A Beautiful Winter Day escrita por Summertime Sadness


Capítulo 6
Livros e Desverdades


Notas iniciais do capítulo

Prefiro postar de madrugada, mas ontem não deu pra programar. Esta capítulo foi o primeiro que tive de consertar algumas coisas. Serve principalmente para o andamento da trama (Sim, pessoas, aqui tem trama :)

Boa Leitura *-*



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A livraria era dividida em sessões e a última reunia os livros esotéricos e espíritas. Ficava ao fundo, meio escondido, transparecendo o mistério que as páginas supostamente continham. Sim, John sabia que revirar o assunto beirava o ridículo, e que certamente não solucionaria nada. Não que houvesse algo a ser solucionado, era só... Estranho. Nunca havia dado crédito àquele tipo de coisa, mas agora talvez pudesse encontrar alguma coisa útil, algum tipo de guia naquela loucura.

— Eu não acredito que você está fazendo isso – Sherlock usou o tipo de tom que parecia repensar toda a amizade dos dois.

— Só estou tentando te ajudar, é isso.

— Se quer me ajudar coloque meu nome no seu bebê!

— Eu já disse que é uma menina! – sussurrou entre dentes.

Pegou um livro qualquer e o folheou.

— John? – ambos se viraram para a voz.

Molly Hooper tinha expressão quase hesitante, não resolvida se John falava ou não sozinho. Watson tentou não parecer sem graça.

— Ah, oi Molly.

— Oi – ela espionou os livros da estante – você gosta desse tipo de literatura?

— Ela acha que você deseja se comunicar comigo – Sherlock falou.

— Não, eu... – disse a primeira coisa que lhe veio à mente - Harry Potter, vou comprar Harry Potter.

— Na sessão espírita? – ela franziu o cenho.

— Só estava passeando.

— Há fantasmas nesses livros – Sherlock comentou.

— Você leu!? – John se surpreendeu.

Holmes revirou os olhos.

— Claro que não. Passavam os filmes na TV e você não trocava de canal; eu não tinha escolha.

— É verdade.

Molly estava ainda mais confusa. John tentou mudar de assunto.

— Então, veio comprar algum livro?

Sherlock o fitou com desprezo.

— O que você sugere que ela veio comprar? Nabos?

— Só um presente pra minha mãe, ela gosta dessas coisas de autoajuda – ela mostrou um livro amarelo que segurava. Olhou para ele – você acredita nesse tipo de coisa?

John sabia do que ela falava sobre a sessão em que estavam e não sobre autoajuda. Nunca mencionara que podia ver o amigo a ninguém. O episódio do reflexo do vidro só fora contado à Mrs. Hudson e Lestrade, mas desconfiava que Molly também soubesse. Fora esquecido é claro, ou pelo menos tentavam esquecer. Podia ver facilmente que o assunto não era proferido como se temessem que o episódio se repetisse e ele enlouquecesse de vez.

Nessas horas, John gostaria que Sherlock se afastasse para que pudesse ter uma conversa normal, mas não era possível quando o detetive tinha a mania de comentar cada diálogo ou observação que fazia.

— Não sei bem – respondeu.

Os olhos marrons dela se focaram no livro que John segurava. A capa dizia O Manual para comunicação com o Além. Devolveu rapidamente à estante.

— Não é o que está pensando... Não é como se eu quisesse...

— Eu já li.

John ficou genuinamente surpreso. Ela percebeu, encolhendo os ombros.

— Semana passada – desviou os olhos – acho que cada um enfrenta situações difíceis de uma maneira.

O leve sorriso de Hooper e olhos marrom brilhantes mostravam-lhe um retrato de uma mulher sem problemas ou amarguras. Um retrato perfeito demais pra ser verdade. Se ele não partilhasse da mesma ferida dela, não notaria a mentira. Pelo canto do olho via o amigo a olhando intensamente, sem nenhuma emoção específica. John pensou se Sherlock se sentia triste por ela. Se sentia-se triste por alguém.

— E você? – John quebrou o silêncio – Acredita nesse tipo de coisa?

Era uma pergunta despretensiosa, mas no fundo ele queria saber.

— Eu não sei – desviou o olhar por um instante – Só queria estar escondendo ele como da outra vez.

Molly pôs uma mecha atrás da orelha e disse que precisava ir. Quando ela se foi, John pensou se ela fosse o tipo de pessoa que precisava de um motivo para acreditar. Talvez se obrigasse a acreditar que devesse existir algo além dos corpos que abria no necrotério. Baixou a cabeça. Saiu da livraria e seguiu pela calçada, sempre acompanhado por Sherlock.

— Me pergunto por que ela não te vê.

Holmes franziu o cenho.

— E por que ela me veria?

John traduziu o que para o amigo era incompreensível.

— Ela ainda ama você

— E por que o amor fariam as pessoas me verem? – Sherlock levantou as sobrancelhas e John entendeu a indireta.

— Muito engraçado – falou já a procura de um táxi.

— É por isso que achou que eu fosse uma ilusão? Que sentiu tanto minha falta que sua mente me reproduziria para substituir o original?

John Watson deu uma fraca risada. Tentava falar baixo para os passantes não prestarem atenção ao monólogo.

— Você acha que é tão importante assim?

— Sim.

— Até onde eu sei, você é real. Então eu não te substituí, concorda?

— No passado você colocou outra pessoa no meu lugar. E você se casou com ela.

John riu sendo logo seguido pelo amigo. Watson acenou para um táxi.

— Se as pessoas nos ouvissem agora, suspeitariam.

— Sempre.

A primeira coisa que ouviu ao chegar em casa foi onde esteve. Respondeu que fora visitar Mrs. Hudson, o que fora verdade. Sabia que Mary se preocupava com a possibilidade dele ter ido também ao 221B, mas nunca perguntaria diretamente. Na verdade, ele não voltara para lá, apenas seu amigo se encontrara com ele e foram juntos ao 221A e de lá à livraria. Não que pudesse contar exatamente essa versão dos fatos.

Sherlock Holmes não estava mais com ele; John percebera desde o dia em que visitara o cemitério, que o detetive sempre parecia disposto a se afastar quando Mary se aproximava. Talvez tivesse sido a briga que eles tiveram e John se martirizou por não se lembrar de perguntar. Quanto a isso, fez uma nota mental.

Não percebera a princípio, mas Mary estava estranha. Sempre que prestava atenção, sua esposa o observava disfarçadamente. Aquilo acontecia com certa frequência nos últimos dias, e só agora realmente notara. Por isso, não ficou tão surpreso quando ela se sentou à mesa junto dele, minutos depois de John esgueirar-se para fora da cama e assistir a mais uma madrugada feita de insônia.

Havia alguma coisa nos olhos dela, algo que o médico poderia descrever como um brilho preparatório para iniciar uma possível discussão. Porém, também havia calma. Ou uma tentativa frustrada de não querer uma discussão. Sentou-se com ele.

— Já é a terceira vez que você vem pra cá – começou.

— Só não estou com muito sono.

— Ainda tem pesadelos?

Não, ele não tinha. Não mais. Não com a certeza inebriante de que o protagonista dos pesadelos ainda estava ao seu lado.

— Não – ela não parecia nem um pouco satisfeita com a resposta vaga – é complicado.

A loura tocou seu braço. Tomou um pouco de fôlego.

— Já faz umas semanas que quero ter essa conversa com você. E eu realmente gostaria que você me escutasse – o fitou com intensidade – É sobre Sherlock.

John fez um ruído de reclamação. Arrependeu-se de não ter ficado na cama fingindo dormir.

— John, é sério! Vou falar e você vai me escutar.

— Mary, eu não estou com vontade de falar sobre isso. Eu não entendo por que todo mundo resolveu virar meu psicólogo, não quero nenhum psicólogo. Se for por causa daquela imagem no espelho, aquilo nunca mais se repetiu. Estou absolutamente bem, entendeu!?

— Não estou falando de nenhuma imagem, estou falando de você!

— De mim? Achei que queria falar sobre Sherlock.

— É a mesma coisa, não é? Pelo menos nos últimos tempos.

John negou com a cabeça.

— Mary, eu estou...

— Bem. Ótimo – cortou – Pode parar. Você está distante, come pouco e mal fala. Eu já esperava que isso acontecesse no começo e aconteceu. E você melhorou... Mas agora as coisas retrocederam, não há a mesma tristeza, admito, mas eu sinto que estou sozinha quando estou com você.

Sabia que era verdade e sentia muito por isso. Porém, não podia evitar. Tinha consciência que mudara quando Sherlock aparecera pela primeira vez, mas o que podia fazer quanto a isso? Nada a não ser continuar vivendo e contando mentiras.

— Desculpe – resumiu, não sabendo o que complementar.

Ela balançou a cabeça.

— Poderia pelo menos tentar não voltar a Baker Street? Hudson vai entender.

— Tudo bem.

— Não vá lá às escondidas, eu vou saber.

— Por que eu iria pra lá as escondidas!?

Mary o olhou significativamente. John compreendeu.

— Não...

— Sim, Hudson te viu entrando no flat, você não percebeu. Se não me engano foi depois de você ter visto aquela imagem. E também te viu noutro dia, quando voltávamos do cemitério que você sem explicação nenhuma, sumiu.

— Mary, eu não quero falar disso...

— Ah, mas você vai falar! Ou melhor, eu vou falar. Isso não pode continuar assim, John! Sei o quanto ainda pode estar sendo difícil pra você, mas precisa acordar e parar de se martirizar sempre pelos mesmos motivos!

Não respondeu, principalmente pelo tom implorativo nas entrelinhas do que a esposa dissera. Boa parte dele queria rebater, porém o silêncio foi mais forte. Ela entendeu isso como uma menção para continuar.

— Sherlock não está mais aqui. Todos queriam que estivesse, claro que tecnicamente não todos, longe disso... – deu um pequeno sorriso descontraído, o oposto de seus olhos pesados – mas temos que deixá-lo e visitar cômodos vazios não ajudará em nada.

Inconscientemente trincou os dentes. Não gostava de como ela soava, como se ele não passasse de um menino doente e malcriado. Não gostava de falar sobre Sherlock e por alguma razão, gostava ainda menos de falar dele com ela. Mary não entendia. E nunca poderia entender, pois John jamais falaria a verdade.

Falar a verdade.

— Digo isso para o seu próprio bem – ela disse.

Mary sempre parecia estar triste. Foi ela que o obrigara ir ao cemitério outro dia.

— Você parece bem disposta a querê-lo longe pra alguém que me arrastou para o cemitério.

— John...

— Aconteceu alguma coisa com vocês dois, antes dele morrer.

— Do que você...

— Não sei o que houve, mas é por isso que se sente culpada.

Mary Watson balançou a cabeça, mal acreditando.

— Por que eu me sentiria culpada!? – a pergunta soou um tanto cuidadosa.

— Mycroft deu a entender...

— Oh, é claro! Você tem algum problema em ficar longe de super gênios, não é?

— Você e Sherlock brigaram! Ou algo assim! É isso que quero saber. Você é boa em dizer e desdizer sobre a morte dele e como é bom seguir em frente, mas sempre me coloca como o centro de tudo, como se eu fosse a única pessoa prejudicada. Como se tentasse esconder sua própria mágoa!

A loira se levantou abruptadamente. John sentiu que as coisas se encaixavam lentamente. Mycroft podia estar certo. Ela escondia algo e talvez fosse por isso que o amigo não se aproximava da esposa. Talvez.

— Não devia escutar Mycroft, John.

— Você tem razão – se levantou também e a fitou – é por isso que estou te perguntando e quero que seja sincera. O que houve entre vocês?

— Por que você acha que eu e Sherlock brigaríamos!? – tinha um tom irônico na voz – sobre qual de nós é o seu favorito!?

— Mary, estou falando sério...

— Não escute Mycroft! – a voz subiu um pouco, mas logo desviou os olhos.

— Então você admite que não houve nenhum conflito entre você e Sherlock.

Ela o olhou e de repente parecia estar muito cansada. Sentou-se novamente e apoiou a cabeça nas mãos.

— Pode parecer insano alguém em sã consciência dizer isso, mas eu sinto falta dele – ela murmurou – Só isso. Está bom pra você?

Não estava bom. Nada bom. Mary se levantou e sem olhar para ele, saiu da cozinha. Ele ouviu seus passos se afastando na escuridão, e mesmo com o coração subitamente pesado, algo gritava em seu cérebro.

Watson não acreditava nela.

(...)


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Notas finais do capítulo

Não é um dos meus favoritos, mas é essencial para a história.
Hey, pessoas que acompanham e que não deixaram reviews, não sejam tímidos, estou curiosa pra saber o que estão achando da história ^^



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