ao ouvir esse nome. ‘Como disse?’ ‘Carnificina, o tal assassino da assinatura. Assim que o chamam por aí’ ‘Não era Carnage Killer?’ ‘Só a mídia chama ele assim’. Voltei a repousar-me no banco, com uma lembrança clara na minha mente. Era o laboratório de Cletus e aquele monstro. No monitor ao lado dele, a palavra Carnificina estivera em destaque em meio a números.

“Estacionamos em frente ao Triskelion, o máximo que o carro de John podia entrar. Descemos do carro e agradecemos a ele. ‘Vocês não podem simplesmente me deixar aqui!’ disse ele, fazendo Victoria parar. Ela olhou para mim. ‘Ele tem razão’.

“Acompanhadas de John, corremos para dentro do prédio. Victoria fez com que passássemos pela segurança e subíssemos até a sala do diretor. Lá, porém, Maria Hill nos parou. ‘Onde pensam que vão? Victoria, você não pode entrar aqui com Jessica e esse civil’.

“Olhei para Victoria, que sinalizou para que eu me acalmasse. ‘Maria, precisamos falar com o diretor Fury. É urgente’ ‘Nem pensar. Jones já não é mais agente da S.H.I.E.L.D., e esse homem é um civil. Eles não têm acesso a esta sala’.

“Foi quando a porta atrás dela se abriu. ‘Maria, deixe a agente Jones entrar. Imediatamente’ ordenou uma voz masculina. A sua voz. ‘Mas diretor...’ ‘Sem mas. É uma ordem direta minha’.

“Passei por Maria e pisquei para Victoria. Então, sentei-me diante de sua mesa. ‘Diretor Fury, obrigada por me receber. Bom, é uma longa história’ ‘Tenho todo o tempo que precisar, Jessica’ ‘Obrigada. Certo, é Cletus. Ele é o Carnage Killer’

“Você se espantou. ‘Tem certeza disso?’ ‘Sim’. Você ponderou um pouco. ‘Sempre desconfiei dele. Por favor, conte-me sua história’ ‘Bem, por onde eu começo...’ ‘Pelo começo, por favor. Como vocês se conheceram?’ ‘Ok. Bom, tudo começou como de costume. Apenas mais um dia comum naquele purgatório chamado escola...’”.


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Notas finais do capítulo

Encerramos então a conversa entre Jessica e Fury. A partir de agora, teremos o desfecho final.



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