P.O.V Elena

Incrivelmente consegui dormir naquela noite que Tony me acalmou, acordei descansada. Parecia que não sabia mais o que era uma boa noite de sono, ou que na verdade, nunca soube.

Assim que eu acordei, fui tomar um banho, admito que demorei mais do que pretendia. Fiquei pensando no que iria fazer quando saísse deste quarto, preciso dar um ponto final nisso, ou simplesmente ir embora. Precisa ter um significado maior isso. Quer dizer, não pode ter sido uma coincidência termos nos esbarrado, e claro que não foi, mas droga. Algo me diz que nunca vamos saber a verdade. Pelo menos não agora. E que é inútil eu estar aqui.

Saí do banho e troquei de roupa rápido, era incrível como Pepper cobriu o guarda-roupa, ou melhor, o closet cheio de roupas. Pra mim, era tudo exagerado a quantidade de roupas que eu encontro aqui, roupas elegantes, roupas casuais, de verdade, todo tipo de roupa. E eu sou a pessoa mais básica do mundo, pego sempre um short ou uma calça e uma blusa qualquer com minha fiel jaqueta de couro, porque dessa eu não desgrudo nunca.

Desci rapidamente antes que Tony comece a mandar Jarvis colocar músicas para me acordar, ou que faça qualquer coisa, literalmente qualquer coisa para que eu acorde. Ele sempre foi assim. E como Pepper que administra sua empresa, ele tem o maior tempo para ficar na oficina, e salvando o mundo, e inflamando cada vez mais seu ego.

Não é que eu odeie ou não goste de Tony, pelo contrário, vejo muito de mim nele, e isso me assusta.  Não é questão de eu não gostar, apesar do seu ego, da sua ironia, e de toda essa mascara que ele colocou em si, ele é a melhor pessoa que eu poderia conhecer. E eu percebo que essa ironia, esse cinismo, foi puxada dele. Sou desse jeito. Ele também percebe isso. E sei que isso o assusta. Mas não quero me aproximar, tentar criar laços. Isso só vai dificultar minha partida. Porque eu sei como eu sou, e eu sei que eventualmente, eu vou querer ir embora. Jimmy já está acostumado comigo sobre isso, desde quando cheguei nele, eu saio e passo dias sem ao menos ligar para ele. Não é proposital, sou só eu.

Quando abri a porta do quarto, Tony estava se posicionando para bater na minha porta. Ele ficou um tanto constrangido quando eu abri com uma cara como se falasse: O que você quer?

Logo ele se recompôs e colocou sua melhor cara.

— Pronta para começar? – Ele perguntou.

— Pensei que não fosse uma pessoal matinal – Retruquei e ele riu fingindo humor.

— Vamos – Ele falou andando para a oficina. Eu tive o prazer de deixar Tony Stark sem palavras?

Como isso foi um milagre que provavelmente deve acontecer de séculos em séculos, então resolvi provoca-lo ainda mais.

— Seria isso verdade? – Murmurei, ele pensou que eu estava falando sozinha e ficou olhando para trás curioso. – Deixei Tony Stark sem palavras?

Ele revirou os olhos assim que eu terminei minha frase.

Do nada, comecei a rir e ele sorriu com isso.

Ele parecia gostar da minha risada.

Mas quase nunca eu estou sorrindo.

Ficamos em silencio depois disso por um longo tempo enquanto entramos na oficina e Tony parecia se sentir finalmente em casa.

Se existe uma coisa que eu possa admitir é que admiro o trabalho de Tony, apesar de tudo. Quero dizer, é legal saber que pelo menos eu tive uma genética boa e não tão suja quanto a do meu antigo pai, e isso é tão confuso, porque ainda me acho suja.

Quero dizer, meu antigo pai era um maldito bêbado, estuprador, violento, drogado, e desempregado, não tinha nada de interessante sobre ele. A não ser vê-lo caindo pelos lugares, esbarrando, e tentando pegar algumas garotas na rua, e quando não tinha sucesso, vinha atrás de mim e da minha mãe, em casa. Sabendo que tinha alguém. Sempre me senti suja, mas vendo Tony aqui, trabalhando, talvez eu não seja tão suja. Ou pelo menos, finjo não ser tão suja.

Apenas por esse momento.

Estou sentada numa cadeira, enquanto Tony estava sorridente, mexendo em algumas peças das armaduras, sorrindo e falando alegremente comigo e com JARVIS. Eu não consigo prestar atenção em uma palavra que sai de sua boca, consigo apenas pensar que ele lembra-me uma criança, que acaba de ganhar um brinquedo pela primeira vez.

— Elena, levante-se e venha aqui – Foi a única coisa que escutei Tony falar rindo, e foi o que eu fiz, sem contestar. Levantei-me e fui ao seu lado enquanto ele colocou uma armadura no meu braço e pediu para eu testa-la.

Ele me explicou todo o processo.

Como se eu não soubesse, pensei.

Assim eu o fiz, testei. Atirei onde ele pediu, e ele ficou impressionado com minha pontaria. Ah, pobre Tony. Não sabe das coisas que eu já fiz. E espero que fique sem saber.

Ri internamente dos meus pensamentos e continuei.

— Garota, você é realmente boa. Vou precisar investigar mais seu passado – Ele alertou sorridente.

Dei de ombros retirando a armadura e colocando na mesa enquanto ele me jogava uma garrafa de água, peguei no ar e sentei-me no lugar anterior.

— Então, Elena Stonem, o que está achando até agora? – Ele perguntou puxando conversa.

— Olha, até que é legal – Murmurei.

— Você realmente está gostando daqui, admita – Ele insistiu sorridente.

— São suas palavras – Respondi tentando ser irônica, mas no fundo, era verdade.

Ele sorriu.

— Você realmente é minha filha – Ele falou tão baixo que quase não pude ouvi-lo, parecia estar falando sozinho, como se estivesse pensando e acabou falando alto. Ele não me olhou, e nem resolveu se explicar, assim como fingi não ter escutado. Mas escutei.

Eu sei como me sentir sobre isso, só não queria saber.

— Senhor Stark, eu sinto muito em interromper, mas tem alguém subindo o prédio e não consigo evitar – A voz de JARVIS atingiu meus ouvidos.

Tony ficou rapidamente em alerta já vestindo sua armadura, enquanto eu não tinha muito que fazer.

— Fique atrás de mim – Ouvi sua voz sussurrando enquanto ele andava na frente e eu fiquei olhando para os lados procurando alguma espécie de arma.

Não tinha nenhuma, andei mais um pouco para o lado enquanto saímos da oficina, Tony seguiu uma rota e eu segui a outra, mas foi só coincidência.

Mãos fortes agarraram meu braço, enquanto eu tentava me soltar. Olhei para o lado e vi finalmente uma parede, então consegui força e tomei um impulso com meu pé, jogando o tal cara para outra parede. Consegui me soltar.

Depois de muitos socos, chutes e tapas, consegui puxar a sua arma, assim que ele tentou aponta-la para mim, eu consegui tomar dele, logo dei uma rasteira nele, ele caiu batendo fortemente a cabeça enquanto eu apontava a arma para ele.

— Elena! – Stark gritou surpreso. Enquanto eu via um homem atrás dele.

Ele usava uma tapa olho.

— O que diabos aconteceu aqui? – Perguntei. – Quem é o pirata ai do seu lado?

O cara riu, negando com a cabeça.

— Você realmente é filha de quem é – Ele comentou abaixando a cabeça.

Tony não estava o atacando.

O que está acontecendo?

 - Tony, quem é esse louco ai? – Perguntei irritada.

— Eu sou Fury, Srta. Stark. E precisamos conversar – Ele respondeu e eu olhei para Tony que não tinha praticamente nenhuma reação. Respirei fundo sabendo que isso não seria boa coisa.