Depois de tanto relutar, eu fui pra escola. Busquei Bella, ela me fazia perguntas incessantes todo o caminho e na escola também. Parecia apavorada pelo fato de Alice ter ido embora, e eu tentava agir com frieza, mesmo sabendo que me odiaria depois disso.

 “-Tenho que trabalhar. Preciso compensar com a Sra. Newton por ter faltado ontem.

 -Ah! –eu falei me lembrando do incidente do aniversário.

 -Então, você vai quando eu estiver em casa, não vai¿ -ela perguntou de forma triste e desajeitada. Me senti mal por isso.

 -Se quiser. –respondi dando de ombros.

 -Eu sempre quero. –ela falou.”

 Os dias se passaram, esse flashback não parava de rodar em minha mente.

 Teve uma noite em que ela pediu para eu tirar fotos dela com seu pai e comigo. Certamente a única lembrança que teria de mim. E os dias se passaram, se aproximando do dia que eu mais odiaria.

 Levei Bella pra casa aquele dia, todos já estavam infernizando a minha mente pela minha demora. O que eles não sabiam era como eu ia ficar depois disso, o quanto isso estava me dilacerando, aos poucos.

 -Vamos dar uma caminhada. –eu falei com a voz rouca e triste, pegando sua mão. A última vez que eu pude fazer isso. Sentir sua mão na minha era uma coisa única.

 Levei-a para o jardim, para o leste. Andamos pouco, não queria fazer ela se perder na floresta. Soltei sua mão, me encostando em uma árvore, com o olhar frio.

 -Tudo bem, vamos conversar. –Bella disse. Parecia frágil, mas ao mesmo tempo corajosa. Ain, como eu a amo! Não acredito que vou fazer o que vou.

 Respirei, com toda a coragem que eu demorei todo esse tempo pra juntar, e falei.

 -Bella, nós vamos embora.

 Ela respirou fundo, achei que eu iria desabar.

 -Por que agora¿ Mais um ano... –ela disse, mas ela não entendia. Tive que interrompe-la.

 -Bella, está na hora. Afinal, quanto tempo mais poderemos ficar em Forks¿ Carlisle não pode passar dos 30, e ele agora diz ter 33. Logo teremos que recomeçar, de qualquer forma. –falei a primeira coisa que me veio á mente.

 Ela me encarou, o rosto desmoronando. Parecia morta. A encarei com frieza, embora quisesse ir até ela, dizer que a amo e beijá-la.

 -Quando você diz nós... – ela disse baixinho.

 -Quero dizer minha família e eu. –falei devagar, tentando fazer ela entender.

 -Tudo bem. Vou com você. –ela falou com convicção. Percebi, tarde demais, que demoraria a convencê-la e que precisaria de outros artifícios pra que isso acontecesse.

 -Não pode Bella. Aonde vamos... não é o lugar certo pra você.

 -Onde você está é o lugar certo pra mim.

 -Não sou bom pra você Bella. –verdade pura.

 -Não seja ridículo. –ela disse como se implorasse. –Você é a melhor parte da minha vida. –ela disse baixinho, meu coração frio estava aos pés.

 -Meu mundo não é pra você. –falei frio e áspero. Ela deu um passo involuntário pra trás.

 -O que aconteceu com Jasper... Não foi nada Edward, nada! –ela gritou desesperada, eu senti pena. E ódio. Ódio do quanto eu estava a fazendo sofrer.

 -Tem razão. Foi exatamente o esperado. –concordei e ela pareceu mais triste.

 -Você prometeu! –ela me acusou, e eu fiquei confuso, mas antes que pudesse perguntar, ela completou. – Em Phoenix, você prometeu que ficaria...

 -Desde que fosse o melhor pra você. –disse a interrompendo.

 -Não! Tem a ver com a minha alma, não é¿ -ela gritava, tive medo que Charlie ouvisse o que ela falava. –Carlisle me falou disso, e eu não me importo, Edward. Não me importo! Você pode ter minha alma. Não a quero sem você... ela já é sua. –ela terminou ofegando, ela gritou tanto que eu tive pena, muita pena.

 Respirei fundo. Ia ser difícil convencê-la. Eu precisara falar a maior blasfêmia que um dia eu pude imaginar. Encare o chão, com vergonha e medo do que eu ia dizer agora. Olhei pra ela penetrante.

 -Bella, não quero que você venha comigo. –falei tudo devagar, de modo que ela entende-se. A encarei frio e rude, embora o que eu quisesse fazer fosse beijá-la e dizer que a amo.

 Ela pareceu ficar refletindo, até que, finalmente, pareceu entender o significado do que eu falei.

 -Você... não... me quer¿ -ela perguntou gaguejando, confusa.

 -Não. –falei e senti vontade de morrer. Embora estivesse morto, quis que minha vida acabasse de vez naquele instante. Não sei como fui capaz de dizer uma coisa dessas, mesmo sendo mentira, eu me bem mal.

 -Bom, isso muda todo. –ela disse como um robô. Uma pessoa morta. Embora sua voz estivesse calma.

 -É claro que sempre a amarei... de certa forma. Mas o que aconteceu na outra noite me fez perceber que está na hora de mudar. Porque... estou cansado de fingir ser uma coisa que não sou. Não sou humano. –falei como desculpa. –Permiti que isso durasse tempo demais, lamento.

 -Não lamente. –ela disse rouca e sussurrando. –Não faça isso. –ela disse e me fez desmoronar e quase desistir.

 Olhei pra ela, e ela pareceu entender o que aconteceu.

 -Você não é boa pra mim Bella. –falei.

 -Se... é isso que você quer. –ela disse como se não ligasse pra isso, embora eu soubesse que ela estava morta por dentro.

 Assenti, porque não pude falar.

 -Mas gostara de lhe pedir um favor, se não for demais. –eu disse me lembrando de uma coisa.

 Esperei ela dizer que sim.

 -O que quiser. –ela disse e, por um instante, eu acreditei.

 Pareci desmoronar pó sua confiança em mim. Uma pessoa normal pensaria assim; já está me abandonando, agora quer que eu faça um favor¿ Devo admitir, eu faria isso... Mas ela não. Minha Bella.

 -Não cometa nenhuma imprudência, nenhuma idiotice. Entende o que estou dizendo¿

 Ela assentiu, fria.

 -Estou pensando em Charlie, claro. Ele precisa de você. Cuide-se... Por ele. –completei.

 Ela novamente assentiu.

 -Vou me cuidar. –disse.

 -E, em toca, vou lhe fazer uma promessa. Prometo que esta será a última vez que vai me ver. Não voltarei. Não a farei passar por nada como isso novamente. Você poderá seguir sua vida sem qualquer interferência minha. Será como se eu nunca tivesse existido.

 Eu sorri. Não sei o porque, foi involuntário.

 -Não se preocupe. Você é humana... Sua memória  não passa de uma peneira. O tempo cura todas as feridas para a sua espécie.

 -E as suas lembranças¿ -ela perguntou. EU não tinha pensado nisso.

 -Bem... –eu disse hesitando. -... não vou esquecer. Mas minha espécie... Nós nos distraímos com muita facilidade. –tente sorrir, o que, pra minha surpresa, funcionou.

 Dei um passo pra trás, tentando conter a vontade insaciável de beijá-la.

 -Acho que isso é tudo. Não vamos incomodá-la de novo. –eu disse. Não sabia o que faria, como sairia dali.

 -Alice não vai voltar. –ela disse surpresa. Assenti.

 -Não. Todos já foram. Fiquei pra trás para lhe dizer adeus. –não, fiquei pra trás porque sou fraco, acrescentei mentalmente.

 -Alice foi embora¿ -ela parecia não ter entendido.

 -Ela queria se despedir, mas a convenci de que uma ruptura sem trauma seria o melhor pra você.

 -Adeus Bella. –eu disse como se uma faca perfura-se meu coração, embora minha voz estivesse calma e serena.

 -Espere! –ela disse e eu hesitei.

 Por um instante de inconsciência eu me virei, como que para segurá-la, abraçá-la. Mas não. Logo eu olhava a frente, rezando pra que ela não visse meu pequeno momento de fraqueza. Coloquei seus braços ao lado do corpo, a colocando firme de pé. Beijei o mais leve que consegui, como uma pluma, seu cenho, embora a vontade que eu tinha era de beijá-la nos lábios. Ela fechou os olhos.

 -Cuide-se. –completei e saí correndo pela floresta.

 Se eu pudesse chorar, o teria feito, como uma pessoa em depressão. Não sei como pude ser tão frio. Meu coração, frio, em gelo, agora parecia despedaçado.

 Jurei nesse dia, que, de agora em diante, minha via ia se tornar um inferno.