Sutura

 Jasper quis atacar Bella, mas eu acabei a machucando para defendê-la. Agora o rasgo em seu braço era o mesmo do meu coração. Mas o do meu coração era maior. Eu não podia acreditar que eu tinha colocado ela em risco de novo, como na última vez. Eu nunca ia ser bom pra ela. Ela não precisava mais de mim. Eu a acabaria matando. -Emmett, Rose, levem Jasper para fora. –Carlisle lhes ordenou. Eu quase não ouvi quando ele disse isso. Eu só podia olhar para Bella e tentar explicar suas feições. Emmett, que era sempre o brincalhão da família, não riu ao levar Jasper para fora. Mas eu nem prestei atenção. Quando tive certeza de que estava controlado, fui até Bella e sentei ao seu lado. A vergonha e a repulsa por mim mesmo me encheram e me corroeram por completo. Eu estava envergonhado de, por mais que eu já tenha aprendido, eu tinha cometido o erro novamente. Me sentei defensivamente enquanto um rosnado passava com dificuldade por meus dentes trincados. Esse rosnado não foi de ódio a Jasper; eu devia saber que uma hora não ia dar certo; mas o rosnado era pra mim, pra mostrar a repulsa que eu sentia por mim. Esme também estava envergonhada, com a mão tampando a boca e o nariz, e certamente não estava respirando. -Eu sinto muito, Bella. –Ela se desculpou. -Deixe que eu me aproxime, Edward. –Carlisle disse baixo. Olhei pra ele com uma expressão torturada e ele entendeu minha dor. Eu sei filho. E sinto muito também. Mas vai tudo dar certo. Fique calmo. Me deixe chegar até ela. Assenti e tentei relaxar. Carlisle se ajoelhou ao lado de Bella e mediu o ferimento em seu braço. Era principalmente nessas horas que eu queria ter o controle dele. Como eu queria poder ser eu ali, ajudando-a, e não a metendo nas confusões. Choque era predominante na expressão de Bella, e eu senti uma dor aguda em meu coração gelado e morto. -Tome, Carlisle. –Alice passou uma toalha a Carlisle. Ele assentiu. De repente, o monstro em minha mente se levantou. Eu olhei para o ferimento de Bella e pude ver baba caindo da boca do Edward de olhos vermelhos. “NÃO!!!” Rugi enquanto ele se lentamente se aproximava. “Eu a amo e você não vai causar mais dor a ela. Eu vou ter que ir embora” “Por que?” Ele soou maliciosamente. Ele já havia me feito essa pergunta na campina, e eu sabia o que dizer para derrotá-lo. “ Porque eu a amo. E você nunca, NUNCA mais vai machucá-la!!” O monstro caiu como da última vez e voltou para lamber suas feridas. E eu sempre o venceria, custasse o quanto fosse. -Há vidro demais no ferimento. –Carlisle disse enquanto rasgava um pedaço da bainha da toalha da mesa. Ele fez um torniquete. -Bella –Carlisle falou suavemente. Ah. Como eu queria ter seu controle... –Quer que eu a leve ao hospital ou prefere que cuide de você aqui? -Aqui, por favor. –A voz de Bella era só um sussurro fraco, e meu coração se contorceu mais. -Vou pegar sua maleta. –Alice trinou. Na verdade, ela ia pegar a maleta por outro motivo. Tenho que sair daqui. Tenho que sair daqui. O sangue está muito forte. Deus, como ela cheira bem. -Vamos levá-la para a mesa da cozinha. –Carlisle disse a mim. Meu filho, eu sei que você está sofrendo. Por que não sai daqui pra poder respirar? Eu sei que é difícil, mas é necessário. Lancei-lhe um olhar de dor e ele parou de tentar me convencer. Levantei Bella e a levei a mesa que nunca foi usada, com Carlisle mantendo firme o torniquete em seu braço. -Como está se sentindo Bella? –Ele perguntou. -Estou bem. –Ah... Pelo menos o choque não estava mais tão presente em sua voz. Mas era tudo tão errado... Bella olhou pra mim e lutei, sem sucesso, em constituir meu rosto em uma expressão não tão dolorosa. Sentei Bella calmamente na cadeira e permaneci de pé ao seu lado, pronto para levá-la embora se algo mais acontecesse, mas o pior já tinha acontecido. Carlisle sentou na carteira ao seu lado e pegou a maleta que Alice tinha trazido que estava sobre a mesa e começou a trabalhar no machucado. Bella olhou novamente pra mim e ficou surpresa por algum motivo desconhecido. Eu ficaria ali, não importava a sede corroendo minha garganta. Ela ainda não sabia o quanto eu a amava? -Pode ir, Edward. –Bella disse depois de um suspiro. Eu nunca poderia deixá-la. Se eu causei essa dor a ela, era justo que eu sentisse dor também. -Eu posso lidar com isso. –Eu insisti com o pouco de ar que me restava. Eu não sabia como eu estava, mas minha aparência, eu sentia, era de dar medo. A única coisa que eu realmente via era a sede em meus olhos na mente de Carlisle. Vamos, filho. É o melhor. Eu cuido dela. Balancei a cabeça rápido demais para olhos humanos. -Não precisa ser o herói. –Bella murmurou. –Carlisle pode cuidar de mim sem sua ajuda. Vá tomar um ar fresco. Bella estremeceu visivelmente. -Vou ficar. –Foi só o que eu consegui dizer. -Por que é tão masoquista? –Ela perguntou. Porque eu te amo é uma resposta conveniente nessas horas? Não faria sentido. Carlisle se meteu. -Edward, você poderia aproveitar e encontrar Jasper antes que ele vá longe demais. Tenho certeza de que ele está aborrecido consigo mesmo e duvido que agora vá ouvir alguém que não seja você. Por que eu não podia falar com ele depois? Eu queria ficar com Bella!!! -É. Vá falar com Jasper. –Bella disse ansiosa. -Você podia fazer algo de útil. –Alice falou. Meus olhos se tornaram uma linha fina ao ver que eles não queriam que eu ficasse ali. Contra a minha vontade, saí pela cozinha e passei pela porta dos fundos. No segundo em que passei, disparei em correr e finalmente pude respirar. Segui o cheiro de Jasper e fui ao seu encontro. Quando senti que seu cheiro estava perto, não parei, só diminuí o passo e fui ao seu encontro. Ele estava sentado numa pedra grande, com a cabeça nas mãos, enquanto se lamentava. Desculpe, Edward. Ele gritou em sua mente. Eu não queria ter feito aquilo. Eu não queria machucá-la. Você sabe como é difícil pra mim. Espero que um dia você me perdoe. Ele choramingou. -Oh, Jasper, eu sei que você não fez por mal, e sei como é difícil pra você. –Eu sussurrei enquanto sentava ao seu lado na enorme pedra. –A culpa foi toda minha. Eu convenci ela a vir a essa festa. Ela não queria vir. Então, o que nós vamos fazer agora? Você não vai embora, vai? Ele me questionou. Então, a conversa com Bella no hospital em Phoenix veio em minha cabeça imediatamente. Eu vou ficar, enquanto isso for o melhor pra você. Eu não era e nunca fui o melhor pra ela. Mas partir ia me dilacerar, ia ser como rasgar meu coração em mil pedaços. E eu ia sofrer tanto sem ela. Eu não ia ser mais nada. Eu ia ser miserável, ia ser a pior pessoa sem o meu amor, a razão da minha existência... -Não se preocupe Jasper, vou fazer de tudo pra gente ficar aqui. -Edward, eu estou falando sério. Você não sabe como os seus sentimentos derrubariam qualquer pessoa agora. Angústia, dor, sofrimento, tristeza, paixão... Dói em mim isso, meu irmão. -Desculpe, Jasper, mas não posso me controlar. Vem, vamos voltar, acho que Carlisle já a curou. -Eu não vou voltar. -Como é??? -Eu vou com Alice pra outro lugar, mas eu não vou mais interferir na vida de vocês. -Como quiser, mas você sabe como vai ser triste pra Carlesli, Esme e pra mim. -Eu sei, mas é preciso. Tchau. -Tchau Jasper. Eu vi até ele sair de meu campo de visão e fui correndo até em casa. O cheiro de álcool poluía o ar, mas pelo menos o sangue de Bella não estava tão forte. Carlisle estava contando a Bella como ele me salvou, e eu fiquei atrás da porta, pronto pra quando ele acabasse, para levar Bella pra casa. -Agora acho que devo levá-la para casa. –Ele exclamou quando acabou. -Eu faço isso. –Eu disse enquanto andava até eles e dominava meus olhos para que não transparecessem tanta dor. -Carlisle pode me levar. –Ela disse. Bella, eu já estou bem, eu posso levá-la para casa, não precisa mais ter medo. Ela olhou para a blusa, que estava coberta de sangue e das pétalas das rosas de Alice. -Eu estou bem. –Garanti a ela. –Vai precisar se trocar. Charlie teria um infarto se a visse desse jeito. Vou pedir a Alice para lhe arrumar alguma roupa. –Saí de novo pela porta e logo Alice estava a minha frente. -Eu já sei o que fazer. –Ela anunciou. Assim que ela saiu, me encostei na porta para ouvir a conversa de Carlisle e de Bella. -Ele está muito aborrecido. –Bella adivinhou. Aborrecido? Eu queria me estraçalhar por ter a exposto ao meu mundo. -Sim. –Carlisle adimitiu. –Esta noite aconteceu exatamente o tipo de situação que ele mais teme. Você em perigo devido ao que somos. -Não é culpa dele. –Se não é culpa minha é de quem? É claro que a culpa é minha. -Nem sua. Eles saíram da sala, com Carlisle ajudando Bella. Esme estava limpando o chão com um líquido cujo cheiro que me deu repulsa. Água Sanitária. -Esme, deixe que eu faço isso. –Bella disse, ruborizada. -Já terminei. –Esme disse sorrindo enquanto se levantava. –Como se sente? -Bem. –Bella garantiu a ela. –Carlisle costura mais rápido do que qualquer outro médico que conheci. –Porque ele é vampiro.