Celest escrita por Alpha, Borges


Capítulo 2
Hanna / II - O Sonho e a Promessa


Notas iniciais do capítulo

E aew galera. Neste capítulo, vamos conhecer a jovem Hanna, que em busca de respostas sobre sua vida descobre algo que não imagina nem em seus sonhos mais loucos. Ou será que imaginava? Não sei ao certo.

Prontos? Então vamos acompanhar nossa guerreira nesta deliciosa aventura. Kkk Espero que gostem ;D



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Desta vez foi uma fotografia empoeirada que fez Hanna se lembrar de Eliza, sua mãe. Era uma lembrança feliz de quando ela a beijava na testa e a olhava com seus olhos verdes marcantes e felizes sempre antes de entrar na escola assim que o sinal tocava.

Desde o desaparecimento da mãe, quando tinha sete anos, ela passou a morar com seu padrasto Edgar. Depois do ocorrido ele passou a protegê-la de tudo e de todos, mas nunca revelou os verdadeiros fatos do sumiço de Eliza. Segundo ele a investigação policial foi inconclusiva por falta de provas e pistas.

A relação entre os dois era estável. Vez ou outra brigavam, mas sempre tentavam se apoiar para superar a saudade que tinham de Eliza. Pelo menos até que Hanna recebesse uma misteriosa carta alguns dias antes prometendo respostas do ocorrido. Ela não sabia quem havia mandado, mas foi o suficiente para acender uma lâmpada de desconfiança em relação à versão do Edgar. Desde então ela tenta encontrar brechas no que ele diz na tentativa de descobrir alguma coisa.

Ainda olhando para a foto abriu um sorriso daqueles de quando nos lembramos de algo bom ou de alguém especial, e a colocou de volta em cima da mesinha de canto da sala.

Assim que o fez ouviu o som do carro na garagem. Era o Edgar chegando do trabalho. Então subiu as escadas correndo para ir para seu quarto antes que ele a visse.

Entrou no quarto e jogou os sapatos para longe com os pés, como todo mundo já fez um dia. Seu quarto era sua fortaleza. Nas paredes fotografias de vários lugares onde já esteve fotos de pessoas desconhecidas que já tinha visto na rua, pôsteres de bandas como Imagine Dragons e Coldplay. Em cima de uma mesa perto da parede um arco com flechas das aulas de tiro com arco que fazia nos fins de semana. Modéstia a parte se considerava muito boa e tinha muitas medalhas de competições que venceu.

Quando se jogou na cama, como fazia todas as vezes que estava pensativa, ouviu o som de chamada do Skype no computador na escrivaninha que a fez levantar para atender. Era seu melhor amigo Lucas.

– Oi Luc. Como tá? – disse sorrindo.

– Oi Hanna, estou bem. Por que você não foi à aula hoje? Está tudo bem? Todos perguntaram por você.

– Bem não dormi direito essa noite. Tive outro sonho daqueles. Acordei gritando e depois não consegui dormir mais.

– Achei que eles tinham parado. Tem muito tempo que você não tinha esses sonhos. – Lembrou enquanto arrumava os óculos.

– É. Eu sei. Mas desta vez foi diferente. – falou enquanto prendia seus cabelos ruivos – Parecia que era real. Foi como se eu estivesse lá. Podia até sentir o vento e a terra úmida onde eu pisava.

Hanna contava todos os seus sonhos malucos para Lucas porque ele sempre fazia interpretações engraçadas deles. Com seu jeito meio estabanado, ele estava com ela desde a infância, ajudando-a nos momentos mais difíceis. Era um cara do tipo que gosta de games e desenhos japoneses. Estava sempre com os cabelos bagunçados o que a deixava com vontade de arrumá-los sempre que o via. Ele usava grandes óculos pretos, que pareciam sempre querer fugir do lugar.

– Interessante. Parece até aqueles casos de experiências em que a pessoa sai do corpo e vai a lugares onde nunca esteve. Eu vi um caso desses na televisão uma vez quando...

– Não seja louco Luc. Isso não existe. É só história para ganhar audiência e dinheiro, você sabe!

– Talvez sim, talvez não. – respondeu, dando de ombros – Mas como foi seu sonho mesmo? – ele continuava a arrumar os óculos que insistiam em escorregar do rosto.

– Eu estava em um campo, pelo menos parecia um. Era noite e eu sentia muito frio. O vento me acertava com força, mas o estranho era que os arbustos e as folhas das árvores não se mexiam, como se não houvesse vento.

– Isso não é possível. Já sei o que foi. Sua mente juntou essas fotos de paisagem que você costuma fazer com o vento da tempestade que teve essa noite.

– Claro que não. Eu sei que não foi isso. Não viaja. – Hanna disse saindo da frente do computador e andando até a janela, se sentindo desafiada a descobrir o que esse sonho significava.

Enquanto olhava para fora com os braços cruzados, o garoto continuou:

– Está bem. Só estou tentando pensar o porquê desse sonho maluco. Continua contando.

– Mas não foi só isso. De longe eu conseguia ver uma luz se aproximando. Era meio azul, era... Linda, calmante e, quanto mais se aproximava, menos frio eu sentia. Quando chegou bem perto, o vento parou. Eu só sentia a terra úmida do chão e uma felicidade, uma segurança ao ver aquela bolinha de luz. Quando parou na minha frente, eu fiquei observando ela pairar no ar. Parecia familiar como uma memória. Eu tentei tocá-la, mas antes de conseguir ela desapareceu. Então o vento e o frio voltaram, e ficava cada vez mais difícil me manter em pé. Meu corpo começava a tremer, eu sentia dor. Foi quando comecei a gritar, aí acordei. – terminou deixando visível um olhar de que aquilo foi mais do que um simples sonho. Rapidamente voltou para frente do computador. – Então, o que você acha isso quer dizer?

– Desta vez não sei o que falar. Você está com aquela cara de que não vai sossegar enquanto não descobrir o que foi o sonho. Não faça nenhuma besteira Hanna. – preocupou-se Lucas.

– Ahh! Você me conhece. Só quero a verdade. E não devemos ignorar os mistérios da vida. – falou para encerrar o assunto. A determinação estava estampada no seu rosto.

– Mudando de assunto antes que sobre para mim. A aula foi muito boa hoje... – Lucas foi interrompido quando Hanna se virou para olhar a porta após ouvir batidas sucessivas.

– O que foi? Estou ocupada. – perguntou como se falasse com a porta.

– Sou eu Hanni. O Edgar. Quero saber como você está? Vamos tomar café. Eu trouxe aquele bolo que você gosta.

– Luc, eu vou ter que desligar senão ele não vai embora. Depois nos falamos. – despediu-se.

– Está bem. Se cuida. – sorriu Lucas antes de desligar.

Hanna fechou o computador e foi até a porta e sem que a abrisse, parou e disse.

– Já estou descendo.

– Não demore. Precisamos conversar. – Edgar se afastava.

– Já disse que vou descer! – falou impaciente procurando pelos sapatos.

Alguns minutos depois, Hanna abriu a porta e saiu do quarto. Entrando no corredor do casarão.

O casarão era bastante decorado com quadros antigos que pareciam caros, esculturas antigas e fotografias de sua mãe com Edgar e ela. Não havia fotos de parentes. Na verdade ela já tinha se cansado de tentar descobrir por que. O piso era de madeira, as paredes pareciam grossas e firmes típico de casas antigas que abrigavam famílias numerosas. A escada era escultural toda de madeira e com o clássico tapete estendido pelos degraus. Do mezanino dava para ver a sala cujo grande lustre e pesadas cortinas nas janelas pareciam estar ali há muito tempo.

Ainda no corredor, a garota ouviu um barulho vindo do lado oposto ao seu quarto. Era onde ficavam os outros quartos, totalizando três. Todos bem amplos e bem iluminados como o dela. O som era de uma janela batendo sucessivas vezes.

Resolveu ir investigar. Chegando ao lugar percebeu que a janela estava fechada e trancada. Ficou parada no fim do corredor olhando para a janela buscando uma explicação. Mas antes que encontrasse Edgar gritou da cozinha.

– Hanni, desce logo. O café vai esfriar. – Isso a fez desistir da ideia, então voltou e foi para as escadas.

Depois de descer, olhou rapidamente para a fotografia de sua mãe enquanto andava. Respirou fundo e continuou indo para a cozinha.

– Que bom que você resolveu aparecer, Hanni! Tudo bem? – animou-se Edgar abrindo um sorriso.

– Estou bem! O que você quer conversar? – perguntou enquanto se servia de uma fatia de bolo de cenoura com cobertura de chocolate.

– É sobre seu aniversário que está chegando.

Com a boca cheia, se deliciando com o bolo resmungou – Ah isso! É só uma data, não tem importância.

– É claro que tem. É o seu dia. Seu aniversário de dezoito anos. Podemos dar uma festa. Você pode chamar seus amigos. O que acha? – tentou convencê-la.

– É legal de sua parte, mas eu já disse: não precisa. Nem tenho muitos amigos para uma festa. – falou largando o garfo sobre a mesa e olhando bem para ele.

Passando a mão na cabeça, como se penteasse os fios grisalhos e volumosos assim como a grande barba, Edgar relembrou – Não é verdade. Você é uma ótima garota. Todos devem gostar de você. Vou pensar em algo então. E não se fala mais nesse assunto. – falou sentando-se a mesa após pegar uma xícara de café no armário.

Hanna continuou seu café.

– É sempre assim. Mais um aniversário sem ela. Para que comemorar?! – nos seus olhos era possível ver a saudade. – Você nunca quer falar disso, mas a polícia não encontrou nada sobre ela até hoje? – ficou olhando para Edgar esperando uma resposta.

– Não, nada que ajudasse. – Edgar respondeu sem olhar para a garota como se escondesse alguma coisa. Ele já tinha percebido que conforme o tempo passava a curiosidade da garota sobre o ocorrido só aumentava.

– Muito estranho isso. Se ela foi sequestrada como se suspeitava por que não pediram resgate? – argumentava tentando chegar a uma explicação lógica. – Você não está escondendo nada de mim, está?

– Claro que não Hanni. Sei tanto quanto você. – ele respondeu, mas a garota não parecia satisfeita, então continuou. – Escuta já vai fazer onze anos que isso aconteceu. Ela iria querer que seguíssemos a vida felizes, sem lamentar o passado.

– Tem razão. – Hanna concordou com ele, mas no fundo sabia que agora, mais do que nunca, precisava de respostas. Passou muitos anos sem se preocupar, pois realmente acreditava nele e não queria magoá-lo mostrando desconfiança. Mas agora não era mais criança e precisava descobrir tudo por si mesma para ter certeza.

Apressadamente largou o garfo e se levantou da mesa para sair. Despediu-se de Edgar beijando-lhe a testa e sem olhar para trás entrou na sala, pegou o casaco sobre o sofá e saiu deixando bater a pesada porta de ferro com vidros coloridos que tinham curiosos desenhos de pessoas que ela nunca vira.

Ele era o pai que ela nunca teve. Na verdade sobre o seu verdadeiro pai só mãe só tinha dito que ele tinha morrido na guerra. Nada mais. Isso foi o suficiente para ela adotar Edgar como pai. Era muito criança para tentar entender mais sobre sua louca família. Sua mãe costumava dizer que um dia ela entenderia.

Sempre que podia ia caminhar pelo bairro. E terminava no mirante perto de casa onde costumava ir com a mãe.

O lugar era bem perto da casa, mas afastado o suficiente para não ser incomodada por ninguém quando queria pensar. De lá era possível ver todo o bairro onde as casas com seus telhados envelhecidos se espremiam pelas estreitas ruas de pedras. Sua casa se diferenciava das outras pelo tamanho e por estar no ponto mais alto da rua das flores, uma das mais antigas.

Ao chegar até o mirante sentou-se num banco de madeira feito pelos próprios moradores, perto da beirada, o que permitia assistir o espetáculo do pôr do sol. Lá ela podia sentir o vento nos cabelos, observar a paisagem e tirar suas incríveis fotografias.

Sempre que visitava o mirante para pensar tirava muitas fotos já que era uma de suas paixões assim como arco e flecha, por isso, decidiu fazer fotografia na universidade da cidade. Gostava de estar ao ar livre observando as pessoas e as paisagens que o passar do tempo moldava. Sentia a vontade de guardar o momento, aquele pequeno instante de percepção que a fazia esquecer-se de todos os problemas e sentir-se com sorte por poder observar e viver aquilo tudo.

O dia já estava terminando. O sol já estava prestes a começar a se esconder atrás dos morros abrindo espaço para a noite fria que começava dominar tudo pouco a pouco.

Hanna observava o desenrolar da fuga atenta, como se registrasse cada segundo na memória, assim como sua uma câmera fazia. Sentada abraçando as pernas com os braços, não tinha percebido que tinha mais alguém ali, apreciando a paisagem como ela. Era Lucas, seu amigo.

Sorridente ele se aproximou e sentou ao seu lado. Ela se assustou, mas quando percebeu que era ele, se acalmou e perguntou.

– O que você tá fazendo aqui, Luc? – franzindo a testa ficou esperando ele responder.

– Ah, só vim tirar umas fotos do pôr do sol para fazer uma montagem para um colega. – respondeu sem dar importância.

– Ah. Você precisa manter este cabelo arrumado, garoto. – lembrou Hanna enquanto tentava organizar os fios rebeldes do cabelo dele.

Ele sorriu, pois achava engraçado quando ela dava uma de mandona.

– O que você está fazendo aqui? – falou dando ênfase no “você”.

– Ed e eu conversamos sobre minha mãe, então eu quis vim aqui para lembrar dela. Dos bons momentos. – respondeu voltando a olhar para a vista.

– Sobre o que ele queria conversar àquela hora?

– Nada demais. Ele quer fazer uma festa no meu aniversário. Queria que eu chamasse meus amigos. – falou arrumando uma mexa do cabelo que cobria olhos.

– Oba! Adoro festas. – entusiasmou-se. – Onde vai ser?

– Não Luc. Não vou fazer festa nenhuma. Estou sem cabeça para isso. E nem tenho tantos amigos assim.

– Você tem a mim! Já é o suficiente. – brincou o garoto.

– Só você mesmo para me fazer rir.

– Amigo é para isso. – falou enquanto de pé dava alguns cliques com sua câmera.

O pôr do sol já estava na metade e as luzes do bairro já começavam a se acender. Depois de mais alguns cliques, ele sentou-se de novo ao lado de Hanna, a abraçou com um dos braços e lembrou. – Sobre seu sonho, não precisa ter medo. Vou estar sempre aqui para te proteger. Lucas e Hanna contra o mundo.

– Eu tenho a sensação de que ele tem algo a ver com minha mãe, porque eu só sentia aquela paz e segurança quando estava com ela. Entende? – continuava a observar o pôr do sol.

– Entendo. Bom se for isso mesmo, temos que descobrir o que seu sonho quer dizer para ter certeza. – falou enquanto ela colocava sua cabeça em seu colo após se deitar no banco.

– Se o Ed não quer me dizer nada, vou descobrir sozinha. Não posso mais engolir a desculpa dele sobre o assunto. Ele não sabe mais eu recebi uma carta há uns dias dizendo que quando eu fosse maior eu teria respostas. Tentei descobrir quem havia enviado, mas não encontrei nada. Desde então eu tenho esperado ansiosamente esse dia chegar e agora ele está muito próximo. – A esperança era visível nos olhos da garota. – Quero muito saber por que minha mãe sumiu e por que Ed não abre o jogo. Parece que ele quer me proteger de alguma coisa. Mas do que? – determinada apertou os punhos, sem perceber, como se reunisse forças para uma batalha.

– Não sei Hanna. Mas conte comigo. – Os dois ficaram ali assistindo aquele espetáculo dourado. – Por onde vamos começar?


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Notas finais do capítulo

Bem gente, se gostou, dê aquele seu review camarada ;) Inté mais