Peeta Mellark está de volta ao 12.

Eu não consigo acreditar no que leio.

Porém, é o que diz no jornal. Com essas mesmas palavras.

Era de manhã, as nuvens puseram-se em um amontoado no céu. Seria um dia normal, afinal. Mais um dia em que sou consumida totalmente pelo sentimento de perda. Planejei fazer tudo o que eu sempre fazia: ficar em um canto do meu quarto olhando para o nada e pensando quantas vidas eu poderia ter salvado se simplesmente tivesse comido aquelas amoras da primeira arena. No entanto, eu sentia que algo estava diferente.

Eu não sabia o porquê e para falar a verdade, eu não queria saber. Entretanto, eu podia sentir.

O dia começou como sempre. Acordei sobressaltada, com minhas mangas encharcadas de lágrimas como resultado de mais uma noite sucumbida aos pesadelos.

Porém,um dos pesadelos dessa noite foi diferente.

Nele não haviam pessoas mortas.

Nele havia alguém cuja uma parte me quer morta.

Começava com um altar em minha frente. Eu estava longe dele, então comecei a andar em sua direção. A medida que eu me aproximava, cenas de mim e Peeta apareciam. Primeiro, nós dois na primeira arena, no momento em que eu lhe dou a sopa. Depois, nós dois no trem na turnê da vitória, quando estávamos deitados na cama. Seguido pela cena de quando eu o beijo na arena do massacre quartenário após ele me entregar o colar, eu chego no tal altar.

E lá estava ele. Num terno de veludo, virado de lado para mim. Supostamente eu deveria subir no altar. Ou não?

Como eu fui parar ali, em primeiro lugar?

Então, ele vira seu rosto e seu olhar fixa em meu pescoço. Peeta está sangrando. Há diversos hematomas em seu lado direito do rosto. Ele sorri.

Todavia, não é o sorriso usual dele. É um sorriso que mostra que ele está feliz em me ver. Feliz por poder ter a chance de me matar.

Avanço mais alguns passos. Subo no altar e me aproximo de Peeta. Toco o seu rosto, meus lábios estão quase tocando os seus. Ele não demonstra nennhuma reação, não instantânea.

Ouço um estalo de dedos. Como se fosse um sinal para me atacar.

Não tenho tempo para reagir, porque é então que as fortes mãos de Peeta envoltam meu pescoço e o apertam dando a impressão de que meu pescoço é apenas uma geleca. Ele está me enforcando. O ar já está difícil de ser encontrado em meus pulmões. Minha face está ficando pálida e meus lábios roxos.

Sinto que estou quase morrendo, quando percebo que meu vestido, antes branco, agora está vermelho pois todos estão me esfaqueando. Snow está rindo. Eu perdi, ele ganhou.

E é então que eu acordo.

Não consegui tirar aquilo da minha cabeça. E é por este motivo que eu decido ir caçar. Reuno todas as minhas forças restantes e me levanto com ajudo do apoio da cabeceira de canto. Ando me apoiando nos móveis e nas paredes que eu encontro até chegar no banheiro. Me dispo e encho a banheira.

O contato da água quente com a minha pele resulta em uma instantânea sensação de queimadura. Meu corpo não aceitou a pele que os médicos da Capitol colocaram em mim. Iria ajduar se eu tomasse algum medicamento —além, é claro, dos morfináceos. —, mas como não há ninguém que me obrigue, eu não tomo.

Eu estou horrível. Meus ossos estão a vista, não poderia falar que sou só pele e osso. A depressão consegue me atingir de um modo tão intenso que presumo que nunca terei felicidade de novo em algum momento de minha vida.

Apesar do banho, eu não consigo relaxar. Tudo o que eu consigo pensar é naquele maldito pesadelo. "Deixe de ser boba Katniss, para aquilo acontecer você teria que ser namorada dele primeiro." Falo para mim mesma.

Resolvo sair. Me seco e enrolo na toalha. Paro na frente do espelho, realmente, se eu não estivesse me mexendo, eu iria pensar que o que está no reflexo do espelho não era real.

Coloco uma roupa qualquer, e por cima, tomo coragem e coloco a jaqueta de caça de meu pai. Ela ainda tem o cheiro dele.

Desço as escadas. Há um certo embaço em minha visão, porém não ligo para isso. Passo pela cozinha, onde Greasy Sae está tomando um café e lendo o jornal.

"Katniss, isso é...uau! O que te fez levantar daquele canto?" Ela diz boquiaberta. Eu me aproximo dela.'"Você vai caçar?" Afirmo com acabeça.

"Eu só preciso ir para lá, Greasy. Eu preciso esvaziar a cabeça." Respondo-a.

"Isso é ótimo, Katniss. Mas por favor, coma algo antes de sair." A velinha diz para mim.

"Eu vou."

Por alguns segundos o silêncio emana sob aquele cômodo. Então, eu quebro o silêncio, tentando jogar papo fora.

"Quais são as notícias?" Questiono-a, já que ela estava lendo o jornal.

"Bem, vejamos...." Greasy pega o amontoado de folhas. "Terá um novo prego, oh, isso é bom!" Ela diz ironizando. "Nós vencemos uma guerra..Não é ruim.." Diz ela, enquanto rimos. " E por último, mas não menos importante, Peeta Mellark voltará ao Distrito 12." Eu paro.

Isso definitivamente não pode estar acontecendo. Por quê ele vai voltar? Não tem nada aqui para ele! A sua família está morta, a padaria de sua família destruída....e....

Tudo por minha causa.

Eu atirei a flecha no campo da arena, o que resultou nos bombardeamentos aqui no doze.

Eu resisti contra Snow, e ele telessequestrou Peeta.

Milhares de pessoas poderiam estar vivas agora se eu não estivesse.

Então eu forço minhas pernas a se moverem na maior velocidade que elas podem. Direto até a floresta.

Eu subo numa árvore qualquer e sento em um dos galhos que eu sei que vai aguentar meu peso. Me apoio contra a árvore e respiro fundo. Eu preciso morrer.

Deixo todas as lágrimas saírem. Aqui, sei que posso gritar. Ninguém me escutará aqui. Eu grito. Tiro todo o ar de meus pulmões gritando.

De dor.

De sofrimento.

De saber que quem eu amei um dia, já não está comigo.

E então, quando minha visão fica turva e acho que minha hora chegou, ouço alguém chamando por meu nome.

Não tenho o tempo para identificar quem está me chamando pois eu finalmente sinto que estou livre no ar. E realmente estou, pois eu caio do galho onde estou.

Sinto que todo o ar do meu corpo não está mais aqui quando tudo escurece e a única coisa que eu vejo são seus cachos louros.